A resposta parece ser sim, para o futebol inglês e de outros países europeus. Eis o abstract (via aqui): In recent years, excessive monetization of football and professionalism among the players have been argued to have affected the quality of the match in different ways. On the one hand, playing football has become a high-income profession and the players are highly motivated; on the other hand, stronger teams have higher incomes and therefore afford better players leading to an even stronger appearance in tournaments that can make the game more imbalanced and hence predictable. To quantify and document this observation, in this work, we take a minimalist network science approach to measure the predictability of football over 26 years in major European leagues. We show that over time, the games in major leagues have indeed become more predictable. We provide further support for this observation by showing that inequality between teams has increased and the home-field advantage has been vanishing ubiquitously. We do not include any direct analysis on the effects of monetization on football’s predictability or therefore, lack of excitement; however, we propose several hypotheses which could be tested in future analyses.
20 dezembro 2021
Futebol mais previsível?
A resposta parece ser sim, para o futebol inglês e de outros países europeus. Eis o abstract (via aqui): In recent years, excessive monetization of football and professionalism among the players have been argued to have affected the quality of the match in different ways. On the one hand, playing football has become a high-income profession and the players are highly motivated; on the other hand, stronger teams have higher incomes and therefore afford better players leading to an even stronger appearance in tournaments that can make the game more imbalanced and hence predictable. To quantify and document this observation, in this work, we take a minimalist network science approach to measure the predictability of football over 26 years in major European leagues. We show that over time, the games in major leagues have indeed become more predictable. We provide further support for this observation by showing that inequality between teams has increased and the home-field advantage has been vanishing ubiquitously. We do not include any direct analysis on the effects of monetization on football’s predictability or therefore, lack of excitement; however, we propose several hypotheses which could be tested in future analyses.
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O que acontece quando um jornal físico fecha? Sobre memórias e o fato de que muitos jornais desapareceram nos últimos anos
Pulseiras de diamante de Maria Antonieta foram vendidas por R$ 45 milhões - custo histórico (em 1776) de 250 mil libras; custo histórico corrigido de US$4,6 milhões; valor estimado antes do leilão de até 4 milhões; e valor de aquisição de 8 milhões. Veja como é difícil mensurar objetos históricos e que o fato de pertencerem a uma personagem tão conhecida não garante a valorização.
Nomes mais frequentes no Brasil - Miguel lidera
Keanu Reeves acha NFT uma piada (imagem aqui)
19 dezembro 2021
2021 - O blog
O ano de 2021 foi mais um ano de nosso blog. No início do ano, eu (César) tinha feito uma promessa de tentar postar 3 itens por dia. Neste momento são 1034 postagens, um pouco abaixo de 1080 postagens necessárias para meta (3 x 30 dias x 12 meses). Setembro foi um mês que sumi das postagens (13 somente), enquanto julho rendeu 130 postagens.
Neste momento, eu estou tocando o blog sozinho; por motivos particulares, Isabel e Pedro tiraram uma licença, que espero ser provisória. Confesso que em muitos momentos pensei em desistir. Mas volta e meia recebo elogios pelo que fazemos aqui desde 2006. Afinal, são mais de 26 mil postagens.
Foto: NorouziQue venha 2022, agora, sem muitas promessas...
18 dezembro 2021
Rir é o melhor remédio
Final de ano e muitas empresas resolvem dar um bônus para seus empregados. Em alguns casos, o presente é muito tosco. Em outros é um insulto. Uma empresa, em 2019, deu um bônus para seu empregado poder usar em 2020: um dia de trabalho em casa.
17 dezembro 2021
Criminoso português pode escapar por falta de tradutor
Em outubro eu fiz uma postagem sobre João Rendeiro. De uma forma bem resumida, Rendeiro foi fundador e gestor do Banco Privado Português. Esta instituição foi descontinuada em 2010 e desde então o judiciário português provou alguns problemas que ocorreram na instituição, incluindo lavagem de dinheiro, falsificação e problemas contábeis.
Em 2020 um tribunal condenou Rendeiro a 5 anos e 8 meses de prisão. Antes disto, Rendeiro fugiu de Portugal e Europa e começou a ser caçado pela Interpol. Recentemente, ele foi capturado na África do Sul. Só que o Ministério Público de Portugal não conseguiu apresentar um pedido formal de extradição dentro do prazo de quarenta dias. Parte do problema é que as autoridades estão com dificuldades de traduzir as decisões judiciais dos processos onde Rendeiro foi condenado. Em um dos processo, onde ele foi condenado a 10 anos de prisão, a decisão do tribunal tem 422 páginas. Parece mentira:
As dificuldades foram assumidas ao jornal pela diretora do Departamento de Cooperação Judiciária e Relações Internacionais (DCJRI) da Procuradoria-Geral da República, Joana Gomes Ferreira, apontando que só existem dois tradutores para todos os processos do país.
Dupla contagem do carbono
Geofrrey Heal, da Columbia Business School, discute a compensação do carbono, com críticas e, também, apontando as vantagens. Mas um ponto importante sobre a questão é a possibilidade de contagem em dobro (ou triplo):
há potencial para uma contagem dupla maciça aqui, se somarmos todas as emissões entre as empresas. Se minha empresa compra eletricidade de uma concessionária local, as emissões associadas são o escopo dois para mim e o escopo um para a concessionária. Se a Exxon vende combustível para aviação para a American Airlines, para uso na aeronave Boeing, as emissões serão escopo três para Exxon e Boeing, mas escopo um para American Airlines. Essas emissões são contadas três vezes, o que é um anátema para qualquer sistema contábil competente. Cada emissão de escopo dois ou três é a emissão de escopo um de outra pessoa.
Certo, há uma dupla ou tripla contagem neste sistema. Mas é preciso considerar os seguintes aspectos. Em primeiro lugar, é necessário ver o efeito da mensuração em cada empresa. Sob pressão, a American Airlines, a Exxon e a Boing podem ter agora incentivos para redução da emissão, sob a forma de equipamentos menos poluentes e melhor uso dos aviões. Assim, a divulgação pode conduzir a melhores atitudes por parte das três empresas.
Em segundo lugar, a filosofia de Heal é querer que a contagem em cada empresa seja usada para ter uma contagem global, de toda uma economia. É algo similar a querer a mensuração do valor adicionado, sendo que para a empresa o importante é a mensuração do lucro. O objetivo da contabilidade, em termos históricos, foi a mensuração de desempenho para o acionista.
Terceiro, é melhor incentivar grandes empresas a fazer uma mensuração ampla das emissões do que uma mensuração mais tímida. De certa forma, os relatos das grandes empresas podem funcionar com compensação para a não mensuração dos pequenos agentes econômicos. Uma mensuração somente do escopo um, como parece ser a defesa do autor, pode ser otimista demais, pois não leva em consideração a emissão de todas as empresas.
