Eis uma pesquisa interessante sobre os custos médicos nos Estados Unidos: quando a pandemia começou existia uma previsão de que os custos aumentariam substancialmente. A razão é que os pacientes do Covid teriam hospitalizações mais longas e caras. Entretanto, parece que isto não está ocorrendo; pelo contrário, os custos estão caindo. A razão, segundo uma pesquisa, seria a redução dos custos com outras doenças, que caíram substancialmente. Muitos pacientes foram atendidos somente em casos de doenças após longa triagem. Isto é um fator mais surpreendente quando se sabe que os gastos com saúde possuem uma tendência exponencial crescente (Lei de Baumol)
Parte da assistência médica não prestada nos dias atuais pode ser postergada; mas talvez uma grande parte não. Outra explicação, triste é verdade, é que muitos pacientes morrem antes de consumirem cuidados médicos. Nos Estados Unidos isto significou a eliminação de 42 mil empregos no setor de saúde. Finalmente, o setor de saúde pode ter uma mudança drástica na forma de prestação dos serviços, nos modelos de pagamento e no atendimento médico para diversas populações. Alguém já foi atendido de forma não presencial por um médico?
Na nossa realidade, isto seria válido? Boa parte do atendimento médico no Brasil é feito através da rede pública. Isto significa que não apresenta custo direto para o usuário, mas indica um custo para sociedade. Uma boa discussão e pesquisa futura.
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02 julho 2020
16 dezembro 2019
Efeito Amazon
Segundo o texto "Inflação no país parece sentir o efeito Amazon", a tecnologia pode explicar o fato da inflação não ter subido nos últimos tempos:
Mas a figura parece contradizer um pouco esta teoria. Talvez em razão de algumas startups não estarem consolidadas. Mas a mesma força que explica a contenção da inflação, também explica o comportamento dos preços da educação e saúde. Trata-se do Efeito Baumol, já que exploramos diversas vezes aqui no Blog
Mas a figura parece contradizer um pouco esta teoria. Talvez em razão de algumas startups não estarem consolidadas. Mas a mesma força que explica a contenção da inflação, também explica o comportamento dos preços da educação e saúde. Trata-se do Efeito Baumol, já que exploramos diversas vezes aqui no Blog
01 novembro 2019
Absurdo do prêmio Nobel em Ciências
Todo ano, durante a premiação do Nobel, o principal da área acadêmica mundial, volta a discussão sobre a escolha realizada pela Fundação. Além das injustiças, este ano um artigo do The Atlantic destacou um fato importante: a premiação está distorcendo e reescrevendo a história. Além de muitas vezes deixar de fora bons pesquisadores, o processo científico nos dias atuais mudou. Com respeito ao primeiro ponto, não existe dúvida. O texto de Ed Yong (The Absurdity of the Nobel Prizes in Science) aponta vários casos. Eu lembro, na área de economia, o fato de Black e Tversky não terem sido premiados por terem falecido precocemente. Mas Baumol viveu bastante tempo e não foi contemplado.
Em muitos casos, o esquecimento pode representar reescrever a história da ciência. Yong narra o caso de Damadian que foi “esquecido” pelo Nobel, enquanto seus colegas, Paul Lauterbur e Peter Mansfield, foram contemplados. Damadian publicou anúncios em três jornais dos EUA protestando contra o esquecimento. No Nobel de Economia eu me lembro de Roberts (mas Fama, que escreveu depois sobre a eficiência de mercado, foi reconhecido), Milgrom (mas Myerson e Bengt Holmstrom) e Martin Weitzman (mas Nordhaus), sendo que este último “pode” ter cometido suicídio pelo “esquecimento” do prêmio.
Mas o texto do The Atlantic destaca outro ponto também importante. Atualmente a ciência é um esforço de um grupo de cientistas. Reconhecer um cientista (ou dois ou três) é injusto com o grupo de trabalhou na pesquisa. Isto pode dar a impressão de que a ciência é feita por uma pessoa solitária, sem interação com outras pessoas:
críticos notam que é um absurdo e um anacronismo o reconhecimento do trabalho de cientistas. Em lugar de honrar a ciência, isto distorce sua natureza, reescreve a história e negligencia o papel de importantes pessoas [tradução livre]
Ganhar o prêmio traz vantagens, conforme lembra Yong: mais citações, um tempo de vida médio maior, lucro em palestras e a sensação de grandeza. Ser esquecido pode ser pior.
Em muitos casos, o esquecimento pode representar reescrever a história da ciência. Yong narra o caso de Damadian que foi “esquecido” pelo Nobel, enquanto seus colegas, Paul Lauterbur e Peter Mansfield, foram contemplados. Damadian publicou anúncios em três jornais dos EUA protestando contra o esquecimento. No Nobel de Economia eu me lembro de Roberts (mas Fama, que escreveu depois sobre a eficiência de mercado, foi reconhecido), Milgrom (mas Myerson e Bengt Holmstrom) e Martin Weitzman (mas Nordhaus), sendo que este último “pode” ter cometido suicídio pelo “esquecimento” do prêmio.
Mas o texto do The Atlantic destaca outro ponto também importante. Atualmente a ciência é um esforço de um grupo de cientistas. Reconhecer um cientista (ou dois ou três) é injusto com o grupo de trabalhou na pesquisa. Isto pode dar a impressão de que a ciência é feita por uma pessoa solitária, sem interação com outras pessoas:
críticos notam que é um absurdo e um anacronismo o reconhecimento do trabalho de cientistas. Em lugar de honrar a ciência, isto distorce sua natureza, reescreve a história e negligencia o papel de importantes pessoas [tradução livre]
Ganhar o prêmio traz vantagens, conforme lembra Yong: mais citações, um tempo de vida médio maior, lucro em palestras e a sensação de grandeza. Ser esquecido pode ser pior.
12 outubro 2019
Quem não ganhou o Nobel de Economia (mas deveria)
Eis uma lista originária daqui
Frank Knight (1972). One of the founders of the “Chicago School of Economics,” he is best known for his 1921 book, Risk, Uncertainty and Profit.
Alvin Hansen (1975). Macroeconomist and public policy adviser, often referred to as “the American Keynes,” he is most noted for development (with Hicks) of the “investment-savings” and “liquidity preference-money supply” (IS-LM) macroeconomics model.
Oskar Morgenstern (1977). Princeton economist, coauthor of Theory of Games and Economic Behavior (1944, with John von Neumann).
Joan Robinson (1983). Cambridge economist known for her work on monopolistic competition (The Economics of Imperfect Competition, 1933) and coining the term monopsony.
