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17 abril 2012

Distribuição do valor adicionado


Definição – Aqui temos um conjunto de índices. Trata-se da mensuração da distribuição do valor adicionado entre os recursos humanos, o governo, o capital de terceiros e o capital próprio.

Fórmulas

Distribuição aos Recursos Humanos = (Distribuição do Valor Adicionado ao Pessoal / Valor Adicionado Total a Distribuir) x 100
Distribuição ao Governo = (Distribuição do Valor Adicionado ao Governo/Valor Adicional Total a Distribuir) x 100
Remuneração ao Capital de Terceiros = (Remuneração ao Capital de Terceiros/Valor Adicional Total a Distribuir) x 100
Remuneração ao Capital Próprio = (Remuneração ao Capital Próprio/Valor Adicional Total a Distribuir) x 100

Sendo
Valor Adicionado Total a Distribuir = corresponde ao valor adicionado líquido produzido pela empresa somado com receitas financeiras e resultado de equivalência patrimonial. Corresponde ao que foi adicionado pela empresa na economia, retirado a depreciação, amortização e exaustão.
Distribuição do Valor adicionado ao Pessoal = refere-se a remuneração direta, os benefícios, FGTS e outros.
Distribuição do Valor Adicionado ao Governo = corresponde ao que a empresa distribuiu da sua geração de riqueza ao governo, sob a forma de impostos, taxas e contribuições (federais, estaduais e municipais).
Remuneração ao Capital de Terceiros = é a soma dos juros e alugueis que a empresa distribuiu para terceiros.
Remuneração ao Capital Próprio = compreende os dividendos, juros sobre capital próprio e lucros retidos no período.

Unidade de Medida – em percentual.

Intervalo da medida – Espera-se que os valores sejam positivos. Entretanto, podem ocorrer valores negativos em certas situações. A soma dos valores deve ser igual a 100%.

Como calcular – Os valores são apresentado na Demonstração do Valor Adicionado (DVA).
A figura abaixo apresenta um extrato da DVA da Companhia deBebidas das Américas Ambev para 2010 e 2011.

Em 2011 a empresa gerou 27 bilhões de reais em valor adicionado antes da distribuição. Os índices seriam calculados da seguinte forma:

Distribuição aos Recursos Humanos = (2 660 781/27 088 199) x 100 = 9,82%

Distribuição ao Governo = (14 371 578 / 27 088 199) x 100 = 53,05%

Remuneração ao Capital de Terceiros = (1336 076/27 088 199) x 100 = 4,93%

Remuneração ao Capital Próprio = (8719 764 / 27 088 199) x 100 = 32,19%

Isto significa dizer que o governo ficou com 53% do valor adicionado pela empresa, majoritariamente federal e estadual. Cerca de um terço foi para o capital próprio e o restante para os recursos humanos e o capital de terceiros. A participação do governo decorre do setor de atuação da empresa, que é muito tributado.

Grau de utilidade – Moderado. Existem quatro razões para isto. Esta demonstração é obrigatória somente para algumas empresas. Segundo, poucos países adotam, de maneira compulsória, esta informação. Isto limita sua utilidade em termos comparativos. Em terceiro lugar, é uma informação nova, com uma base de dados reduzida. Finalmente, os analistas estão despreparados para usá-la.

Controvérsia de Medida – Alguma. Na economia não se considera que o setor financeiro adicione valor para economia; para este setor, a DVA deve ser usada com ressalvas.

Observações Adicionais
a)     Assim como em outros índices é importante observar os fatores que compõe cada um dos valores. Na remuneração do capital próprio do exemplo apresentado a maior parcela de valor refere-se ao lucro retido na empresa, sendo a distribuição de dividendos correspondente a R$2 bilhões.
b)     Setores com elevadas alíquotas, com é o caso de bebidas e cigarros, deverão ter uma grande distribuição do resultado para governo. A DVA evidencia o esforço de arrecadação deste setor. Entretanto, muitos dos impostos correspondem a valores que são repassados para os clientes, sendo a empresa um “posto fiscal” do governo.
c)     A composição da distribuição do valor agregado pode sofrer influencia do ciclo de vida da empresa. Assim, empresas em fase de implantação, talvez tenham uma distribuição ao governo menor que as empresas já instaladas.
d)     Algumas distribuições de valor adicionado são mais flexíveis, podendo sofrer mais variações ao longo do tempo. O pagamento de impostos, que faz parte da distribuição ao governo, provavelmente deverá ser relativamente constante ao longo do tempo. Já a remuneração do capital próprio, que depende do resultado da empresa, deve sofrer mais variações ao longo do tempo.