Foto: Veeterzay
Um tweet de 68 milhões de euros
Em setembro de 2018, o Grupo Santander convidou o banqueiro italiano Andrea Orcel para ser seu CEO. Logo a seguir, o banco espanhol retirou o convite. Orcel entrou com um pedido de compensação pelo ocorrido, mas o banco alegou que não tinha efetivado a contratação, não cabendo nenhum tipo de indenização. Orcel tinha saído do UBS para assumir o cargo.
Agora, um tribunal espanhol entendeu que cabe a indenização. E uma das provas que o tribunal considerou para sua decisão foram os tweets que Ana Botín, a presidente do Grupo (foto), postou em 25 de setembro de 2018, as boas vindas para Orcel no Santander.
O juiz do caso considera que as mensagens comprovam que Orcel foi, de fato, contratado. A decisão é de primeira instância e o Santander deve recorrer.
Compensação de Risco
A compensação de risco é um aspecto teórico conhecido desde os anos 70. A ideia básica é que as pessoas ajustam seu comportamento diante da percepção de risco. Em outras palavras, elas serão mais cuidadosas quando sentem que uma situação é de maior risco. O principal ponto da compensação de risco ocorre no sentido contrário: as pessoas tendem a ter um comportamento mais arriscado quando percebem que estão mais protegidas.
O exemplo mais citado da compensação de risco ocorre no trânsito. Os motoristas adotam um comportamento mais arriscado quando possuem equipamentos de segurança. O termo "compensação" é relevante: a melhoria no equipamento de segurança, como freio de melhor qualidade ou cinto de segurança, produz um efeito não esperado dos motoristas agirem de maneira mais imprudente.
A compensação de risco ajuda a explicar por que medidas de prevenção podem não atingir o efeito desejado. Como as pessoas se adaptam a uma nova situação, uma política no sentido de diminuir os riscos pode não surgir os efeitos esperados em razão da mudança de comportamento.
O estudo originário foi publicado em 1975 por um economista da Universidade de Chicago, Sam Peltzman. O estudo de Peltzman, que originou o efeito Peltzman ou compensação de risco, era com trânsito. Apesar do estudo original apresentar muitas falhas e seu modelo não ter tido sucesso em prever a mortalidade, sua influência é enorme. Na verdade, alguns acreditam que é inadequada por levar a uma inércia nas políticas públicas. Afinal, existindo a compensação de risco, qual a razão de melhorar o trânsito ou adotar políticas de saúde de prevenção?
Há alguns exemplos práticos onde foi observado a compensação de risco. Em 1967, a Suécia resolveu mudar a direção do trânsito, abandonando o "jeito" inglês. Os especialistas imaginavam que inicialmente a taxa de mortalidade aumentaria, já que ocorreu uma mudança na mão da direção. Entretanto, por 18 meses, a taxa de mortalidade reduziu, mesmo diante de uma mudança tão grande. Os motoristas suecos responderam ao aumento do perigo percebido tomando mais cuidado. Mas um ano e meio depois, a taxa de mortalidade voltou aos padrões normais: os motoristas já não notavam os efeitos da mudança da direção e passaram a agir normalmente. (Eu gosto de usar este exemplo nas minhas aulas)
Outro estudo, realizado em Munique, comparou os taxis com freios ABS e os taxis com freios comuns. Os automóveis eram semelhantes, mas as taxas de acidentes dos automóveis com ABS era um pouco maior. Ou seja, os motoristas com automóveis mais "seguros" percebiam esta diferença e ajustava seu comportamento.
Apesar da formulação da compensação de risco, os estudos mostram que medidas de segurança realmente reduzem as mortes no trânsito. Um artigo da Slate questiona que as consequências da proposição da compensação de risco tem um efeito danoso sobre melhorias para população:
A compensação de risco foi levantada para questionar uma ampla gama de intervenções em saúde pública, inclusive refrigerante diet, cigarros com pouco alcatrão, tampas de segurança para crianças em medicamentos, tratamentos de hipertensão e programas de troca de seringas. Em cada caso, o raciocínio é que a intervenção pode sair pela culatra porque as massas são burras ou indisciplinas demais para agir no que a comunidade médica considera ser do seu interesse.(...)
Isto inclui
(...) a infame hesitação do CDC e da OMS em recomendar máscaras no início da pandemia teve muitas causas ... Mas a causa básica é muito simples: as autoridades não confiavam no público. (...) A questão - para segurança do motorista, atividade sexual ou saúde pública - não é se algumas pessoas mudam seu comportamento em resposta ao risco percebido. É se, no nível da população, uma intervenção torna o mundo um lugar mais seguro e melhor
16 dezembro 2021
ISSB tem Chairmen
Faber nasceu em 1964. Com 22 anos obteve o mestrado em administração pela HEC Paris e logo após tornou-se consultor da Bain. Trabalhou no Baring Brothers, Legris e, após 1997, na Danone. Ficou na gigante francesa de alimentos até este ano, quando tornou-se Partner da Astanor Ventures. Segundo o comunicado da IFRS, Faber tem uma grande experiência mundial, tendo vivido em quatro continentes (África, Americas, Asia e Europa). Ele fundou entidades internacionais, incluindo One Planet Business for Biodiversity
Starups podem ajudar na lavagem verde?
Segundo Parmy Olson, da Bloomberg, a resposta seria sim. O aumento do interesse pela questão ambiental fez surgir a possibilidade de manipular os resultados ambientais de uma empresa, de um fundo ou de uma cadeia produtiva. Isto recebeu o nome de "lavagem verde".
Como há muita manipulação sobre esta informação, alguns parâmetros começaram a surgir. Um dos mais relevantes é o nível do escopo. Uma poluição do escopo da própria empresa, nas suas fábricas ou nos seus escritórios, estão classificadas como sendo do escopo 1 e 2. Geralmente as empresas divulgam estas emissões. Entretanto, uma empresa também pode ser responsável por emissões de outras entidades que fazem parte da sua cadeia de valor e isto estaria no escopo 3. Veja um exemplo: a empresa deixa de fabricar um produto poluente e passa a terceirizar sua produção. A emissão pela produção vai para o escopo 3, não aparecendo nos relatórios ambientais.
Segundo dados da Bloomberg, cerca de 75% das emissões mundiais estão no escopo 3. Por um lado, o fato do escopo 3 não está sendo evidenciado faz com que algumas empresas possam anunciar, com orgulho, que conseguirão ter negócios "limpos". Isto inclui empresas de petróleo, como BP e Shell, que não divulgam - ou não conseguem rastrear - o escopo 3. Mesmo quando um funcionário da empresa usa o avião para fazer uma viagem, a emissão geralmente não aparece nos relatórios. Ou seja, mesmo o escopo 1 e 2 estão sujeitos a manipulação.
