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02 julho 2014

Pensar está se tornando algo obsoleto

Por Thomas Sowell

Embora seja humanamente impossível responder a todos os e-mails e cartas que os leitores me enviam, muitos deles são bastante interessantes e intelectualmente instigantes, tanto no sentido positivo quanto no sentido negativo.


Por exemplo, um jovem me enviou um e-mail pedindo as fontes em que eu havia me baseado para citar alguns fatos negativos sobre o desarmamento em um artigo recente.  É sempre bom checar os fatos — especialmente se você checar os fatos de ambos os lados da questão. 

Em contraste, um outro sujeito simplesmente me criticou por tudo o que eu havia dito nesse artigo.  Ele não pediu as minhas fontes e nem quis saber se elas existiam; ele simplesmente saiu fazendo afirmações em contrário, como se essas suas assertivas fossem automaticamente corretas pelo simples fato de estarem sendo pronunciadas por ele, algo que, em sua mente, invalidaria automaticamente tudo o que eu havia escrito.

Ele se identificou como médico, e as alegações que ele fez sobre armas eram as mesmas que haviam sido feitas anos atrás em uma revista médica — alegações que já foram inteiramente desacreditadas desde sua publicação.  Ele poderia ter aprendido isso caso houvesse me dado a oportunidade de responder às suas provocações, de um modo que nos engajássemos em um debate.  Porém, ele próprio deixou claro desde o início que sua carta não tinha o objetivo de gerar um debate, mas sim apenas de me acusar e me denunciar. 

Esse tipo de comportamento se tornou um procedimento padrão no mundo atual.

É sempre surpreendente — e apavorante — constatar quantos assuntos extremamente sérios não são discutidos seriamente hoje em dia; as pessoas simplesmente saem emitindo afirmativas e contra-afirmativas, tudo de maneira generalizada.  Seja em debates de internet ou até mesmo em programas de televisão, as pessoas simplesmente tentam calar seu opositor falando mais alto do que ele ou simplesmente recorrendo a frases de efeito de cunho emotivo.

Há inúmeras maneiras de fazer parecer que se está argumentando sem que na realidade se esteja produzindo absolutamente nenhum argumento coerente.

Décadas de educação escolar e universitária simplificada — para não dizer idiotizante — certamente têm algo a ver com a atual situação, mas isso não explica tudo.  A educação não somente foi negligenciada no sistema educacional atual, como também já foi quase que completamente substituída pela doutrinação ideológica.  A doutrinação que hoje é feita por professores e instituições supostamente educacionais é amplamente baseada na simples vocalização das mesmas pressuposições básicas e não-comprovadas de sempre.

Se as instituições educacionais de hoje — desde escolas a universidades — estivessem tão interessadas em diversidade de ideias quanto estão obcecadas com diversidade racial e sexual, os estudantes ao menos adquiririam experiência ao ver as pressuposições que existem por trás de diferentes visões, e entenderiam a função da lógica e da evidência ao debaterem tais diferenças.  No entanto, a realidade é que um estudante pode passar por todo o seu ciclo educacional, desde o jardim de infância até seu doutoramento, sem entrar em contato com absolutamente nenhuma visão de mundo que seja fundamentalmente diferente daquela que prevalece dentro do espectro de opiniões autorizadas e politicamente corretas que domina o nosso sistema educacional.

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No que mais, a perspectiva moral da visão ideológica predominante é completamente maniqueísta: as pessoas imbuídas dessas ideias realmente se veem como anjos combatendo todas as forças do mal — seja o assunto em questão o desarmamento, o ambientalismo, o racismo, o homossexualismo, o feminismo ou qualquer outro ismo.

Um monopólio moral é a antítese de um livre mercado de ideias.  Um indicativo desta noção de monopólio moral dentre a intelligentsia esquerdista é o fato de que as instituições que estão majoritariamente sob seu controle — escolas, faculdades e universidades — são justamente aqueles que usufruem muito menos liberdade de expressão do que o resto da sociedade.

Por exemplo, ao passo que a defesa e até mesmo a promoção da homossexualidade é comum nos campi universitários — e comparecer a palestras e aulas que fazem tal promoção é frequentemente algo obrigatório nos cursos introdutórios —, qualquer crítica ao comportamento homossexual é imediatamente rotulada de "reacionarismo", "preconceito" e "incitação ao ódio", sujeita a imediata punição.

Enquanto porta-vozes de vários grupos raciais e étnicos são livres para denunciar com veemência "os brancos" por seus pecados passados e presentes, verdadeiros ou imaginários, qualquer estudante branco que similarmente venha a denunciar as transgressões ou os desvarios de grupos não-brancos garantidamente será punido, se não expulso.