Piero Sraffa (1983). Italian economist and considered the neo-Ricardian school founder owing to his Production of Commodities by Means of Commodities (1960).
Fischer Black (1995), part creator of the Black–Scholes equation on options pricing, surely would have shared the 1997 Nobel with Scholes and Merton for devising a model for the dynamics of a financial market containing derivative investment instruments.
Amos Tversky (1996). A cognitive psychologist, who undoubtedly would have shared the 2002 Nobel Prize with his friend and frequent collaborator Daniel Kahneman (and Vernon Smith).
Zvi Griliches (1999). A student of Schultz and Arnold Harberger at Chicago, he is best known for work on technological change (the diffusion of hybrid corn in particular) and econometrics.
Sherwin Rosen (2001). Labor economist with far-ranging contributions in microeconomics, he is perhaps best known for his 1981 American Economic Review article “The Economics of Superstars,” and his 1974 Journal of Political Economy article outlining how the market solves the problem of matching buyers and sellers of multidimensional goods.
John Muth (2005). Doctoral advisee of Herbert Simon, he is considered—mainly formulated on the microeconomics side—as the originator of “rational expectations” theory.
John Kenneth Galbraith (2006), long-time Harvard economist, was a prolific writer (The Affluent Society (1958), The New Industrial State (1967)), public intellectual, and liberal political activist.
Anna Schwartz (2012). A National Bureau of Economic Research monetary and banking scholar, she was a coauthor with Milton Friedman of A Monetary History of the United States, 1867-1960 (1963).
Martin Shubik (2018). A doctoral advisee of Morgenstern and collaborator with Nash, at Princeton, he was a long-time Yale professor of mathematical economics and outstanding game theorist.
To this list, one could certainly add more of their contemporaries, for example (in alphabetical order), Anthony Atkinson (2017), William Baumol (2017), Harold Demsetz (2019), Evsey Domar (1997), Rudiger Dornbusch (2002), Henry Roy Forbes Harrod (1978), Harold Hotelling (1973), Nicholas Kaldor (1986), Jacob Mincer (2006), Hyman Minsky (1996), and Ludwig von Mises (1973), among many others.
Frank Knight (1972). One of the founders of the “Chicago School of Economics,” he is best known for his 1921 book, Risk, Uncertainty and Profit.
Alvin Hansen (1975). Macroeconomist and public policy adviser, often referred to as “the American Keynes,” he is most noted for development (with Hicks) of the “investment-savings” and “liquidity preference-money supply” (IS-LM) macroeconomics model.
Oskar Morgenstern (1977). Princeton economist, coauthor of Theory of Games and Economic Behavior (1944, with John von Neumann).
Joan Robinson (1983). Cambridge economist known for her work on monopolistic competition (The Economics of Imperfect Competition, 1933) and coining the term monopsony.
Piero Sraffa (1983). Italian economist and considered the neo-Ricardian school founder owing to his Production of Commodities by Means of Commodities (1960).
Fischer Black (1995), part creator of the Black–Scholes equation on options pricing, surely would have shared the 1997 Nobel with Scholes and Merton for devising a model for the dynamics of a financial market containing derivative investment instruments.
Amos Tversky (1996). A cognitive psychologist, who undoubtedly would have shared the 2002 Nobel Prize with his friend and frequent collaborator Daniel Kahneman (and Vernon Smith).
Zvi Griliches (1999). A student of Schultz and Arnold Harberger at Chicago, he is best known for work on technological change (the diffusion of hybrid corn in particular) and econometrics.
Sherwin Rosen (2001). Labor economist with far-ranging contributions in microeconomics, he is perhaps best known for his 1981 American Economic Review article “The Economics of Superstars,” and his 1974 Journal of Political Economy article outlining how the market solves the problem of matching buyers and sellers of multidimensional goods.
John Muth (2005). Doctoral advisee of Herbert Simon, he is considered—mainly formulated on the microeconomics side—as the originator of “rational expectations” theory.
John Kenneth Galbraith (2006), long-time Harvard economist, was a prolific writer (The Affluent Society (1958), The New Industrial State (1967)), public intellectual, and liberal political activist.
Anna Schwartz (2012). A National Bureau of Economic Research monetary and banking scholar, she was a coauthor with Milton Friedman of A Monetary History of the United States, 1867-1960 (1963).
Martin Shubik (2018). A doctoral advisee of Morgenstern and collaborator with Nash, at Princeton, he was a long-time Yale professor of mathematical economics and outstanding game theorist.
To this list, one could certainly add more of their contemporaries, for example (in alphabetical order), Anthony Atkinson (2017), William Baumol (2017), Harold Demsetz (2019), Evsey Domar (1997), Rudiger Dornbusch (2002), Henry Roy Forbes Harrod (1978), Harold Hotelling (1973), Nicholas Kaldor (1986), Jacob Mincer (2006), Hyman Minsky (1996), and Ludwig von Mises (1973), among many others.
15 junho 2019
Baumol ainda vive
Esta figura foi publicada aqui (original em Marginal Revolution). Acompanhando os preços desde 1950, alguns setores aumentaram em muito seus preços (educação, saúde, manutenção de automóvel) e outros reduziram seus preços (telecomunicações, roupas, automóveis novos). Qual a razão disto? Segundo Alex Tabarrok: regulamentação, burocracia, monopólio e Efeito Baumol).
O efeito Baumol já foi comentado várias vezes no blog (aqui, aqui ou aqui). Refere-se ao aumento nos custos em algumas atividades que não conseguem usufruir dos ganhos de produtividade. O exemplo clássico é o número de músicos que toca a nona sinfonia de Beethoven.
16 setembro 2018
Emprego inútil
Um extrato de um texto de opinião da Bloomberg sobre a inutilidade de certos empregos:
Os fatores políticos também parecem cada vez mais desempenhar um papel importante na geração de lucros corporativos, à medida que novos regulamentos ajudam empresas estabelecidas (...)
David Graeber da London School of Economics argumenta em um livro recente que os mitos predominantes sobre a eficiência do capitalismo nos cegam para o fato de que grande parte da realidade econômica é moldada pela disputa por poder e status e não possui nenhuma função econômica.
É claro que a ideia de que os negócios podem ser um desperdício não é nova. Há trinta anos, o economista William Baumol sugeriu que o futuro do capitalismo poderia muito bem pertencer a empresas improdutivas, que usam o poder e a influência para lucrar sem necessariamente beneficiar a sociedade. Ele se preocupava com a ascensão de “empreendedores improdutivos” que compram rivais ou usam regulamentações para sufocar a concorrência, prosperando como parasitas em partes produtivas da economia. (...)
