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13 março 2025

Boa vontade dos clientes

Pedro Demo, das obras de metodologia, escreve com muita regularidade sobre muitas coisas. Em recente artigo, ele conta um pouco da história de Datini, um marco na contabilidade mundial: 


Exemplo disso foi Francesco di Marco Datini, que virou comerciante bem-sucedido, com a história de suas aventuras fora da Itália (era de Prato), na Ilha Canária. O rei lá o convidou para jantar. Havia na mesa guardanapos e neles um taco do tamanho do braço, cuja finalidade era enigmática. Sentando-se à mesa, quando a comida foi posta, o odor atraiu ratos de todos os cantos; o taco era para os espantar. No dia seguinte, o comerciante trouxe do navio uma gata e, logo, ela matou 25 ratos e os outros fugiram. O rei ficou impressionado, enquanto Datini o presenteava com a gata. Ao deixar a ilha foi coberto de presentes, sobretudo joias, valendo 4 mil escudos. Voltou no ano seguinte, levando um gato doméstico – que lhe rendeu 6 mil escudos. Ficou rico (AR:L2870). Comentam AR que a história pode ser forjada, pois não há registro da viagem às Canárias. Datini nasceu de taberneiro pobre, em 1335. Com 13 anos, a Peste Negra varreu a Itália, e sua mãe, seu pai e seus dois irmãos morreram. Só ele e seu irmão Stefano sobreviveram, com pequena herança: uma casa, um pedaço de terra e 47 florins.

Um ano depois da morte do pai, Datini mudou-se para Florença, virou aprendiz de lojista e ouvia histórias de cidades prósperas de Avignon, no sul da França. Lá estava residindo o Papa (por disputa sucessória), e a presença papal agitava o mercado local, do qual comerciantes italianos se aproveitavam. Grande parte do comércio de luxo e serviços bancários eram de famílias italianas, vivendo em bairro exclusivo na cidade. Com 15 anos, Datini vendeu seu terreno em Prato e se mudou para lá. Em 1361, com 26 anos, era sócio de dois toscanos, Toro di Berto e Niccolò di Bernardo. Negociava armamentos para os dois lados do conflito. Em 1368, sua contabilidade registrava a venda de armas em 64 libras para Bernard du Guesclin, comandante militar francês. No mesmo ano, houve venda enorme de armas para a comuna de Fontes, para se proteger contra Guesclin. Em 1363, Datini teve a primeira loja, comprada por 941 florins, com outros 300 pagos pela "boa vontade dos clientes". Em 1367, renovou a parceira com Toro di Berto, investindo cada um 2,5 mil florins de ouro, com três lojas. Em 1376, comercializava sal e lançou operador de câmbio, incluindo comércio de prataria e obras de arte. Abiu taverna de vinho e um armarinho, e enviou funcionários para negociar em lugares mais distantes, como Nápoles. Sua principal loja em Avignon tinha cintos de prata florentina e anéis de casamento de ouro, peças de couro, selas e arreios de mula da Catalunha, utensílios domésticos de toda a Itália, lençóis de Gênova, fustão de Cremona, e zendado escarlate, tecido especial de Lucca. A loja em Florença surgiu como eixo movimentado de produtos manufaturados à época e tinha tecido de lã branco, azul ou cru; linhas de costura, cortinas de seda e anéis de cortina; toalhas de mesa, guardanapos e grandes toalhas de banho; baús pintados à mão e porta-joias usados como dote da noiva.

Voltando de Avignon em 1382, montou negócio em Prato e Florença com filiais em Pisa, Gênova, Barcelona, Valência e Ibiza. Com diferentes empórios moviam-se ferro, chumbo, alumínio, cativos e temperos da Romênia e do Mar Negro; lã inglesa de Southampton e Londres; trigo da Sardenha e da Sicília; couro de Túnis e Córdoba; seda de Veneza; uva passa e figos de Málaga; amêndoas e tâmaras de Valência; maçãs e sardinhas de Marselha; óleo de oliva de Gaeta; sal de Ibiza; lã espanhola de Maiorca; da Catalunha, laranjas, óleo de oliva e vinha. Documentos de negócio têm cartas em latim, francês, italiano, inglês, flamengo, catalão, provençal, grego, árabe e hebraico. De comerciante, passou a produzir tecidos em Florença, comprando lã inglesa e espanhola e exportando o tecido pronto. Para AR, Datini fez fortuna sem "nenhum conhecimento, conexões ou capital, e sem a vantagem de contatos, monopólios ou ajuda do governo, exceto pelo contexto institucional amplo criado pelas comunas italianas" (AR:L2909). Revelou mobilidade ascendente vertiginosa, algo temido pela elite tradicional ameaçada. Bispo Otto, tio de Barbarosa, criticava nos genoveses: "não desdenhavam de oferecer o cinto de cavaleiro ou títulos de distinção a jovens homens de status inferior e mesmo a trabalhadores de baixos ofícios manuais, que, em outros lugares, seriam barrados como a praga caso quisessem assumir atividades mais respeitáveis" (Ib.). Reclamava da erosão da hierarquia e normas, embora a corrosão desse sistema fosse fundamental para o desenvolvimento econômico, enquanto permitia que gente simples, mas com talento, chegassem ao topo. 

O negrito é meu. Vocês sabem qual o termo que usamos hoje no lugar do negrito?

02 março 2025

Felicidade e casamento


As pesquisas para descobrir o que influencia a felicidade das pessoas continuam. Um estudo de 2023, baseado em uma ampla base de dados — o General Social Survey — de 1972 a 2018, permitiu quantificar o "prêmio do casamento". Esse conceito representa a diferença entre a felicidade das pessoas casadas e a das não casadas.

A pesquisa revelou que esse prêmio é positivo, ou seja, os casados são mais felizes do que os não casados. Além disso, o prêmio se manteve estável ao longo do tempo e entre diferentes grupos demográficos, incluindo gênero, idade, raça, escolaridade e renda.

No entanto, não foi encontrada relação entre o prêmio do casamento e fatores como ter filhos ou a atividade sexual. Permanece um mistério o fato de o prêmio ter se mantido estável ao longo de um período marcado por grandes mudanças na estrutura social. Também não é possível estabelecer com clareza a relação de causalidade: o casamento torna as pessoas mais felizes ou a felicidade favorece o casamento?

Fonte: aqui

16 novembro 2024

Dos efeitos inesperados da lei fiscal

Da coluna do Financial Times de Tim Harford:

Quando Ernest Borgnine (foto) fez o teste para o papel principal em Marty, ele sabia que essa poderia ser sua grande chance. Estereotipado como um bandido de pequenos papéis, Borgnine tinha quase 40 anos, estava perdendo cabelo e ganhando peso. *Marty* lhe oferecia a oportunidade de interpretar o protagonista: Marty Piletti, um açougueiro solitário à procura de amor.