Até mesmo estudantes que não defendem ou não promovem absolutamente nada podem ter de pagar um preço caso não concordem com a lavagem cerebral que ocorre nas salas de aula.  Recentemente, nos EUA, um aluno da Florida Atlantic University que se recusou a pisotear um papel em que estava escrito a palavra "Jesus", a mando de seu professor, foi suspenso pela universidade.  Felizmente, a história veio a público e gerou uma onda de protestos fora do mundo acadêmico.

A atitude deste professor pode ser descartada e ignorada como sendo um caso isolado de extremismo, mas o fato é que o establishment universitário saiu solidamente em sua defesa e atacou implacavelmente o estudante.  Tal atitude mostra que a podridão moral que impera na academia vai muito mais além do que um simples professor adepto da doutrinação e da lavagem cerebral.

Estamos hoje vivenciando todo o esplendor do anti-intelectualismo que se espalhou por metástase ao longo de todo o mundo acadêmico.  As universidades se tornaram tão dominadas por uma insistência na inviolabilidade de um determinado pensamento grupal, que qualquer professor "forasteiro", que não compactue com a predominância deste pensamento gregário, não mais pode falar a respeito de um determinado assunto sem antes ter sido devidamente credenciado por seus pares.  Uma simples pesquisa sobre o tratamento dispensado a acadêmicos que ousam questionar a santidade do aquecimento global mostra bem esse ponto.

Já houve uma época em que um curso universitário era considerado um meio de introduzir as pessoas a uma ampla gama de assuntos que lhes permitiria pensar e falar inteligentemente sobre várias questões que estivessem afetando suas vidas.  O pensamento coletivista — que hoje é predominante no meio universitário — rejeita tal ideia, conferindo o monopólio de determinadas questões apenas àquelas pessoas que são reconhecidas como "especialistas" por seus pares.

Este método educacional que recorre à intimidação e à simples repetição de frases de efeito de cunho emocional evidencia a completa falência do sistema educacional.  Se professores universitários — teoricamente a nata intelectual da sociedade, pessoas que por vocação e profissão deveriam ser as mais rígidas seguidoras do rigor intelectual — agem assim, como podemos esperar que o restante da população apresente discernimentos mais profundos? 

Para sobreviver e progredir, seres humanos precisam saber pensar.  Porém, estamos cada vez mais terceirizando esta função para acadêmicos, que por sua vez pautam o conteúdo da mídia.  Tal terceirização de pensamento ajuda a explicar por que há hoje uma escassez de pensamentos originais e significativos. 

O fracasso do sistema educacional vai muito além da ausência de um aprendizado útil.  O real fracasso está naquilo que de fato é ensinado — ou melhor, doutrinado — nas salas de aula, algo evidenciado pelos formandos que as universidades cospem para o mundo, seres incapazes de apresentar qualquer resquício de pensamento original. 

Jamais se preocupe em se aprofundar em qualquer assunto: os "especialistas" cujos empregos se resumem a promover a agenda do establishment político e cultural já têm tudo explicado para você.

30 junho 2014

Afinal, quem são os racistas?




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Alguns anos atrás, uma pessoa disse que, de acordo com as leis da aerodinâmica, um abelhão não pode voar.  Mas os abelhões, alheios às leis da aerodinâmica, vão em frente, contrariam os dizeres dos especialistas, e voam assim mesmo.


Algo semelhante ocorre entre as pessoas.  Enormes e tediosos estudos acadêmicos, bem como melancólicos e sombrios editoriais de determinados jornais, são produzidos às pencas lamentando o fato de que a maioria das pessoas pobres e negras não consegue ascender socialmente, e que isso seria uma fragorosa demonstração de discriminação. 

O curioso é que, em vários países ao redor do mundo, inclusive naqueles países chamados de terceiro mundo, vários imigrantes extremamente pobres, principalmente oriundos da Ásia, não apenas conseguem prosperar mesmo sendo de uma cultura totalmente distinta, como também conseguem enriquecer sem jamais recorrer a favores especiais e a políticas de ação afirmativa.

Normalmente, estes imigrantes asiáticos chegam a um novo país praticamente sem nenhum dinheiro, sem nenhum conhecimento do novo idioma e sem nenhuma afinidade cultural.  Eles frequentemente começam trabalhando em empregos de baixa remuneração.  Mas trabalham muito.  A norma é trabalharem em mais de um emprego.  Trabalham tanto que conseguem poupar e, após alguns anos, utilizam esta poupança para empreender.  Muitos abrem um pequeno comércio, no qual continuam trabalhando longas horas e ainda continuam poupando, de modo que se tornam capazes de mandar seus filhos para a escola e para a faculdade.  Seus filhos, por sua vez, sabem que seus pais não apenas esperam, como também exigem, que eles sejam igualmente disciplinados, bons alunos e trabalhadores.