Esta é uma série de textos sobre os principais índices usados na análise das demonstrações contábeis.  Outros textos publicados foram: Dividendo por lucro, Lucro por açãoPreço sobre vendasDividend yieldCapital Circulante LíquidoCusto da DívidaInvestimento sobre DepreciaçãoComposição do EndividamentoCobertura de dívida,. Cobertura de investimentoPrazo de Pagamento a Fornecedores,  Taxa de QueimaPrazo de EstocagemValor Adicionado sobre ReceitaMargem LíquidaGiro do AtivoP/LRSPLEndividamento OnerosoEndividamentoFluxo de Caixa LivreEbitdaMargem OperacionalNIG sobre VendasValor do EmpreendimentoCapitalizaçãoMargem BrutaROI e Liquidez Corrente

09 janeiro 2012

Quem ganha com a produção de iPad e iPhone 4?

Estudo mostra que a montagem do Ipad e Iphone agrega pouco valor para a economia chinesa. Embora os produtos da Apple, incluindo a maioria dos seus componentes, sejam fabricados na China, os principais benefícios vão para a economia dos EUA, pois a Apple continua a manter o design do produto, desenvolvimento de software, gerenciamento do produto, marketing e as funções com altos salários nos EUA .Ou seja, a empresa continua a capturar a maior parte do valor de suas inovações. Outros países estão a frente da China, em termos de adição de valor à suas economias, através da produção de componentes eletrônicos. Um bom exemplo é o caso da FoxConn, que é de Taiwan, mas mantém suas fábricas na China Ocidental.

No caso de um Ipad 16 GB WI-FI,do valor total de US$ 499 , a empresa do Vale do Silício, fica com cerca de 30% de US$ 424 (preço de atacado) .Temos ainda 31% (US$ 154,69) do custo dos insumos e mão-de-obra direta , dos quais a China fica com apenas 8 dólares (1,8% do total). No caso do Iphone 4, a Apple fica com 58% de 549 dólares, temos ainda 21,9% do custos dos insumos e mão-de-obra direta , dois quais apenas 10 dólares vão para o pagamento dos trabalhadores chineses. O valor final recebido do Iphone é superior ao do Ipad, pois o cliente não paga diretamente a Apple, já que existe contrato com uma empresa de telecomunicação, em troca de subsídio. O preço de venda ao cliente do Iphone 4, em 2010, era de 199 dólares, todavia, a Apple recebe 549 dólares, já que 350 são oriundos do subsídio recebido de empresas como AT&T e Verizon. Assim, retirando todos os outros custos a empresa fica com 321 dólares, ou 58% de US$ 549.


Depois da Apple, os maiores beneficiários desta cadeia de suprimento são empresas sul-coreanas, como LG e Samsung, que fornecem as telas e os cartões de memória, e cujo lucro bruto representam 5% e 7%, respectivamente, do preço de venda para o iPhone e iPad. Os fornecedores japonese e taiwaneses capturam de 1 a 2% cada.





É bom ressaltar que não há nenhum fornecedor chinês para o Ipad ou Iphone. Ou seja, o maior benefício para a economia chinesa são os salários pagos para seus trabalhadores. Muitos componentes, como baterias e telas sensíveis ao toque, recebem o tratamento final na China, em fábricas de propriedade de empresas estrangeiras. Estima-se que 10 dólares ou menos vão para o pagamento da mão-de-obra direta dos chineses. Assim, enquanto cada unidade vendida nos EUA acrescenta de 229 a 275 dólares para o déficit comercial entre EUA e China, a parte retida na economia chinesa, é uma pequena fração desse montante:10 dólares para o Iphone e 8 para o Ipad.