Enquanto lia as falas do teste, protestando para a mãe de Piletti: “Eu sou apenas um homem gordo e pequeno. Um homem gordo e feio!”, ele imaginou que estava falando com sua própria mãe ítalo-americana. Ele olhou para o diretor e o roteirista, que estavam chorando. Borgnine havia conseguido o tipo de papel com que sempre sonhara. Era seu passaporte para a fama.

Havia apenas um problema: Marty nunca foi planejado para ser concluído. A autobiografia de Borgnine afirma que ele percebeu que o projeto inteiro foi concebido para ser meio filmado, drenado de recursos para subsidiar outros filmes, e depois arquivado, tudo como estratégia para reduzir as contas de impostos do produtor executivo Burt Lancaster.

É difícil dizer se Borgnine descreveu com precisão a natureza do esquema, mas é evidente que o mundo dos impostos é mais estranho do que imaginamos. *Rebellion, Rascals, and Revenue* — uma história dos impostos escrita por Michael Keen e Joel Slemrod — está cheia de maravilhas. Considere o imposto sobre barbas de Pedro, o Grande, imposto em 1698 com o objetivo estranho, mas plausível, de não arrecadar dinheiro, mas fazer com que os nobres russos se barbeassem. (Os que pagavam o imposto recebiam um medalhão com a imagem de uma barba.)

Ou os impostos sobre solteiros, populares em muitos lugares tanto como forma de incentivar a procriação quanto de espremer dinheiro dos homens solteiros que — presume-se — tinham recursos sobrando. Mas e se um homem não conseguisse encontrar uma esposa? Certamente o fiscal não acrescentaria insulto à injúria ao tributar seu fracasso em encontrar o amor? Isenções foram introduzidas para aqueles que tentaram, mas não conseguiram, conquistar uma esposa. Como resultado, uma nova profissão surgiu na Argentina por volta de 1900: a “rejeitadora de cavalheiros”, que, por uma modesta quantia, assinava uma declaração afirmando que determinado cavalheiro havia lhe proposto casamento, mas ela recusou a oferta. O imposto — e a sua evasão — segue caminhos misteriosos.

(...) Quando Lancaster viu o filme completo, apaixonou-se por ele e o promoveu energicamente. Borgnine conquistou o Oscar de melhor ator. (...)

08 outubro 2024

Matrimônio por rapto

Parte de um trecho bastante interessante:

Primeiro, com a ajuda de um tradutor local que me deu acesso às comunidades Nuer e Anuak, no oeste da Etiópia, perto da fronteira com o Sudão do Sul, pude entrevistar líderes comunitários, homens e mulheres casados por rapto, e também familiares de mulheres que estavam raptadas no momento da entrevista. Essas entrevistas nos permitiram caracterizar bem essa prática. A primeira surpresa foi descobrir que o raptor e a raptada geralmente já são um casal, a raptada está de acordo, e participa ativamente no rapto. 

Qual é, então, o propósito do rapto? Vamos primeiro contextualizar. Nessas comunidades, quando ocorre um casamento, a família do noivo deve pagar à família da noiva cerca de 15 vacas, o que é proibitivo para muitas famílias. Embora o valor do pagamento não dependa muito das características pessoais do noivo, da noiva ou de suas famílias, há uma característica específica que influencia o preço: a castidade da noiva. Nessas comunidades, o sexo pré-marital é muito estigmatizado, e mulheres que o praticaram têm dificuldades para se casar com outro parceiro, e quando se casam, suas famílias recebem um pagamento menor. Esse estigma do sexo pré-marital é o que motiva o rapto, que começa com a mulher passando a noite na casa da família do noivo. O primeiro passo da família do noivo após o rapto é avisar ao "Kebele" (uma espécie de prefeitura local) que a parceira de seu filho passou a noite em sua casa. Comunicar esse fato à prefeitura tem um duplo objetivo. Primeiro, anuncia à comunidade que a noiva do seu filho já não é virgem, diminuindo o poder de negociação da família da noiva nas negociações matrimoniais. Segundo, o Kebele atua como mediador nas negociações matrimoniais que se seguem ao rapto para evitar conflitos violentos entre as famílias. Embora a decisão final seja dos pais da noiva, na maioria das vezes o rapto termina em casamento formal, aceito a contragosto pelos pais da noiva, que normalmente aceitam uma redução de aproximadamente 30% no pagamento pelo casamento de sua filha. 

A tabela acima mostra que nos períodos de seca, indicando que o rapto é feito para reduzir o pagamento que deveria ser feito.

Nos comentários, o autor esclarece a razão de usar o termo rapto no texto. E conclui que, felizmente, o cenário está mudando.

18 setembro 2024

Quanto custo casar?

A união entre o bilionário indiano Anant Ambani e Radhika Merchant em Mumbai foi um dos casamentos mais luxuosos já vistos. Celebrado com a presença de celebridades e políticos, o evento de três dias, realizado pela família mais rica da Índia, certamente custou uma fortuna. Enquanto isso, um estudo do Statista revela que o custo médio de um casamento no Brasil em 2023 foi de US$ 9 mil. A disparidade entre as duas cerimônias reflete a enorme diferença na renda entre os dois países. Eis o gráfico:



24 junho 2024

Crise demográfica no Japão e o site de namoro

 

Assim como alguns países asiáticos, o Japão está enfrentando uma crise demográfica. O número de nascimentos é muito menor que o número de pessoas que estão morrendo, o que indica que a população está diminuindo. Como o país possui uma política de imigração muito restritiva, uma população mais envelhecida pode ser uma preocupação para os governantes.

Uma solução que está sendo considerada pela prefeitura de Tóquio é um aplicativo para namoro. Somente podem participar do aplicativo os solteiros, com comprovação, informando renda por meio do imposto de renda, altura e ocupação. O participante também terá que fazer uma entrevista. Além disso, devem assinar um termo afirmando que estão à procura de um parceiro para casamento.

Ao ler a notícia na newsletter Chartr, chamou a atenção a queda de natalidade ocorrida no ano de 1966. De acordo com as superstições, as mulheres nascidas neste ano teriam uma personalidade forte e independente, podendo trazer má sorte para os maridos, incluindo o encurtamento de suas vidas. Historicamente, a taxa de natalidade reduziu significativamente nesse ano.

Lembrando que a redução da população economicamente ativa reduz a base tributária, enquanto a crescente população idosa aumenta os gastos com saúde e previdência social.

