“Se você tem dinheiro, deve sair já para comprar ações de bancos sem pensar duas vezes.”
Os fatores de atração dos mercados de crescimento acelerado que pareciam tão promissores na esteira da crise financeira agora parecem cada vez mais difíceis de se sustentar.
O conselho de Pan Gonsheng foi franco e direto, como lhe é peculiar. Ao apresentar os resultados fabulosos do Agricultural Bank of China, algumas semanas atrás, o vice-presidente do banco tinha todos os motivos para estar otimista.
Ele falava das instituições chinesas e não das menosprezadas ações das congêneres ocidentais, possuído de um otimismo que cercou de forma semelhante outros grandes setores bancários dos mercados emergentes, notadamente o do Brasil, nos últimos anos.
A crise financeira que tomou conta de boa parte do planeta três anos atrás se transformou numa crise da dívida soberana com uma segunda rodada de efeitos indiretos inevitáveis sobre os bancos da Europa e dos Estados Unidos. Por seu lado, o desempenho dos bancos das economias do grupo Bric, de crescimento acelerado, formado por Brasil, Rússia, Índia e China – principalmente no Brasil e na China, que exibiram saudáveis tendências de crescimento – ganhou grande destaque. Os bancos domésticos desse grupo de países dispararam.
Em uma década, crédito imobiliário no Brasil cresceu de quase zero para 17% das dívidas das famílias
E os estrangeiros – do HSBC até o Santander, passando pelo Citigroup – se empenharam muito em se expandir nesses mercados, puxados não apenas pelas perspectivas de crescimento como também pelo fato de que essas economias, menos afetadas pela crise mundial, adotaram uma linha mais branda na investida da reforma regulatória que limita os lucros no Ocidente.
Ultimamente, no entanto, há evidências de que o ritmo impetuoso do histórico de crescimento desses bancos está se mostrando difícil de sustentar. A exortação de Pan, do Agricultural Bank of China, foi tanto uma tentativa de conter a queda de 20% registrada pelos preços das ações dos bancos chineses neste ano quanto uma afirmação triunfante de fé num mercado em surto de crescimento. Os céticos começam a perguntar: será que isso terminará em lágrimas?
O rápido desenvolvimento do Brasil e da China nos últimos dez anos, aproximadamente, se alicerçou sobre uma drástica expansão de seu setor bancário, que, por sua vez, se ergueu sobre a rápida evolução de um mercado de crédito de passado caótico.
Paulo José lembra como o crédito chegou ao Brasil, abrindo o caminho para um ativo mercado imobiliário. O veterano corretor de imóveis diz que a mudança decisiva ocorreu em 1997, quando foi aprovada uma lei que facultava aos bancos tentar reaver os imóveis dos mutuários inadimplentes. Ao mesmo tempo, as autoridades da área econômica começaram a tentar reduzir a inflação galopante, o que abriu espaço, no longo prazo, para uma redução gradual das taxas de juros. Nascia então o mercado de contratos de crédito imobiliário.
Sem achar interessados, Bank of America teve de vender 5% do China Construction Bank para os próprios chineses
Em pouco mais que uma década, o crédito imobiliário no Brasil cresceu de virtualmente zero para 17% das dívidas das famílias, ou cerca de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), e se tornaram um fator impulsionador da economia. “Antes, com a escalada da inflação, era muito difícil para as pessoas obter financiamento”, recorda José, que opera no bairro de elite dos Jardins, em São Paulo.
Isso é apenas uma ilustração de como o setor bancário do Brasil e a economia do país mudaram nos últimos dez anos. O histórico do país de gestão econômica estável, crescimento sólido, formação de uma nova classe média baixa e aumentos salariais ajudou a produzir um dos mais sólidos setores financeiros dos mercados emergentes. No início da década de 1990, a inflação anual era medida em milhares de pontos percentuais. Hoje, resume-se a um único dígito.
Os bancos brasileiros ostentam alguns dos maiores índices de capitalização do mundo, com os de nível 1 que equivalem, em média, a 17% de seus ativos ponderados por grau de risco. Sua lucratividade faz inveja aos pares do Ocidente.
Uma história semelhante – com um pouco mais de influência do governo – se desenrolou na China. A partir da virtual insolvência de uma década atrás para sua emergência como as maiores instituições do mundo, ricas em crescimento de dois dígitos dos lucros e resultados extremamente saudáveis, os bancos chineses podem ser perdoados por terem assumido ares de superioridade.
Nesse caso, mais uma vez, os alicerces da expansão foram lançados no fim da década de 1990, quando Pequim injetou US$ 100 bilhões nos maiores bancos estatais e transferiu seus empréstimos não quitados para empresas de administração de ativos. Isso contribuiu para transformá-los em empresas mais enxutas, com foco comercial mais apurado. Numa investida pela eficiência, reduziram o número de agências e demitiram centenas de milhares de funcionários. Com faiscantes novas sedes e redes ampliadas de caixas automáticos, começaram a se parecer com os bancos de qualquer lugar do mundo desenvolvido.
O ápice dessa metamorfose foi uma onda de Ofertas Públicas Iniciais (IPO, pelas iniciais em inglês), iniciada em 2005. O governo continua sendo o controlador majoritário dos bancos, mas os lançamentos de suas ações em bolsa obrigou-os a se tornar mais transparentes – e a prestar contas aos sócios privados.
A teoria se mostrou acertada – até certo ponto. O crescimento das operações bancárias pela internet, dos cartões de crédito e de uma série de produtos de investimento para os poupadores reflete o acirramento da concorrência. Mas os bancos chineses ainda extraem cerca de 70% de seus lucros das confortáveis margens líquidas de juros dadas de mão beijada por Pequim, ao fixar um piso para as taxas incidentes sobre os empréstimos e um teto para as taxas incidentes sobre os depósitos, o que lhes permite tomar empréstimos a baixo custo e conceder empréstimos de alto custo. E uma explosão do crédito nos últimos três anos – quando o governo utilizou os bancos para conceder um enorme incentivo fiscal – serviu de lembrete de que o governo, e não o mercado, é que era seu senhor supremo.
O total de empréstimos concedidos na China está quase 80% maior do que antes da crise, segundo dados do banco central. Mas esse crescimento ocorreu, em grande medida, devido às ordens de Pequim de abrir as torneiras. Isso, segundo dizem os pessimistas, pode levá-lo a revertê-las – e esse é um motivo significativo pelo qual os investidores mais nervosos passaram a encarar os bancos chineses como gigantes frágeis.
Dentre as principais agências de classificação de crédito, a Fitch foi a que fez soar o alarme com mais estridência, ao advertir que mais de 50% de todos os novos empréstimos concedidos desde 2008 foram para o superaquecido setor imobiliário ou para os endividados governos municipais. “Há uma alta probabilidade de virmos a assistir a certa deterioração da qualidade dos ativos nos próximos anos”, diz Charlene Chu, da Fitch.
Um indício da queda do grau de confiança do investidor no rumo tomado pelas reformas ocorreu no mês passado, quando o Bank of America vendeu uma participação de 5% no China Construction Bank, o segundo maior banco do país – e do mundo – por valor de mercado. Fontes familiarizadas com o negócio disseram que o Bank of America — pressionado em seu país de origem para conter o agravamento de uma problemática demonstração de resultados – passou por dificuldades em atrair instituições estrangeiras e acabou vendendo a maior parte da posição para instituições estatais chinesas. Alguns anos atrás os compradores ocidentais estariam fazendo fila para conquistar um ativo tão rendoso.
Previsões carregadas de nuvens negras foram dirigidas ao Brasil também, onde o crescimento acelerado voltou este ano a níveis mais normais depois de uma alta recorde, fiscalmente induzida, de 7,5% do PIB em 2010, em meio a uma retomada da inflação.
Os administradores de fundo de hedge Paul Marshall e Amit Rajpal, da Marshall Wace, argumentam que o mercado de crédito do Brasil se encaminha para uma crise ao estilo americano. “Corremos o risco de migrarmos de um surto de crescimento para uma depressão”, escreveram em julho. Eles argumentam que a quitação de dívidas consome quase 28% da renda disponível das famílias, enquanto o consumidor americano gastava 14% para saldar dívidas durante a crise do “subprime”, em 2008.
Eles destacam também as altas taxas de juros do Brasil – que alcançam, em média, 47% ao ano, mas que sobem para até 205% ao ano em um dos tipos de empréstimo por cartão de crédito -, que aumentam as taxas de inadimplência e os problemas de alguns bancos de menor porte. Na verdade, a taxa de inadimplência em relação aos empréstimos alcançou sua maior alta de 17 meses em julho, quando os empréstimos em atraso de 90 dias ou mais aumentaram para 5,2% do crédito pendente, comparativamente aos 5,1% registrados em junho. (Nos Estados Unidos, antes da crise, a parcela de empréstimos não quitados ultrapassava os 10%.) A taxa de inadimplência das pessoas físicas subiu para 6,6% dos empréstimos em julho, em relação aos 6,4% de junho, enquanto a das pessoas jurídicas permaneceu inalterada, em 3,8%, pelo terceiro mês consecutivo.
“De alguns anos para cá, ficou bem fácil tomar dinheiro emprestado”, diz Serlina, uma empregada doméstica de uma família rica de Salvador, no Nordeste brasileiro, cujo irmão e cunhada acabaram entrando nas listas negras das agências de crédito como inadimplentes. Para os pobres, o problema surge quando um gasto inesperado, como uma emergência médica, os obriga a atrasar um pagamento. “A maioria gasta toda a renda que sobra em dívidas”, diz.
Mas um grande contingente de comentaristas rejeita comparações “simplistas” entre o Brasil e os Estados Unidos, argumentando que o crescimento da inadimplência no Brasil é parte do ciclo natural de crédito, num momento em que o crescimento da economia passa por uma fase de moderação e o Banco Central eleva as taxas de juros – em 175 pontos-base este ano – para conter a inflação. Os casos de inadimplência, argumentam ainda, continuam bem abaixo das altas recordes registradas no país em 2009 e se harmonizam com as tendências de longo prazo.
“No Brasil, é verdade que o crédito está registrando altas taxas de crescimento, mas a base e a dinâmica desse crescimento repousam sobre fundamentos saudáveis”, ponderou a gestora Dynamo em recente nota aos investidores. A empresa é uma investidora de longo prazo no líder do mercado brasileiro Itaú Unibanco, também maior banco privado da América Latina.
A bolha dos EUA, por exemplo, teve como base a atitude de vista grossa diante do risco que influenciou os preços dos ativos – principalmente imobiliários -, possibilitou aos consumidores tomar empréstimos a taxas anormalmente baixas. No Brasil, o que sucede é o contrário. As altas taxas de juros cobradas pelos bancos indicam que os riscos são devidamente considerados, o que limita a capacidade dos tomadores de acumular dívidas. A economia tem, além disso, muito a percorrer para alcançar até mesmo a penetração do crédito atingida por países vizinhos latino-americanos como o Chile, onde o crédito ao setor privado corresponde a 70% do PIB. No Brasil, o nível é de 47,3%, comparativamente aos 26% computados em 2002.
Em vista disso, alguns se perguntam se o crédito no Brasil tem capacidade para continuar a crescer tão rapidamente. Tony Volpon, da Nomura, argumenta que serão necessários vencimentos mais dilatados e taxas de juros mais baixas para sustentar uma nova dose de crescimento rápido do crédito.
As ações do Itaú, uma das piores do setor bancário brasileiro em termos de desempenho na bolsa, despencaram 33% neste ano. Elas foram empurradas para baixo por um volume maior de dívidas não quitadas do que o previsto em sua divisão voltada para pequenas empresas, que afugentou os investidores. “Vemos consumidores brasileiros que já ultrapassaram o limite do razoável, que estão vulneráveis a qualquer choque imprevisto à disponibilidade de crédito e ao crescimento da renda”, diz Volpon. Mas ele diz também: “Não prevemos qualquer ‘bolha’ de crédito para o Brasil.”
A China tem esperanças em realizar um pouso igualmente suave. Jim Antos, da Mizuho Securities, se orgulha de ser “o analista de bancos asiáticos mais negativista do mundo”, que não tem qualquer recomendação “comprar” para qualquer banco chinês. No entanto, mesmo ele é refratário à ideia de que a China esteja às vésperas de sofrer uma crise de crédito gerada internamente. “Eles precisam manter a estabilidade social e esse é o impulsionador subjacente de tantas coisas relativas ao setor bancário”, disse Antos. “Eles terão uma operação de socorro financeiro muito discreta às instituições mais frágeis.”
Mas, sejam os pousos suaves ou turbulentos, qualquer desaceleração sustentada ou um revertério dos surtos de crescimento do crédito no Brasil ou na China são má notícia para os bancos ocidentais, que se voltam para o mercado emergente a fim de neutralizar os efeitos das difíceis perspectivas de negócios em seus países de origem.
Há uma cautela recém-instaurada no mercado, diz o principal executivo de um banco europeu com interesses de longa data em ambos os mercados. “O grande impulso se foi. Há um tipo de uma bolha e algumas questões precisam agora ser abordadas, principalmente com relação aos empréstimos não quitados.” Ele conclui, no entanto: “Ainda queremos estar lá.”
Fonte: Patrick Jenkins, Joe Leahy e Simon Rabinovitch Financial Times, Valor Economico
16 setembro 2011
15 setembro 2011
Pelo critério dos EUA, metade do Brasil poderia ser pobre
O assunto do dia na imprensa dos Estados Unidos, e que foi destacado por jornais de vários países, inclusive do Brasil, é a informação de que atualmente 15,1% dos americanos, ou 46,2 milhões de pessoas, são pobres.
E no Brasil, qual o porcentual de pobres? Não existe uma forma exata e única de comparar. Mas é possível ter uma ideia de como a situação por lá ainda é muito superior à vista aqui.
