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05 dezembro 2016

Dois gráficos

Dois gráficos da Gol:

O primeiro, a cotação da ação caiu 3,65% no dia de hoje. O segundo, a linha do resultado líquido de 2002 até o terceiro trimestre de 2016. Destaque para os anos de 2010. centro da polêmica entre a Deloitte, que auditava, e o PCAOB, que puniu a auditoria brasileira com multa recorde.

Links

15 anos depois, Enron ainda importa (é uma das palavras mais citadas no verbete Accounting)

Mais evidenciação sobre risco de sustentabilidade, mas ainda não como queremos

Clima e eficiência do mercado

A competição nas eleições e a corrupção: nem muita, nem pouca competição

XKCD: Crítica a significância estatística (ao lado, clique para ler)

Deloitte do Brasil é punida pelo PCAOB

O PCAOB, responsável pela supervisão dos auditores dos Estados Unidos, puniu a Deloitte do Brasil com uma multa de 8 milhões de dólares. Trata-se da maior multa aplicada pelo PCAOB, informou o Valor Econômico. A empresa de auditoria foi condenada por problemas de qualidade no seu trabalho e por não ter cooperado com as investigações. Também foram multados 12 ex-sócios e outros funcionários. O PCAOB, através do diretor da divisão de investigação, afirmou que se trata de um dos "mais sérios erros de conduta" descobertos pela entidade.

O problema ocorre com um parecer com afirmações falsas sobre o balanço da Gol:

antes de ele iniciar sua fiscalização sobre o caso, em 2012, a Deloitte ordenou que um de seus funcionários alterasse os documentos da auditoria do balanço de 2010 para ocultar as deficiências encontradas


Os documentos falsos foram apresentados para os inspetores do PCAOB. Alguns funcionários da empresa de auditoria deram informações falsas sob juramento. O nome dos punidos pode ser encontrados aqui.

CRC na Política

O Conselho Regional de Contabilidade divulgou um comunicado político assinado pelo seu presidente através do Facebook (dica de Alexandre Alcantara, grato). Podemos até concordar com a opinião do presidente, mas não será a posição expressa no comunicado exagerada? A afirmação de que o "congresso nacional não pode mais ser aceito como representante do povo brasileiro" é uma opinião que pode dar ensejo a diversas interpretações. Concluir com um "não dá mais para aceitar (...)" pode induzir sugestões inadequadas a uma democracia. Abranger "os deputados federais" é negar que as decisões do legislativo são majoritárias, com direito a divergências. (Além disto, no parágrafo seguinte o presidente inclui todo o "Congresso Nacional"; somente para lembrar, o congresso é composto dos deputados e dos senadores, indicando um erro básico da legislação brasileira).

Barato

O acordo de leniência fechado pela Odebrecht na última quarta-feira saiu barato. A empresa pagará uma multa anual média pouco abaixo de US$ 300 milhões durante os próximos 23 anos. Quem conhece a Odebrecht por dentro estima que todo ano o célebre Departamento de Operações Estruturadas gastava US$ 500 milhões com aquilo que chamara de "despesas gerais indiretas", ou DGI - o codinome interno para propinas. (Gurovitz, Estado de S Paulo, 4 de dezembro de 2016, p. A15)

Rir é o melhor remédio


04 dezembro 2016

História da Contabilidade: O surgimento de alguns conceitos (1860)

Uma das surpresas agradáveis da pesquisa histórica é descobrir um termo ou uma expressão ou um conceito que usamos corriqueiramente nos dias de hoje. É bem verdade que nunca saberemos com precisão a data precisa, mas o fato de imaginar que nossos antepassados distantes já conheciam aquelas palavras é interessante. Nesta postagem de hoje irei comentar algumas expressões que encontrei ao pesquisar os jornais dos anos 60 do século XIX. Ou seja, há mais de cento e cinquenta anos ou há mais de cinco gerações.

Há tempos a “falta de sentimento” tem sido associada a contabilidade. O trabalhador contábil, geralmente acostumado a lidar com números diariamente, é um insensível sem coração. As informações preparadas pela contabilidade devem ser neutras, afirmam os reguladores. Esta noção de “falta de sentimento” parece que não é dos dias atuais. Em 1868, num discurso em Diamantina, reproduzido no jornal O Jequitinhonha (1), um político afirmava que a “câmara não é machina de contabilidade, cuja funcção se limita a linhar cifra sobre cifra, algarismo sobre algarismo”.

Um outro termo aparece dois anos depois quando um leitor do jornal Sentinella da Liberdade (2) escreve uma carta para tratar de um serviço de irrigação e os recursos do governo para o mesmo. Parece que a verba para o serviço estava comprometida e o serviço, na visão do texto, não poderia ser adiado. Para resolver o problema da falta de recursos o texto sugeria: “como vereador commissario da contabilidade indico as verbas – abertura e alargamento de ruas, pontes e pontelhões – das quaes se póde fazer o extorno da quantia de 20,000$ sufficiente para o andamento do serviço (...)”. Certamente não foi a primeira vez que a palavra estorno foi empregada na língua portuguesa. Mas é interessante saber que o orçamento público brasileiro transferia recursos de uma rubrica para outra há mais de 150 anos.

Ainda sobre as finanças públicas, em 1864 o Visconde de Itaborai estava fazendo um discurso sobre as finanças do império. Afirmava o Visconde que era impossível saber com segurança o “saldo ou déficit” do tesouro e isto tinha que acabar. E que o Tesouro deveria limitar-se a “escripturar com clareza a receita e a despeza” (3). No que foi interrompido por Silveira da Mota que afirmou: “é artificio de contabilidade”. A fama ruim da contabilidade pública não é de hoje. A dificuldade de entendimento remota do Império.

Outra passagem interessante que encontrei foi na Revista Espirita. Como o nome diz, tratava-se de uma publicação sobre o espiritismo. Em 1860 a revista transcreveu uma sessão ocorrida em 10 de fevereiro daquele ano onde Allan Kardec falava sobre uma doação que lhe foi feita: “Esta soma formará o primeiro fundo de uma Caixa Especial, que nada terá em comum com os meus negócios pessoais, e que será o objeto de uma contabilidade distinta sob o nome de Caixa do Espiritismo”(4). Observe que Kardec comentava sobre o princípio da entidade, separando a doação recebida dos seus pertences pessoais. Como sabemos, a noção de entidade tornou-se mais assentada na contabilidade anos depois. Nove anos depois, ao comentar sobre a Livraria Espírita, as lições de Kardec parece que foram absorvidas: “É administrada por um gerente, simples mandatário, e todos os lucros constatados pelo balanço anual serão por êle lançados na Caixa Geral do Espiritismo” (5).

Para encerrar esta postagem com chave de ouro uma citação de 1875, do Vida Fluminense, sobre uma regra da contabilidade: a regra da pior contabilidade. Fantástico:

Se um ativo contabilizado por doze milhões de patacões, por pior que seja, dá para pagar mil e tantos contos. É preciso dizer que regra estamos falando?

(1) O Jequitinhonha, 13 de dezembro de 1868, ano VIII, n. 18, p. 2
(2) Sentinella da Liberdade, 9 de janeiro de 1870, ano II, n. 2, p. 4
(3) A Situação, 15 de dezembro de 1864, ano II, n. 76, p. 2.
(4) Revista Espirita, março de 1860, ano 3, n. 3, p. 7.
(5) Revista Espirita, abril de 1869, ano XII, n. 4, p. 2.
(6) A Vida Fluminense, 1875, ano VIII, n 390, p. 2.