Onde entra a starup? Sendo uma oportunidade de negócio, alguns empreendedores estão conseguindo desenvolver softwares para verificar a emissão do escopo 3 de uma empresa. É o caso da Normative, com sede na Suécia, ou a Persefoni, dos Estados Unidos.
Mesmo com os esforços, o texto faz uma ressalva:
Ian Thomson, professor de contabilidade e sustentabilidade da Universidade de Birmingham, que pesquisa a contabilidade de carbono há 30 anos, desconfia de uma única grande empresa de consultoria ou empresa de nuvem, como a Salesforce, que vende software de contabilidade de carbono chamado Sustainability Cloud, dominando o mercado para contabilidade de carbono. "Você precisa da sabedoria da multidão", diz ele, por que há muitos detalhes complexos para resolver ao medir o carbono do escopo 3. "Vai ser difícil encontrar uma única solução. O diabo está nos detalhes".
Imposto sobre carbono funciona?
Em meio a questão ambiental, a possibilidade de instituir um imposto sobre carbono é discutida por Tim Harford. Segundo ele, o imposto poderia tornar o custo ambiental mais palpável - não são estas as palavras, mas é este o sentido. O café seria um exemplo:
De acordo com Mark Maslin e Carmen Nab, da University College London, um quilograma de café no Reino Unido tem uma pegada de cerca de 15 kg de CO2. Se cultivado e enviado de maneira sustentável, teria uma pegada de 3,5kg. Com um imposto de carbono de 100 libras por tonelada, isto corresponde a 1,5 libras ou 35 centavos.
Com o imposto, a cadeia produtiva poderá modificar a forma de produção do café, para reduzir o imposto.
Gosto muito de Harford, mas parece que ainda não é uma solução. A instituição e cobrança de tal imposto seria bem complicada. Para cada produto - na verdade, para cada cadeia de produção - seria necessário um cálculo a parte.
O mesmo Harford cita um livro, How Bad are Bananas?, já na sua terceira edição, que mostra a pegada de carbono para vários produtos do dia a dia. Agora imagine a quantidade enorme de produtos que consumimos.
Escondendo a informação
The Economist mostra os efeitos do streaming sobre os filmes. Entre diversos tópicos, a revista britânica lembra que o streaming pode ter uma vantagem:
Os 50 mil atores americanos ganharam uma média de apenas US$22 por hora no ano passado, então a maioria fica feliz em receber o dinheiro adiantado e deixar o estúdio assumir o risco. Outro agente confidencia que clientes famosos preferem o sigilo dos streamers sobre as audiências do que o escrutínio público sobre os fracassos de bilheteria.
Em outras palavras, para o ator famoso um filme exibido na HBOMax será melhor que um filme no cinema. No cinema é possível ter acesso ao sucesso ou fracasso, enquanto na HBO isto não seria possível. Veja que a lógica é de que a informação não é boa...
Contabilidade obsoleta?
A tecnologia irá tornar a contabilidade obsoleta - como um campo de estudo independente? Faz sentido ter um departamento de contabilidade? Como isto deve afetar o currículo? São discussões interessantes. Uma posição favorável encontra-se a seguir:
Accounting — at least as an independent field of study — is becoming obsolete in today’s technology- and analytics-focused world. Its value lies in its interdisciplinary applicability and position as a foundational business curriculum. In recognition of that reality — and to maintain a pipeline of candidates open to CPA licensure, increase the number of engaged accounting students, and keep the profession relevant to the next generation — this author believes that colleges and universities should eliminate the accounting department as a stand-alone department and reorganize accounting under finance and information systems departments.
15 dezembro 2021
Contágio de desonestidade?
Parece que sim. Uma pesquisa (via aqui) mostrou que quando surge notícia de algum escândalo de corrupção, as pessoas ficam mais desonestas:
Em outras palavras:
Las pruebas presentadas anteriormente demuestran que la corrupción no solo genera costes económicos al malgastar los recursos públicos, sino que también tiene efectos negativos mucho más amplios en la sociedad. Entre ellos, la erosión de la confianza en los demás y la reducción del estigma que conlleva el comportamiento antisocial.
ESG e Risco de Greenwashing
Investimento Responsável, ESG e os riscos do Greenwashing
Nos últimos anos, tem sido notável o esforço internacional para definir métricas de sustentabilidade de modo a garantir que a divulgação de informação seja fiável e transparente.
A crescente narrativa da sustentabilidade e a incorporação de questões ambientais, sociais e governação (ESG) nas decisões de investimento tem impulsionado um crescente posicionamento das empresas no sentido de se alinharem com preocupações ecológicas e de sustentabilidade. Esta tendência tem sido acompanhada pela preocupação crescente com práticas de greenwashing – isto é, casos em que as empresas adotam o discurso sustentável e anunciam ações "verdes" de forma exagerada ou falsa, com o propósito de atrair investimento ou clientela.
As dúvidas acerca da qualidade da informação sobre cumprimento de critérios ESG e o risco de greenwashing têm sido identificadas pelos investidores como os maiores riscos no investimento sustentável. Por outro lado, o acesso à informação global permite aos consumidores identificar com relativa facilidade campanhas de marketing incoerentes e comportamentos dissonantes com as práticas alegadas pelas empresas. É, portanto, expectável, um escrutínio acrescido por parte dos stakeholders e dos consumidores, o que pode gerar o aumento de denúncias de práticas de greenwashing, com impactos comerciais, reputacionais e financeiros incalculáveis.
No entanto, não podem ser descurados os obstáculos de ordem prática que as empresas enfrentam para contabilizar os seus impactos e monitorizar a evolução dos mesmos. Para ultrapassar esta dificuldade, é necessário definir os padrões de reporte de informação não financeira, de forma mensurável e comparável com garantias de processamento uniformizado da informação fornecida.
Nos últimos anos, tem sido notável o esforço internacional para definir métricas de sustentabilidade de modo a garantir que a divulgação de informação seja fiável e transparente. As empresas podem hoje optar por diferentes sistemas de reporte – dos quais destacamos as normas Sustainability Accounting Standards Board (SASB), Task Force on Climate-related Financial Disclosures (TCFD) e Global Reporting Initiative (GRI).
Não obstante, em Portugal, o reporte ao abrigo destas normas é ainda incipiente. O Decreto-Lei n.º 89/2017, de 28 de julho – que transpôs a Diretiva 2014/95/EU do Parlamento Europeu e do Conselho, de 22 de outubro de 2014 (NFRD) - define as regras aplicáveis à divulgação de informação não financeira por grandes empresas e grupos. Contudo, a NFRD abrange apenas uma minoria do tecido empresarial português, deixando a maioria das empresas sem diretrizes sobre como medir e reportar dados.