21 novembro 2023

Trabalho ganancioso

Por que as mulheres ainda tendem a ganhar menos que os homens?? Não há ninguém melhor posicionado para responder a essa pergunta do que a historiadora econômica Claudia Goldin, vencedora do prêmio Nobel de 2023 em economia. Sua resposta nos diz como combater a injustiça, mas também como criar vidas profissionais mais saudáveis e produtivas para todos.

Vamos concordar com algumas explicações óbvias, todas elas que desempenham um papel. Há uma discriminação total, algo que Goldin examinou com Cecilia Rouse em um estudo célebre das principais orquestras americanas. Quando essas orquestras começaram a pedir aos candidatos a emprego que fizessem o teste por trás de uma tela, a proporção de mulheres aceitas aumentou dramaticamente.

Depois, há a questão de quais escolhas de carreira fazem sentido para uma pessoa que pode engravidar. Na década de 1960, a pílula contraceptiva não estava amplamente disponível para mulheres solteiras nos EUA. Os diplomas de direito, medicina, odontologia e administração foram totalmente dominados por homens em 1970. Não é de admirar: investir em uma profissão desse tipo parecia caro e arriscado para uma jovem que de repente se considerava uma jovem mãe. Goldin e seu colega (e cônjuge) Lawrence Katz mostraram que, à medida que os estados dos EUA liberalizavam o acesso à pílula contraceptiva durante a década de 1970, as jovens se envolviam nesses cursos. Ao dar às mulheres um controle sem precedentes sobre sua fertilidade, a pílula contraceptiva permitiu que investissem em suas carreiras.

Para muitas mulheres, no entanto, a pílula não é um método de prevenir completamente a maternidade, mas uma maneira de atrasá-la até um momento mais conveniente. O que nos leva aos dias atuais. A pesquisa de Goldin sugere que grande parte da diferença entre homens e mulheres é descrita mais adequadamente como uma lacuna entre mães e não mães. O motivo? Existem certos empregos - “empregos gananciosos” - que geralmente pagam muito bem, mas exigem horas longas e imprevisíveis.

(Goldin não cunhou o termo. Foi usado pela primeira vez pelos sociólogos Lewis Coser e Rose Laub Coser, um casal. Ele usou a idéia para descrever instituições que “buscam lealdade exclusiva e indivisa”; ela usou para descrever as demandas da maternidade.)

Então, o que é um trabalho ganancioso? Se você precisar trabalhar até tarde, atender telefonemas de trabalho no fim de semana ou viajar para Cingapura para uma reunião, tudo sem muita atenção e com a suposição absoluta de que nada mais atrapalhará você, então você terá um trabalho ganancioso. Se você também é o principal cuidador de crianças, como Rose Laub Coser entendeu, esse também é um trabalho ganancioso, sem dúvida mais ganancioso do que nunca. E é da natureza de empregos gananciosos que você só pode ter um deles por vez.

Um acordo comum entre altamente instruídos, casais heterossexuais altamente empregáveis, então, é esse deles (frequentemente a mulher) aceita o trabalho ganancioso não remunerado dos pais, talvez ao lado de um trabalho remunerado mais flexível, enquanto o outro (frequentemente o homem) aceita o trabalho ganancioso bem pago de ser advogado corporativo ou banqueiro de investimentos ou executivo de suíte C.


Não há nada inevitável nisso. O casal poderia contratar uma babá: outro trabalho ganancioso. Ou ambos poderiam trabalhar em empregos flexíveis, onde a expectativa é que a família chegue primeiro. Mas essas duas opções têm um preço alto, uma vez que os empregos mais bem pagos são geralmente gananciosos.

Como Goldin coloca em seu livro Carreira e Família (2021), “À medida que os graduados encontram parcerias para a vida e começam a planejar famílias, nos termos mais rígidos, eles se deparam com uma escolha entre um casamento de iguais e um casamento com mais dinheiro."

O casal pode mudar as normas de gênero, com a mulher trabalhando horas imprevisíveis e pulando nos vôos para Cingapura, enquanto o homem é quem faz a coleta da escola e deixa tudo de lado quando há uma emergência. Além de algumas semanas no momento do nascimento, isso é perfeitamente possível. Mas isso permanece incomum, então os dois passarão um tempo se explicando.

O que fazer? Todos nós podemos desafiar a suposição de que é a mãe que deve planejar a assistência à infância e lidar com emergências para que seu cônjuge possa se concentrar em seu trabalho ganancioso. Mas também precisamos questionar por que tantos empregos ainda são gananciosos.

Goldin contrasta advogados com farmacêuticos. Direito é um trabalho essencialmente ganancioso, com os maiores dólares chegando quando você é sócio de um escritório de advocacia - um trabalho que não é compatível com ser a pessoa que deixa tudo quando uma criança cai de um balanço no recreio da escola.


Por outro lado, você pode ser muito bem pago como farmacêutico, embora muitos farmacêuticos tenham empregos não gananciosos. Nos EUA, mais da metade dos farmacêuticos são mulheres e a disparidade salarial entre os farmacêuticos é pequena. Isso, diz Goldin, é uma questão de design de trabalho: os farmacêuticos trabalham em equipes e são substituíveis um pelo outro. Se alguém não estiver disponível para trabalhar, alguém poderá preencher.

Por que não há mais trabalhos projetados assim?? É preciso esforço e atenção para criar trabalhos substituíveis. Os processos devem ser padronizados, excelentes registros mantidos; tarefas atribuídas e monitoradas usando um sistema de fluxo de trabalho adequado, em vez de todos pularem em e-mail para descobrir quem tem o bastão. Esses sistemas melhores não permitem apenas que os melhores trabalhadores operem em condições não gananciosas, mas também permitem um melhor trabalho em equipe e menos desgaste. No entanto, as pessoas com o poder de fazer essas mudanças ainda não as viram valendo todo o trabalho.

Minha esperança - e também a de Goldin - é que o choque que a pandemia causou às práticas de trabalho em todos os lugares ajude a desbloquear melhores sistemas, levando a mais progressos na igualdade de gênero e muitos outros benefícios além disso. Mas ela é historiadora, não adivinhadora. Devemos esperar e ver. Ou devemos lutar pelas mudanças que queremos.

Tim Harford aqui. Foto aqui

30 outubro 2023

Notícia como negócio

(...) O USA Today e The Tennessean anunciaram esta semana [setembro] que vão contratar um repórter em tempo integral para cobrir a superestrela do pop, Taylor Swift, cuja turnê está causando um impacto tão grande que pode ser literalmente observado nos dados econômicos rastreados pelo Federal Reserve. (...)