Xavier Gabaix, economista do MIT, mostrou que os indivíduos mais ricos (...) encontraram maneiras - como acesso a melhores informações, serviços jurídicos ou de planejamento tributário - para captar mais lucros provenientes do trabalho produtivo. Luigi Zingales argumentou que o comportamento das empresas mudou à medida que as corporações se tornaram tão grandes. As grandes corporações agora veem exercendo influência política por meio de doações de campanha ou lobbying como parte importante de assegurar sua vantagem econômica.
Em um ensaio há cinco anos, ele [David Graeber] fez a afirmação aparentemente bizarra de que talvez 30% de todos os empregos realmente não contribuem para a sociedade. Pode parecer uma afirmação desagradável, se não pelo fato de que um grande número de pessoas atestam voluntariamente a inutilidade de seus próprios empregos. Uma pesquisa realizada em 2015 no Reino Unido revelou que 37 por cento das pessoas sentiram que seus empregos “não deram uma contribuição significativa para o mundo”, e uma pesquisa posterior na Holanda encontrou 40 por cento dizendo a mesma coisa.
(...) Desde que escreveu seu ensaio, Graeber diz que ele foi contatado por centenas de pessoas dizendo concordar com ele - trabalham em empregos inúteis que poderiam ser eliminados sem absolutamente nenhuma perda para a sociedade - e os empregos vêm principalmente de recursos humanos, relações públicas, lobby ou telemarketing, ou em finanças e banca, consultoria, gestão e direito societário.
Depois que li Against Education, de Bryan Caplan, senti um pouco nesta parcela de inutilidade. E agora, na quinta, dando aula para graduação, com muitos alunos no celular, sem prestar nenhuma atenção no que estava apresentando.
06 maio 2017
Links
Espião suíço tentava identificar compradores de informações sigilosas de clientes de banco (foi preso na Alemanha)
Prêmio Nat Geo de fotografia da natureza (ao lado)
Quando Harvard tentou consertar o capitalismo (ou Elton Mayo)
A contribuição de Baumol
Replicando o experimento de Milgram: 90% dos participantes são obedientes
Auditores são descuidados com o risco de mensuração
Prêmio Nat Geo de fotografia da natureza (ao lado)
Quando Harvard tentou consertar o capitalismo (ou Elton Mayo)
A contribuição de Baumol
Replicando o experimento de Milgram: 90% dos participantes são obedientes
Auditores são descuidados com o risco de mensuração
Fato da Semana: A falência do governo
Fato: Quando um Estado está em falência
Data: 3 de maio de 2017
Contextualização - Durante a semana, o blog postou um provocação: O Brasil vai Falir. Efetivamente, os dados que temos e as projeções não são boas para o País. O crescimento das despesas públicas e a falta de reformas estruturais levam a esta projeção.
Também na semana tivemos a notícia de que o estado livre associado de Porto Rico estava com sérios problemas financeiros. Uma solicitação de reestruturação da sua dívida foi arquivada. Trata-se do maior default - em termos nominais - dos Estados Unidos. Porto Rico não possui representação no legislativo, mas vota para presidente, geralmente nos democratas. A dívida corresponderia, segundo o El Mundo, a um título municipal.
Relevância - A dívida por habitante de Porto Rico é de 12 mil dólares. A economia está em crise há anos e não existe muita perspectiva a curto e médio prazo.
Pelo status de Porto Rico - não é uma nação, nem um estado - os problemas jurídicos são grandes. Pelo tamanho da dívida, o problema não é preocupante. Mas pode ser um alerta para uma nação que se recusa a se reinventar.
Notícia boa para contabilidade? Não. Problema de finanças públicas. Qual a razão para a informação contábil não apresentar de forma fiel a realidade de um país?
Desdobramentos - Para Porto Rico, tudo parece indicar que existe agora mais possibilidade de um acordo com os devedores. Mas a contabilidade não irá discutir, desta vez, como fazer com que a situação financeira do governo seja exposta de forma clara e fiel.
Mas a semana só teve isto? Os problemas da Roll-Royce e a perda de Baumol foram outros dois fatos de destaque da semana.
Data: 3 de maio de 2017
Contextualização - Durante a semana, o blog postou um provocação: O Brasil vai Falir. Efetivamente, os dados que temos e as projeções não são boas para o País. O crescimento das despesas públicas e a falta de reformas estruturais levam a esta projeção.
Também na semana tivemos a notícia de que o estado livre associado de Porto Rico estava com sérios problemas financeiros. Uma solicitação de reestruturação da sua dívida foi arquivada. Trata-se do maior default - em termos nominais - dos Estados Unidos. Porto Rico não possui representação no legislativo, mas vota para presidente, geralmente nos democratas. A dívida corresponderia, segundo o El Mundo, a um título municipal.
Relevância - A dívida por habitante de Porto Rico é de 12 mil dólares. A economia está em crise há anos e não existe muita perspectiva a curto e médio prazo.
Pelo status de Porto Rico - não é uma nação, nem um estado - os problemas jurídicos são grandes. Pelo tamanho da dívida, o problema não é preocupante. Mas pode ser um alerta para uma nação que se recusa a se reinventar.
Notícia boa para contabilidade? Não. Problema de finanças públicas. Qual a razão para a informação contábil não apresentar de forma fiel a realidade de um país?
Desdobramentos - Para Porto Rico, tudo parece indicar que existe agora mais possibilidade de um acordo com os devedores. Mas a contabilidade não irá discutir, desta vez, como fazer com que a situação financeira do governo seja exposta de forma clara e fiel.
Mas a semana só teve isto? Os problemas da Roll-Royce e a perda de Baumol foram outros dois fatos de destaque da semana.
04 maio 2017
Faleceu Baumol
O blog Marginal Revolution anunciou que o economista Baumol faleceu. Durante anos este blog postou diversos textos sobre um dos grandes economistas.
Por diversas vezes Baumol esteve entre os fortes candidatos a receber o Nobel de Economia. Infelizmente isto não ocorreu. A falta da premiação não diminui os méritos do economista. A primeira vez que deparei com o nome de Baumol foi ao estudar capital de giro. Baumol aproveitou a ideia do lote econômico de compra e aplicou para a gestão do caixa. O modelo parece hoje bastante simples, mas ajuda a explicar o fato de que grandes empresas fazem muitas transações de investimento com os recursos financeiros, enquanto pequenas empresas não se incomodam com deixar o dinheiro parado no banco: o custo da transação e a rentabilidade explicam esta diferença de comportamento. Também ajuda a explicar a razão pela qual as pessoas, em ambiente inflacionário, buscavam diariamente aplicar seus recursos. Quem viveu na época anterior ao Plano Real sabe o que isto significa.