O Census Bureau, instituto dos EUA que fez a pesquisa, diz que são pobres as famílias de quatro pessoas com renda anual menor que US$ 22.314 ou indivíduos com ganhos inferiores a US$ 11.139 por ano (como observou o “Los Angeles Times“), o que dá US$ 928 por mês. Convertendo para reais na cotação atual, são R$ 1.589 mensais, ou pouco menos de três salários mínimos brasileiros.
No Brasil, existiam em 2009 (dado mais recente do IBGE) 89,2 milhões de pessoas com renda de até três salários mínimos, ou quase metade da população (47%).
Metodologias
Esse número representa apenas uma de várias formas de comparar os dados dos EUA com os do Brasil – todas imperfeitas.
Há diversas possibilidades porque, além das diferenças metodológicas entre o Census Bureau e o IBGE, é possível criar inúmeras formas de definir a pobreza. O conceito poderia levar em conta, por exemplo, o poder de compra. Com R$ 1.589 por mês, compram-se quantas cestas básicas no Brasil? E nos EUA? Ainda: quais produtos considerar em uma cesta básica brasileira e em uma americana?
Não existe uma resposta única para cada uma dessas questões. A depender da decisão do pesquisador, os números acima (89,2 milhões de pobres ou 47% da população) podem variar para cima ou para baixo. Outra variável que influencia a comparação é o fato de o IBGE usar renda mensal, e o Census Bureau, anual.
Existe, ainda, um componente importante a ser levado em conta: a situação do Brasil está melhorando, enquanto a dos EUA está piorando. Segundo o Census Bureau, o número de pobres no país norte-americano aumentou em 2,6 milhões. Já no Brasil está melhorando – a renda dos 50% mais pobres subiu 69% desde 2000, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas.
Fonte: Sílvio Crespo, aqui.
E no Brasil, qual o porcentual de pobres? Não existe uma forma exata e única de comparar. Mas é possível ter uma ideia de como a situação por lá ainda é muito superior à vista aqui.
O Census Bureau, instituto dos EUA que fez a pesquisa, diz que são pobres as famílias de quatro pessoas com renda anual menor que US$ 22.314 ou indivíduos com ganhos inferiores a US$ 11.139 por ano (como observou o “Los Angeles Times“), o que dá US$ 928 por mês. Convertendo para reais na cotação atual, são R$ 1.589 mensais, ou pouco menos de três salários mínimos brasileiros.
No Brasil, existiam em 2009 (dado mais recente do IBGE) 89,2 milhões de pessoas com renda de até três salários mínimos, ou quase metade da população (47%).
Metodologias
Esse número representa apenas uma de várias formas de comparar os dados dos EUA com os do Brasil – todas imperfeitas.
Há diversas possibilidades porque, além das diferenças metodológicas entre o Census Bureau e o IBGE, é possível criar inúmeras formas de definir a pobreza. O conceito poderia levar em conta, por exemplo, o poder de compra. Com R$ 1.589 por mês, compram-se quantas cestas básicas no Brasil? E nos EUA? Ainda: quais produtos considerar em uma cesta básica brasileira e em uma americana?
Não existe uma resposta única para cada uma dessas questões. A depender da decisão do pesquisador, os números acima (89,2 milhões de pobres ou 47% da população) podem variar para cima ou para baixo. Outra variável que influencia a comparação é o fato de o IBGE usar renda mensal, e o Census Bureau, anual.
Existe, ainda, um componente importante a ser levado em conta: a situação do Brasil está melhorando, enquanto a dos EUA está piorando. Segundo o Census Bureau, o número de pobres no país norte-americano aumentou em 2,6 milhões. Já no Brasil está melhorando – a renda dos 50% mais pobres subiu 69% desde 2000, segundo estudo da Fundação Getulio Vargas.
Fonte: Sílvio Crespo, aqui.
Panamericano
Senor Abravanel, na Polícia Federal, ao ser questionado sobre a fraude que desmantelou o Banco Panamericano, declarou. "Por uma dedução lógica, não é possível que Rafael não tenha sido o autor intelectual. Rafael é o camarada que faz ‘porque é assim que eu quero’. O craque é o Rafael. Por impressão, o Rafael é o intelectual".Rafael Palladino foi diretor superintendente e presidente do banco que pertenceu ao grupo do empresário e apresentador de TV Silvio Santos - Palladino foi seu braço direito, homem de confiança, por 20 anos.
Silvio, batizado Senor Abravanel, brasileiro, nascido aos 12 de dezembro de 1930, natural do Rio de Janeiro, segundo grau completo, profissão empresário, foi à Polícia Federal desacompanhado de advogados. Preferiu prestar contas sozinho sobre o caso, só ele e o delegado da PF que conduz o inquérito, Milton Fornazari Júnior, da Delegacia de Repressão a Crimes Financeiros (Delefin). Dia 5 ele depôs.
Seu relato preenche 7 páginas. Ao final, assumiu compromisso de comunicar à PF eventual mudança de endereço, comercial ou residencial, nos termos do artigo224 do Código de Processo Penal. Ao longo da audiência, na sede da PF em São Paulo, ele exibiu simpatia, amabilidade e sua marca tradicional, o sorriso.
Mas, em alguns momentos, alegou "surpresa" ou reagiu com "indignação" ao ser informado sobre os caminhos da trama bilionária que levou sua instituição financeiro à bancarrota. Por exemplo, quando a PF o indagou se era de seu conhecimento que o advogado Luiz Augusto Teixeira de Carvalho Bruno "sacava valores em espécie do banco e guardava no porta malas do carro". Silvio se declarou "indignado de saber desse fato, pois se trata de uma prática de um verdadeiro gangster". "(Bruno) era advogado do Panamericano e muito amigo do Palladino", disse Silvio. "As pessoas se referiam ao Bruno como o advogado do Rafael, e não o advogado do banco. Bruno seria um dos autores intelectuais, é um cara sabido, todo mundo diz que o Bruno é um cara vivo."
O depoimento de Silvio revela passo a passo a linha de investigação e as descobertas da PF ao longo de um ano de investigação. Todo o rol de perguntas a Silvio revela como grandes importâncias saíram do caixa do Panamericano e migraram para supostas empresas de fachada.
Segundo a PF, 12 personagens sob investigação realizaram 38 transferências que totalizaram R$ 76,92 milhões em três anos, 2008, 2009 e 2010. Para duas empresas controladas por Palladino, Max Control Assessoria e Investimentos e Max Control Evento e Promoção, foram repassados R$ 19,88 milhões, aponta a PF. "Nunca soube disso", afirmou Silvio.
"Quem administrava de fato o banco era o Palladino", disse o apresentador. "O Luiz Sebastião Sandoval supervisionava a gestão de Palladino. Não sei quanto a holding recebeu de dividendos do banco entre 2008 e 2010. Sandoval sempre me falava que não podia tirar nenhum valor do caixa da holding para pagamento de dividendos porque o banco estava sempre em risco e não poderia faltar caixa."
Silvio explicou que "o único pagamento" que recebeu pessoalmente naquele período foi o deduzido da compra do Hotel Sofitel Jequiti, no Guarujá. "Sandoval me disse que tinha direito a receber R$ 80 milhões a título de dividendos. Comprei o hotel, cujo preço era R$ 150 milhões, por R$ 70 milhões, já descontados os dividendos que me eram devidos."
Contou que foi chamado a uma reunião no Banco Central, final de setembro de 2010. Encontrou-se com Henrique Meirelles (então presidente do BC) e "quatro ou cinco diretores". "O chefe da fiscalização do BC disse que a situação era grave e que o valor do rombo não era de R$ 1,1 bilhão e sim de R$ 1,6 bilhão. Ele disse que iriam liquidar o banco e que eu deveria procurar o Antônio Carlos, chefe do Fundo Garantidor. Quando fui falar com Antônio Carlos disseram que o rombo era de R$ 2,5 bilhões."
Segundo Silvio, o Fundo "queria evitar que a ruptura do Panamericano ocasionasse violenta de confiança no sistema financeiro". Viajou para Orlando (EUA) e, ao retornar, o chefe do Fundo informou que o valor da dívida "não era mais de R$ 2,5 bilhões, e sim de R$ 4,3 bilhões". "Antônio Carlos perguntou se eu venderia o banco, ele disse que André Esteves, do BTG, teria interesse em comprar por R$ 450 milhões. Vendi o banco para o BGT."
Fonte: aqui
Manutenção de Capital
O termo manutenção de capital está associado ao estudo do Patrimônio Líquido. Conforme Ahmed Riahi-Belkaoui, em Accounting Theory, existem quatro tipos de manutenção de capital:
a) O capital monetário, ou seja, a manutenção do capital em termos de unidades da moeda corrente do país
b) O poder de compra da moeda, que corresponde ao capital monetário ajustado para o mesmo poder de compra.
c) A manutenção da capacidade produtiva, que corresponde ao capital físico
d) A manutenção da capacidade física em termo do mesmo poder da moeda.
Esta questão faz parte da Estrutura Conceitual, quando o Iasb (e depois o CPC) apresentou os conceitos de manutenção do capital monetário e do capital físico.
Entretanto, fora este aspecto, o assunto não tem despertado a atenção dos pesquisadores. No Brasil existe uma tese de doutorado, do prof. Natan Szuster, sobre o assunto. E alguns outros poucos trabalhos.
Mas quando encaminhamos para a área financeira encontramos algo interessante: um grande número de pesquisa sobre o apreçamento de ativos. Ou seja, a teoria de finanças tem destacado não a questão sob a ótica do patrimônio líquido, mas sob o foco do ativo. A pesquisa em Asset Pricing é algo “quente” em finanças; mas não existe nada (ou pouca coisa) com o foco no patrimônio líquido. Isto de certa forma é coerente, já que a determinação do apreçamento do ativo conduz, naturalmente, ao valor do patrimônio líquido. Ou seja, a lógica está correta, já que o próprio patrimônio líquido é definido em termos residuais.
Foto: aqui
Economia de Escala em Conformidade
Este termo diz respeito a existência de um grande número de regulamentações que fazem com que reduza o estímulo a entrada de competidores no mercado.
Considere o setor de automóveis. Para que um produto seja aprovado pelas agências de regulação dos governos (municipais, estaduais e federais) é necessário que os fabricantes submetam a uma série de testes. Estes testes incluem aqueles relacionados com segurança e poluição. Um destes testes é verificar o efeito de uma batida sobre os passageiros. Ou seja, requer a destruição do automóvel. Assim, para ser vendida no país a empresa precisa destruir parte de sua frota. Isto tem um custo.
Quando o número de regulamentos aumenta, isto afasta potenciais competidores, que não tem condições financeiras de submeterem a estes testes.
A economia de escala em conformidade pode ser uma causa potencial para inexistência de modelos econômicos de automóveis, conforme explicado aqui; Pode ser também a causa para a perda de hábitos antigos, como comer galinha caipira (a galinha deve ser inspecionada e aprovada pelo governo; como o pequeno produto não possui condições de submeter a burocracia, a galinha caipira desaparece do mercado).
Foto: aqui
O Brasil na Encruzilhada
Albert Fishlow talvez seja o acadêmico americano que mais bem conhece a economia do Brasil. Viveu no país e, nos anos em que deu aulas em Berkeley e Columbia, orientou uma série de economistas que viriam a se tornar autoridades econômicas em toda a América Latina. Ontem, em Nova York, este brasilianista lançou o livro “Startin Over – Brazil Since 1985” e fez uma série de declarações céticas sobre o futuro da economia brasileira.
“Enquanto o Brasil vende commodities para a China, os chineses vendem produtos industrializados para os brasileiros e acaba com a indústria local”, disse ontem no Council of the Americas para uma platéia que incluía a embaixadora Maria Luiza Viotti e os principais investidores especializados em Brasil em Nova York. “Falam do superávit primário, mas se esquecem do déficit total”, acrescentou.
Fishlow advertiu ainda que a “China crescerá apenas 7% no ano que vem e esta taxa dois pontos percentuais a menos será grave para o Brasil”. O endividamento dos brasileiros das classes C, D e E e a baixa taxa de investimento também preocupa. “Na China, a taxa de investimento é de 45%; Na Índia, 38%; no Chile, 24%; na Coréia do Sul, 30%. Já no Brasil, apenas 18%”, repetiu o professar para um problema que ele sempre mencionava quando me dava aulas na Universidade Columbia cinco anos atrás.
“São urgentes reformas educacionais, na saúde e política. Como podem ter 20 partidos”, alertou. Segundo o economista, “Dilma quer criar uma tecnocracia de Estado, mas isso não funciona em democracias”.
Intrigado, perguntei ao professor americano sobre como a Copa do Mundo e as Olimpíadas afetariam a economia brasileira. “Não sei se a Olimpíada será boa para o Brasil, mas a Grécia organizou uma em 2004″, respondeu. Com esta frase como resposta espetacular, tive que deixar de lado hoje os assuntos de EUA e Oriente Médio para falar de Brasil.
Pobreza nos EUA
Sei que muitos dirão – “O que este economista americano está falando, já que no país dele tem 46 milhões de pessoas vivendo na pobreza”. Bom, segundo os critérios do governo dos EUA , tem sim. Mas lembro que pobre nos EUA é quem tem uma renda familiar abaixo de US$ 22 mil por ano. Isso equivale a cerca de R$ 3 mil mensais no Brasil. Quantos brasileiros estariam na miséria se os critérios aplicados por Washington fossem usados por Brasília?[1]
Fonte: Gustavo Chacra
[1] Leia o post :Você acha que faz parte da classe média?
“Enquanto o Brasil vende commodities para a China, os chineses vendem produtos industrializados para os brasileiros e acaba com a indústria local”, disse ontem no Council of the Americas para uma platéia que incluía a embaixadora Maria Luiza Viotti e os principais investidores especializados em Brasil em Nova York. “Falam do superávit primário, mas se esquecem do déficit total”, acrescentou.