Em dezembro de 2019, a Comissão anunciou a intenção de avançar com a revisão da NFRD. Após a consulta pública realizada, os stakeholders inquiridos identificaram como principais fragilidades a colmatar a falta de comparabilidade, fiabilidade e relevância da informação não financeira divulgada pelas empresas. Outra das preocupações identificadas foi a necessidade de definir padrões simplificados para pequenas e médias empresas de modo a garantir a proporcionalidade dos requisitos aplicáveis.
Na expectativa de que a revisão da NFRD venha a resolver as deficiências identificadas, de modo a evitar os riscos associados ao greenwashing, as empresas devem esforçar-se por entender o conceito de sustentabilidade, optar por estratégias de comunicação transparentes e fundamentadas e investir na certificação por entidades reputadas.
Joana Gonçalves - Jornal de Negócios - 1 de dez de 2021
Foto: Brian Yurasits
NFTs e Museus
O surgimento da NFT levantou a possibilidade de que entidades do terceiro setor pudessem aproveitar da onda para obter recursos. Em especial os museus, que possuem um acervo que poderia dispor sob a forma de arquivo eletrônico. Mas parece que isto não está ocorrendo e existem quatro motivos:
Primeiro - A NFT é algo complexo e os museus não possuem uma especialização no assunto. Seu foco sempre foi a obra física; NFT e criptografia foge do campo de atuação, compreensão e gestão de um museu.
Segundo - Há um aspecto relacionado com a propriedade que escapa das obras existentes no museu. Com a NFT, o artigo mantêm o controle do trabalho. Um livro autografado pelo autor é muito mais valioso que um livro autografado pelo editor.
Terceiro - o mercado tem valorizado o artista, não a instituição. Os investidores parecem considerar que uma NFT de um artigo é uma forma de interação e apoio financeiro para o seu autor.
Quarto - a NFT é volátil e arriscada; algumas delas são inúteis. Os jornais noticiam os casos extremos e provavelmente a maioria delas possuem valores insignificantes. E podem ser arriscado para o investidor.
Links
Lógica e sabedoria: a melhor pergunta que pode ser feita e a melhor resposta que pode ser dada
Copa do mundo de Excel: o melhor em planilha eletrônica
Dubov (russo) ajudou Carlsen (norueguês) na disputa do título contra Nepo (russo) e muitos não gostaram
Ikea faz um anúncio com Merkel aposentada
Elizabeth Holmes e a construção da imagem no julgamento da Theranos
14 dezembro 2021
Prioridades do Iasb
O presidente do Iasb, o alemão Andreas Barckow, afirmou que as prioridades para o próximo ano são as demonstrações financeiras primárias, o goodwill e impairment. A declaração ocorreu durante um encontro nos Estados Unidos, com o AICPA e CIMA.
No que se refere as demonstrações, a inovação é a divisão da demonstração do resultado em operacional, investimento e financiamento, além de outras informações sobre desempenho e melhorias na DFC. Sobre o goodwill, o dilema está na questão da amortização. Atualmente a entidade está dividida entre manter a atual abordagem ou uma possibilidade de amortizar. Talvez seja um assunto que não será resolvido em 2022.
Obviamente outra prioridade é apoiar a criação do International Sustainability Standards Board (ISSB). E entre as sugestões de trabalhos futuros tem-se: a questão do risco relacionado com o clima, a moeda criptográfica, a continuidade, o intangível e a DFC. Barckow afirmou que gostaria de começar a trabalhar a questão do intangível.
Outro ponto do discurso é um trabalho conjunto com o Financial Accounting Standards Board (FASB) sobre a convergência. Mas o próprio Barckow reconhece que isto deve ser complicado, em razão das normas mais rígidas e do aumento da diferença entre os dois reguladores.
Alguém usa a DVA?
Do blog da Governança uma pergunta importante: Será que alguém olha a Demonstração do Valor Adicionado (DVA)?
(...) Pois bem, alguns pesquisadores usam o DVA para analisar a questões tributárias. Outros usam as informações relacionadas com pessoal e encargos. É o meu caso, pois uso o item 7.08.01.01 (remuneração direta) para calcular a remuneração média dos empregados (uso também o número de empregados que está no Formulário de Referência), informação que irá compor um indicador muito utilizado lá fora, mas que é negligenciado por aqui: a relação entre a maior remuneração na empresa e a remuneração média dos empregados.
Acontece que, infelizmente, não se sabe se por preguiça ou pura negligência, algumas empresas não detalham a linha 7.08.01 (pessoal). Isso prejudica o meu cálculo, já que o valor que me interessa é a “remuneração direta” dos empregados (7.08.01.01).
Como sou bem educado sempre recorro ao DRI para tentar obter a informação de forma “amigável”.
Mas como quase sempre sou ignorado (quem mandou ser nano investidor? DRI gosta de falar é com o representante do fundo de pensão das professoras de Massachusetts ou do Alabama...), tenho que apelar para a CVM.
E assim foi feito: minha reclamação para o xerife contra nove empresas foi aceito e virou o processo nº 19957.009770/2021-80.
E, enquanto espero pacientemente a conclusão do processo, vou utilizando a informação que eu tenho (gasto total com Pessoal), arbitrando que a “remuneração direta” corresponde a 75% do total desses gastos, percentual este obtido com base em observações nos DVAs que foram preenchidos corretamente. (...)
Foto: Shakil
13 dezembro 2021
Exxon mudou sua postura ambiental?
Readability melhora após a IFRS
10 dezembro 2021
Pagamos demais por informações?
As decisões geralmente exigem informações. Mas nem sempre temos estas informações e, surpresa, muitas vezes podemos tomar decisões mas ficamos esperando por mais informações, muitas delas dispendiosas. Sobre este ponto, poderíamos ter cinco possíveis explicações.
A primeira é que subestimamos os custos da pesquisa da informação. As pessoas acreditam que é fácil e barato obter esta informação e por este motivo correm atrás de mais dados, com a ilusão de ter uma resposta definitiva para a questão
A segunda explicação é que o ser humano é otimista sobre as chances de que as informações obtidas no futuro sejam corretas. Outra forma de entender o problema está relacionado com a aversão ao risco e isto se manifesta no receio de tomar uma decisão antes do momento correto. A consequência da aversão é a procrastinação da decisão. Um quarto fator explicativo é a curiosidade; talvez o ser humano esteja curioso com novas informações. Finalmente, uma quinta explicação é que as informações atuais podem ter erros e coletar mais informações pode fazer parte da solução.
As pesquisas parecem mostrar que as pessoas acreditam que sua decisão será mais sólida com mais informações, mesmo em situações onde este ganho é marginal.