A partir do modelo do Baumol de gestão de caixa outros modelos foram construídos. Mas a ideia de ter dois ativos - caixa e investimento - com custo de transação e rentabilidade foi de Baumol.
Infelizmente Baumol é pouco conhecido na área contábil. Pergunte a um especialista de custo ou do setor público se já ouviu o nome do economista. Um trabalho seu da década de sessenta é fundamental para estas duas áreas: a doença do custo. Estudando a evolução dos custos em diversos setores, Baumol, em conjunto com Bowen, propôs a ideia de que a redução dos custos proporcionada pela automoção da economia não representava um ganho para todos os setores. Usando o exemplo de uma orquestra sinfônica é possível perceber que criar máquinas não irá reduzir o custo de tocar a Sinfonia número 9 de Beethoven. O número de músicos e cantores é o mesmo que era exigido no século XIX, XX ou XXI. Outro setor onde não ocorreram grandes ganhos de produtividade é a educação. Para ensinar as partidas dobradas é necessário um professor para trinta ou quarenta alunos. A existência de computadores não afeta esta relação (o ensino a distância foi discutido aqui). Isto ajuda a explicar os custos exponenciais da educação. A saúde é outra área onde existe a doença dos custos.
Como no Brasil a constituinte obriga que o governo cumpra seu papel na saúde e educação da população, a doença do custo ajuda a explicar a dificuldade de reduzir as despesas públicas. E o cenário futuro é pouco animador, já que os custos nestas duas áreas são crescentes em relação a outros setores.
Duas ideias brilhantes oriundas de um dos maiores economistas do século XX: Baumol.
Por diversas vezes Baumol esteve entre os fortes candidatos a receber o Nobel de Economia. Infelizmente isto não ocorreu. A falta da premiação não diminui os méritos do economista. A primeira vez que deparei com o nome de Baumol foi ao estudar capital de giro. Baumol aproveitou a ideia do lote econômico de compra e aplicou para a gestão do caixa. O modelo parece hoje bastante simples, mas ajuda a explicar o fato de que grandes empresas fazem muitas transações de investimento com os recursos financeiros, enquanto pequenas empresas não se incomodam com deixar o dinheiro parado no banco: o custo da transação e a rentabilidade explicam esta diferença de comportamento. Também ajuda a explicar a razão pela qual as pessoas, em ambiente inflacionário, buscavam diariamente aplicar seus recursos. Quem viveu na época anterior ao Plano Real sabe o que isto significa.
A partir do modelo do Baumol de gestão de caixa outros modelos foram construídos. Mas a ideia de ter dois ativos - caixa e investimento - com custo de transação e rentabilidade foi de Baumol.
Infelizmente Baumol é pouco conhecido na área contábil. Pergunte a um especialista de custo ou do setor público se já ouviu o nome do economista. Um trabalho seu da década de sessenta é fundamental para estas duas áreas: a doença do custo. Estudando a evolução dos custos em diversos setores, Baumol, em conjunto com Bowen, propôs a ideia de que a redução dos custos proporcionada pela automoção da economia não representava um ganho para todos os setores. Usando o exemplo de uma orquestra sinfônica é possível perceber que criar máquinas não irá reduzir o custo de tocar a Sinfonia número 9 de Beethoven. O número de músicos e cantores é o mesmo que era exigido no século XIX, XX ou XXI. Outro setor onde não ocorreram grandes ganhos de produtividade é a educação. Para ensinar as partidas dobradas é necessário um professor para trinta ou quarenta alunos. A existência de computadores não afeta esta relação (o ensino a distância foi discutido aqui). Isto ajuda a explicar os custos exponenciais da educação. A saúde é outra área onde existe a doença dos custos.
Como no Brasil a constituinte obriga que o governo cumpra seu papel na saúde e educação da população, a doença do custo ajuda a explicar a dificuldade de reduzir as despesas públicas. E o cenário futuro é pouco animador, já que os custos nestas duas áreas são crescentes em relação a outros setores.
Duas ideias brilhantes oriundas de um dos maiores economistas do século XX: Baumol.
14 fevereiro 2017
Doença do Custo
A doença do custo (cost disease) indica que os gastos com educação e saúde tenderão a crescer de maneira exponencial. Para Baumol este problema se deve a questão da produtividade. Numa postagem recente Scott Alexander tenta entender a questão sem ter uma resposta precisa. Olhando a questão da saúde, Alexander lembra que muitos serviços são executados de forma muito mais “produtiva” - leia-se com menor custo - que no passado: as enfermeiras são imigrantes mal pagas, muitos trabalhos são realizados em locais com baixo custo, o equipamento médico é produzido numa fábrica chinesa, entre outros aspectos. Mesmo existindo um ganho de qualidade na saúde, isto não justifica o aumento elevado no custo. A educação é pior: as notas médias dos alunos não melhoraram ao longo do tempo, apesar do aumento no preço dos livros, das mensalidades, do material exigido em alguns cursos, etc.
Cochrane aponta dois fatores que não foram considerados por Alexander e que poderia justificar a doença do custo. O primeiro é que a proporção dos trabalhadores administrativos aumentou substancialmente. Talvez isto possa explicar também o aumento do custo da educação no Brasil. Na minha universidade temos hoje mais funcionários administrativos do que professores. E no número de administrativos não está incluso os terceirizados e aqueles contratados por demanda. Como a despesa de pessoal deve representar quase 80% do orçamento da minha universidade, o peso deste pessoal é substancial.
A segunda explicação de Cochrane é o fato de que não existe uma concorrência nestes setores. Apesar de não serem monopólios naturais, a regulamentação reduz a possibilidade de incorporar ganhos de produtividade. Isto termina por espalhar a doença do custo.
Cochrane aponta dois fatores que não foram considerados por Alexander e que poderia justificar a doença do custo. O primeiro é que a proporção dos trabalhadores administrativos aumentou substancialmente. Talvez isto possa explicar também o aumento do custo da educação no Brasil. Na minha universidade temos hoje mais funcionários administrativos do que professores. E no número de administrativos não está incluso os terceirizados e aqueles contratados por demanda. Como a despesa de pessoal deve representar quase 80% do orçamento da minha universidade, o peso deste pessoal é substancial.