Fishlow advertiu ainda que a “China crescerá apenas 7% no ano que vem e esta taxa dois pontos percentuais a menos será grave para o Brasil”. O endividamento dos brasileiros das classes C, D e E e a baixa taxa de investimento também preocupa. “Na China, a taxa de investimento é de 45%; Na Índia, 38%; no Chile, 24%; na Coréia do Sul, 30%. Já no Brasil, apenas 18%”, repetiu o professar para um problema que ele sempre mencionava quando me dava aulas na Universidade Columbia cinco anos atrás.
“São urgentes reformas educacionais, na saúde e política. Como podem ter 20 partidos”, alertou. Segundo o economista, “Dilma quer criar uma tecnocracia de Estado, mas isso não funciona em democracias”.
Intrigado, perguntei ao professor americano sobre como a Copa do Mundo e as Olimpíadas afetariam a economia brasileira. “Não sei se a Olimpíada será boa para o Brasil, mas a Grécia organizou uma em 2004″, respondeu. Com esta frase como resposta espetacular, tive que deixar de lado hoje os assuntos de EUA e Oriente Médio para falar de Brasil.
Pobreza nos EUA
Sei que muitos dirão – “O que este economista americano está falando, já que no país dele tem 46 milhões de pessoas vivendo na pobreza”. Bom, segundo os critérios do governo dos EUA , tem sim. Mas lembro que pobre nos EUA é quem tem uma renda familiar abaixo de US$ 22 mil por ano. Isso equivale a cerca de R$ 3 mil mensais no Brasil. Quantos brasileiros estariam na miséria se os critérios aplicados por Washington fossem usados por Brasília?[1]
Fonte: Gustavo Chacra
[1] Leia o post :Você acha que faz parte da classe média?
Por que às vezes o tempo voa quando não estamos nos divertindo?
Quem é que nunca vivenciou na pele o dito popular que afirma que o tempo voa quando estamos nos divertindo? Um dia na praia parece passar bem mais rápido do que um de trabalho, por exemplo. Em uma festa animada, a madrugada pode chegar mais cedo do que esperamos.
Mas, em outras ocasiões, não estamos nos divertindo, ainda sim o tempo parece voar. Não há nenhuma frase clichê para explicar o motivo pelo qual uma manhã em que você esteja extremamente atarefado no trabalho passa num piscar de olhos – mesmo que no período da tarde o tempo resolva se arrastar a passos de caracol.
Como dá para perceber, o tempo não voa necessariamente porque estamos em um momento divertido ou prazeroso. De acordo com Simon Grondin, psicólogo que realiza pesquisas sobre a percepção do tempo na Universidade Laval, no Canadá, uma frase mais precisa poderia ser: “o tempo voa quando você não está prestando atenção nele”.
Estudos têm mostrado repetidamente que quando você presta mais atenção à duração de um evento, ele parece demorar mais para acabar. E quando você ignora o tique-taque do relógio, o tempo corre mais rápido.
Distrações prazerosas realmente fazem o tempo voar, mas quando estamos focados em uma tarefa, o tempo passa mais rápido também – mesmo que seja uma tarefa cansativa e nem um pouco alegre. Para exemplificar: no trabalho, você pode estar mais concentrado de manhã do que durante a tarde, fazendo com que você tenha a impressão de que o tempo passou mais depressa no início do dia.
De acordo com cientistas, nosso cérebro é limitado a escolher apenas algumas atividades para nos focarmos. Ou o foco é no relógio, ou é em outra coisa que chame mais atenção – e que pode fazer um dia bom ou ruim voar.
Fonte: Aqui
Mas, em outras ocasiões, não estamos nos divertindo, ainda sim o tempo parece voar. Não há nenhuma frase clichê para explicar o motivo pelo qual uma manhã em que você esteja extremamente atarefado no trabalho passa num piscar de olhos – mesmo que no período da tarde o tempo resolva se arrastar a passos de caracol.
Como dá para perceber, o tempo não voa necessariamente porque estamos em um momento divertido ou prazeroso. De acordo com Simon Grondin, psicólogo que realiza pesquisas sobre a percepção do tempo na Universidade Laval, no Canadá, uma frase mais precisa poderia ser: “o tempo voa quando você não está prestando atenção nele”.
Estudos têm mostrado repetidamente que quando você presta mais atenção à duração de um evento, ele parece demorar mais para acabar. E quando você ignora o tique-taque do relógio, o tempo corre mais rápido.
Distrações prazerosas realmente fazem o tempo voar, mas quando estamos focados em uma tarefa, o tempo passa mais rápido também – mesmo que seja uma tarefa cansativa e nem um pouco alegre. Para exemplificar: no trabalho, você pode estar mais concentrado de manhã do que durante a tarde, fazendo com que você tenha a impressão de que o tempo passou mais depressa no início do dia.
De acordo com cientistas, nosso cérebro é limitado a escolher apenas algumas atividades para nos focarmos. Ou o foco é no relógio, ou é em outra coisa que chame mais atenção – e que pode fazer um dia bom ou ruim voar.
Fonte: Aqui
Fraude no UBS
O banco suíço UBS informou nesta quinta-feira que descobriu perda de quase US$ 2 bilhões (1,456 bilhão de euros) em operações não autorizadas de seu banco de investimento.
Em comunicado divulgado minutos antes da abertura da Bolsa de Valores de Zurique, o banco informou que a suposta fraude ainda está sendo investigada, mas que até agora pôde constatar o volume da perda originada por esta atividade.
O UBS acrescentou que é possível que esta circunstância leve a uma importante variação nos resultados do terceiro trimestre de 2011 e antecipou a possibilidade de contabilizar perdas.
Em sua breve nota, a entidade assegurou que as operações não autorizadas não afetaram seus clientes.
A informação teve um efeito imediato nas ações do UBS, que perderam 8,5% nos primeiros minutos de atividade da Bolsa de Valores de Zurique.
Fonte: aqui
14 setembro 2011
Depreciação
(...) Em suma, muito embora os coeficientes de depreciação publicados pela Receita Federal tivessem aplicação restrita ao âmbito tributário, muitas companhias acabavam se valendo desse mesmo critério para fins de escrituração contábil. Com as novas regras contábeis, isso mudou, uma vez que a Lei nº 11.638, posteriormente alterada pela Lei nº 11.941, de 2009, modificou a redação do parágrafo 3º do artigo 183 da Lei das Sociedades por Ações, determinando expressamente a revisão e ajuste dos critérios utilizados para determinação da vida útil econômica estimada e para cálculo da depreciação. Dessa forma, a observância do critério de depreciação pautado na expectativa de vida útil econômica do bem passou a ser obrigatória para fins de elaboração das demonstrações financeiras.
Este critério foi posteriormente ratificado por meio do Pronunciamento Contábil nº 27, ratificado pela Deliberação CVM nº 583, de 2009. Devido à neutralidade fiscal pregada pelo RTT, muito se discutiu se as novas regras implicaram em mudança da regra contábil atinente ao registro da depreciação, de forma que eventuais ajustes dela decorrentes seriam neutros do ponto de vista tributário.
Após a publicação de soluções de consulta no sentido da neutralidade fiscal de tais ajustes, no dia 9 de agosto a Receita Federal publicou, de modo a definir tal questão, o Parecer Normativo nº 1 reconhecendo que as diferenças no cálculo da depreciação de bens do ativo imobilizado decorrentes das novas regras contábeis não terão efeitos para fins de apuração do lucro real e da base de cálculo da CSLL da pessoa jurídica sujeita ao RTT, devendo ser considerados, para fins tributários, os métodos e critérios contábeis vigentes em 31 de dezembro de 2007. De forma exemplificativa, uma companhia que possuía imóveis registrados em seu ativo não circulante e que, para fins contábeis, adote quota de depreciação correspondente a 30 anos de prazo de vida útil econômica, poderá, com respaldo da definição da própria Receita Federal, excluir para fins fiscais, quota adicional de depreciação, haja vista que o prazo de depreciação de imóveis definido pelo referido órgão é de 25 anos.
Dessa forma, é possível concluir que a alteração na forma de contabilização da depreciação dos bens registrados no ativo imobilizado da companhia, em decorrência do novo regime contábil, trata-se de uma mudança de critério contábil e, por essa razão, seus efeitos contábeis podem ser enquadrados como ajustes tributários decorrentes dos novos métodos e critérios contábeis, portanto, abrangidos pelo RTT e neutros para fins fiscais.
Antonio Carlos Guzman e Guilherme Novello - Valor Econômico - 14 set 2011. Foto, flickr
Manchester United abre o capital
O Manchester United planeja conseguir até dois terços do U$ 1 bilhão planejado na sua oferta pública inicial em Cingapura por meio da venda de ações preferenciais - sem direito a voto. Com isso, o clube de futebol manteria até 88% do capital votante nas mãos da família Glazer, sua proprietária americana.
Os planos em elaboração para a abertura do capital do clube são de que a Premier League inglesa venda um terço do patrimônio do clube - que está avaliado em cerca de US $ 3 bilhões -, sendo 12% na forma de ações ordinárias, parcela mínima de ações com direito a voto em circulação no mercado exigida pela Bolsa de Cingapura.
Fonte: aqui. Foto, aqui
Os planos em elaboração para a abertura do capital do clube são de que a Premier League inglesa venda um terço do patrimônio do clube - que está avaliado em cerca de US $ 3 bilhões -, sendo 12% na forma de ações ordinárias, parcela mínima de ações com direito a voto em circulação no mercado exigida pela Bolsa de Cingapura.
Fonte: aqui. Foto, aqui
Ajuste Ebitda
É sabido que boa parte das companhias abertas não tem muito apreço pelas medidas contábeis na hora de divulgar seus resultados financeiros. A fixação de analistas e investidores pela geração de caixa diminuiu a importância que os gestores dessas empresas dão ao bom e velho lucro líquido, na mesma medida em que o Ebitda (sigla em inglês para lucro antes do resultado financeiro, de impostos sobre o lucro, depreciação e amortização) virou o principal foco da administração.
Mas o Ebitda, que não é uma medida contábil e já desconta muitas linhas "negativas" do resultado, também não atende mais ao gosto de um grupo crescente de companhias. [1]
A medida preferida de resultado delas passou a ser, então, o Ebitda ajustado. Muitas nem dão "sobrenome" ao indicador, se limitando a colocar uma nota de rodapé para esclarecer que o Ebitda que aparece na tabela dos comunicados ao mercado tem suas peculiaridades.
Esses ajustes têm proporções que merecem a atenção dos investidores. Em um grupo de 15 companhias identificadas pelo Valor, o Ebitda ajustado foi 35% maior que o Ebitda "puro" apresentado pelas empresas no primeiro semestre deste ano. [2] Sem o ajuste, ou seja, considerando apenas o que as letras da sigla Ebitda significam, a soma dos resultados ficou em R$ 5,22 bilhões. Após os acertos feitos pelas companhias para divulgação ao mercado, o montante aumenta em R$ 1,84 bilhão, para R$ 7,06 bilhões.
Na análise do lucro, a diferença percentual foi ainda maior, de 70%. O resultado líquido publicado somado de um grupo de sete companhias selecionadas foi de R$ 806 milhões no primeiro semestre de 2011. O lucro ajustado divulgado ao mercado somou R$ 1,37 bilhão, com uma diferença positiva de R$ 570 milhões.
Os casos que mais chamaram a atenção no primeiro semestre foram os da Positivo Informática e o da Camargo Corrêa Desenvolvimento Imobiliário (CCDI).
A fabricante de computadores teve prejuízo de R$ 118 milhões de janeiro a junho deste ano. Na segunda página do seu comunicado sobre resultados, no entanto, o leitor verá um resultado líquido ajustado negativo de apenas R$ 24 milhões.
O principal motivo para a diferença, detalhado na página 20 do comunicado, está no fato de que, no segundo trimestre, a empresa reconheceu uma perda de R$ 94,7 milhões no valor de estoques que estavam com ela ou com terceiros, além de ter baixado do ativo peças usadas sem valor de recuperação. A empresa diz que o ajuste não teve efeito no caixa no momento da baixa. Isso é fato: o dinheiro foi gasto quando o estoque foi formado. Mas também é fato que a contabilidade segue o regime de competência, não o de caixa. [3]
O caso da CCDI é semelhante, embora com apresentação diferente. A empresa reviu seus orçamentos de obras e verificou que o custo de construção de alguns empreendimentos foi maior do que o originalmente previsto. O impacto negativo registrado no segundo trimestre foi de R$ 90,1 milhões.
A empresa divulga o resultado oficial registrado com destaque logo na primeira página do seu comunicado ao mercado e acrescenta um dado que chama de pro forma, que desconta esse ajuste e efeitos extraordinários do período.
Procurada na sexta-feira, a Positivo não deu uma resposta até o fechamento desta edição. A CCDI disse que as informações que poderia prestar já estavam no seu comunicado ao mercado.
Nesses dois casos, as diferenças mais relevantes têm ligação com eventos que realmente não se repetem com frequência.
Nos demais identificados pelo Valor, o que ocorre é um ajuste sistemático, que se repete em todas ou quase todas as divulgações de resultado trimestral.
Embora os analistas setoriais especializados já estejam habituados aos ajustes, para o investidor comum é importante conhecer alguns deles.
Empresas que realizam aquisições com frequência, como a companhia de bens de consumo Hypermarcas e a rede de ensino Anhanguera, estão entre aquelas que fazem ajustes repetidamente.
O diretor financeiro e de relações com investidores da Hypermarcas, Martim Prado Mattos, diz que desde a abertura de capital, em 2008, a companhia adotou a prática de retirar da conta do Ebitda as despesas e receitas extraordinárias ligadas às 19 aquisições que ocorreram no período.
Para ele, é exatamente para isso que serve o comunicado sobre resultados preparado pela área de relações com investidores. "É uma tradução, na visão da administração, de como foram os resultados. Senão bastaria divulgar o ITR."