Vários intelectuais já tentaram explicar por que os imigrantes asiáticos são tão bem-sucedidos tanto em termos educacionais quanto em termos econômicos.  Frequentemente chega-se à conclusão de que eles possuem algumas características especiais.  Isso pode ser verdade, mas seu sucesso também pode ser atribuído a algo que eles não têm: "líderes" e autoproclamados porta-vozes lhes dizendo diariamente que são incapazes de prosperar por conta própria, que o sistema está contra eles, que eles não têm chance de ascender socialmente caso não sigam os slogans repetidos mecanicamente por estes líderes e sociólogos, e que por isso devem se juntar sob o rótulo de "vítimas do sistema" e exigir políticas especiais e tratamento diferenciado.

Vá a qualquer país, seja ele rico ou em desenvolvimento, e pesquise sobre a existência de "líderes" e de grupos de interesse voltados para a promoção de políticas de ação afirmativa para os asiáticos.  Você não encontrará.  Você não encontrará sociólogos dizendo que os imigrantes asiáticos, por serem minoria e por estarem culturalmente deslocados, estão em desvantagem e que por isso o governo deve criar leis de cotas para ajudá-los a ascender socialmente.

Infelizmente, é exatamente esta linha de raciocínio, só que em relação aos negros, que vem sendo diariamente propagada por acadêmicos e sociólogos irresponsáveis.  Eles são a versão humana das leis da aerodinâmica, que dizem precipitadamente que determinadas pessoas não podem ascender e prosperar a menos que haja um empurrão do governo.

Aquelas alegações morais que foram feitas no passado por gerações de genuínos líderes negros — alegações que acabaram por tocar a consciência de várias nações e que viraram a maré em prol dos direitos civis para todos — hoje foram desvalorizadas e apequenadas por uma geração de intelectuais, sociólogos e autoproclamados "líderes" de movimentos raciais que tratam os negros como seres abertamente incapazes de prosperar sem a ajuda destes pretensos humanistas, os quais agem abertamente de acordo com uma agenda política de escusos interesses próprios.

O que é perfeitamente perceptível é que, ao longo das gerações, as pessoas que dizem falar em prol do "movimento negro" sofreram uma mutação de caráter: se antes possuíam uma alma nobre, hoje não passam de charlatães descarados.  Após a implantação definitiva de políticas de ação afirmativa nos EUA, esses charlatães perceberam que era muito fácil ganhar dinheiro, poder e fama ao redor do mundo ao simplesmente se dedicarem à promoção de ações e políticas raciais que são totalmente contraproducentes aos interesses das pessoas que eles próprios dizem liderar e defender.

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No passado, vários outros grupos de imigrantes também representavam minorias que tinham tudo para ser consideradas oprimidas e discriminadas, pois chegavam a outros países quase sem nenhum dinheiro, com pouquíssima educação e com total desconhecimento da cultura local, mas que não obstante ascenderam por conta própria, muito provavelmente porque não foram "privatizadas" por líderes raciais.  Imigrantes e outras minorias que nunca tiveram "porta-vozes" e "líderes" raramente dependeram de subsídios do governo e quase sempre apresentaram altos níveis educacionais obtidos com o esforço próprio.

Grupos que ascenderam da pobreza à prosperidade raramente o fizeram por meio de líderes étnicos ou raciais.  Ao passo que é fácil citar os nomes de vários líderes do "movimento negro" ao redor do mundo, tanto atuais quanto os do passado, quantos são os lideres étnicos que defendem os interesses dos asiáticos ou dos judeus em países em que eles são a minoria?

Ninguém pode negar que há anti-semitismo e que já houve discriminação aos asiáticos.  Sempre houve.  Mas eles nunca seguiram "líderes" cujas mensagens e atitudes serviram apenas para mantê-los presos à condição de bovinos.

Essa postura de dizer aos seus "seguidores" que eles são mais atrasados, tanto econômica quanto educacionalmente, por causa de outros grupos "opressores" — e que, portanto, eles devem odiar estas outras pessoas — tem paralelos na história recente.  Essa foi a mesma motivação utilizada pelos movimentos anti-semita no Leste Europeu no período entre-guerras, pelos movimentos anti-Ibo na Nigéria na década de 1960, e pelos movimentos anti-Tamil, que fizeram com que o Sri Lanka, outrora uma nação pacífica e famosa por sua harmonia intergrupal, se rebaixasse, por influência de intelectuais, à violência étnica e depois se degenerasse em uma guerra civil que durou décadas e produziu indescritíveis atrocidades.

Será tão difícil entender, mesmo com todos os exemplos históricos, que o progresso não pode ser alcançado por meio de líderes raciais ou étnicos?  Tais líderes possuem incentivos em demasia para promover atitudes e políticas polarizadoras que são contraproducentes para as minorias que eles juram defender e desastrosas para o país.  Eles se utilizam das minorias para proveito próprio, atribuindo a elas incapacidades crônicas que supostamente só podem ser resolvidas por políticas que eles irão criar.  Eles são os verdadeiros racistas.