A segunda explicação de Cochrane é o fato de que não existe uma concorrência nestes setores. Apesar de não serem monopólios naturais, a regulamentação reduz a possibilidade de incorporar ganhos de produtividade. Isto termina por espalhar a doença do custo.
25 outubro 2016
Links
Campanha do banco de livros
Cost Disease está morto? (ou a ideia de Baumol ainda é razoável?)
A rebelião contra usar a Mulher Maravilha como embaixadora da Onu
"O que o autor quer dizer?", a pior pergunta numa aula de literatura
A contabilidade dos Zetas
Cost Disease está morto? (ou a ideia de Baumol ainda é razoável?)
A rebelião contra usar a Mulher Maravilha como embaixadora da Onu
"O que o autor quer dizer?", a pior pergunta numa aula de literatura
A contabilidade dos Zetas
10 outubro 2016
Nobel para Contratos
Ao contrário da minha torcida, o Nobel de Economia não foi para Baumol. Mas o comitê fez uma escolha muito adequada e interessante: teoria de contratos. Oliver Hart e Bengt Holmstrom foram os vencedores deste ano.
05 outubro 2016
William Baumol ganha o Nobel de Economia 2016
O prêmio Nobel de Economia será divulgado no dia 10 de outubro. Mas, consta uma notícia no site da NYU dizendo que Baumol ganhou o Nobel deste ano. Parece ser apenas uma nota que foi preperada antecipadamente. Mas achei estranho estar no site....
In awarding Baumol the Nobel Prize, the committee cited…[Aqui só falta as palavras do comitê do Nobel]
“Will Baumol is a profound and prolific scholar, whose contributions of nearly 70 years fundamentally shaped the way we think about entrepreneurship, economic growth and the history of economic thought,” said Peter Henry, dean of the NYU Stern School of Business. “The Nobel prize is the perfect capstone to such a long and productive career."
“Will Baumol is a profound and prolific scholar, whose contributions of nearly 70 years fundamentally shaped the way we think about entrepreneurship, economic growth and the history of economic thought,” said Peter Henry, dean of the NYU Stern School of Business. “The Nobel prize is the perfect capstone to such a long and productive career."
Fonte: aqui
04 outubro 2016
Nobel de Economia
Começou a temporada de premiação da mais importante distinção científica do mundo: o Nobel. Pela proximidade das áreas, o interesse volta-se para o prêmio de economia. As especulações são várias, que inclui Blanchard, Lazear e Melitz, segundo a Thomson Reuters.
O Marginal Revolution aposta em Baumol (fotografia) e um prêmio conjunto para economia ambiental (Nordhaus, Dasgupta e Martin Weitzman, por exemplo). Mas existe a possibilidade de Barro, Romer, Duflo, Diamond, Bernanke, entre outros.
Minha simpatia – e isto não conta nada para o comitê que escolhe o prêmio – é para Baumol. Com 94 anos de idade, Baumol tem um grande trabalho em diversas áreas, mas o seu enfoque sobre os custos merece mais atenção da contabilidade. Na década de sessenta, Baumol, juntamente com Bowen, notou que em alguns setores os custos aumentavam mais do que a inflação, de maneira persistente. Ele citava saúde e educação como exemplos. Baumol mostrava que nestes setores os ganhos com produtividade eram difíceis de serem incorporados ao processo econômico. Já comentamos diversas vezes sobre isto neste blog.
P.S. Não descarto uma premiação para as pesquisas sobre economia e rede social
O Marginal Revolution aposta em Baumol (fotografia) e um prêmio conjunto para economia ambiental (Nordhaus, Dasgupta e Martin Weitzman, por exemplo). Mas existe a possibilidade de Barro, Romer, Duflo, Diamond, Bernanke, entre outros.
Minha simpatia – e isto não conta nada para o comitê que escolhe o prêmio – é para Baumol. Com 94 anos de idade, Baumol tem um grande trabalho em diversas áreas, mas o seu enfoque sobre os custos merece mais atenção da contabilidade. Na década de sessenta, Baumol, juntamente com Bowen, notou que em alguns setores os custos aumentavam mais do que a inflação, de maneira persistente. Ele citava saúde e educação como exemplos. Baumol mostrava que nestes setores os ganhos com produtividade eram difíceis de serem incorporados ao processo econômico. Já comentamos diversas vezes sobre isto neste blog.
P.S. Não descarto uma premiação para as pesquisas sobre economia e rede social
01 outubro 2016
Fato da Semana: Contas do setor público
Fato: Contas do Setor Público
Data: 30 setembro de 2016
Descrição do Fato
O déficit primário de agosto foi de 22 bilhões. Em doze meses o déficit é de 169 bilhões, fortemente influenciado pelo resultado de dezembro.
Explicações para o Déficit
Existem diversas causas para o déficit do setor público. Podemos citar entre elas:
A redução da receita do governo, em razão da recessão e da concessão de uma série de benefícios para empresas e setores, da frustração na venda de ativos e da redução dos dividendos das empresas estatais.
Durante os últimos anos os salários do pessoal do setor público cresceu bem acima da inflação e do setor privado. Além disto, aumentaram o número de pessoas contratadas. Na realidade, o setor público não consegue obter ganhos de produtividade.
A sociedade brasileira fez uma opção de participação do estado em setores cujo crescimento dos gastos é tradicionalmente superior aos outros setores. Vide os ensinamentos de Baumol sobre este assunto.
As empresas estatais são ineficientes e a participação do setor público na economia é desastroso, incentivando ineficiências e gastos questionáveis. (Isto inclui a nossa previdência)
Notícia boa para contabilidade? Não
A contabilidade pública parece não ajudar a sociedade a controlar o tamanho do estado, impedindo crises como esta. Pelo contrário, a nossa contabilidade pública é obscura, atrasada, legalista, pouco informativa, baseada numa teoria ultrapassada e com pouca perspectiva de mudança deste perfil.
Desdobramentos
Com respeito ao déficit, levaremos anos para corrigir os erros grosseiros cometidos nos últimos anos. Não consigo ver algo positivo sendo apresentado nos próximos anos.
Mas a semana só teve isto?
A crise do banco alemão Deustche, que não começou agora, mas está se agravando, talvez traga consequências serias para a economia mundial.
Data: 30 setembro de 2016
Descrição do Fato
O déficit primário de agosto foi de 22 bilhões. Em doze meses o déficit é de 169 bilhões, fortemente influenciado pelo resultado de dezembro.