O que é essencial, afirma o executivo, é que fique claro para os investidores os ajustes que foram feitos. "Aí cada um interpreta da forma que quiser. Tem gente que usa o ajustado e tem gente que não", explica o executivo.
Ele destaca ainda que o resultado ajustado é mais comparável com o de anos anteriores. Por exemplo, ele cita que a migração para o padrão contábil tirou do resultado as comissões pagas em ofertas de ações, mas incluiu despesas com advogados e bancos em operações de aquisição, que antes se refletiam apenas nas contas do balanço patrimonial.
Além dos resultados considerados não recorrentes, a Hypermarcas, assim como muitas empresas, exclui do Ebitda divulgado as despesas com plano de opção de ações para os executivos. "É um lançamento contábil. Do ponto de vista do caixa, não tem saída", afirma o executivo.
No caso da Anhanguera, o lucro ajustado desconta diversos lançamentos sem efeito caixa, como o ajuste ao valor presente do resultado financeiro, o Imposto de Renda diferido e a amortização de ágio da carteira de clientes de empresas adquiridas.
No cálculo do Ebitda, despesas e receitas consideradas não recorrentes também são excluídas.
Segundo Ricardo Scavazza, vice-presidente financeiro da Anhanguera, a divulgação de resultados ajustados é importante para favorecer a análise e para que o investidor entenda os efeitos de aspectos operacionais sobre o negócio. Ele ressalta que os ajustes são feitos tanto se forem positivos quanto negativos para o resultado final. "Nós chamamos atenção tanto para um ganho não recorrente para aquele período como, se for o caso, para despesas extraordinárias", diz.
O executivo afirma ainda que o investidor tem à sua disposição o resultado contábil e os ajustes. Assim, se alguém discordar da classificação de determinado item como não recorrente pela companhia, é possível não levar esse ponto em consideração.
Mas não são apenas essas empresas que divulgam números ajustados.
A BM&FBovespa, por exemplo, divulgou lucro líquido ajustado de R$ 793 milhões no primeiro semestre, 40% maior que medida contábil, que foi de R$ 564 milhões. A diferença se deve ao desconto de um passivo diferido de Imposto de Renda ligado à amortização do ágio gerado na fusão da Bovespa com a BM&F.
Questionada sobre por que considera relevante divulgar os dois dados, a bolsa informou que o resultado ajustado "é um número gerencial apresentado pela empresa para refletir de forma mais apropriada a geração de caixa da companhia". A empresa diz que a metodologia "é divulgada de forma bastante transparente, de forma que fica a critério de cada analista ou acionista utilizar ou não o conceito de lucro líquido ajustado".
Redecard e Cielo, que atuam como credenciadoras de estabelecimentos que aceitam cartão de crédito e débito, somam ao Ebitda o resultado financeiro que obtêm com a antecipação de recebíveis aos clientes. Apesar de a norma contábil não abarcar essa avaliação, a Redecard disse, em resposta, por e-mail, que "entende que essa atividade faz parte do seu resultado operacional".
A companhia disse ainda que as demonstrações contábeis são suficientes para que o leitor possa montar e analisar o Ebitda e acrescenta que, conforme ofício da CVM, também apresenta uma reconciliação do Ebitda ajustado nos seus comunicados ao mercado.
A Cielo preferiu não dar entrevista sobre o assunto.
Entre as procuradas, B2W, Rossi e Pão de Açúcar não responderam aos pedidos de entrevista. A Viver (ex-Inpar) disse que não tinha porta- voz disponível para falar e a Multiplan argumentou que está em período de silêncio por conta de uma emissão de debêntures.
Ajuste Bilionário - Valor Econômico - Fernando Torres e Ana Paula Ragazzi - 14 set 2011. Foto, aqui
[1] Não é medida contábil, nem fluxo de caixa.
[2] Este número informa o objetivo do Ebitda ajustado: melhorar a imagem de desempenho da empresa.
[3] Uma observação interessante.
Links
Os mais caros ataques cibernéticos
Mapas segundo …
TV Cultura corta custo
As tenistas mais bem pagas
Os 100 mais influentes da contabilidade dos EUA
Entrevista de Kasparov no Jô Soares
Na eleição dos Estados Unidos, querem adotar o modelo chileno
Máquina de venda automática é mais perigosa que tubarão
Uma nova cidade será construída no Catar
Paris versus Nova Iorque
Tamanho dos balanços
O jornal Valor Econômico trouxe um texto sobre o tamanho dos balanços das empresas. O título (Balanços crescem muito e diretor da Vale teme mostro, de Fernando Torres, 13 set de 2011) chama atenção para uma afirmação do diretor de controladoria da Vale. Eis um trecho:
O professor Ariovaldo dos Santos, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, cita por exemplo casos em que as notas explicativas detalham todos os 43 pronunciamentos contábeis, além das interpretações e orientações emitidas pelo Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC) e ratificadas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). "Que sentido faz isso?", questiona o professor.
Para ele, as empresas deveriam procurar ajuda de profissionais da área de comunicação e de letras para tornar as notas mais sucintas. "Essas pessoas vão conseguir resumir 12 páginas em uma e meia com competência", diz Santos, que avalia que os balanços, da forma como são divulgados hoje, são desinteressantes.
Esta é uma tendência, já notada não somente no Brasil. Algumas possíveis explicações para isto: (a) dificuldade de resumir assuntos complexos; (b) as empresas preferem pecar pelo excesso e talvez por medo de serem processadas preferem divulgar tudo; (c) a norma exige muita divulgação.
Foto: aqui
Nos bastidores da Disney
Por Isabel Sales
Nos Bastidores da Disney (Tom Connellan, Ed. Futura) é um dos livros que mais indico por aí. E de forma bem insistente. Sou uma entusiasta por assuntos que envolvem a Disney, especialmente o que se relaciona a eficiência do modelo. O livro de Connellan fala sobre alguns dos princípios que orientam a cultura e o sucesso do grupo, que podem ser aplicados a outras empresas (e até ao nosso comportamento cotidiano). Mas, além disso, acaba sendo um guia turístico inusitado e divertidíssimo!
Vou transcrever apenas um pedacinho (que não é o meu preferido). Não vou falar muito, pra não estragar a diversão de vocês. Boa leitura!
Deixem-me contar o caso do outro membro do elenco que conheci. Estava conversando com ele quando um casal com três filhos apareceu e perguntou a que horas começava a parada das 15 horas. Fiquei pensando... Será que existe pergunta mais idiota?
"A reação do membro do elenco me surpreendeu. E, tenho de admitir, me humilhou. Ele sorriu para o pessoal e disse: 'Bem, a parada começa pontualmente, e vocês devem chegar por volta das 14h30 para conseguir um bom lugar'. O casal agradeceu e saiu caminhando."
Ao pensar no caso, percebi que ele não chegou a responder a pergunta que fizeram. Fez algo ainda melhor. Respondeu à pergunta que não fora formulada — aquilo que realmente queriam saber. É uma habilidade especial. E é uma atitude positiva: acreditar que as pessoas são mais inteligentes do que parece e saber que ocasionalmente elas têm dificuldade para se expressar com clareza. Gostaria que um número maior de funcionários do banco tivesse essa atitude.
Nos Bastidores da Disney (Tom Connellan, Ed. Futura) é um dos livros que mais indico por aí. E de forma bem insistente. Sou uma entusiasta por assuntos que envolvem a Disney, especialmente o que se relaciona a eficiência do modelo. O livro de Connellan fala sobre alguns dos princípios que orientam a cultura e o sucesso do grupo, que podem ser aplicados a outras empresas (e até ao nosso comportamento cotidiano). Mas, além disso, acaba sendo um guia turístico inusitado e divertidíssimo!
Vou transcrever apenas um pedacinho (que não é o meu preferido). Não vou falar muito, pra não estragar a diversão de vocês. Boa leitura!
Deixem-me contar o caso do outro membro do elenco que conheci. Estava conversando com ele quando um casal com três filhos apareceu e perguntou a que horas começava a parada das 15 horas. Fiquei pensando... Será que existe pergunta mais idiota?
"A reação do membro do elenco me surpreendeu. E, tenho de admitir, me humilhou. Ele sorriu para o pessoal e disse: 'Bem, a parada começa pontualmente, e vocês devem chegar por volta das 14h30 para conseguir um bom lugar'. O casal agradeceu e saiu caminhando."
Ao pensar no caso, percebi que ele não chegou a responder a pergunta que fizeram. Fez algo ainda melhor. Respondeu à pergunta que não fora formulada — aquilo que realmente queriam saber. É uma habilidade especial. E é uma atitude positiva: acreditar que as pessoas são mais inteligentes do que parece e saber que ocasionalmente elas têm dificuldade para se expressar com clareza. Gostaria que um número maior de funcionários do banco tivesse essa atitude.
Parceiros do blog:
Evidenciação:
Livro adquirido com recursos particulares, sem ligações com os escritores ou a
editora.
Competição e governança
Este artigo examina se as empresas das indústrias não-competitivas beneficiam relativamente mais da boa governança do que as empresas em indústrias competitivas. Consistente com esta hipótese, encontramos que as empresas com má governança, medida pelo Índice G, têm retornos mais baixos de capital, pior desempenho operacional e menor valor de empresa, mas apenas nas indústrias não-competitivas.
Fonte: aqui
Fonte: aqui
Valor do Diploma
Investir em uma formação de ensino superior resulta em ganhos futuros. A conclusão faz parte de relatório divulgado nesta terça-feira, 13, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Segundo o documento, no Brasil, ter curso superior resulta em um aumento de 156% nos rendimentos. Um salário mínimo de R$ 545 seria elevado para quase R$ 1.400, por exemplo. Um salário de R$ 2 mil viraria R$ 5.120 com curso superior. É o mais alto índice entre todos os 30 países pesquisados.
O estudo aponta que, nos países analisados, em média, um indivíduo que concluiu a educação superior recebe pelo menos 50% a mais do que uma pessoa com ensino médio concluído.
Brasil é país onde fazer faculdade mais aumenta o salário - Agência Brasil . Foto, aqui
A China vai salvar a Itália?
Resposta de um economista chinês:
“China is a poor country with only $4,000 per capita income. To talk and think about China to rescue countries with $40,000 per capita incomes is ridiculous.”
-Yu Yongding, a Chinese top economist and former member of the central bank’s monetary policy committee.
Fonte: NYT
“China is a poor country with only $4,000 per capita income. To talk and think about China to rescue countries with $40,000 per capita incomes is ridiculous.”
-Yu Yongding, a Chinese top economist and former member of the central bank’s monetary policy committee.
Fonte: NYT
Leilões
Fonte: aqui. Foto: aqui
Adoção das normas
Um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef) de Campinas (SP) em parceria com a KPMG e a Policamp mostra que as empresas ainda estão patinando para se adequar às novas regras contábeis.
A pesquisa refere-se ao exercício de 2010, primeiro ano em que a entrega das demonstrações financeiras no padrão IFRS passou a ser obrigatória. Foram avaliadas 61 empresas de grande porte e 39 empresas de pequeno e médio porte (PMEs) da região - principal polo industrial e de tecnologia do Estado de São Paulo-, que, juntas, somam ativos de R$ 119 bilhões e geraram um caixa de R$ 12 bilhões em 2010.
Como era de se esperar, existe um grande vale entre os padrões de divulgação das empresas de grande porte - com ativo total superior a R$ 240 milhões ou receita bruta anual acima de R$ 300 milhões - e das PMEs. Em 2010, 87% das grandes empresas da amostra divulgaram suas demonstrações financeiras de forma completa - em 2009, esse porcentual foi de 81%. Já no universo das PMEs, apenas 59% entregaram todas as peças contábeis em relação ao exercício do ano passado. É o primeiro ano em que esse tipo de empresa integra a pesquisa.
A checagem das demonstrações financeiras por auditores independentes foi observada em 85% das grandes empresas da amostra em 2010, mesma fatia verificada no ano anterior. O parecer de auditores registrados pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é uma exigência para as companhias de capital aberto, instituições financeiras e empresas de grande porte. Entre as pequenas empresas, para as quais a obrigatoriedade não se aplica, apenas a metade teve seus balanços auditados.
O número de ressalvas por parte dos auditores, que ocorrem quando há itens que não atendem às especificações previstas pelo IFRS, também aumentou, refletindo o fim do processo de convergência para o novo padrão.
Dentre as grandes empresas cujas demonstrações foram auditadas, apenas 38% não apresentaram nenhuma ressalva em 2010, uma redução significativa frente ao exercício anterior (85%).
Os desvios constatados pelos auditores concentraram-se no cumprimento da resolução que diz respeito aos ativos imobilizados, que determina que se atendam a critérios como a revisão da vida útil dos ativos em vez de taxas de depreciação fiscais.
Empresas ainda patinam na adoção - Por Natalia Viri | De São Paulo - Valor Econômico. Foto aqui
Reguladores X Deloitte
A firma afiliada à Deloitte na China disse ter colaborado com a comissão de valores mobiliários americana (SEC) tanto quanto possível sob as leis chinesas com relação ao caso de seu ex-cliente de auditoria Longtop Financial Technologies.
A lei impede que a Deloitte libere documentos para um regulador estrangeiro sem a aprovação das autoridades chinesas, informou um porta-voz da auditoria na sexta-feira.
Um dia antes, a SEC entrou com uma ação de execução contra a Deloitte Touche Tohmatsu CPA, de Xangai, por não ter liberado documentos relacionados a uma investigação da Longtop depois de intimações feitas em maio.
A Longtop informou naquele mês que a Deloitte renunciou por causa de erros nos registros financeiros da companhia.
Em julho, a SEC e o Conselho de Supervisão de Companhias de Capital Aberto (PCAOB) reuniram-se com seus colegas na China para discutir fiscalização internacional.
“Passamos os pedidos da SEC para os reguladores na China, como é previsto, mas até agora os reguladores não nos deram permissão para entregar os papéis de trabalho para a SEC”, diz o comunicado da Deloitte. “Esperamos que um mecanismo possa ser encontrado o mais breve possível para que haja uma solução que respeite as leis em ambas jurisdições.”
