É muito comum textos enaltecendo o empreendedorismo de alguns, indicando que qualquer um pode ser um sucesso como empresário. Este é o exemplo do texto de 22 de março do Valor Econômico, com o título de “sucesso de startups anima acadêmicos a empreenderem” (Jacílio Saraiva, p. B2). O título já resume a tônica do texto: qualquer um pode ser empreendedor de sucesso.
Um problema deste tipo de texto é não considerar o viés de sobrevivência. Provavelmente o jornalista entrevistou algum empresário que ainda não fechou as portas. Isto dá um ideia errada de que o mundo dos negócios é feito de sucesso, quando na realidade o fracasso é a regra mais comum.
Outro ponto crucial é imaginar que todo mundo deve ser um empreendedor. Como destaca este um texto do El País: Nos estamos maleducando al pensar que todo el mundo tiene que ser emprendedor” . Nem todos as ideias novas são geniais e não basta ter uma ideia genial para ser um empreendedor de sucesso.
O Presh Talwalkar do Mind Your Decisions fez uma análise interessante sobre a febre de conselhos de especialistas. As pessoas de sucesso recebem toda a atenção: de atletas campeões a líderes de sucesso. Então o que há de errado em copiar uma estratégia que alguém já provou que ela funciona?
A base foi o seguinte vídeo (há legendas em inglês, mas não em português):
Eis um sumário:
Copiar pessoas de sucesso é um erro pois pessoas bem-sucedidas são amostras aleatórias. Para avaliar uma estratégia, você precisa considerar os resultados típicos. Assim como você não julgaria uma dieta com base em algumas histórias de sucesso, você não deveria acreditar em uma estratégia de negócios com base em algumas poucas empresas lucrativas.
1. Pegue o e-mail de 50.000 pessoas e afirme ser capaz de prever o mercado acionário.
2. Para a metade das pessoas, fale que o mercado ficará estacionário ou subirá; para a outra metade diga que o mercado cairá.
3. Após uma semana, o mercado seguirá uma das duas previsões. Agora, então, siga com as 25.000 pessoas que receberam a previsão correta.
4. Repita o processo: mande para metade das pessoas uma previsão de que o mercado se manterá estável ou aumentará; envie para a outra metade uma previsão de que o mercado acionário cairá.
5. Repita o processo ao remover as pessoas que receberam a previsão errada.
6. Após 10 semanas haverá 50 pessoas que receberam apenas informações corretas e pensarão que o seu sistema de previsão funciona. Se cada um deles investir RS10.000, você poderá arrecadar RS 500.000.
O grupo que recebeu apenas previsões perfeitas só estará considerando o seu sucesso e não o processo como um todo, que teve várias falhas ao longo do caminho. Focar apenas os itens que “sobreviveram” a filtragem semanal é um exemplo de viés de sobrevivência.
Presh Talwalkar ressalta que no livro “Em Busca da Excelência” (Tom Peters, Robert H. Waterman) os autores descrevem 8 traços de sucesso de um grupo de 50 empresas utilizando dados de 1961 a 1980. Um estudo observou 35 empresas de capital aberto desde a publicação do livro, em 1982, até o fim de 2012. As companhias como um todo não tiveram um bom desempenho: 20 tinham retornos de mercado abaixo da média e 5 abriram falência.
Talwalkar afirma que por causa do viés de sobrevivência você deve ser cético a respeito de resultados baseados em uma amostra completamente aleatória. Você deverá analisar a estratégia com base em falhas e sucessos. Por exemplo, diversas pessoas seguem uma dieta da moda porque outras pessoas perderam vários quilos com ela. Esse comportamento ignora as falhas previsíveis de dietas da moda: se alguma delas funcionou antes, não haveria a necessidade de um novo tipo de dieta.
A maioria das pessoas cai no viés da sobrevivência e, então, aparecem várias reportagens e livros com conselhos enganosos do porquê se copiar pessoas de sucesso.