Explicações para o Déficit
Existem diversas causas para o déficit do setor público. Podemos citar entre elas:
A redução da receita do governo, em razão da recessão e da concessão de uma série de benefícios para empresas e setores, da frustração na venda de ativos e da redução dos dividendos das empresas estatais.
Durante os últimos anos os salários do pessoal do setor público cresceu bem acima da inflação e do setor privado. Além disto, aumentaram o número de pessoas contratadas. Na realidade, o setor público não consegue obter ganhos de produtividade.
A sociedade brasileira fez uma opção de participação do estado em setores cujo crescimento dos gastos é tradicionalmente superior aos outros setores. Vide os ensinamentos de Baumol sobre este assunto.
As empresas estatais são ineficientes e a participação do setor público na economia é desastroso, incentivando ineficiências e gastos questionáveis. (Isto inclui a nossa previdência)
Notícia boa para contabilidade? Não
A contabilidade pública parece não ajudar a sociedade a controlar o tamanho do estado, impedindo crises como esta. Pelo contrário, a nossa contabilidade pública é obscura, atrasada, legalista, pouco informativa, baseada numa teoria ultrapassada e com pouca perspectiva de mudança deste perfil.
Desdobramentos
Com respeito ao déficit, levaremos anos para corrigir os erros grosseiros cometidos nos últimos anos. Não consigo ver algo positivo sendo apresentado nos próximos anos.
Mas a semana só teve isto?
A crise do banco alemão Deustche, que não começou agora, mas está se agravando, talvez traga consequências serias para a economia mundial.
18 novembro 2015
Lote Econômico de Compra e o Setor Público
Há exatos cem anos, Harris desenvolveu um modelo para determinar a quantidade de estoque que uma empresa deveria adquirir. O Lote Econômico de Compra (LEC) é um modelo útil, elaborado a partir da quantidade vendida de um produto num período de tempo e de um conjunto de suposições sobre a realidade. Para usar o modelo é necessário determinar o custo que a empresa possui na estocagem do produto, incluindo espaço físico e mão de obra, e o custo de se fazer um pedido ou custo de estocagem e custo do pedido, na ordem.
Durante anos o LEC era o parâmetro usado pelas melhores organizações mundiais na sua gestão de estoques. Mas na década de setenta as empresas japonesas começaram a dominar diversos setores industriais com uma visão aparentemente divergente do LEC. Estas empresas buscavam eliminar o estoque, trabalhando com poucos fornecedores, reduzindo as perdas no processo produtivo e a movimentação dos estoques durante a produção. Os analistas começaram a estudar o fenômeno e descobriram que o LEC estava sendo utilizado de maneira inadequada. De um lado, o custo de estocagem era subestimado ao ser inserido na fórmula; por outro lado, com a redução do número de fornecedores, o custo do pedido poderia ser reduzido. A combinação do aumento do custo de estocagem e a redução do custo do pedido fizeram com que a quantidade apurada no lote econômico de compra fosse bem menor que no passado. Assim, ao contrário de existir uma incompatibilidade entre o LEC e os métodos de produção consolidados no Japão, o tempo mostrou que o modelo continuava válido. (1)
A persistência do LEC na gestão dos estoques tem uma grande razão de ser. Durante anos, os estudiosos mostraram que o LEC poderia ser adaptado a diferentes situações reais. Existe inflação? É possível considerar a variação de preços dos estoques no modelo, levando em consideração os ganhos e perdas de estocagem. O custo de suprir uma empresa com todos os modelos de um produto é elevado? Desenvolveu-se um LEC onde o custo da falta pode ser inserido no modelo. O fornecedor oferece desconto para compras em grande quantidade? Basta ajustar o modelo a estas situações. Até em situações fora do contexto o LEC já foi usado. Baumol tomou a ideia central do modelo para construir uma explicação para a demanda de moeda e gestão de caixa numa empresa.
O lote econômico de compra também ajuda a explicar as situações reais. É o caso do setor público, onde o processo de aquisição de uma mercadoria passa por uma série de trâmites, que inclui a licitação, o pagamento e o recebimento do estoque. Para uma compra não basta encaminhar uma mensagem ao fornecedor para ser atendido. É necessário aprovar dentro da entidade uma solicitação de aquisição, dar publicidade ao ato, fazer a seleção e receber os itens, num processo que leva meses para ser concluído. O resultado disto é que o custo do pedido é muito mais alto que numa empresa privada. Afinal, as normas (e os órgãos de controle), em nome da defesa do bem público, impuseram uma série de procedimentos ao gestor.
Se o custo do pedido é elevado, isto significa que a quantidade adquirida em cada lote de compra deve ser maior. Ou seja, se faz menos compras, com quantidades maiores. O problema é que ao contrário do LEC, que busca o menor custo na gestão dos estoques, o foco no custo do pedido não significa “economicidade”, uma palavra muito usada na área pública. Pelo contrário. Como o custo de estocagem não é observado nos controles compra-se muito, sem o controle dos locais de armazenagem, com grandes perdas de recursos do contribuinte.
Talvez a primeira medida para tentar resolver esta distorção seja estudar este fenômeno. (2) Afinal, só podemos gerenciar aquilo que conseguimos medir. A seguir, procurar simplificar o processo de compras no setor público. Isto inclui a mudança nas normas e a mudança na filosofia dos controles impostos à gestão pública.
Um caminho longo, sem dúvida.
(1) Esta discussão está no livro Administração do Capital de Giro, de Assaf Neto e Silva, Editora Atlas.
(2) Isto é uma provocação aqueles que pesquisam ou pretendem pesquisar na área.
Durante anos o LEC era o parâmetro usado pelas melhores organizações mundiais na sua gestão de estoques. Mas na década de setenta as empresas japonesas começaram a dominar diversos setores industriais com uma visão aparentemente divergente do LEC. Estas empresas buscavam eliminar o estoque, trabalhando com poucos fornecedores, reduzindo as perdas no processo produtivo e a movimentação dos estoques durante a produção. Os analistas começaram a estudar o fenômeno e descobriram que o LEC estava sendo utilizado de maneira inadequada. De um lado, o custo de estocagem era subestimado ao ser inserido na fórmula; por outro lado, com a redução do número de fornecedores, o custo do pedido poderia ser reduzido. A combinação do aumento do custo de estocagem e a redução do custo do pedido fizeram com que a quantidade apurada no lote econômico de compra fosse bem menor que no passado. Assim, ao contrário de existir uma incompatibilidade entre o LEC e os métodos de produção consolidados no Japão, o tempo mostrou que o modelo continuava válido. (1)
A persistência do LEC na gestão dos estoques tem uma grande razão de ser. Durante anos, os estudiosos mostraram que o LEC poderia ser adaptado a diferentes situações reais. Existe inflação? É possível considerar a variação de preços dos estoques no modelo, levando em consideração os ganhos e perdas de estocagem. O custo de suprir uma empresa com todos os modelos de um produto é elevado? Desenvolveu-se um LEC onde o custo da falta pode ser inserido no modelo. O fornecedor oferece desconto para compras em grande quantidade? Basta ajustar o modelo a estas situações. Até em situações fora do contexto o LEC já foi usado. Baumol tomou a ideia central do modelo para construir uma explicação para a demanda de moeda e gestão de caixa numa empresa.