“O assunto é essencialmente uma questão entre reguladores na China e nos Estados Unidos; a Deloitte China ficará contente em seguir qualquer determinação que esteja de acordo com os dois”, diz o comunicado.
Em um comunicado divulgado na quinta-feira, a SEC diz que não pôde ter acesso a informações “cruciais” na investigação de uma possível fraude na Longtop.
A iniciativa da SEC seria “essencialmente uma disputa entre a SEC e os reguladores chineses que força a Deloitte a se apoiar na lei chinesa para justificar a não entrega dos documentos”, disse Jacob Frenkel, um ex-advogado da SEC que agora trabalha com o escritório Shulman Rogers Gandal Pordy & Ecker em Potomac, Maryland.
“Firmas de auditoria sabem que a SEC tem o direito de pedir e revisar os papéis de trabalho. A questão é a disputa sobre o acesso a documentos relacionados a auditoria de companhias chinesas.”
“Cumprir uma intimação da SEC não é uma opção, é uma obrigação”, disse Robert Khuzami, chefe da área de fiscalização da SEC no comunicado. (Colaboraram Dune Lawrence, em Nova York, e Joshua Gallu, em Washington.)
Fonte: Debra Mao, Bloomberg, Valor Economico
A lei impede que a Deloitte libere documentos para um regulador estrangeiro sem a aprovação das autoridades chinesas, informou um porta-voz da auditoria na sexta-feira.
Um dia antes, a SEC entrou com uma ação de execução contra a Deloitte Touche Tohmatsu CPA, de Xangai, por não ter liberado documentos relacionados a uma investigação da Longtop depois de intimações feitas em maio.
A Longtop informou naquele mês que a Deloitte renunciou por causa de erros nos registros financeiros da companhia.
Em julho, a SEC e o Conselho de Supervisão de Companhias de Capital Aberto (PCAOB) reuniram-se com seus colegas na China para discutir fiscalização internacional.
“Passamos os pedidos da SEC para os reguladores na China, como é previsto, mas até agora os reguladores não nos deram permissão para entregar os papéis de trabalho para a SEC”, diz o comunicado da Deloitte. “Esperamos que um mecanismo possa ser encontrado o mais breve possível para que haja uma solução que respeite as leis em ambas jurisdições.”
“O assunto é essencialmente uma questão entre reguladores na China e nos Estados Unidos; a Deloitte China ficará contente em seguir qualquer determinação que esteja de acordo com os dois”, diz o comunicado.
Em um comunicado divulgado na quinta-feira, a SEC diz que não pôde ter acesso a informações “cruciais” na investigação de uma possível fraude na Longtop.
A iniciativa da SEC seria “essencialmente uma disputa entre a SEC e os reguladores chineses que força a Deloitte a se apoiar na lei chinesa para justificar a não entrega dos documentos”, disse Jacob Frenkel, um ex-advogado da SEC que agora trabalha com o escritório Shulman Rogers Gandal Pordy & Ecker em Potomac, Maryland.
“Firmas de auditoria sabem que a SEC tem o direito de pedir e revisar os papéis de trabalho. A questão é a disputa sobre o acesso a documentos relacionados a auditoria de companhias chinesas.”
“Cumprir uma intimação da SEC não é uma opção, é uma obrigação”, disse Robert Khuzami, chefe da área de fiscalização da SEC no comunicado. (Colaboraram Dune Lawrence, em Nova York, e Joshua Gallu, em Washington.)
Fonte: Debra Mao, Bloomberg, Valor Economico
Ibracon pede transparência na discussão sobre rodízio
O Instituto dos Auditores Independentes do Brasil (Ibracon) encaminhou uma carta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) pedindo que a autarquia torne públicas as críticas que recebeu durante a audiência sobre o rodízio de firmas de contabilidade nas companhias abertas.
Praxe do órgão regulador brasileiro, a análise dos comentários e sugestões no período após o encerramento da audiência – e antes da emissão da norma – ocorre sob regime confidencial. Essa prática, no entanto, contrasta com o modelo de transparência adotado, por exemplo, pela Securities and Exchange Commission (SEC), nos Estados Unidos.
Segundo Alexsandro Broedel, diretor da CVM, essa é a primeira vez que a autarquia recebe um pedido de divulgação das críticas antes da conclusão da análise. “A demanda é inédita e achamos pertinente. Mas primeiro é preciso resolver as questões operacionais necessárias para a divulgação do material”, diz Broedel. “Se abrirmos os dados de uma audiência, teremos que abrir de todas”, complementa.
Entre os dias 15 de julho e 15 de agosto, a CVM recolheu sugestões para sua proposta de ampliar de cinco para dez anos o prazo de rotação de firmas. A contrapartida exigida das empresas seria a estruturação de um comitê para fiscalizar as atividades dos auditores.
A iniciativa da CVM reinaugurou a polêmica discussão sobre o rodízio obrigatório de auditorias. A exigência, presente hoje em poucos países, como Brasil e Itália, está sendo avaliada pelos reguladores dos demais países da União Europeia e dos Estados Unidos.
“O fato de o rodízio estar sendo discutido lá fora, não significa que será implementado”, aponta Ana Maria Elorrieta, presidente do Ibracon. Para ela, a instalação do comitê de auditoria deveria ser suficiente para que a empresa não precisasse mais trocar de firma. “Nos últimos 15 anos, houve diversos avanços na fiscalização da CVM e outros autorreguladores”, justifica.
Segundo Broedel, a análise dos comentários deve demorar pelo menos mais um mês. “Algumas pessoas confundiram. Não estamos discutindo a necessidade do rodízio, e sim a forma do comitê”, diz.
Broedel assume que algumas questões pontuais sobre o formato do comitê estão sendo revisadas. É o caso, por exemplo, da necessidade de troca dos seus membros a cada cinco anos e da tarefa de “avaliar e monitorar” a adequação das transações com partes relacionadas atribuída a eles na proposta original do órgão. “Mas não abriremos mão de que o comitê seja previsto no estatuto da empresa”, diz.
Fonte: Marina Falcão, Valor Economico
Praxe do órgão regulador brasileiro, a análise dos comentários e sugestões no período após o encerramento da audiência – e antes da emissão da norma – ocorre sob regime confidencial. Essa prática, no entanto, contrasta com o modelo de transparência adotado, por exemplo, pela Securities and Exchange Commission (SEC), nos Estados Unidos.
Segundo Alexsandro Broedel, diretor da CVM, essa é a primeira vez que a autarquia recebe um pedido de divulgação das críticas antes da conclusão da análise. “A demanda é inédita e achamos pertinente. Mas primeiro é preciso resolver as questões operacionais necessárias para a divulgação do material”, diz Broedel. “Se abrirmos os dados de uma audiência, teremos que abrir de todas”, complementa.
Entre os dias 15 de julho e 15 de agosto, a CVM recolheu sugestões para sua proposta de ampliar de cinco para dez anos o prazo de rotação de firmas. A contrapartida exigida das empresas seria a estruturação de um comitê para fiscalizar as atividades dos auditores.
A iniciativa da CVM reinaugurou a polêmica discussão sobre o rodízio obrigatório de auditorias. A exigência, presente hoje em poucos países, como Brasil e Itália, está sendo avaliada pelos reguladores dos demais países da União Europeia e dos Estados Unidos.
“O fato de o rodízio estar sendo discutido lá fora, não significa que será implementado”, aponta Ana Maria Elorrieta, presidente do Ibracon. Para ela, a instalação do comitê de auditoria deveria ser suficiente para que a empresa não precisasse mais trocar de firma. “Nos últimos 15 anos, houve diversos avanços na fiscalização da CVM e outros autorreguladores”, justifica.
Segundo Broedel, a análise dos comentários deve demorar pelo menos mais um mês. “Algumas pessoas confundiram. Não estamos discutindo a necessidade do rodízio, e sim a forma do comitê”, diz.
Broedel assume que algumas questões pontuais sobre o formato do comitê estão sendo revisadas. É o caso, por exemplo, da necessidade de troca dos seus membros a cada cinco anos e da tarefa de “avaliar e monitorar” a adequação das transações com partes relacionadas atribuída a eles na proposta original do órgão. “Mas não abriremos mão de que o comitê seja previsto no estatuto da empresa”, diz.
Fonte: Marina Falcão, Valor Economico
O lado ruim da economia brasileira
A abundância de dinheiro ajudou a financiar empréstimos bancários mais arriscados e alimentou a bolha imobiliária em potencial. Por algumas medidas, o real é agora a moeda mais valorizada do mundo e muitas fábricas locais não são competitivos nos mercados globais.
Fonte: aqui
Fonte: aqui
13 setembro 2011
Crítica a EY
Sobre a posição da Ernst Young e sua auditoria na Sino-Forest:
A Ernst ainda está se aferrando a sua posição de que os livros contábeis da Sino-Forest estão limpos, segundo o padrão de aprovação e reprovação da auditoria. Para além disso, a empresa se recusa a falar publicamente sobre seu trabalho de auditagem para a companhia, cujo conselho de administração abriga dois ex-sócios da Ernst.
Há todos os motivos para acreditar que o aviso da Muddy Waters foi espetacularmente correto. Mais uma vez uma auditoria pertencente ao grupo das quatro grandes parece ter sido pega de calças curtas, ao dizer ao público investidor, por vários anos, que os números de uma empresa de vários bilhões de dólares eram dignos de confiança, a tempo apenas de ver sua opinião descartada pelos mercados e suas conclusões derrubadas por autoridades do governo. Mesmo as agências de classificação de crédito que normalmente atribuem notas baixas, notórias pela lentidão em dar o tiro de misericórdia em empresas moribundas, foram mais rápidas no gatilho desta vez.
O principal órgão regulador de valores mobiliários do Canadá, a Ontario Securities Commission (OSC), suspendeu as transações com as ações da Sino-Forest no fim de agosto. A comissão disse que a Sino-Forest, bem como certos de seus executivos e diretores, parecem ter desvirtuado a receita da empresa, exagerado suas participações no setor de madeira e se envolvido em atos "que eles sabem ou que deveriam saber que perpetuam uma fraude."
Como se isso não fosse suficiente para abalar a confiança da Ernst, a Sino-Forest disse na semana passada que o presidente de seu conselho de administração e principal executivo, Allen Chan, tinha pedido demissão, até a conclusão de uma análise interna das denúncias da Muddy Waters.
A empresa afastou temporariamente três outros funcionários "depois que determinadas informações foram descobertas no decorrer" da análise, sem dizer que informações eram essas. Em seu comunicado à imprensa de 28 de agosto, a Sino-Forest disse que "as denúncias feitas no mandado temporário da OSC, embora não comprovadas, são graves".
A única reação pública da Ernst foi não dizer nada de significativo. "Temos conhecimento do mandado temporário da OSC e do comunicado da empresa à imprensa e estamos avaliando esses desdobramentos", disse Amanda Olliver, porta-voz da Ernst, por e-mail. "Nossas obrigações profissionais nos impedem de falar mais detalhadamente sobre questões relativas aos clientes."
Certamente os executivos e diretores da Sino-Forest estão gratos à Ernst por proteger seus segredos dos enxeridos olhos da opinião pública. Por outro lado, a única coisa que os investidores têm para tomar como base da parte da Ernst é o parecer que a auditoria assinou em 14 de março atestando a veracidade das demonstrações financeiras do fim do ano. Sejam quais forem as provas que a Ernst tinha para sustentar sua posição de que os livros contábeis da Sino-Forest estavam corretos, é difícil imaginar que os sócios da empresa possam ter toda essa certeza agora.
A Ernst tem alternativas, efetivamente, além de se preparar para os inevitáveis anos de contenciosos judiciais e investigações. Ela poderia se desligar, explicar por que está agindo dessa forma e enfrentar as críticas por agir tarde demais. Ela poderia retirar suas opiniões de auditorias anteriores. Poderia insistir com os diretores da Sino-Forest para que a autorizassem a responder perguntas do público sobre o trabalho que executou, como condição para não se retirar. Ou poderia continuar em silêncio, como está agora, e ver a sua reputação sofrer um novo abalo.
O fato de ela estar optando pela última dessas alternativas reforça a percepção de que a Ernst deixou a desejar e pode ter algo a esconder. Nenhum cliente merece isso, por mais honorários que pague. Já passou da hora de dar um basta.
Duas agências de risco já se foram; auditor continua firme - Jonathan Weil - Bloomberg - Publicado no Valor. Mais notícia aqui e aqui
Neuroeconomia
John Coates, um pesquisador sênior de neurociências e finanças da Universidade de Cambridge, tem uma teoria. Ele diz que haveria menos bolhas e crashes no mercado de ações se mulheres e homens mais velhos conduzissem a maioria dos negócios. "Há menos diversidade no mundo financeiro que no militar", ironiza ele. "Em Wall Street, temos uma parcela da população - homens jovens - conduzindo os pregões. Isso leva a um comportamento extremo: eles ficam selvagens."
Isso não é bom para as ações. Tal comportamento provavelmente contribuiu para o crash da internet em 2000 e o crash de 2008-2009, alimentado pelas hipotecas subprime. Portanto, Coates, que passou 12 anos negociando derivativos de renda fixa para o Goldman Sachs e o Deutsche Bank em Nova York, está agora examinando os hormônios dos operadores, em busca de pistas sobre o grau de risco que as mulheres e os operadores mais velhos se dispõem a assumir.
Em 2007 Coates dirigiu-se a um pregão e recolheu repetidas vezes amostras de saliva de 250 operadores, a maioria homens jovens. Ele constatou que no período da manhã, quando seus níveis de testosterona estão altos, a confiança dos operadores também é alta. Na medida em que fazem negócios bem-sucedidos, seus níveis de testosterona sobem ainda mais, levando a lucros na parte da tarde.