Expansão da democracia
Em 1921 o regime político mundial não era tão democrático assim:
No mapa, os países democráticos estão em azul. Em vermelho, as ditaduras. Cem anos depois, o mundo tem novas cores:
Isto inclui a África, nos dias atuais com um grande número de regimes autocráticos com eleição.09 dezembro 2021
Arte Roubada
O filme A Dama Dourada conta a história de uma descendente de judeus que entra na justiça para recuperar um quadro de Klimt que foi roubado de sua família durante a invasão dos nazistas na Áustria. O quadro tinha sido pintado retratando uma pessoa da família Bloch-Bauer e era uma atração no museu austríaco. É um filme que mistura batalha judicial com reconstituição histórica de um grande saque artístico realizado pelos nazistas.
O fato narrado no filme não é único. Durante séculos, os países conquistadores levavam as obras de arte dos países dominados. Isto inclui obras que são atrações nos principais museus, obras que são destaques para os visitantes. Entre estas obras podemos citar a Vênus de Milo, uma atração do Louvre, que foi retirada da ilha grega de Milos ou a pedra Roseta, que permitiu decifrar os hieroglifos egipcios, do Museu Britânico.
Neste sentido, há um meme que consegue expressar bem o significado deste saque:
Parece exagero, mas alguns dos dados apresentados no texto Geopolítica da arte mostram o tamanho do saque:
No Museu Britânico são 73 mil objetos da África Subsaariana, muitos deles saqueados
A França possui 90 mil objetos, sendo a grande parte roubada
O Museu Holandês de Culturas Mundiais estima que 40% do acervo de 450 mil itens foram obtidos de forma ilegítima
Os objetos contemplam parte da cultura e história de países como o Iraque (exemplo: placas cuneiformes de Gilgamesh, roubada pelos Estados Unidos em 1990), Nigéria (3 mil objetos retirados do antigo Reino de Benin por diversos países europeus), Grécia (mármore do Partenon) e até Brasil. No nosso caso, os seis únicos exemplares de mantos tupinambás estão espalhados pela Europa, desde a invasão holandesa no século XVII.
Se no filme A Dama Dourada foi necessário todo um processo para provar que a pintura foi saqueada, nós podemos imaginar o trabalho que será necessário para que este processo ocorra com estas milhares de obras. Alguns países estão adotando uma postura de reconhecer o saque e devolver algumas das obras: os Estados Unidos resolveram devolver as placas cuneiformes de Gilgamesh; a Alemanha está devolvendo alguns dos bronzes de Benin; e até a Bélgica, responsável por um dos piores massacres colonialista no Congo, também deve iniciar o processo. A Holanda foi um pouco além, facilitando o processo, até mesmo quando não existia um registro completo da procedência.
Além da questão legal existem outros problemas. O primeiro é que muitos dos itens provavelmente não estão catalogados e provavelmente nem as instituições sabem o que estão guardando.
O segundo é que alguns dos itens roubados são hoje uma atração para os museus que detêm sua posse. Veja o exemplo do Museu Britânico. Esta instituição destacou dez itens da sua coleção em um catálogo, sendo que metade possui origem duvidosa. Há resistências em desfazer dos itens roubados, pois é uma preciosa fonte de receita para os museus.
Um terceiro fato é que muitos objetos foram saqueados de civilizações que já não existem. Em alguns casos, o território onde o objeto foi retirado não está claramente mapeado, podendo ser objeto de questionamento por mais de um país. Isso sem falar nas situações onde o objeto foi retirado de uma área que atualmente está sendo disputada entre dois ou mais países. A questão aqui é para quem devolver e isto pode ser um problema sério. Mesmo em alguns casos aparentemente simples, como a Vênus de Milo, a devolução deveria ser para o governo grego ou para cidade de Milo? Lembro também alguns objetos que viajaram ao longo da história e que poderia talvez não ter somente uma procedência: uma espada da cruzada, fabricada na França e encontrada no Oriente teria de qual país?
Finalmente, a preservação e o transporte dos itens, após a superação dos obstáculos anteriores, também pode ser um problema. Alguns países não possuem um museu capaz de receber seus tesouros ou quando possuem a conservação é precária.
Sobre a questão, em 2020 postamos o seguinte:
Um dos grandes desafios da contabilidade é a mensuração de ativos culturais. O caso do Museu Britânico é muito mais desafiador. Afinal, um objeto roubado pode ser considerado um ativo? Veja que os reguladores não apresentam uma resposta satisfatória para este caso. Na lógica da apropriação do fluxo de caixa, a resposta seria sim. Os artefatos seriam um ativo do Museu Britânico. Mas é válido considerar desta forma? A ética do contador não deveria tratar disto de maneira melhor?
Revendo agora creio que o assunto envolve realmente muitas questões. A primeira delas, é claro, se um item roubado pode ser considerado um ativo. A contabilidade sempre esteve dividida entre o aspecto jurídico e o aspecto econômico. A frase “essência sob a forma” não deixa de ser uma escolha; nesta frase há uma clara escolha para o aspecto econômico. Entretanto, a contabilidade nasceu, cresceu e solidificou nas regras do capitalismo e uma das suas regras é o respeito ao direito de propriedade. Este é um ponto sensível para o capitalismo, já que o sistema jurídico garante alguns direitos e deveres das partes que permite o funcionamento da economia. Esquecer estas regras pode ser complicado. Certamente uma delas, este direto à propriedade, é importante na discussão sobre um ativo roubado. Não é possível afirmar que um objeto saqueado se enquadre dentro do direito à propriedade. Isto significa, sem dúvida nenhuma, que temos aqui uma discussão também jurídica e mais profunda que esta postagem. E este aspecto está inserido dentro do controle, um dos itens cruciais da definição de ativo. É possível afirmar que um item roubado deve ser ativo? Provavelmente não.
A atual definição de ativo do Iasb reforça esta posição no que se refere a associação de ativo com recurso econômico e deste com o termo “direito”. Assim, pelas regras e fundamentos da contabilidade, um item roubado não pode ser considerado um ativo. Mas em termos práticos isso se sustenta? Provavelmente um contador deve ter uma grande quantidade de argumentos para defender o reconhecimento do ativo e em muitos casos o responsável pela contabilidade não possui condições de verificar a procedência do item. E nos casos onde a entidade adquiriu o item de um terceiro, o problema pode ser mais complicado ainda.
Mas esta questão talvez seja mais fácil de ser considerada dentro de uma empresa do que de um museu. Uma empresa de posse de um ativo roubado deve ter problemas com seus clientes, seus fornecedores e talvez com o governo se reconhecer isto na contabilidade. O mecanismo de controles e governança talvez seja maior nas grandes empresas do que nas entidades do terceiro setor. Em especial nos museus, onde um objeto roubado pode ser muito importante para sua coleção. Uma atitude prática, para não dizer cínica, é não reconhecer tal bem como “ativo”, muito embora esteja ajudando o museu a gerar riqueza. Seria a abordagem possível, sustentado pela desculpa de dificuldade de mensuração do valor do ativo?