A ideia aqui não é complicada. A Gannett demitiu muitos repórteres de notícias locais. Agora, eles estão contratando um repórter de Taylor Swift. Por que eles estão fazendo isso? Bem, agora que me revelei como um vendido neoliberal, posso te dizer exatamente por quê: Provavelmente porque eles acham que estavam perdendo dinheiro com os repórteres de notícias locais e acreditam que vão ganhar dinheiro com o repórter de Taylor Swift.

(…) Qual é a marca de jornal mais bem-sucedida dos Estados Unidos no momento? É claramente o The New York Times. (...) O Times é, de longe, o maior veículo de notícias dos EUA em termos de assinantes digitais e impressos combinados. (…) E, igualmente importante para os propósitos desta conversa, o Times está tendo um desempenho razoavelmente bom em termos de lucro.

Então, vamos perguntar o seguinte: qual história - até o momento em que estou escrevendo este rascunho na quarta-feira, tarde em Nova York - está liderando a lista de mais enviados por e-mail do Times?

Certamente, alguma reportagem investigativa profunda? Alguma atualização das linhas de frente na Ucrânia?

De jeito nenhum.

A matéria principal é um tratamento agradável de um casamento de celebridade. E a maioria dos outros itens em sua lista dos 10 mais enviados por e-mail também não são notícias duras

Em vez disso, a estratégia do The New York Times é pegar um monte de assuntos excepcionalmente populares que estão longe do jornalismo de investigação - estilo, imóveis, Wordle, colunas de opinião e matérias de estilo de vida que agradam os leitores - e agrupá-los com matérias importantes, mas que não dão lucro, como reportagens investigativas e cobertura internacional. A audiência do Times é diferente da típica, então suas histórias mais virais podem ser sobre o casamento de Robin Roberts e a busca por casas em Sag Harbor, em vez do show de Taylor Swift e da lesão de Aaron Rodgers. No entanto, a estratégia - altamente lucrativa e bem-sucedida - é fornecer muita cobertura que entretenha e alegre os leitores do Times, a maioria dela é produzida com um alto nível de qualidade, mas que não é o que você tradicionalmente pensaria como "todas as notícias dignas de impressão".

Certamente, o Times se beneficia de um efeito de halo em grande parte merecido em termos de qualidade institucional, como por ter ganho muitos Prêmios Pulitzer. Mas olha, eu já fui juiz do Pulitzer e posso te dizer que as organizações de notícias produzem muitas matérias "isca de prêmio" de alta qualidade que são caras para serem relatadas, mas não ganham muita audiência. O benefício de reputação de um prêmio ocasional pode te dar 20 centavos de volta no dólar.

Então, basicamente, o Times está usando sua versão de repórteres de Taylor Swift para subsidiar uma grande parte da reportagem importante e digna de notícia. (…)

De Nate Silver. Notícia é um produto que precisa ser vendido para gerar receita e lucro. E fazer os acionistas felizes. Simples assim. (Foto com as mais lidas do Estadão de hoje)

20 julho 2023

Igualdade de Gênero chegou para Monarquia

É inegável que a questão do gênero ainda carece de uma maior evolução no mundo moderno, garantindo uma maior justiça no tratamento das pessoas pela sua competência. Mas certamente a sociedade já evoluiu muito. Agora teremos uma possibilidade de ver com maior destaque o papel da mulher nas decisões no futuro próximo em diversos países onde ainda existe a monarquia. Há uma grande número de princesas herdeiras na sucessão. E isto ocorre nos dias atuais em razão da mudança de atitude da sociedade, que aboliu uma regra antiga de priorizar o primogênito masculino, que estariam na frente das filhas na linha de sucessão. 

Em diversas sociedades o critério agora é o filho ou a filha mais velha, independente do gênero. O primeiro país que mudou a regra foi a Suécia, em 1979. Desde então, outros países seguiram os tempos modernos. E isto irá beneficiar cinco princesas europeias no século XXI. Se nos contos de fada a princesa era a esposa do futuro rei, na vida real haverá uma mudança. 

As herdeiras do trono são criadas para abraçar uma vida de serviço, que pode ser gratificante, mas estritamente planejada, desde sua educação até o treinamento militar e os esforços beneficentes. O casamento também apresenta obstáculos; encontrar o parceiro certo envolve considerações práticas tanto para herdeiros masculinos quanto femininos. "Existe uma dificuldade real para os reais em encontrar um parceiro de casamento adequado, porque suas vidas são tão restritas e as invasões de sua privacidade são tão intensas e constantes que muitos indivíduos sensatos, por mais afeiçoados que possam ser ao rei ou rainha em questão, não desejariam comprometer o restante de suas vidas vivendo tanto sob os olhares do público", diz Hazell [co-autor do livro The Role of Monarchy in Modern Democracy: European Monarchies Compared].

As futuras rainhas também podem ter dificuldade ainda maior em encontrar a pessoa certa para se casar e formar uma família, porque o papel de seu marido será singularmente restrito. O público está acostumado com a rainha consorte de um rei desempenhando um papel de apoio tradicional. No entanto, como observa Hazell, pode ser mais difícil para um homem assumir o papel subordinado.

Deixando de lado as alterações nas leis de sucessão, quase todos os países que estão prestes a ver uma mulher reinar já tiveram rainhas governantes no passado - exceto a Bélgica - e a perspectiva de uma rainha no trono é um fato aceito. (...)

Os países (e as princesas) são:

Suécia - Victoria //  Bélgica - Elisabeth // Holanda - Catharina-Amalia // Noruega - Ingrid Alexandra // Espanha - Leonor (da esquerda para direita, na fotografia)

02 dezembro 2022

Finanças pessoais: divórcio de celebridades

O divórcio do rapper Kanye West com a empresária Kim Kardashian chegou ao fim nesta semana. Por determinação do Tribunal Superior de Los Angeles, nos Estados Unidos, o músico deverá pagar uma pensão alimentícia de US$ 200 mil, cerca de R$ 1 milhão, para pagar as despesas dos quatro filhos do casal.

Em comum acordo, West e Kardashian vão manter a custódia conjunta de seus quatro filhos e vão dividir igualmente o custo da escola particular, da educação universitária e as despesas com segurança privada.

Em relação aos bens do casal, ficou decidido que todas as propriedades serão divididas com base no acordo pré-nupcial assinado na época da união.

Fortuna de U$ 2,1 bilhões

O divórcio do casal começou no início de 2021, depois de sete anos de casamento. Na época, o casal tinha uma fortuna acumulada em U$ 2,1 bilhões, cerca de R$10,5 bilhões.