Os homens jovens começam a se sentir infalíveis, assumindo um comportamento cada vez mais arriscado, como comprar ações a preços sobrevalorizados. Mas, em algum momento, testosterona demais e um excesso de julgamentos equivocados levam os mercados a níveis de alta insustentáveis. Então o ciclo termina. As ações sobrevalorizadas sofrerão um crash e os níveis de testosterona voltarão ao normal. "A testosterona é a molécula que explica a exuberância irracional", afirma Coates. "Uma certa quantidade de testosterona pode ser saudável, mas o excesso pode levar a uma bolha."
Para a maioria dos pesquisadores que trabalham com a neurociência, o "Santo Graal" é descobrir como regenerar os neurônios do cérebro. Tal feito ajudaria os cientistas a acabar com doenças como o mal de Parkinson e o mal de Alzheimer. Mas outros estão usando as técnicas desse campo em crescimento nas finanças comportamentais, que por si só é uma mistura de economia com psicologia. O resultado é um novo campo chamado neuroeconomia, que tenta explicar como as pessoas gerenciam riscos e por que elas sempre tomam decisões irracionais.
A importância das emoções não é nenhuma novidade. Benjamin Graham, considerado o pai do "value investing", certa vez disse: "Os indivíduos que não conseguem dominar suas emoções estão mal adaptados para lucrar com o processo de investimento". Mas as principais teorias do campo hoje conhecido como finanças comportamentais foram desenvolvidas por Richard Thaler, professor de economia e ciências comportamentais da Booth School of Business da Universidade de Chicago, e Daniel Kahneman, da Universidade Princeton, cujos trabalhos sobre essas questões, com o falecido Amos Tversky, lhes renderam o Nobel em Ciências Econômicas em 2002. [Na verdade só Kahneman ganhou o Nobel]
Kahneman e Tversky constataram que as pessoas sofrem mais com a perda de dinheiro do que sentem prazer ganhando dinheiro. Portanto, elas tendem a se agarrar a ações perdedoras, ao invés de vendê-las e evitar uma perda maior.
A irracionalidade também pode assumir a forma de um afeiçoamento emocional a um determinado ativo. R. J. Weiss, o fundador de 26 anos do blog Gen Y Wealth, recentemente postou que foi pego em uma armadilha de comportamento. Quando seu avô faleceu, ele herdou ações que eram negociadas a US$ 25. As ações caíram para US$ 20, US$ 10 e depois para US$ 5, mas Weiss não conseguiu se desfazer do presente que recebeu do avô. Finalmente, em abril, ele vendeu as ações por US$ 3,04, arcando com uma perda de 90%. "O tempo todo que o mercado caía eu sabia que manter as ações era a coisa errada a ser feita, mas eu não conseguia vendê-las", escreveu Weiss.
Dan Ariely, um economista comportamental do Massachusetts Institute of Technology (MIT), diz que as pessoas precisam ser cautelosas com essa irracionalidade, e que talvez seja até mesmo preciso estabelecer mecanismos que impeçam as pessoas de agir de maneira imprudente. "Sabemos que precisamos criar um mecanismo que impeça as pessoas de enviar mensagens de texto pelo celular enquanto estão dirigindo", afirma Ariely. "Mas, no mercado, não estamos levando em conta o caráter humano, e isso está nos levando para o mau caminho."
Primeiro, porém, os neuroeconomistas precisam entender o papel da emoção nas tomadas de decisões. Brian Knutson, um neurocientista da Universidade Stanford, e Camelia Kuhnen, uma professora de finanças da Kellog School of Management da Northwestern University, rastreiam os cérebros dos investidores enquanto eles tomam decisões de compra e venda. Eles constataram que os investidores com o maior apetite pelo risco aumentam a atividade cerebral em uma área chamada núcleo acumbente. Esta é a parte que é ativada em um animal quando ele encontra comida, ou em um predador quando ele parte para uma caçada.
Ao mesmo tempo, há um aumento da dopamina, responsável pela sensação de bem-estar. Ela inunda nosso cérebro quando antecipamos algo prazeroso ou excitante como ouvir música, fazer sexo ou pular de paraquedas. Um aumento da dopamina pode levar os investidores a adotar comportamentos de risco.
Os investidores que são mais avessos ao risco - e menos inclinados a comprar uma ação em grande demanda - mostram um aumento da atividade em uma parte diferente do cérebro, a ínsula anterior, que tem um papel muito importante em emoções como ansiedade e dor. Ela é a parte que é ativada quando sentimos o cheiro de um ovo podre ou o silvo de uma cobra. "Ao desconstruir os motivos que levam os investidores a ficarem entusiasmados, e por que eles fazem o que fazem, vamos desenvolver ferramentas que poderão ajudar as pessoas e tomar decisões melhores", afirma Knutson.
Uma das ferramentas em que Knutson está trabalhando é uma maneira de ajudar a impedir os investidores de se tornarem vítimas de fraudes financeiras. Knutson, cujo trabalho é bancado pela Financial Industry Regulatory Authority (FINRA), está usando a tecnologia de imagens cerebrais para ver o que acontece quando os investidores são seduzidos por golpistas. Ele diz que pode parecer que as vítimas são simplesmente pessoas ignorantes. No entanto, pode ser que as vítimas sejam pessoas cujos cérebros ficam tão animados com os ganhos em potencial que não conseguem evitar a tomada de risco. Ou talvez essas vítimas não sintam medo. Suas constatações poderão levar a uma ferramenta para salvaguardar os investidores.
Para onde tudo isso vai? Talvez um dia investidores e operadores tenham um dispositivo biométrico conectado aos seus computadores. Ele poderá escanear o córtex pré-frontal do cérebro, determinar os níveis de testosterona e medir a quantidade de suor nas palmas das mãos em microssegundos, antes de alertar você para não fazer determinado negócio. Ou as pesquisas atuais poderão resultar em medicamentos que tornarão as pessoas mais racionais.
"Dentro de poucas décadas, medicamentos que reforçam o desempenho serão uma parte integrante de nosso mundo", afirma Hersh Shefren, professor de finanças comportamentais da Santa Clara University. "No momento isso é ficção científica, mas a ficção científica sempre acaba virando ciência." (Tradução de Mario Zamarian)
Neuroeconomia busca desvendar a cabeça do investidor - Por Nikhil Hutheesing | Da Bloomberg - Publicado no valor Econômico
Você acredita em teoria econômica?
Sabendo o que o leitor vai pensar diante desta momentosa indagação, o texto abaixo destina-se a reforçar o cetecismo através da apresentação de um paradoxo e de uma nova lei. Não se trata de diminuir os economistas, como pode parecer, mas de mostrar que o manuseio de teorias, mesmo as mais simples, por amadores ou gente mal intencionada, pode induzir o leitor inocente ao erro. Ou seja, a teoria é muito utilizada, às vezes, inclusive, de forma sensata, para o que se conhece como “contas de chegada”.
Dentre as leis da economia uma que anda um tanto em evidência nos últimos tempos é que reza que a mesma mercadoria deve custar a mesma coisa em dois países, ou em duas regiões, que mantenham comércio entre si. Nada mais simples.
Não há razão, por exemplo, para que o preço do feijão seja diferente entre diferentes regiões do pais, exceto por custos de transporte. Se houver diferença ou “desalinhamento”, qualquer que seja o motivo, alguém esperto (e este não é um recurso escasso no país) poderá se engajar em uma atividade conhecida tecnicamente como “arbitragem”, que consiste em comprar onde está barato e vender onde está caro até os preços se igualarem. O “arbitrador” funciona como o “vaso comunicante” que assegura a “paridade” entre os preços.
A “lei” acima enunciada é conhecida como o “Paridade de Poder de Compra” (PPP), ou como a “Lei do Preço Único”. Suas utilizações são múltiplas e seu entendimento bastante disseminado.
De longe a mais popular de suas aplicações é fornecer uma resposta para uma das perguntas mais repetidas neste país nos últimos tempos, a saber: qual a taxa de câmbio “correta” entre o Real e o Dólar.
Para este fim usa-se, inclusive, um expediente desconcertantemente simples: comparações internacionais de preços de sanduiches Big Macs, conforme rotineiramente reportado pela revista The Economist. Segundo o Princípio de PPP, um “Big Mac”no Brasil deve custar, em dólares, a mesma coisa que nos EUA, uma vez que o produto é rigorosamente igual. Portanto, se o preço for diferente, a taxa de câmbio está “errada”.
Há, evidentemente, um “non sequitur”, ou seja, uma pequena e importante armadilha. O gerente local do McDonalds pode estar errado, e não o mercado de câmbio, mas este é um tema complexo, o leitor deve formar sua própria idéia sobre quem é mais racional.
Outra lembrança útil é que durante muitos anos vicejou uma outra “lei”, esta jocosamente apresentada como “corolário” da PPP, a “Lei de Sauer-Setubal” cujo enunciado era simples: “qualquer que fosse a taxa de mercado, estava sempre defasada em 30%”. Quem não ouviu histórias sobre “defasagem cambial”? É importante lembrar que o conceito de “defasagem”, ou “sobrevalorização” especialmente quando proclamada em percentuais até a terceira casa decimal, decorre geralmente da aceitação do princípio da PPP. Portanto, o leitor deve estar certo de que em diversas entidades patronais existem, ou ao menos existiam, ardorosos partidários da PPP.
Muito bem, feitas estas ressalvas, vamos aos fatos: o preço do Big Mac nos EUA é US$ 2,54 e no Brasil é R$ 3,60, ou seja, a taxa de câmbio “correta” segundo o critério de PPP seria de R$ 1,42 por dólar, acredite se quiser. Como o Big Mac custa R$ 3,60, se a taxa de câmbio de mercado está em R$ 2,83, isso significa um hamburger bem baratinho, custando em dólar US$ 1,27, ou seja, “sobredesvalorizado” em 49,9%. Com um dólar a R$ 2,50, o Big Mac brasileiro medido em dolares custaria US$ 1,44, ou seja, “sobredesvalorizado” em 43,3%. Números impressionantes, não? Será que estamos vivendo uma espécie de “bolha irracional” no mercado de câmbio, ou a diretoria do McDonalds errou suas contas? Onde está o erro?
Bem, sempre se pode dizer que estes números são calculados usando apenas uma combinação restrita de produtos e serviços, o Big Mac, e que o mundo é mais complexo, e que cálculos corretos de PPP deveriam considerar cestas mais amplas de mercadorias, tipicamente as que servem para os cálculos de índices de preços. Certo, o exercício com o Big Mac é apenas uma aproximação, os reparos são procedentes. O problema é que os cálculos mais minuciosos não nos dão como resultado nada de muito diferente. Ou seja, se voce acredita em PPP é difícil escapar da conclusão de que o real está “sobredesvalorizado”, ou seja, o contrário de defasado, em mais de 40%.
O problema é que há um desconforto generalizado com este número, tanto que os analistas andam dedicando uma imensa parcela do seu tempo a construir versões “ajustadas” do princípio de PPP, inventando novos conceitos de “taxa de equilíbrio”. Há muito mérito nesses esforços, alguns feitos há muitos anos e já consagrados. Mas há também o desejo de conciliar a teoria com o “olhômetro”, ou seja, o desejo de torturar a teoria até que ela confesse que a “sobredesvalorização” não é 50% mas 15%, e que o câmbio “correto” seria uns R$ 2,20. Muitos conseguiram, 15% parece razoável, não? E mais: é bom ficar 15% acima da paridade para dar um gás para as exportações.
Algum antropólogo deveria escrever um tratado sobre o significado de “15%” na cultura econômica do Brasil. Ou por que “15%” parece ser uma constante da Natureza, quando se discute desalinhamento cambial. Parece haver uma “outra” Lei de Sauer-Setrubal, própria para os novos tempos, que diria o seguinte: “quando o câmbio está errado, qualquer que seja a direção, é sempre por 15% e é bom que seja assim”.
Fonte: Gustavo H. Branco - Doutor em Economia pela Universidade de Harvard
Dentre as leis da economia uma que anda um tanto em evidência nos últimos tempos é que reza que a mesma mercadoria deve custar a mesma coisa em dois países, ou em duas regiões, que mantenham comércio entre si. Nada mais simples.
Não há razão, por exemplo, para que o preço do feijão seja diferente entre diferentes regiões do pais, exceto por custos de transporte. Se houver diferença ou “desalinhamento”, qualquer que seja o motivo, alguém esperto (e este não é um recurso escasso no país) poderá se engajar em uma atividade conhecida tecnicamente como “arbitragem”, que consiste em comprar onde está barato e vender onde está caro até os preços se igualarem. O “arbitrador” funciona como o “vaso comunicante” que assegura a “paridade” entre os preços.
A “lei” acima enunciada é conhecida como o “Paridade de Poder de Compra” (PPP), ou como a “Lei do Preço Único”. Suas utilizações são múltiplas e seu entendimento bastante disseminado.
De longe a mais popular de suas aplicações é fornecer uma resposta para uma das perguntas mais repetidas neste país nos últimos tempos, a saber: qual a taxa de câmbio “correta” entre o Real e o Dólar.
Para este fim usa-se, inclusive, um expediente desconcertantemente simples: comparações internacionais de preços de sanduiches Big Macs, conforme rotineiramente reportado pela revista The Economist. Segundo o Princípio de PPP, um “Big Mac”no Brasil deve custar, em dólares, a mesma coisa que nos EUA, uma vez que o produto é rigorosamente igual. Portanto, se o preço for diferente, a taxa de câmbio está “errada”.
Há, evidentemente, um “non sequitur”, ou seja, uma pequena e importante armadilha. O gerente local do McDonalds pode estar errado, e não o mercado de câmbio, mas este é um tema complexo, o leitor deve formar sua própria idéia sobre quem é mais racional.