Ativos com procedência duvidosa
Algumas entidades podem lidar com a presença de ativos que possuem uma procedência duvidosa. Um exemplo de tal situação é quando a entidade possui um item que foi originário de um ato ilícito, como um roubo ou furto, ou então um ativo falsificado. Mais complexa ainda é a situação de uma obra de arte, que faz parte do acervo da entidade, oriunda de um espólio de guerra ou de uma invasão colonialista.
Estas diferentes situações mostram a importância de levar em consideração, no processo de reconhecimento de um ativo por parte de uma entidade, do aspecto jurídico. A mera posse de um recurso econômico talvez não seja um critério suficiente para que o mesmo seja considerado um ativo. Da mesma forma, o controle da riqueza gerada pelo ativo também pode não ser um bom critério. Afinal, uma obra de arte que faz parte de um acervo de um museu, oriunda de um saque colonialista, pode ser considerada um ativo deste museu? O museu detém sua posse, controla a riqueza gerada com os fluxos de caixa oriundos do ingresso de visitação, mas sabendo de sua origem não parece razoável a contabilidade reconhecer como ativo.
O dilema apresentado é algo real e presente em muitas instituições de países que aproveitaram guerras e conquistas para retirar, de uma cultura, seus itens valiosos. Nos anos recentes tem crescido a pressão para que estes itens sejam devolvidos aos povos que produziram o objeto. O sistema jurídico internacional tem reconhecido esta situação, desde que fique comprovada a origem duvidosa da obra de arte.
É também importante lembrar que a contabilidade sempre esteve muito próxima do direito à propriedade. Este direito garante regras mais duradoras e reconhece que um ativo, pertencente a uma pessoa ou cultura, não pode ser tomado à força. Existe todo um aparato jurídico no sentido de tentar garantir este direito nas sociedades capitalistas
DRE em formato gráfico
Eis um belo exemplo de como é possível fazer uma DRE de maneira gráfica:
Mas nada de gráfico de pizza...08 dezembro 2021
Fraudes Contábeis e Repercussão Tributária
Alexandre Alcântara disponibiliza um e-book, na continuidade do seu trabalho sobre Fraudes Contábeis e tributação. Do seu blog:
Lançamos ontem o e-book “Decisões Administrativas e Judiciais sobre Fraudes Contábeis com Repercussão Tributária: Foco especial no ICMS“, uma coletânea com mais de sessenta ementas, apresentando uma amostra do entendimento dos órgãos julgadores no âmbito administrativo tributário e judicial no que se refere às infrações à legislação tributária, apuradas através da presunção legal de omissão de saídas de mercadorias, cujos indícios foram identificados através da auditoria da escrituração contábil do contribuinte.
O uso da contabilidade como instrumento de auditoria contábil tributária vem se consolidando ao longo dos anos, sendo esta coletânea uma clara constatação deste fato. Neste sentido a 8ª Câmara do 1º Conselho de Contribuintes (RFB) deixa evidente a importância da contabilidade para efeito de identificação da prática de ilícitos tributários, na medida em que ressalta que a contabilidade se revela em três dimensões, e dentre elas, a fiscal, a qual faz “prova a favor do sujeito passivo. Caso contrário, faz prova contra” (texto desta ementa no e-book).
As decisões foram classificadas por tipo de fraude contábil praticada, segregando-as entre decisões dos tribunais administrativas das várias Secretarias de Fazenda Estaduais e Receita Federal do Brasil e decisões no âmbito judicial.
As fraudes a que se referem o e-book encontram ampla previsão legal de presunção no ordenamento legal tributário pátrio, conforme abordamos detalhadamente em nosso livro “Fraudes Contábeis: repercussões tributárias – enfoque no ICMS” (Curitiba: Juruá, 2018), no qual apresentamos adicionalmente os aspectos teóricos e práticos sobre como as fraudes contábeis são praticadas, sinalizando inclusive alguns casos de como as mesmas podem ser identificadas durante os trabalhos de auditoria fisco-contábil.
Esperamos que através desta coletânea fique demonstrado a importância do uso da contabilidade como meio de apuração ilícito tributário, notadamente aqueles relacionados ao ICMS.
Empresas chinesas e o mercado dos EUA
E a questão das empresas chinesas com ações nas bolsas dos EUA continua:
As autoridades reguladoras do mercado dos Estados Unidos (SEC) anunciaram nesta quinta-feira (2) que adotaram uma emenda aos seus regulamentos que lhes permite retirar do pregão as empresas que não auditam suas contas com auditores autorizados, algo que acontece com todas as empresas chinesas em Wall Street.Essas alterações decorrem de uma lei votada em dezembro de 2020 no Congresso, a HFCAA, que exige que uma empresa de capital aberto nos Estados Unidos certifique suas contas por uma firma autorizada pela organização de contabilidade independente PCAOB.
Seja um dos primeiros a testar a Mynt e tenha acesso direto ao mercado cripto, de forma simples e segura. As empresas com ações na bolsa ou que emitem dívidas nos Estados Unidos têm até o final de 2022 para respeitar as novas normas, disse a SEC em um comunicado.
O mandato exige, entre outras coisas, que as empresas divulguem se são "de propriedade ou controladas" por um governo, acrescentou o órgão.
As empresas chinesas e de Hong Kong são notórias por não apresentarem suas demonstrações financeiras a auditores autorizados.
Este novo texto representa, portanto, uma ameaça à negociação dessas empresas na bolsa e foi divulgado no momento em que as autoridades chinesas impuseram novas exigências nos últimos meses para que as empresas sediadas na China fossem listadas nos Estados Unidos.
Segundo a agência especializada Bloomberg, as autoridades chinesas pediram ao "Uber chinês", Didi, que saísse de Wall Street.
Nesta quinta-feira, as ações do Alibaba atingiram seu nível mais baixo em quatro anos, com os rumores de que o gigante do comércio eletrônico chinês não seria mais listado na bolsa americana.
Links
Médicos podem mais problemas de saúde mental (via aqui)
Cinco piores propagandas pandêmicas (inclui Coca-Cola e Axe)
e uma campanha com conselhos de como criar crianças valentes e carinhosas na cultura latina
As mulheres mais poderosas do mundo
Apple assinou um acordo secreto com o governo chinês em 2016 com promessas de investimento - realmente a China tem um forte poder de convencimento contra as empresas multinacionais
Emojis mais usados (imagem)
06 dezembro 2021
Links
Esta banda toca muito mal o Jingle-Bell (e "nenhum professor foi demitido") - via aqui
Os pesquisadores descobriram que as datas de "expiração" - que raramente correspondem a alimentos que realmente expiram ou estragam - são principalmente bem-intencionadas, mas aleatórias e confusas. Gostei da frase: “Na ausência de informações culinárias, as pessoas assumem que qualquer informação que tenha sido fornecida deve ser a informação mais importante."