Em suma, a montagem de produtos eletrônicos agrega pouco valor à economia de um país, e por consequência não é o caminho mais saudável para o desenvolvimento econômico e de expansão de conhecimento produtivo. Ademais, não há relação entre agregação de valor e o local da produção, conforme foi mostrado no estudo.

01 junho 2010

Clube do bilhão

A receita somada dessas companhias não financeiras equivalia a US$ 470,4 bilhões em 2009, ou 30% do PIB (1)

As empresas bilionárias com ações em bolsa já faturam [2] o equivalente a quase um terço do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro [1]. São 85 companhias de capital aberto com receita líquida anual superior a US$ 1 bilhão e nove com ganho [2] acima de US$ 10 bilhões. A receita somada dessas companhias não financeiras foi de US$ 470,4 bilhões em 2009, ou 30% do PIB [1].

Em 2000, o Brasil tinha 39 empresas com faturamento líquido superior a US$ 1 bilhão - apenas a Petrobras estava acima de US$ 10 bilhões -, que somavam receitas correspondentes a a 17% do PIB. Desde o ano passado, a receita líquida da estatal do petróleo supera US$ 100 bilhões.

A explicação para esse avanço combina estabilidade político-econômica, captação de recursos na bolsa e crescimento doméstico [3]. Ao assumir seu papel de agente de financiamento, o mercado de capitais deu fôlego para as empresas brasileiras investirem, promoverem a consolidação setorial e ainda partir para aquisições de companhias internacionais. Desde sua retomada, a partir de 2004, o mercado já forneceu R$ 134,4 bilhões às empresas em emissões de novas ações.

Além de commodities como minérios, aço, petróleo, papel e celulose, outros setores foram à bolsa e financiaram sua expansão, muitas vezes internacional. O país tem hoje a maior companhia do mundo de carne bovina, a JBS, que abriu seu capital há pouco mais de três anos. A maior companhia de etanol é brasileira, a Cosan, que deve fechar em breve uma associação com a multinacional Shell.

Apesar do avanço significativo, o espaço para consolidação e crescimento no Brasil ainda é expressivo. Nos Estados Unidos, eram 934 companhias com receita anual superior a US$ 1 bilhão no ano passado e 210 com vendas líquidas superiores a US$ 10 bilhões. A soma das receitas dessas empresas chegava a 67% do PIB do país [1]. Há uma década, essa relação já estava em 64%.

"A retomada da atividade do mercado foi essencial para o país. A empresa brasileira hoje não precisa mais depender só das disponibilidades do empreendedor [4] para crescer", avalia o professor Antonio Carlos Rocca, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).


'Clube do bilhão' tem 85 empresas abertas no país
Graziella Valenti, de São Paulo – Valor Econômico - 01/06/2010


(1) Esta comparação não faz sentido. São coisas diferentes.
(2) Provavelmente diz respeito a receitas, não a faturamento
(3) Isto não seria uma boa justificativa, pois aumentaria o PIB, não necessariamente a receita
(4) E do capital bancário

25 agosto 2009

Valor Adicionado na Espanha

La forma como las empresas distribuyen el valor añadido en sus actividades constituye un aspecto intrínseco de la responsabilidad social corporativa principalmente por tratarse de una cuestión de equidad el reparto de las riquezas en la economía, además de los objetivos de satisfacción de las necesidades de los grupos de interés y otros aspectos. Entre los agentes que actúan para generar esa riqueza, los más susceptibles a sofreír reducciones en ese reparto son los empleados. Por otro lado se busca la maximización de los beneficios para aumentar la remuneración de los propietarios. En ese estudio se busca analizar la distribución del valor añadido entre empresas de España, con enfoque más detenido en la parcela distribuida a los salarios y la destinada a dividendos y reservas.

ANALISIS DE LA RESPONSABILIDAD SOCIAL DE EMPRESAS ESPAÑOLAS PARTIR DE LA DISTRIBUCIÓN DEL VALOR AÑADIDO - Selma Alves Dios (UFF) e Fernando Llena (UNIVERSIDAD DE ZARAGOZA)

Trabalho apresentado no Congresso USP de Contabilidade. A amostra do trabalho é de 25 empresas. O principal resultado do trabalho está na figura abaixo.