Outra lembrança útil é que durante muitos anos vicejou uma outra “lei”, esta jocosamente apresentada como “corolário” da PPP, a “Lei de Sauer-Setubal” cujo enunciado era simples: “qualquer que fosse a taxa de mercado, estava sempre defasada em 30%”. Quem não ouviu histórias sobre “defasagem cambial”? É importante lembrar que o conceito de “defasagem”, ou “sobrevalorização” especialmente quando proclamada em percentuais até a terceira casa decimal, decorre geralmente da aceitação do princípio da PPP. Portanto, o leitor deve estar certo de que em diversas entidades patronais existem, ou ao menos existiam, ardorosos partidários da PPP.
Muito bem, feitas estas ressalvas, vamos aos fatos: o preço do Big Mac nos EUA é US$ 2,54 e no Brasil é R$ 3,60, ou seja, a taxa de câmbio “correta” segundo o critério de PPP seria de R$ 1,42 por dólar, acredite se quiser. Como o Big Mac custa R$ 3,60, se a taxa de câmbio de mercado está em R$ 2,83, isso significa um hamburger bem baratinho, custando em dólar US$ 1,27, ou seja, “sobredesvalorizado” em 49,9%. Com um dólar a R$ 2,50, o Big Mac brasileiro medido em dolares custaria US$ 1,44, ou seja, “sobredesvalorizado” em 43,3%. Números impressionantes, não? Será que estamos vivendo uma espécie de “bolha irracional” no mercado de câmbio, ou a diretoria do McDonalds errou suas contas? Onde está o erro?
Bem, sempre se pode dizer que estes números são calculados usando apenas uma combinação restrita de produtos e serviços, o Big Mac, e que o mundo é mais complexo, e que cálculos corretos de PPP deveriam considerar cestas mais amplas de mercadorias, tipicamente as que servem para os cálculos de índices de preços. Certo, o exercício com o Big Mac é apenas uma aproximação, os reparos são procedentes. O problema é que os cálculos mais minuciosos não nos dão como resultado nada de muito diferente. Ou seja, se voce acredita em PPP é difícil escapar da conclusão de que o real está “sobredesvalorizado”, ou seja, o contrário de defasado, em mais de 40%.
O problema é que há um desconforto generalizado com este número, tanto que os analistas andam dedicando uma imensa parcela do seu tempo a construir versões “ajustadas” do princípio de PPP, inventando novos conceitos de “taxa de equilíbrio”. Há muito mérito nesses esforços, alguns feitos há muitos anos e já consagrados. Mas há também o desejo de conciliar a teoria com o “olhômetro”, ou seja, o desejo de torturar a teoria até que ela confesse que a “sobredesvalorização” não é 50% mas 15%, e que o câmbio “correto” seria uns R$ 2,20. Muitos conseguiram, 15% parece razoável, não? E mais: é bom ficar 15% acima da paridade para dar um gás para as exportações.
Algum antropólogo deveria escrever um tratado sobre o significado de “15%” na cultura econômica do Brasil. Ou por que “15%” parece ser uma constante da Natureza, quando se discute desalinhamento cambial. Parece haver uma “outra” Lei de Sauer-Setrubal, própria para os novos tempos, que diria o seguinte: “quando o câmbio está errado, qualquer que seja a direção, é sempre por 15% e é bom que seja assim”.
Fonte: Gustavo H. Branco - Doutor em Economia pela Universidade de Harvard
Como detectar uma bolha de ativos?
O artigo institulado: "How to Detect an Asset Bubble", propõem técnicas não paramétricas para detecção de bolhas de ativos:
Resumo :
After the 2007 credit crisis, nancial bubbles have once again emerged as a topic of current concern. An open problem is to determine in real time whether or not a given asset's price process exhibits a bubble. Due to recent progress in the characterization of asset price bubbles using the arbitrage-free martingale pricing technology, we are able to propose a new methodology for answering this question based on the asset's price volatility. We limit ourselves to the special case of a risky asset's price being modeled by a Brownian driven stochastic di erential equation. Such models are ubiquitous both in theory and in practice. Our methods use sophisticated volatility estimation techniques combined with the method of reproducing kernel Hilbert spaces. We illustrate these techniques using several stocks from the alleged internet dot-com episode of 1998 - 2001, where price bubbles were widely thought to have existed. Our results support these beliefs.
Resumo :
After the 2007 credit crisis, nancial bubbles have once again emerged as a topic of current concern. An open problem is to determine in real time whether or not a given asset's price process exhibits a bubble. Due to recent progress in the characterization of asset price bubbles using the arbitrage-free martingale pricing technology, we are able to propose a new methodology for answering this question based on the asset's price volatility. We limit ourselves to the special case of a risky asset's price being modeled by a Brownian driven stochastic di erential equation. Such models are ubiquitous both in theory and in practice. Our methods use sophisticated volatility estimation techniques combined with the method of reproducing kernel Hilbert spaces. We illustrate these techniques using several stocks from the alleged internet dot-com episode of 1998 - 2001, where price bubbles were widely thought to have existed. Our results support these beliefs.
Basileia 3 e Globalização
Dorotea, uma empresária de trinta e poucos anos que trabalha por conta própria com cerâmica, nas longínquas florestas do Peru, sabe tudo sobre a crise financeira mundial. Ela pode não estar familiarizada com as tecnicalidades do desaparecimento do Lehman Brothers, em 2008, nem com a consequente enxurrada de regulamentações destinadas a reparar o quebrado sistema bancário. Mas ela sabe que é uma pessoa de sorte. Se estivesse hoje tentando obter o empréstimo de 1.200 soles para um novo forno que obteve alguns anos atrás, ficaria frustrada.
A exemplo, virtualmente, de todos os bancos mundiais, sua instituição de microcrédito, o Mibanco, teve de reduzir os riscos a que estava exposto, e não está mais concedendo financiamento a empresários empobrecidos como Dorotea. “Ainda estamos emprestando”, diz seu gerente local. “Mas procuramos riscos menores – tomadores não tão pobres e não tão micro.”
Três anos depois de mergulharmos nas profundezas do pior colapso financeiro das últimas oito décadas, está mais claro do que nunca que a crise que muitos julgavam encerrada dois anos atrás continua em vigor – e, de certa forma, principalmente nos EUA e em toda a zona do euro, está se intensificando. As empresas e os políticos dizem que o crédito ou não está disponível ou está caro demais. Os bancos reclamam que os lucros estão sendo tão fortemente comprimidos que os investidores estão desertando deles. As autoridades reguladoras, ilhadas no meio, estão entregues às suas próprias dúvidas sobre se sua reação natural à crise – a formulação de novas e rígidas normas – está mesmo erigindo um sistema mais sólido, como o pretendido, ou se está exacerbando os problemas de uma frágil economia mundial.
Numa visão retrospectiva, está claro que a estrutura do setor nos anos anteriores a 2007 constituía um desastre anunciado. As instituições tinham se distorcido na busca de lucros arrasadores. Elas mantiveram pouco capital próprio para se proteger – e o capital que elas efetivamente tinham era, em muitos casos, amplificado em até 50 vezes com instrumentos de endividamento. Amplos lucros eram acumulados através de tomadas de empréstimo barato, muitas vezes de curto prazo, contratados sob o pressuposto de que os riscos inerentes de produtos que iam desde contratos de crédito imobiliário até derivativos complexos eram desprezíveis.
Hoje, esses elementos constitutivos da lucratividade – que geraram retornos sobre o capital de até 25 ou 30%, correspondente a cinco vezes a taxa normal de muitas empresas industriais de primeira linha – não existem mais. Muitos bancos detêm atualmente o triplo do capital que possuíam antes, e até seis vezes o financiamento líquido. Os múltiplos de alavancagem mais comuns se reduziram a 20. Os riscos foram reavaliados. E os lucros despencaram. Segundo o indicador preferido dos próprios bancos, o retorno sobre o patrimônio, que historicamente tem um desempenho ilusoriamente maximizado ao relacionar os retornos apenas com aquelas parcas reservas de segurança de capital, o máximo a que podem aspirar agora corresponde à metade da faixa do pré-crise.
O Citigroup, uma das grandes vítimas americanas, encolheu seus ativos – empréstimos, contratos de crédito imobiliário e de outro tipo de crédito – drasticamente. “O mundo mudou”, diz Alberto Verme, coprincipal executivo de suas divisões europeias. “Os bancos estão voltando ao básico – à captação de depósitos, ao repasse desses depósitos sob a forma de concessão de empréstimos e à administração do que é cada vez mais importante para os clientes – gerenciamento de caixa, financiamento de comércio exterior, câmbio.”
Os órgãos reguladores, por sua vez, baixaram uma grande quantidade de normas sobre o volume de capital próprio e de liquidez das instituições. Embora a maioria faça parte dos novos padrões do comitê da Basileia, o órgão regulador mundial, a serem introduzidos, progressivamente, até 2019, os analistas e investidores pressionam pelo cumprimento antecipado. Sua máxima para os últimos anos é simples: quanto maior o índice de capitalização – especificamente o patrimônio líquido em relação aos ativos ponderados pelo grau de risco -, melhor.
“Está bastante claro que o sistema bancário de hoje é mais seguro do que era alguns anos atrás”, diz Bob Penn, um dos sócios do escritório mundial de advocacia Allen & Overy. “Será que isso decorre de medidas regulatórias ou da simples reação do mercado à crise?”
Seja como for, a crise encontrou novo fôlego. Os custos diretos, arcados pelos governos três anos atrás, de salvar bancos quebrados, associados aos custos indiretos do desaquecimento da economia que acompanharam o colapso do setor e ao efeito bumerangue do excesso de tomada de empréstimos, se revelaram sob a forma de cargas de endividamento soberano insustentáveis da Europa aos EUA. Isso está se refletindo, novamente, no ainda frágil sistema bancário, num momento em que partes das carteiras tradicionalmente seguras das instituições de investimentos em bônus governamentais despencaram de valor.
“Nesse processo de reestruturação das demonstrações financeiras, as incertezas deste momento dizem respeito à habitação e aos governos”, diz Richard Brown, economista-chefe do FDIC, o órgão garantidor dos depósitos bancários e fiscalizador do setor nos EUA. Alguns acreditam que a raiz do problema foi a insuficiência das reformas. “As mudanças que foram lançadas e planejadas não tornarão [o sistema] seguro o suficiente”, diz o professor Anat Admati, da Universidade Stanford.
A título de exemplo, os mais recentes alvos da pressão vendedora dos mercados são os bancos franceses, que, com o apoio da autoridade reguladora nacional, resistiram em seguir a investida de Suíça, Suécia e Reino Unido para aumentar os níveis de capitalização para novos patamares recorde. Ao mesmo tempo, o BNP Paribas, o Société Générale e o Crédit Agricole têm exposições extraordinariamente altas à Grécia.
As autoridades de política monetária estão enfrentando dificuldades em corrigir os fundamentos errôneos das economias da zona do euro sem consumir o capital das reservas de segurança dos bancos. Mas, enquanto isso, a oferta de financiamento líquido de curto prazo a muitas instituições do continente está se esgotando, em uma reedição do nervosismo que aniquilou instituições como o Northern Rock do Reino Unido e o Lehman dos EUA em 2007-08.
“Os problemas fundamentais da zona do euro estão apenas piorando com o passar do tempo”, diz Ulf Riese, diretor financeiro do Handelsbanken da Suécia, cujo modelo de negócios de baixo risco o tornou um raro refúgio seguro dentre seus pares europeus. “A liquidez, para muitos bancos, está ficando de mais curto prazo ou dependente de medidas do governo.”
O prazo de sexta-feira para os detentores do setor privado de bônus soberanos da Grécia aderirem a um acordo voluntário de prorrogação do vencimento em até 10 anos poderá desencadear uma nova rodada de pressão vendedora em toda a zona do euro. Os dirigentes dos bancos preveem que a adesão ficará aquém da meta de 90%, o que poderá pôr em perigo a próxima tranche do dinheiro do pacote de salvamento à Grécia se os políticos sentirem que o ônus não está sendo compartilhado de forma justa.
A fragilidade dos mercados aparentemente levou alguns defensores de reformas, normalmente de linha dura, a questionarem a adequação de adotar um enfoque pouco flexível. Andrew Haldane, diretor-executivo de estabilidade financeira do Bank of England, o BC do Reino Unido, elogiou no mês passado a condução da regulamentação dos bancos na década de 1930 dada pelo presidente dos EUA Franklin Roosevelt – especificamente a de afrouxamento das normas durante a Crise de 1929, na tentativa, bem-sucedida, de intensificar a concessão de crédito.
Os dirigentes dos bancos, não é de admirar, concordam. Eles destacam, por exemplo, que o papel tradicional das instituições de crédito de fazer a mediação entre os mercados de capitais e os tomadores corporativos pode não ser mais viável economicamente, agora que tantos foram rebaixados pelas agências de classificação de crédito. “Hoje em dia, muitos bancos têm um custo mais alto de financiamento do que as empresas, e isso dificulta muito sua tarefa de conceder crédito a uma empresa”, diz Riese.
Alguns proponentes de reformas acreditam que as autoridades reguladoras precisam manter a pressão – pela limitação, por exemplo, à capacidade dos bancos de pagar dividendos aos acionistas enquanto não tiverem aumentado mais os níveis de capitalização por meio de retenção dos lucros.
Mas a maior questão existencial continua sendo a de caráter básico, sobre a capacidade de concessão de crédito. E apenas quando a fraca demanda da economia por crédito finalmente se fortalecer, pondo à prova a capacidade dos bancos de conceder crédito com suas novas restrições de capitalização e liquidez, é que o mundo realmente saberá se o futuro do setor bancário se sustenta. (tradução de Rachel Warszawski)
Fonte: Patrick Jenkins, Brooke Masters e Tom Braithwaite Financial Times, Valor Economico
A exemplo, virtualmente, de todos os bancos mundiais, sua instituição de microcrédito, o Mibanco, teve de reduzir os riscos a que estava exposto, e não está mais concedendo financiamento a empresários empobrecidos como Dorotea. “Ainda estamos emprestando”, diz seu gerente local. “Mas procuramos riscos menores – tomadores não tão pobres e não tão micro.”