“Se eu não fosse otimista, não acho que teria fundado uma empresa de carros elétricos ou de foguetes” Os maiores erros de Musk nos últimos cinco anos
Como garantir que a guerra climática não se torne uma guerra de classes - A repressão da União Européia aos combustíveis fósseis pode trazer problemas no futuro: Mesmo que um futuro de emissão zero prometa novas oportunidades em setores como carros elétricos ou construção com eficiência energética, ele destrói trabalhos intensivos em carbono ao longo do caminho. A avaliação de impacto da UE estima uma perda total de 494.000 empregos até 2030 em conjunto; isso pode não parecer muito, mas, como eles se concentrariam em setores como o carvão, são regiões inteiras que enfrentam o problema. O impacto da transição elétrica já atingiu visivelmente o setor automotivo, responsável por quase 3 milhões de empregos na Europa.
Congresso brasileiro deixa de fiscalizar Orçamento e não julga contas presidenciais há 20 anos - Então para que serve o Congresso?
05 dezembro 2021
Disputa do título mundial de xadrez
Começou no final de novembro a disputa do título mundial de xadrez. De um lado, o atual campeão, o norueguês Magnus Carlsen. O desafiante, que disputou em venceu um torneio na metade do ano, é o russo Ian Nepomniachtchi. Ambos possuem 31 anos de idade e são excelentes jogadores. São grandes mestres, ou seja, estão na pequena elite dos melhores jogadores do mundo. Mesmo com a qualidade de ambos, o torneio, jogado em Dubai e com direito a um prêmio total de 2 milhões de euros, tinha um grande favorito.
Carlsen talvez seja o maior de todos os tempos. No xadrez existe uma medida que informa a qualidade atual de cada jogador, que é a pontuação no rating. Se um jogador ganha uma partida de um adversário mais forte, irá melhorar seu rating. Se perde de um adversário com rating pior, também irá perder pontos no rating. Com este sistema, podemos indicar a força de cada jogador de xadrez antes de uma partida. O rating atual de Carlsen é de 2855. Isto é quase 3 pontos abaixo do maior rating obtido por Kasparov, outro russo, que é uma referência no xadrez. A questão é que o rating atual de Carlsen não é a sua maior marca. O norueguês já chegou a 2889 de rating, uma marca absurdamente elevada e 30 pontos acima do melhor desempenho de Kasparov.
Além disto, Carlsen também é muito bom no xadrez com menor tempo para as jogadas. Na verdade ele é o melhor do mundo também quando é necessário pensar mais rápido. Isto é uma vantagem, quando o jogador estiver com problema de tempo na partida ou no critério de desempate da disputa do título, que será através de partidas rápidas.
Eu disse que Nepo, como Nepomniachtchi é chamado, também é um bom jogador. Seu rating atual é de 2.782, um número muito bom, mas um pouco mais de 70 pontos abaixo do rating de Carlsen. E o seu ponto máximo foi de 2.797, em abril deste ano. Diante desta diferença, era razoável supor que o norueguês confirmasse sua posição de campeão mundial. No entanto, antes do torneio começar, havia uma impressão de que Nepo está focado na sua preparação, enquanto Carlsen estava disputando torneios rápidos, participando de programas na televisão norueguesa e fazendo uma preparação ruim.
O começo das 14 partidas mostrou que Nepo realmente estava bem preparado. Nas cinco primeiras partidas, os jogos foram marcados por uma elevada precisão de ambos os jogadores. Uma análise histórica realizada pelo site 559, de Nate Silver, mostrava que este era a disputa de maior precisão da história. Como isto é mensurado? Para cada jogada ,de cada partida, de cada disputa do título era calculado a melhor jogada - em alguns casos “as melhores jogadas” - e comparado com a jogada realizada. Isto diz muito sobre o nível do xadrez que estamos vendo em Dubai.
Até chegar a sexta partida da disputa, que entrou para a história, por ser a partida mais longa da história das disputas de títulos em termos de movimento. Foram 136 movimentos de cada jogador, superando uma partida de Karpov e Korchnoi, nos anos setenta. Em termos de tempo foram 7 horas e 45 minutos, o que é muito. Imagine duas pessoas passarem quase oito horas, jogando um xadrez de elevado nível, praticamente sem cometer erros.
A partida começa a tomar um rumo decisivo no 79o. lance. Carlsen estava com as peças brancas e tinha duas torres, três peões e um cavalo. Nepo, de pretas, tinha a dama, um bispo e dois peões. A figura a seguir mostra a posição do tabuleiro. Veja que no lado direito tem um ponteiro que mostra a vantagem da posição. O ponteiro está próximo do nível zero, indicando que o jogo esta equilibrado.
Nos livros de xadrez há uma correspondência entre cada peça e seu valor. A maioria dos livros diz que peão teria um valor de 1 ponto, cavalo um valor de 3 pontos, bispo 3 pontos ou um pouco mais, torre corresponde a 5 pontos e a dama é igual a 10. Ou seja, neste momento, o lado branco teria 16 pontos (3 peões, 1 cavalo e duas torres) e as pretas teria 15 pontos (2 peões, um bispo e uma dama). Como o bispo é um pouco melhor que o cavalo e a dama tem uma grande mobilidade, a posição é equilibrada. Neste momento, havia uma probabilidade de 62% de empata na partida, segundo os cálculos do computador.
Uma das características de Carlsen é sua persistência. Ele busca pequenas vantagens e joga para provocar o erro do adversário. Em muitas situações, o norueguês conseguiu vitórias em situação de claro empate, explorando estas pequenas vantagens ou insistindo até o erro do adversário. Este seria o caso. A partida tinha iniciado as nove horas, horário de Brasília, e já estava no início da tarde. Neste ponto, os jogadores precisam fazer lances mais rápidos. Carlsen decide trocar peças e avançar seus peões, que estão no centro do tabuleiro. Neste momento, ele decide trocar uma das torres por um peão e um bispo. Ou seja, troca 5 pontos por 4 pontos. Não parece ser uma boa escolha.
No 110o. lance, ou seja, 30 lances depois da troca que Carlsen realizou, o campeão conseguiu avançar um dos peões. A figura a seguir mostra a posição do tabuleiro:
Veja que o ponteiro da vantagem, no canto esquerdo, manteve a mesma posição. Ou seja, a partida, no momento, estava empatada, com chance de 29% de Carlsen vencer. Nepo decide trocar seu peão, ficando somente com a dama contra torre, cavalo e dois peões. Em termos de contagem, 10 pontos para cada. Entretanto, a mobilidade enorme da dama pode ser compensada pelo fato de Carlsen ter dois peões no tabuleiro. Caso um deste peões chegue na última fileira, poderá ser convertido em uma dama.