Kanye West era o mais rico dos dois, com um patrimônio líquido de US$ 1,3 bilhão, enquanto Kardashian tinha um patrimônio líquido de US$ 780 milhões.


Desde então, ambos viram suas fortunas mudarem dramaticamente.

Com a KKW Beauty e a empresa de modeladores Skims, Kim Kardashian se tornou bilionária em abril de 2021. De acordo com a Forbes, seu patrimônio líquido atual é de US $ 1,8 bilhão.

Kanye West, que se envolveu em várias controvérsias nos últimos meses, perdeu seu status de bilionário no mês passado, depois que a gigante de roupas esportivas Adidas cortou relações com o rapper. O patrimônio líquido atual de West é de US$ 400 milhões.

Em fevereiro do ano passado, West e Kardashian detinham US$ 70 milhões em ativos conjuntos, incluindo várias casas, obras de arte, veículos, joias e até gado. O status desses ativos não é claro.

Fonte: Exame. Foto: Jens Lelie

07 outubro 2022

Envelhecimento e Finanças

 

Investir, sob um certo ponto de vista, nada mais é do que avaliar todas as incertezas no horizonte. Que hoje em dia não são poucas: as eleições presidenciais no Brasil, a guerra da Rússia com a Ucrânia, a pandemia, a escalada global da inflação, o risco de recessões mundo afora e por aí vai. O que muita gente esquece é que, na hora de investir, as certezas também precisam ser levadas em conta – por mais incertas que sejam. E uma das certezas que impactam diretamente a economia é essa: a expectativa de vida das pessoas está aumentando.

O que é longevidade financeira?

Daí o sucesso, cada vez maior, da chamada longevidade financeira. Já ouviu falar? Nada mais é do que a capacidade de se contar com renda suficiente para envelhecer com equilíbrio financeiro, independente dos percalços pelo caminho.

O aumento da expectativa de vida demanda atenção muito maior nas finanças – e cada vez mais cedo. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), a turma que nasceu na década de 1940 tinha expectativa de viver até os 45 anos, mais ou menos – sim, muito quarentão já podia ser chamado de “senhorzinho”. Em 2019, antes da pandemia virar o mundo do avesso, a previsão aumentou para 76 anos.

No ano passado, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, conduzida pelo IBGE, 14,7% da população brasileira era formada por idosos. De um total de 212 milhões de pessoas, 31,2 milhões estavam acima dos 60 anos. Em 2100, estima o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 40,3% da população terá mais do que 60 anos.

Tudo isso para falar que o Instituto de Longevidade MAG, cujo nome já diz a que veio, acaba de lançar um guia sobre o assunto. Com dicas práticas de especialistas, te ajuda a fazer com que seu dinheiro também viva por mais tempo. Para atingir esse objetivo, vale dizer, é necessário cuidar também da saúde, do trabalho, da aposentadoria e de diversos outros aspectos que impactam a qualidade de vida.

“Poupar é um dos pilares necessários para garantir longevidade financeira, mas não basta apenas poupar”, diz o educador financeiro Thiago Martello, que contribuiu com a elaboração desse guia. “É preciso investir bem o dinheiro para fazer com que ele trabalhe por você.”

Deixar o dinheiro na poupança, todo mundo sabe, é uma das piores decisões. “Os juros sobre juros são uma das grandes forças do universo”, diz o especialista. “Podemos usá-los para o nosso bem, quando se tratam de rendimentos de investimentos, ou para o mal, quando entramos em dívidas.”

Guia de como fazer o dinheiro render (e durar)

O acesso ao guia do Instituto de Longevidade MAG é gratuito (basta acessar o site https://institutodelongevidademag.org/ e fazer um cadastro). “O guia traz orientações que têm como base cinco pilares: gastar bem, poupar certo, ganhar mais, investir melhor e proteger capital”, resume Arnaldo Lima, o diretor do instituto.

“Pense que você viverá pelo menos 100 anos e a única certeza é que estará consumindo recursos financeiros durante todo esse tempo", aconselha Thiago Lauria, especialista em planejamento financeiro. Muito provavelmente, acrescenta ele, você não estará produzindo o montante suficiente para garantir a sua sustentabilidade financeira.

Ele recomenda que você pare de estabelecer objetivos de curto, médio e longo prazo. “Você tem apenas um objetivo: viver bem até o último dia da sua vida de forma sustentável, patrimonial e financeiramente”, defende.

Segundo o especialista, é preciso levar em conta, em primeiro lugar, as inevitáveis transições ao longo do anos, que envolvem carreira/negócios, filhos, moradia e casamento. Todas as decisões relacionadas a esses tópicos, obviamente, vão impactar no seu patrimônio lá na frente.

Depois é preciso ter em mente o estilo de vida que você persegue. Suas preferências, afinal, estão diretamente ligadas ao tamanho do patrimônio que precisa ser construído. “Cada família deve ter o seu mapa, que contemple a jornada de onde está, os pontos de parada, e o ponto de chegada”, recomenda Lauria. É uma das bases para a longevidade financeira.

Fonte: aqui

03 agosto 2022

Imposto de solteiro


Entre as muitas curiosidades tributárias, recentemente encontrei sobre o imposto de solteiro (bachelor tax), que é um tributo punitivo para os homens com este estado civil. 

Historicamente o casamento foi uma parte importante das sociedades, seja por questões nacionalistas ou por ser também uma questão de raça ou uma forma de inibição do homossexualismo. No antigo Pacto de Varsóvia, o imposto era uma forma de incentivar a geração de filhos nos países comunistas. 

Talvez o caso mais interessante seja o da Argentina:

Um imposto de solteiro existia na Argentina por volta de 1900. Homens que pudessem provar que haviam pedido a uma mulher que se casasse com eles e haviam sido rejeitados estavam isentos do imposto. Isso deu origem ao fenômeno das "rejeitadoras profissionais", mulheres que por uma taxa jurariam às autoridades que um homem havia proposto a elas e elas haviam recusado.

07 março 2022

Contabilidade de um acordo pré-nupcial

 

A vida de celebridade pode ser interessante como exemplo em sala de aula ou até mesmo pois temos, em alguns casos, exemplos de aplicação de conhecimento contábil. Tracy Coen, uma contadora especializada em fraudes, traz o exemplo recente do acordo pré-nupcial entre Kim Kardashian e Kanye West. Fiz diversas adaptações no texto para mostrar o ponto de vista anterior.

Em 2013, a celebridade Kim Kardashian e o músico Kanye West passaram a viver juntos. Logo após terem um filho, ambos fizeram um acordo pré-nupcial. Este tipo de acordo é comum quando há um grande fluxo de dinheiro envolvendo o casal. É relevante para um eventual divórcio, pois facilita a separação econômica do casal, e quando existe uma grande diferença na renda entre o casal, estabelece os direitos de cada uma das partes.