O lote econômico de compra também ajuda a explicar as situações reais. É o caso do setor público, onde o processo de aquisição de uma mercadoria passa por uma série de trâmites, que inclui a licitação, o pagamento e o recebimento do estoque. Para uma compra não basta encaminhar uma mensagem ao fornecedor para ser atendido. É necessário aprovar dentro da entidade uma solicitação de aquisição, dar publicidade ao ato, fazer a seleção e receber os itens, num processo que leva meses para ser concluído. O resultado disto é que o custo do pedido é muito mais alto que numa empresa privada. Afinal, as normas (e os órgãos de controle), em nome da defesa do bem público, impuseram uma série de procedimentos ao gestor.
Se o custo do pedido é elevado, isto significa que a quantidade adquirida em cada lote de compra deve ser maior. Ou seja, se faz menos compras, com quantidades maiores. O problema é que ao contrário do LEC, que busca o menor custo na gestão dos estoques, o foco no custo do pedido não significa “economicidade”, uma palavra muito usada na área pública. Pelo contrário. Como o custo de estocagem não é observado nos controles compra-se muito, sem o controle dos locais de armazenagem, com grandes perdas de recursos do contribuinte.
Talvez a primeira medida para tentar resolver esta distorção seja estudar este fenômeno. (2) Afinal, só podemos gerenciar aquilo que conseguimos medir. A seguir, procurar simplificar o processo de compras no setor público. Isto inclui a mudança nas normas e a mudança na filosofia dos controles impostos à gestão pública.
Um caminho longo, sem dúvida.
(1) Esta discussão está no livro Administração do Capital de Giro, de Assaf Neto e Silva, Editora Atlas.
(2) Isto é uma provocação aqueles que pesquisam ou pretendem pesquisar na área.
10 outubro 2015
Previsões para o Nobel de Economia 2015
Segue a lista dos possíveis ganhadores do Nobel de Economia Wall Street Journal:
.
Economia Ambiental: Martin Weitzman (Harvard) e William Nordhaus (Yale University) ou Sir Partha Dasgupta (Cambridge University)
Empreendedorismo, economia da saúde e economia ambiental: William Baumol (NYU)
Finanças: Stephen Ross (MIT) ou David Kreps (Stanford University).
Ciclo de Crédito: Nobuhiro Kiyotaki (Princeton) and John Moore ( London School of Economics)
Exitem muitos outros economistas com contribuições importantes em outras áreas. O que é certo é que um dia o economista turco do MIT, Daron Acemoglu, ganhará o Nobel em Economia.
.
Teoria do Crescimento: Paul Romer (NYU) e Robert Barro (Harvard)
Desigualdade de Renda: Sir Anthony Atkinson (Oxford University) e Angus Deaton (Princeton University).
Econometria: SirDavid Hendry (Oxford University) , Hashem Pesaran (University of Southern California) e Peter C.B. Phillips (Yale University).
Economia Ambiental: Martin Weitzman (Harvard) e William Nordhaus (Yale University) ou Sir Partha Dasgupta (Cambridge University)
Política Monetária: Michael Woodford (Columbia University), Ben Bernanke (Columbia University) e Lars Svensson (Columbia University) ou John Taylor (Stanford University).
Empreendedorismo, economia da saúde e economia ambiental: William Baumol (NYU)
Finanças: Stephen Ross (MIT) ou David Kreps (Stanford University).
Ciclo de Crédito: Nobuhiro Kiyotaki (Princeton) and John Moore ( London School of Economics)
Economia Comportamental: Paul Milgrom (Stanford University), Richard Thaler (University of Chicago), John Geanakoplos (Yale University) e David Card (University of California, Berkeley).
Mercado de Trabalho: Alan Krueger (Princeton University)
Exitem muitos outros economistas com contribuições importantes em outras áreas. O que é certo é que um dia o economista turco do MIT, Daron Acemoglu, ganhará o Nobel em Economia.
13 outubro 2014
Previsões para o Nobel de Economia 2014
On Monday, the Royal Swedish Academy of Sciences will name its choice for the Nobel Prize in economics. In the run-up to that announcement, analysts and economists are engaged in some forecasting of their own about who might win.
The prize—officially the Sveriges Riksbank Prize in Economic Sciences in Memory of Alfred Nobel—was established in 1968 and is worth around $1.1 million. The shortlist seems to grow a little longer every year.
News and data firm Thomson Reuters publishes predictions every year of Nobel laureates based on the number of research citations those academics receive. This year, their frontrunners for the prize include Philippe Aghion of Harvard University and Peter Howitt of Brown University for their work advancing the growth theory of creative destruction.
William Baumol and Israel Kirzner, both of New York University, are also atop the Thomson Reuters slate for their research on entrepreneurship.
Tyler Cowen of George Mason University is also predicting Mr. Baumol—and possibly William Bowen, the former president of Princeton University—for their work on cost disease, or the phenomenon in which labor costs rise without a corresponding increase in output.
Mr. Baumol’s name comes up in a 1990 study by Eugene Garfield handicapping potential Nobel laureates-to-be. Garfield lists 50 of the most-cited economists between 1966 and 1985, of which 15 had already won the prize. Thomson Reuters notes that Mr. Baumol is 10th on that list, and that only one other economist—Martin Feldstein of Harvard University—is still living and has not won the prize.
Other perennial favorites for the study of economic growth include Paul Romer of NYU and Robert Barro of Harvard. Mr. Barro currently ranks No. 2 in research citations on a database maintained by the Federal Reserve Bank of St. Louis, behind his Harvard colleague Andrei Shleifer.
If the Nobel committee looks to award work on finance and regulation, Jean Tirole at theToulouse School of Economics is often mentioned.