Como pode ser notado, a principal forma de distribuição do valor adicionado na Espanha são os salários.

08 junho 2009

Ignore os Investidores!

Segundo Justin Fox, em Ignore Your Investors!(Fortune, 8 de junho de 2009, 20, Volume 159; Issue 12) no passado o conceito de valor dos acionistas era um conceito que fazia sentido. As empresas estavam focadas em fazer o acionista feliz e aumentar o preço das ações. Mas hoje isto parece não ser verdade.

Mesmo Jack Welch, que comandou a General Electric, afirmou recentemente que esta é uma idéia estúpida.

A idéia de agregação de valor é antiga em finanças corporativas. Um livro publicado em 1976 – há mais de 30 anos – de James Porterfield, Decisões de Investimento e Custo de Capital, já comentava, no segundo capítulo, que está é a finalidade de uma empresa. Outros autores, como Rappaport – que é lembrado no texto de Fox – ajudaram a consolidar esta idéia.

Geralmente a idéia de agregação de valor era defendida em contraposição ao conceito contábil de lucro. Substituir a última linha da demonstração do resultado pelo fluxo de caixa descontado. De certa forma, esta discussão significava retirar a atenção para o desempenho do curto prazo e focar no desempenho de longo prazo.

Fox faz uma pergunta interessante: por que aconteceram os problemas recentes com as empresas? Fox lembra que alguns dos problemas estão vinculados ao conceito de eficiência de mercado, desenvolvido na Universidade de Chicago.

A teoria da eficiência de mercado (EMH, como é conhecida) surgiu na década de sessenta e teve em Fama seu grande expoente. A idéia é que os preços das ações refletiam as informações existentes. E que estes preços eram uma síntese da perspectiva futura da empresa.

Mas as pesquisas mostraram que os preços refletem algo mais que o futuro de uma empresa. Variáveis comportamentais e até mesmo os próprios incentivos pagos aos executivos podem influenciar no preço das ações. Em outras palavras, o preço da ação talvez não seja um bom sinal em certas situações. Talvez.

18 agosto 2008

Mensuração no setor financeiro

“O resultado do setor financeiro é difícil de calcular. A definição usual considera o valor adicionado (...) Esses princípios funcionam bem para indústria, mas não para serviços financeiros.”

Statistics, damned statistics and value added - Financial Times 13 August 2008 – John Kay

03 julho 2007

Ipod


Um estudo da University of California procurou mostrar o valor por trás do iPod. (clique aqui para acesso ao estudo em pdf e aqui também, para um bom resumo de Hal Varian).

Mais do que confiar nos dados apresentados, o estudo mostra como é complexa a economia global e como é difícil traduzir esta complexidade nas estatísticas econômicas. Os autores usaram como parâmetro o iPod de 30 gigabite que custa 299 dólares. O item mais caro que compõe o produto é o hard drive, que é fabricado pela Toshiba, e custa $73. A Toshiba é uma empresa japonesa, que fabrica o hard drive na China. O hard drive representa 51% do custo das partes do iPod e a empresa tem uma margem de 26,5%. O display é fabricado pela Toshiba-Matsushita no Japão e representa 14%, com um custo de $20,39 dólares.

Usando as informações do custo do iPod, os pesquisadores mostraram que as empresas norte-americanas capturaram 163 dólares do produto. Já o Japão obteve $26 de valor adicionado. Entretanto, isto não é tão simples assim já que o resultado não fica necessáriamente nestes países.

Um bom estudo de caso para nossas aulas de custos.

23 abril 2007

Um país não é uma empresa

É muito comum encontrar frases comparando um país com uma empresa. Normalmente compara-se o faturamento de uma empresa com o PIB de um país. Por exemplo, Philip Hensher, no The Independent, afirma que o faturamento da Tesco, de 42 bilhões de libras, é superior ao PIB do Peru.

Ao criticar esta comparação, o blog Adam Smith afirma que o correto seria utilizar o lucro, em lugar do faturamento. Neste caso a posição da Tesco corresponderia a Bahamas.

Na verdade o lucro seria uma aproximação. O melhor seria o valor adicionado, obtido na DVA (Demonstração do Valor Adicionado).