Três anos depois de mergulharmos nas profundezas do pior colapso financeiro das últimas oito décadas, está mais claro do que nunca que a crise que muitos julgavam encerrada dois anos atrás continua em vigor – e, de certa forma, principalmente nos EUA e em toda a zona do euro, está se intensificando. As empresas e os políticos dizem que o crédito ou não está disponível ou está caro demais. Os bancos reclamam que os lucros estão sendo tão fortemente comprimidos que os investidores estão desertando deles. As autoridades reguladoras, ilhadas no meio, estão entregues às suas próprias dúvidas sobre se sua reação natural à crise – a formulação de novas e rígidas normas – está mesmo erigindo um sistema mais sólido, como o pretendido, ou se está exacerbando os problemas de uma frágil economia mundial.
Numa visão retrospectiva, está claro que a estrutura do setor nos anos anteriores a 2007 constituía um desastre anunciado. As instituições tinham se distorcido na busca de lucros arrasadores. Elas mantiveram pouco capital próprio para se proteger – e o capital que elas efetivamente tinham era, em muitos casos, amplificado em até 50 vezes com instrumentos de endividamento. Amplos lucros eram acumulados através de tomadas de empréstimo barato, muitas vezes de curto prazo, contratados sob o pressuposto de que os riscos inerentes de produtos que iam desde contratos de crédito imobiliário até derivativos complexos eram desprezíveis.
Hoje, esses elementos constitutivos da lucratividade – que geraram retornos sobre o capital de até 25 ou 30%, correspondente a cinco vezes a taxa normal de muitas empresas industriais de primeira linha – não existem mais. Muitos bancos detêm atualmente o triplo do capital que possuíam antes, e até seis vezes o financiamento líquido. Os múltiplos de alavancagem mais comuns se reduziram a 20. Os riscos foram reavaliados. E os lucros despencaram. Segundo o indicador preferido dos próprios bancos, o retorno sobre o patrimônio, que historicamente tem um desempenho ilusoriamente maximizado ao relacionar os retornos apenas com aquelas parcas reservas de segurança de capital, o máximo a que podem aspirar agora corresponde à metade da faixa do pré-crise.
O Citigroup, uma das grandes vítimas americanas, encolheu seus ativos – empréstimos, contratos de crédito imobiliário e de outro tipo de crédito – drasticamente. “O mundo mudou”, diz Alberto Verme, coprincipal executivo de suas divisões europeias. “Os bancos estão voltando ao básico – à captação de depósitos, ao repasse desses depósitos sob a forma de concessão de empréstimos e à administração do que é cada vez mais importante para os clientes – gerenciamento de caixa, financiamento de comércio exterior, câmbio.”
Os órgãos reguladores, por sua vez, baixaram uma grande quantidade de normas sobre o volume de capital próprio e de liquidez das instituições. Embora a maioria faça parte dos novos padrões do comitê da Basileia, o órgão regulador mundial, a serem introduzidos, progressivamente, até 2019, os analistas e investidores pressionam pelo cumprimento antecipado. Sua máxima para os últimos anos é simples: quanto maior o índice de capitalização – especificamente o patrimônio líquido em relação aos ativos ponderados pelo grau de risco -, melhor.
“Está bastante claro que o sistema bancário de hoje é mais seguro do que era alguns anos atrás”, diz Bob Penn, um dos sócios do escritório mundial de advocacia Allen & Overy. “Será que isso decorre de medidas regulatórias ou da simples reação do mercado à crise?”
Seja como for, a crise encontrou novo fôlego. Os custos diretos, arcados pelos governos três anos atrás, de salvar bancos quebrados, associados aos custos indiretos do desaquecimento da economia que acompanharam o colapso do setor e ao efeito bumerangue do excesso de tomada de empréstimos, se revelaram sob a forma de cargas de endividamento soberano insustentáveis da Europa aos EUA. Isso está se refletindo, novamente, no ainda frágil sistema bancário, num momento em que partes das carteiras tradicionalmente seguras das instituições de investimentos em bônus governamentais despencaram de valor.
“Nesse processo de reestruturação das demonstrações financeiras, as incertezas deste momento dizem respeito à habitação e aos governos”, diz Richard Brown, economista-chefe do FDIC, o órgão garantidor dos depósitos bancários e fiscalizador do setor nos EUA. Alguns acreditam que a raiz do problema foi a insuficiência das reformas. “As mudanças que foram lançadas e planejadas não tornarão [o sistema] seguro o suficiente”, diz o professor Anat Admati, da Universidade Stanford.
A título de exemplo, os mais recentes alvos da pressão vendedora dos mercados são os bancos franceses, que, com o apoio da autoridade reguladora nacional, resistiram em seguir a investida de Suíça, Suécia e Reino Unido para aumentar os níveis de capitalização para novos patamares recorde. Ao mesmo tempo, o BNP Paribas, o Société Générale e o Crédit Agricole têm exposições extraordinariamente altas à Grécia.
As autoridades de política monetária estão enfrentando dificuldades em corrigir os fundamentos errôneos das economias da zona do euro sem consumir o capital das reservas de segurança dos bancos. Mas, enquanto isso, a oferta de financiamento líquido de curto prazo a muitas instituições do continente está se esgotando, em uma reedição do nervosismo que aniquilou instituições como o Northern Rock do Reino Unido e o Lehman dos EUA em 2007-08.
“Os problemas fundamentais da zona do euro estão apenas piorando com o passar do tempo”, diz Ulf Riese, diretor financeiro do Handelsbanken da Suécia, cujo modelo de negócios de baixo risco o tornou um raro refúgio seguro dentre seus pares europeus. “A liquidez, para muitos bancos, está ficando de mais curto prazo ou dependente de medidas do governo.”
O prazo de sexta-feira para os detentores do setor privado de bônus soberanos da Grécia aderirem a um acordo voluntário de prorrogação do vencimento em até 10 anos poderá desencadear uma nova rodada de pressão vendedora em toda a zona do euro. Os dirigentes dos bancos preveem que a adesão ficará aquém da meta de 90%, o que poderá pôr em perigo a próxima tranche do dinheiro do pacote de salvamento à Grécia se os políticos sentirem que o ônus não está sendo compartilhado de forma justa.
A fragilidade dos mercados aparentemente levou alguns defensores de reformas, normalmente de linha dura, a questionarem a adequação de adotar um enfoque pouco flexível. Andrew Haldane, diretor-executivo de estabilidade financeira do Bank of England, o BC do Reino Unido, elogiou no mês passado a condução da regulamentação dos bancos na década de 1930 dada pelo presidente dos EUA Franklin Roosevelt – especificamente a de afrouxamento das normas durante a Crise de 1929, na tentativa, bem-sucedida, de intensificar a concessão de crédito.
Os dirigentes dos bancos, não é de admirar, concordam. Eles destacam, por exemplo, que o papel tradicional das instituições de crédito de fazer a mediação entre os mercados de capitais e os tomadores corporativos pode não ser mais viável economicamente, agora que tantos foram rebaixados pelas agências de classificação de crédito. “Hoje em dia, muitos bancos têm um custo mais alto de financiamento do que as empresas, e isso dificulta muito sua tarefa de conceder crédito a uma empresa”, diz Riese.
Alguns proponentes de reformas acreditam que as autoridades reguladoras precisam manter a pressão – pela limitação, por exemplo, à capacidade dos bancos de pagar dividendos aos acionistas enquanto não tiverem aumentado mais os níveis de capitalização por meio de retenção dos lucros.
Mas a maior questão existencial continua sendo a de caráter básico, sobre a capacidade de concessão de crédito. E apenas quando a fraca demanda da economia por crédito finalmente se fortalecer, pondo à prova a capacidade dos bancos de conceder crédito com suas novas restrições de capitalização e liquidez, é que o mundo realmente saberá se o futuro do setor bancário se sustenta. (tradução de Rachel Warszawski)
Fonte: Patrick Jenkins, Brooke Masters e Tom Braithwaite Financial Times, Valor Economico
Infraestrutura
Renée Pereira
Estado de S.Paulo, 11.09.2011
A qualidade da infraestrutura brasileira piorou em relação ao resto do mundo pelo segundo ano consecutivo. Desta vez, no entanto, o País despencou 20 posições no ranking global de competitividade do Fórum Econômico Mundial, de 84º para 104º lugar. Em 2010, já havia perdido três colocações por causa da lentidão do governo para tirar projetos importantes do papel.A tendência não é nada animadora.
Na avaliação de especialistas, com a paralisia verificada em algumas áreas este ano a situação tende a piorar. É o caso da malha rodoviária. No ranking mundial, elaborado com base na opinião de cerca de 200 empresários nacionais e estrangeiros, a qualidade das estradas brasileiras caiu 13 posições e está entre as 25 piores estruturas dos 142 países analisados.
A preocupação é que, depois dos escândalos de corrupção no Ministério dos Transportes, muitas obras estão paralisadas. Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), foram suspensos 41 editais, que estão sendo liberados de acordo com a prioridade do ministério. O órgão destaca, entretanto, que esses processos estavam em diferentes estágios, alguns na fase anterior à abertura das propostas. Apesar disso, afirma que conseguiu executar R$ 1,2 bilhão em agosto. Mas será preciso bem mais energia para melhorar a posição no ranking mundial, avalia o consultor para logística e infraestrutura da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antonio Fayet.
Estado de S.Paulo, 11.09.2011
A qualidade da infraestrutura brasileira piorou em relação ao resto do mundo pelo segundo ano consecutivo. Desta vez, no entanto, o País despencou 20 posições no ranking global de competitividade do Fórum Econômico Mundial, de 84º para 104º lugar. Em 2010, já havia perdido três colocações por causa da lentidão do governo para tirar projetos importantes do papel.A tendência não é nada animadora.
Na avaliação de especialistas, com a paralisia verificada em algumas áreas este ano a situação tende a piorar. É o caso da malha rodoviária. No ranking mundial, elaborado com base na opinião de cerca de 200 empresários nacionais e estrangeiros, a qualidade das estradas brasileiras caiu 13 posições e está entre as 25 piores estruturas dos 142 países analisados.
A preocupação é que, depois dos escândalos de corrupção no Ministério dos Transportes, muitas obras estão paralisadas. Segundo dados do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), foram suspensos 41 editais, que estão sendo liberados de acordo com a prioridade do ministério. O órgão destaca, entretanto, que esses processos estavam em diferentes estágios, alguns na fase anterior à abertura das propostas. Apesar disso, afirma que conseguiu executar R$ 1,2 bilhão em agosto. Mas será preciso bem mais energia para melhorar a posição no ranking mundial, avalia o consultor para logística e infraestrutura da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Luiz Antonio Fayet.
Os maiores empregadores
1. Departamento de Defesa dos EUA - 3,2 milhões de empregados
2. Exército Chinês - 2,3 milhões
3. Walmart - 2,1 milhões
4. McDonalds - 1,7 milhão
5. CNPC (empresa chinesa de petróleo) - 1,7 milhão
Fonte: Aqui
2. Exército Chinês - 2,3 milhões
3. Walmart - 2,1 milhões
4. McDonalds - 1,7 milhão
5. CNPC (empresa chinesa de petróleo) - 1,7 milhão
Fonte: Aqui
Concorrência
A PwC comenta sobre a concentração do mercado de auditoria:
"O mercado de auditoria é ferozmente competitivo e rejeitamos qualquer alegação de que sugere o contrário", disse Powell. "Trabalhamos em nome de alguns dos clientes mais sofisticados do mundo - Que são obrigados a aprovar a nossa nomeação a cada ano"
Em julho, as quatro grandes atacaram a perspectiva de uma investigação da Comissão da Concorrência do Reino Unido, alegando que o plano é desnecessário e potencialmente prejudicial para Londres.
Reguladores esperam refrear o poder das empresas que auditam as contas de 99 das empresas do FTSE 100.
Fonte: aqui
"O mercado de auditoria é ferozmente competitivo e rejeitamos qualquer alegação de que sugere o contrário", disse Powell. "Trabalhamos em nome de alguns dos clientes mais sofisticados do mundo - Que são obrigados a aprovar a nossa nomeação a cada ano"
Em julho, as quatro grandes atacaram a perspectiva de uma investigação da Comissão da Concorrência do Reino Unido, alegando que o plano é desnecessário e potencialmente prejudicial para Londres.
Reguladores esperam refrear o poder das empresas que auditam as contas de 99 das empresas do FTSE 100.
Fonte: aqui
12 setembro 2011
Beleza
O trabalho de Hamermesh não estabelece padrões para o que é ser bonito --o economista "driblou" essa questão. No estudo mais abrangente do livro, um grupo de avaliadores classificou a beleza do rosto de 2.774 profissionais. "Pessoas olham para fotos ou para indivíduos e [em geral] concordam sobre quem tem boa aparência ou não", justifica. "Claro, nem sempre há unanimidade."
O estudo concluiu que os trabalhadores americanos colocados entre os 7% mais feios ganham até 17% menos do que os 33% considerados mais bonitos. Hamermesh afirma ter verificado os efeitos da beleza em todas as profissões que pesquisou, incluindo professores, publicitários e economistas.
Fonte: aqui. Foto, aqui
Brics
Eis uma notícia interessante:
O avanço da economia brasileira, no segundo trimestre do ano em relação ao mesmo período do ano passado, ficou à frente da África do Sul, na comparação entre os cinco países que formam os Brics, atrás de China, Índia e Rússia.
(Sempre tinha escutado dizer que era BRICs, de Brasil, Rússia, India e China. Entretanto, recentemente admitiu-se a África do Sul e a sigla é BRICS)
(Sempre tinha escutado dizer que era BRICs, de Brasil, Rússia, India e China. Entretanto, recentemente admitiu-se a África do Sul e a sigla é BRICS)
Assinar:
Postagens (Atom)