Income inequality has been a hot topic this year, and Oxford’s Sir Tony Atkinson andAngus Deaton of Princeton have in the past been seen as frontrunners in this strand of the economics field.
Thomson Reuters also tabs a sociologist—Mark Granovetter of Stanford University—on its list for his study that the role of social relationships and networks play “a larger role in transactions than admitted in idealized narratives of rational choice with perfect information.”
Since 2002, the Thomson Reuters exercise has identified 36 eventual Nobel laureates in economics, chemistry, physics and medicine. This year, one of the awardees for the Nobel in physics—Shuji Nakamura—had been tabbed by the Thomson Reuters analysis in 2002 as a potential winner.
The WSJ’s Jon Hilsenrath mused earlier this month about whether former Fed Chairman Ben Bernanke might win for his work with NYU professors Mark Gertler andSimon Gilchrist, which looked at the damage done to the broader economy by convulsions in credit markets.
Last year, the prize went to a trio of American scholars—Eugene Fama and Lars Peter Hansen of the University of Chicago and Robert Shiller of Yale University—for their complementary but independent work on asset-price analysis.
Fonte: aqui
26 setembro 2014
Candidatos ao Nobel
A Thomas Reuters já escolheu os favoritos ao Nobel. Para a área de Economia são citados os possíveis vencedores:
1) Philippe Aghion e Peter Howitt - trabalho sobre destruição criativa;
2) William Baumol e Israel Kirzner - estudos sobre empreendedorismo
3) Mark Granovetter (foto) - sobre as iterações econômicas, redes sociais e relações sociais
1) Philippe Aghion e Peter Howitt - trabalho sobre destruição criativa;
2) William Baumol e Israel Kirzner - estudos sobre empreendedorismo
3) Mark Granovetter (foto) - sobre as iterações econômicas, redes sociais e relações sociais
12 fevereiro 2014
Resenha: The Cost Disease
Este livro de William Baumol é uma boa oportunidade para aqueles que não conhecem o teorema de Baumol-Bowen. Na década de sessenta estes dois pesquisadores constataram um aspecto importante ao analisar o desempenho nas artes: não era possível perceber a contribuição dos ganhos de produtividade neste setor. Usando um exemplo simples, no século dezoito era necessário um número de músicos para executar uma obra de Mozart. Mais de duzentos anos depois, a obra de Mozart continua demandando a mesma quantidade de músicos.
Baumol e Bowen notaram que em alguns setores a introdução das máquinas não estava influenciando a forma como a tarefa era executada. Nos dias de hoje, a popularização dos computadores pode aumentar a produtividade da indústria e de algumas prestações de serviços, mas não afetam estes setores. Uma consequência imediata deste ponto é que os preços destes setores imunes às máquinas tendem a aumentar acima da inflação. Já os setores onde ocorrem ganhos de produtividades, os preços historicamente aumentam abaixo da inflação.
Neste livro, escrito quase cinquenta anos após o teorema de Baumol-Bowen, o assunto é novamente discutido. Como o próprio título afirma, o foco é no aumento do custo da saúde. Baumol procura explicar a razão pela qual os computadores estão cada vez mais baratos, enquanto o custo da saúde é cada vez maior. A explicação encontra-se no teorema de décadas atrás. E os dados apresentados mostram que a previsão de Baumol e Bowen estava correta, não importa o país ou o período de tempo.
Um aspecto interessante para pensar no futuro das finanças públicas do Brasil: dentre os setores citados onde não ocorrem ganhos de produtividade, Baumol destaca saúde e educação. Justamente dois setores que mais recebem atenção dos governos brasileiros. Continuando a tendência anunciada por Baumol, isto significa que estes setores irão demandar gastar crescentes do Estado. Fica aqui um questionamento se os estudos de Baumol seriam uma boa justificativa para um comportamento já constatado há décadas nas finanças públicas: a participação crescente dos gastos públicos na economia. Ou lei de Wagner.
O livro é composto de 12 capítulos, distribuídos em cerca de 180 páginas e quase 70 de notas, citações e índice. É um livro pequeno, fácil de ler. Entretanto, um pouco repetitivo na sua mensagem. Para quem não conhece ou não tem acesso ao livro original, trata-se de uma referência importante no estudo de custos do setor de saúde. Nesta área, assim como na área de educação, é uma obra fundamental.
Se decidir comprar o produto, sugerimos escolher um de nossos parceiros. O blog é afiliado aos seguintes programas:
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Americanas
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SouBarato.com.br
Vale a pena? Somente para aqueles que estudam custos no setor de saúde e educação.
Baumol e Bowen notaram que em alguns setores a introdução das máquinas não estava influenciando a forma como a tarefa era executada. Nos dias de hoje, a popularização dos computadores pode aumentar a produtividade da indústria e de algumas prestações de serviços, mas não afetam estes setores. Uma consequência imediata deste ponto é que os preços destes setores imunes às máquinas tendem a aumentar acima da inflação. Já os setores onde ocorrem ganhos de produtividades, os preços historicamente aumentam abaixo da inflação.
Neste livro, escrito quase cinquenta anos após o teorema de Baumol-Bowen, o assunto é novamente discutido. Como o próprio título afirma, o foco é no aumento do custo da saúde. Baumol procura explicar a razão pela qual os computadores estão cada vez mais baratos, enquanto o custo da saúde é cada vez maior. A explicação encontra-se no teorema de décadas atrás. E os dados apresentados mostram que a previsão de Baumol e Bowen estava correta, não importa o país ou o período de tempo.
Um aspecto interessante para pensar no futuro das finanças públicas do Brasil: dentre os setores citados onde não ocorrem ganhos de produtividade, Baumol destaca saúde e educação. Justamente dois setores que mais recebem atenção dos governos brasileiros. Continuando a tendência anunciada por Baumol, isto significa que estes setores irão demandar gastar crescentes do Estado. Fica aqui um questionamento se os estudos de Baumol seriam uma boa justificativa para um comportamento já constatado há décadas nas finanças públicas: a participação crescente dos gastos públicos na economia. Ou lei de Wagner.
O livro é composto de 12 capítulos, distribuídos em cerca de 180 páginas e quase 70 de notas, citações e índice. É um livro pequeno, fácil de ler. Entretanto, um pouco repetitivo na sua mensagem. Para quem não conhece ou não tem acesso ao livro original, trata-se de uma referência importante no estudo de custos do setor de saúde. Nesta área, assim como na área de educação, é uma obra fundamental.
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