Neste sentido, o acordo pré-nupcial funciona como o princípio da "entidade". Na empresa - especialmente de menor porte - é muito comum a confusão entre as contas da empresa e as contas do dono. A entidade incentiva a separação entre os dois, facilitando medir o real sucesso da empresa. Não é somente por isto que defendemos a entidade, mas certamente é um bom motivo.

Voltando ao caso de Kardashian e Kanye, em casos de "artistas", a renda pode variar muito ao longo do tempo. E o padrão de riqueza também. Em termos contábeis, os "ativos" dos envolvidos podem ser diferentes, da mesma forma que as "receitas". Isto faz com que o acordo pré-nupcial precise indicar tanto os ativos, as dívidas (o passivo) e as receitas de cada parte. Em 2014, o casal informou que a receita seria de 9,1 milhões de dólares e 8,4 milhões, em 2011 e 2012, para Kim, e 1,9 milhão e 4,6 milhões, na mesma ordem, para Kanye. Ou seja, Kim gerava mais receita que Kanye. Além disto, Kim tinha uma casa de 9 milhões - seu principal ativo tangível, e Kanye um condomínio em Nova York.

Sabendo a posição financeira de cada uma das partes era necessário estabelecer as regras de convivência financeira do casal. O acordo pré-nupcial estabelece isto e inclui o que acontece com os ativos que tinham antes do acordo e o que irá acontecer com os recursos após o acordo. Neste caso, Kim e Kanye manteriam os ativos anteriores separados. Kanye ajudaria na reforma da casa de Kim, mas seria reembolsado. Finalmente, o acordo também pode indicar a responsabilidade de cada um nas despesas com os filhos do casamento, a exemplo do que ocorreu com Kelly Clarkson . No caso de Kelly, pode até ajudar - quem sabe - em um eventual despejo de uma das partes.

 Ambos têm advogados de divórcio conhecidos por representar celebridades da lista A em seus divórcios. Suspeito que mais informações financeiras sejam divulgadas, já que Kanye faz o possível para arrastar esse divórcio.

05 agosto 2021

Bonilla e um exemplo de decisão financeira


Uma história interessante sobre um jogador que está recebendo sem jogar. É nos Estados Unidos e no beisebol

Todos tem uma data que consideram especial. Pode ser o aniversário, bodas de casamento ou uma festividade como o Natal. No caso do ex-jogador de beisebol, Bobby Bonilla, seu dia favorito é 1º de julho. Isso porque desde 2001, quando aposentou o bastão, o New York Mets, da MLB, liga profissional de beisebol dos Estados Unidos, paga a ele mais de US$ 1 milhão (R$ 5 milhões). Mas para entender essa história, é preciso conhecer seu contexto.

Bonilla começou sua carreira na MLB, a principal liga de beisebol nos EUA, em 1986. Passou por diversos times, incluindo os Mets, até voltar à equipe em 1998. Campeão pelo Miami Marlins no ano anterior, o terceira base decepcionou em Nova York, tendo vários atritos com o técnico Bobby Valentine. Porém, o momento decisivo que causou a rescisão do contrato do atleta ocorreu quando, em meio à eliminação do time nos playoffs, ele e um companheiro estariam jogando cartas no banco de reservas. 

Seu contrato com os Mets tinha duração até 2000 e, por isso, Bonilla tinha direito a receber US$ 5,9 milhões (R$ 29 milhões). Como estava sem dinheiro, o clube decidiu fazer um acordo que traz pesadelos aos torcedores até hoje: pagar 25 parcelas anuais de US$ 1,19 milhão (R$ 5,9 milhões), começando em 2011. 

No total, o jogador embolsará mais de U$S 30 milhões (R$ 149 milhões) até 2035, momento em que ele receberá a última parcela desse negócio maluco. A taxa de juros é de incríveis 8% ao ano [1]. Mas não pense que essa é a parte mais surpreendente do caso. Os Mets apenas aceitaram pagar essa quantia muito maior porque Fred Wilpon e Saul Katz, donos do time, fizeram negócio com Bernie Madoff, mentor do maior esquema de pirâmide da história [2].

Naquele tempo, os mandatários afirmaram desconhecer a fraude. Por isso, concordaram que adiariam as parcelas do pagamento de Bonilla e o pagariam com os rendimentos do investimento gerenciado por Madoff. O resultado foi um prejuízo estimado em US$ 65 bilhões (R$ 322 bilhões), que 'caiu no colo' de mais de 3 milhões de pessoas, incluindo Wilpon e Katz. Após o escândalo, os Mets tiveram que fazer diversos ajustes financeiros para lidar com as dívidas, e Bernie Madoff foi condenado a 150 anos de prisão, onde morreu em abril deste ano. 

Já Bobby Bonilla tem seu dinheiro garantido pela franquia até completar 72 anos. Aliás, o ex-jogador arruma maneiras de lucrar mais, participando de comerciais onde faz piadas com a situação. É por conta de toda essa loucura que, em 1º de julho, se comemora o 'Bobby Bonilla Day', uma data criada pelos torcedores para, ironicamente, lidar com um acordo que entra certamente para a lista de piores do esporte. 

Os Mets, por sua vez, arrumaram uma maneira de tirar proveito dos erros do passado e convidou Bonilla para ser o anfitrião de um evento em parceria com a Airbnb, que oferece aos fãs a oportunidade de se hospedarem em um quadro decorado dentro do Citi Field, casa da equipe.

Rafael Sant'Ana, especial para o Estadão - 01 de julho de 2021

[1] É um bom exercício de matemática financeira
[2] Acreditaram que receberiam um retorno anual que estava sendo garantido por Madoff

03 agosto 2021

Grupo e Polarização


Um estudo analisou discussões em grupo sobre tópicos então controversos (mudança climática, casamento entre pessoas do mesmo sexo, ação afirmativa) por grupos em Boulder, Colorado, de esquerda, e em Colorado Springs, de direita. Cada grupo continha seis indivíduos com uma variedade de pontos de vista, mas depois de discutir essas opiniões, os grupos de Boulder se agruparam bruscamente para a esquerda e os grupos Colorado Springs se agruparam de maneira semelhante à direita, tornando-se mais extremos e mais uniformes dentro do grupo. Em alguns casos, a visão emergente do grupo era mais extrema do que a visão prévia de qualquer membro.