Assim, o russo tentava evitar o avanço dos peões e usando o poder da dama, repetir por três uma posição, alcançando um empate. Ou quem sabe um erro do campeão. A estratégia de Carlsen é defender suas peças, enquanto tenta avançar seus peões. Eis a posição após o lance 132 das pretas:
Carlsen já conseguiu avançar um pouco seus peões. Nepo está agora ameaçando tomar a torre branca e Carlsen precisa defendê-la. Ele pode trazer o rei para perto da torre e tudo se resolve. Observe que a barra na lateral esquerda agora é quase toda branca. Há uma vantagem de 3 pontos (que corresponde a 3 peões) para o lado branco. E o computador já indica que as brancas possuem 100% de chance de vencer.
Mas em lugar de defender sua torre, Carlsen avança o peão. Depois de quase oito horas de jogo, ele consegui ver uma linda jogada. No xadrez quando temos uma jogada bonita geralmente usamos o ponto de exclamação. Seria este o caso. Qual razão? Ele deixou a torre para dama tomar. Ou seja, o avanço do peão significa a perda da torre. Mas se Nepo fizer isto, o cavalo move, dando cheque e após o movimento do rei, cavalo toma a rainha de Nepo. Esta jogada é conhecida como garfo, onde uma peça ataca duas ao mesmo tempo.
Depois disto, Nepo abandona no lance 136. Esta partida foi disputada na sexta. No sábado, uma rápida partida que terminou em empate. No domingo, nova vitória de Carlsen, agora aproveitando um erro de Nepo. A disputa está 5 a 3 e se antes estava difícil para Nepo, agora parece impossível.
Ah, um ponto muito relevante. No xadrez moderno, quando você quer reconhecer que perdeu a partida, você não derruba o rei. Isto é coisa de cinema (e do xadrez antigo). Para falar para seu adversário que você abandou a partida, basta parar o relógio.
Para assistir o torneio, há diversos sites com transmissão e comentário. O Chess24 possui em diversas línguas. Em inglês tem a Judit Polgar, fantástica, e Giri comentando. Há também lá em língua portuguesa. Mas de preferência opte pela transmissão em espanhol.
04 dezembro 2021
03 dezembro 2021
Rir é o melhor remédio
Fale com o jurídico ou com a contabilidade. O engraçado é que o jurídico parece o lado bom; a contabilidade o lado mau.
02 dezembro 2021
Revolução na Filantropia
A revista The Economist traça um perfil sobre Kenzie Scott, uma das fundadoras da Amazon, que após o divórcio, resolveu gastar sua fortuna com doações para o terceiro setor. O texto traz algumas informações relevantes. Eis algumas delas:
Além do ritmo das doações, Scott é extraordinária pela maneira como doa. A maioria dos “megadoadores” de hoje se vale de uma abordagem tecnocrática. Eles estabelecem uma fundação, definem beneficiários por meio de extenuantes processos seletivos, financiam projetos específicos e os monitoram atentamente. Já Scott está doando como as pessoas da classe média doam: distribuindo dinheiro entre várias organizações e permitindo que elas continuem seu trabalho.
(...) A abordagem envolve distribuir doações por organizações relativamente pequenas, que atuam em uma gama de campos, incluindo equidade racial e de gênero. Boa parte das doações de Scott foi para grupos locais nos EUA, como bancos de alimentos e YMCAs.
A Bloomberg News enviou questionários para os beneficiários de todas as 786 doações de Scott e obteve resposta de 270 organizações. A pesquisa constatou que metade delas, excluindo faculdades e universidades, mantém menos de 50 funcionários. Para quase 90% dos grupos, a doação de Scott foi a mais alta que já receberam. Em contraste, a Fundação Gates doou cerca de 30% de seu fundo ao longo de duas décadas para dez grandes instituições internacionais, incluindo a Organização Mundial da Saúde; a aliança vacinal Gavi; e o Fundo Global de Luta Contra Aids, Tuberculose e Malária.
A segunda decisão é como distribuir o dinheiro. Neste sentido, a decisão de Scott de realizar doações irrestritas é popular entre beneficiários. Líderes de ONGs reclamam há muito que doadores destinam dinheiro para projetos específicos, o que faz com que eles tenham dificuldades para financiar as atividades cotidianas. Um terço dos grupos que receberam doações de Scott está usando o dinheiro para contratar mais funcionários, e mais de um quinto planeja investir em tecnologia, segundo pesquisa da Bloomberg.
(...) A terceira decisão é como avaliar o que as ONGs fazem com o dinheiro. Scott falou pouco desse assunto, mas neste sentido também, afirmam os beneficiários, a abordagem dela é suave. A uma delas, o Centro Nacional para Filantropia Familiar, foi solicitado o envio de um relatório anual “simples e breve” nos próximos três anos, que informe as atividades da organização. Não há nenhum tipo de formulário ou modelo para esse relatório e nenhum esforço de aconselhamento para a organização é feito ao longo desse tempo. Scott cunhou um termo para essa abordagem: “semear concedendo”.
Tenha sido esta sua intenção ou não, Scott fez um desafio muito necessário ao modelo hierárquico de burocracia que prevaleceu na filantropia por décadas. Isso parece já estar influenciando outros ricaços. O ex-marido de Scott, por exemplo, é criticado por rejeitar a assinar o Giving Pledge e ser vagaroso em fazer doações. Mas, quando Bezos voltou para a Terra, após sua primeira viagem ao espaço, este ano, ele anunciou uma doação de US$ 200 milhões que foi uma surpresa para os beneficiários e foi concedida na forma de financiamentos irrestritos. “Sem burocracia”, afirmou ele.
Nada disso indica que Scott tenha encontrado alguma fórmula mágica para a filantropia responsável. Em busca de discrição, ela abdica de transparência. Scott manteve secretos seus conselheiros e, desta maneira, nenhum dos líderes de ONGs ávidos para entrar em seu radar conseguiu entrar em contato com ela, a não ser por comentários em seu blog.
Existem tantos estelionatários que fingem fazer doações em nome de Scott que o perfil dela no Twitter direciona vítimas para a página de reclamações do FBI. E pelo motivo de Scott doar como indivíduo, ela não é sujeita à mesmas auditorias que uma fundação. Rob Reich, da Universidade Stanford, aponta que essa opacidade é rara entre grandes doadores. “Isso insulta cidadãos democráticos por causa do tipo de poder que ela ostenta”, observa.