Uma razão para isso é que, quando cercadas por companheiros, as pessoas se tornaram mais confiantes em seus próprios pontos de vista. Eles se sentiram tranquilizados pelo apoio de outros. Enquanto isso, pessoas com opiniões contrárias tendiam a ficar caladas. Poucas pessoas gostam de ser publicamente em menor número. Como resultado, surgiu um falso consenso, com potenciais dissidentes se censurando e o resto do grupo ganhando um senso de unanimidade equivocado.

Os experimentos do Colorado estudaram polarização, mas isso não é apenas um problema de polarização. Os grupos tendem a buscar um terreno comum em qualquer assunto, da política ao clima, fato revelado por experimentos de psicologia de "perfil oculto". Nesses experimentos, os grupos recebem uma tarefa (por exemplo, escolher o melhor candidato para um emprego) e cada membro do grupo recebe informações diferentes. Pode-se esperar que cada indivíduo compartilhe tudo o que sabia, mas o que tende a acontecer é que as pessoas se concentrem, redundantemente, no que todos já sabem, em vez de desenterrar fatos conhecidos por apenas um indivíduo. O resultado é um desastre de tomada de decisão.

Esses estudos de "perfil oculto" apontam para o cerne do problema: as discussões em grupo não são apenas sobre o compartilhamento de informações e a tomada de decisões sábias. Eles são sobre coesão - ou, pelo menos, encontrar um terreno comum para conversar. (...)

Não faltam soluções para o problema do pensamento de grupo, mas listá-las é entender por que elas são frequentemente negligenciadas. O primeiro e mais simples é adotar processos de tomada de decisão que exijam desacordo: nomeie um "advogado do diabo" cujo trabalho seja contrário, com um grupo interno cuja tarefa é desempenhar o papel de atores hostis (hackers, invasores ou simplesmente críticos) e para encontrar vulnerabilidades. (...)

Uma reforma mais fundamental é garantir que haja uma diversidade real de habilidades, experiências e perspectivas na sala: as chaves de fenda e as serras, bem como os martelos. Isso parece ser terrivelmente difícil. Quando se trata de interação social, o aforismo está errado: os opostos não atraem. Inconscientemente, nos cercamos de pessoas com ideias semelhantes.

(...) Os grupos certos, com os processos certos, podem tomar excelentes decisões. Mas a maioria de nós não se junta a grupos para tomar melhores decisões. Nós nos juntamos a eles porque queremos pertencer. O pensamento de grupo persiste porque o pensamento de grupo é bom.

Fonte: aqui. Foto: aqui

06 julho 2021

Sobre a complexidade de um divórcio de bilionários


Escrevendo sobre o tema, Tracy Coenen comenta:

No divórcio de Gates, foi relatado que Melinda contratou advogados para começar a trabalhar há dois anos. Isso não me surpreende. Também foi relatado que, quando Bill e Melinda se casaram, em 1994, ele [Bill] já valia mais de US $ 9 bilhões. Então, por que eles não tiveram um acordo pré-nupcial?. 

Quem sabe... Agora eles estão dividindo ativos de um casamento de 27 anos. Eles teriam um "contrato de separação" e, no dia em que o divórcio se tornou público, US $ 1,8 bilhão em ações foram transferidos de Bill para Melinda. Esse contrato de separação é exatamente o tipo de coisa de que estou falando quando digo que as partes com patrimônio líquido muito alto geralmente gostam de fazer antes de pedirem o divórcio.

Foto: Jackson Simmer

05 julho 2021

Divórcio e problemas do CFO de Trump


Os problemas legais de Allen Weisselberg, que podem atingir Trump, começaram de maneira prosaica. Sua ex-mulher levantou questionamentos sobre o estilo de vida durante o casamento e os números que foram apresentados durante o divórcio. 

Recentemente a justiça e a receita federal dos Estados Unidos apertou o CFO de Trump, Allen Weisselberg, questionando uma possível sonegação. As informações surgiram de Jennifer Weisselberg, que vivia com Allen e duas crianças em um apartamento com vista para o Central Park, em Nova Iorque. Seus filhos estudavam em uma escola com custo de 50 mil dólares/ano por aluno. Mas segundo as informações para o fisco, Allen ganhou 211 mil dólares em 2016. 

A partir das informações que dispunha, Jennifer municiou a promotoria de Manhattan. Uma das acusações era o uso de imóveis da Organização por parte do casal. Jennifer parece que não gostou da possibilidade de receber pouco no divórcio.

25 junho 2021

Bandeiras Vermelhas de Fraude no Divórcio


A especialização contábil em casos de divórcio tem um fértil campo de trabalho. A especialista Trace Coenen apresenta as bandeiras vermelhas que seria um indício de fraude no divórcio. 

A grande maioria dos casos de direito da família é resolvida sem julgamentos. No entanto, um cliente não deve entrar em um acordo voluntário se houver preocupações significativas sobre a verdade das divulgações financeiras e indicações de que ativos ou receitas podem estar ocultos. O primeiro passo para determinar se um contador forense é necessário para avaliar as finanças das partes é a identificação de "bandeiras vermelhas" de fraude Uma bandeira vermelha é simplesmente um sinal de aviso ou um item ou circunstância incomum. 

Os advogados costumam usar seu instinto para determinar quando um contador forense é necessário em um caso de direito da família. Se algo não parece certo, provavelmente deve ser investigado. Um cliente geralmente suspeita do cônjuge antes mesmo de se separar. Pode-se até saber que o cônjuge manipula o dinheiro.  

Além de usar a intuição para determinar se algo está errado, há muitos sinais de alerta que indicam que as finanças devem ser avaliadas com cuidado. Essas bandeiras vermelhas por si só não significam que o dinheiro tenha desaparecido ou que as finanças estejam sendo manipuladas. Mas são sinais de que uma investigação é justificada. Como o divórcio é tão contraditório, é provável que um ou ambos os cônjuges ocultem ou manipulem fatos financeiros.  

Sinais vermelhos comportamentais  

Avalie o comportamento do cônjuge, tanto em casa quanto no trabalho. Existe sigilo ou controle extremo em torno de questões financeiras? Algumas bandeiras vermelhas comportamentais gerais incluem:  
  • Controle excessivo exercido sobre questões financeiras, como controle de todas as informações bancárias, extratos e acesso on-line 
  • Detalhes das transações ocultas do cônjuge 
  • Grandes despesas ou compras de ativos sem o conhecimento do cônjuge 
  • Segredo sobre assuntos financeiros ou outros 
  • Um histórico de engano
  • Pedir ou coagir um cônjuge a assinar documentos financeiros ou legais incomuns 
  • Usar uma caixa postal ou outro endereço privado para receber e-mails (que não podem ser acessados pelo cônjuge) 
Sinal Vermelho da documentação 

O processo de produção de documentos financeiros em matéria de direito da família geralmente é controverso, principalmente em casos com maior renda e valores de ativos. A documentação pode ser volumosa, portanto, pode levar muito tempo e esforço para atender às solicitações. Alguns dos problemas mais comuns que podem constituir bandeiras vermelhas incluem: 
  • Variações entre a divulgação financeira e a documentação de suporte 
  • Divulgações financeiras incompletas e / ou não assinadas
  • Arquivos financeiros computadorizados excluídos 
  • Documentação financeira alterada ou destruída 
  • Documentos com data anterior ou falsamente datada 
  • Recusa em produzir documentos financeiros relevantes 
  • Produção fragmentada de documentos financeiros, especialmente de maneira confusa ou redundante 
  • Tentativas deliberadas de atrasar ou atrapalhar a parte financeira da descoberta 
  • Confusão intencional de registros financeiros e trilhas de papel em dinheiro 
Sinais Vermelhos financeiros Pessoais

Mais especificamente, existem vários sinais vermelhos financeiros que podem apontar para a ocultação de ativos ou receitas nos meses ou anos que antecederam o divórcio: 
  • Alto volume de transações em dinheiro, possivelmente destinadas a evitar uma trilha de papel do dinheiro 
  • Falha no depósito do salário total ou de outras fontes conhecidas de fundos 
  • Valores em dinheiro ou outros ativos valiosos 
  • Combinação proposital de finanças pessoais e comerciais, a fim de obscurecer o cenário financeiro 
  • "Empréstimos" dinheiro a amigos ou familiares para reduzir o dinheiro existente 
  • Contas não divulgadas, principalmente se tiverem atividade atual e / ou saldos substanciais 
  • Ativos valiosos escondidos durante o casamento - Se uma parte descobriu ao longo do casamento que o cônjuge estava escondendo bens valiosos, é provável que haja ativos adicionais que a parte não conheça. 
  • Os valores dos investimentos diminuíram drasticamente 
  • Inflar ou fabricar dívidas 
  • Excluir propriedade do cônjuge 
  • Os ativos que se sabe existir durante o casamento desapareceram após a separação sem trilha de papel 
  • A renda pessoal supostamente diminuiu, mas as despesas não diminuíram de acordo 
Uma bandeira vermelha financeira comum é a retirada substancial de dinheiro de uma conta bancária, geralmente várias vezes. O cônjuge também pode receber dinheiro em suas mãos, não depositando um salário completo ou outro cheque, ou através de saques em caixas eletrônicos. O dinheiro pode ser usado para financiar despesas não conjugais (como um "caso" ou empreendimento secreto), comprar ativos ocultos ou adicionar fundos a contas não divulgadas. O dinheiro também pode ser usado para comprar cheques ou ordens de pagamento que estão ocultos até que o divórcio seja finalizado. 

A descoberta de várias bandeiras vermelhas acima deve ser um catalisador para uma investigação financeira em um divórcio. Quanto maior o número de bandeiras vermelhas descobertas, mais importante será analisar cuidadosamente as finanças para procurar renda oculta, ativos ocultos ou outras irregularidades que possam afetar a divisão de ativos ou o pagamento de suporte.

19 junho 2021

Penumbras Sociais

Eis uma ideia intrigante 

(...) Em um artigo recente nós publicamos no Anais da Academia Nacional de Ciências, introduzimos outra dimensão, a penumbra, definida como o conjunto de indivíduos na população que estão pessoalmente familiarizados com alguém desse grupo.
 
Distinto do conceito de rede social de um indivíduo (que se refere aos contatos e relacionamentos de um determinado indivíduo), o penumbra se refere ao círculo de contatos próximos e conhecidos de um determinado grupo social. Usando dados longitudinais originais, o artigo fornece um estudo sistemático das penumbras de vários grupos, com foco nas características politicamente relevantes dos penumbras (por exemplo, tamanho, concentração geográfica, sociodemografia).
 
Dois grupos sociais de tamanho igualmente modesto podem ter penumbras que variam de maneiras cruciais: a penumbra de um grupo pode ser grande em tamanho ou pequena, pode ser geograficamente concentrada ou dispersa e pode ser composta por pessoas ricas ou pobres. Nossa pesquisa oferece uma primeira análise sistemática desse conceito, bem como uma visão de seu potencial significado político. Em particular, fornecemos evidências sistemáticas de que mudanças no status penumbra dos indivíduos podem ajudar a explicar mudanças em suas atitudes políticas.
 
Para entender isso, considere três grupos de nossa pesquisa: a penumbra dos gays, a penumbra dos muçulmanos e a penumbra das mulheres que fizeram um aborto nos últimos cinco anos. Esses três grupos são aproximadamente do mesmo tamanho (3,6 por cento, 2,4 por cento, e 2,0% da população adulta dos EUA, respectivamente) mas diferem amplamente no tamanho de seus respectivos penumbras: de acordo com nossa pesquisa, 74% dos adultos americanos conhecem pelo menos uma pessoa gay, 30% conhecem um muçulmano, e apenas 10% dizem conhecer uma mulher que fez um aborto nos últimos cinco anos.

(...) O exemplo da reviravolta repentina do senador Portman [senador dos EUA que mudou sua visão sobre a homosexualidade depois que um filho disse que era deste grupo] no casamento entre pessoas do mesmo sexo é uma ilustração perfeita do teoria de contato intergrupo da psicologia social: a idéia de que as interações pessoais podem, sob certas condições, reduzir o preconceito entre a maioria e os membros do grupo minoritário. Nosso trabalho sugere que há mais a ganhar com essa teoria, mudando nosso foco do indivíduo para o grupo. Examinar os contatos que os membros do grupo têm com os membros do grupo - quão predominante, quão geograficamente disperso, quão socialmente homogêneo - pode oferecer uma nova visão sobre a influência e influência de vários grupos da sociedade. Com a crescente disponibilidade de novas fontes de dados que permitem aos pesquisadores rastrear e quantificar esses contatos, acreditamos que um foco baseado em grupo é uma grande promessa para a pesquisa em ciências sociais. E além das implicações para a pesquisa, nossas descobertas também nos dão esperança de que um progresso significativo para a representação de grupos marginalizados seja possível através do crescimento de penumbras sociais.
 
O estudo dos grupos sociais e sua influência ainda está no seu início. É um grande campo de pesquisa, mas sem dúvida nenhuma é difícil de pesquisar. O conceito de penumbra pode ser intrigante e, ao mesmo tempo, importante. (Ilustração: Liam Speranza)