03 outubro 2024
Terceiro setor e custo-efetividade da doação
Um detalhe apenas: nem sempre uma doação "salva" uma vida, mas pode melhorar significativamente a qualidade de vida. Além disso, vale lembrar o texto de Scott Alexander sobre gastar dinheiro no capitalismo.
01 outubro 2024
OpenAI pode deixar de ser uma entidade sem fins lucrativos
Uma entidade, ao ser constituída, pode escolher o tipo de atuação que terá. Isso inclui as formas jurídicas, mas também se será uma entidade com ou sem fins lucrativos. A empresa OpenAI, que trouxe o ChatGPT, foi constituída como uma entidade sem fins lucrativos. Isso pode parecer estranho, mas foi a decisão dos seus fundadores.
Depois de lançar um produto de enorme sucesso, a OpenAI está planejando uma grande transformação: deixar de ser uma instituição sem fins lucrativos e tornar-se uma empresa com fins lucrativos. Sendo talvez a startup mais importante do mundo hoje, dominando um mercado enorme de IA, a mudança pode facilitar o processo de captação de recursos pela empresa.
Manter uma empresa de IA exige um grande volume de investimentos. Existe uma previsão de financiamento estimada em 150 bilhões de dólares, mas para isso deve ocorrer a mudança, conforme destacou a newsletter da Semafor. Na estrutura de empresa tradicional, o atual CEO, Sam Altman, teria uma participação entre 5% e 7%, e os acionistas, incluindo a Microsoft, também seriam recompensados.
05 junho 2024
Avançando nas normas do Terceiro Setor
Conforme já comentamos aqui, a Chartered Institute of Public Finance and Accountancy (CIPFA) está desenvolvendo um Guia para entidades sem fins lucrativos. Agora a entidade soltou um documento bastante amplo, com mais de 200 páginas, abrangendo muitos aspectos da contabilidade voltada para o terceiro setor. Mas percebi duas notas logo no início do documento que deixa mais claro que a norma não está sendo preparada ou endossada pelo IPSASB e pelo IASB. Nos documentos anteriores parecia existir uma insinuação de que a norma estava sendo apoiada pelas entidades. Era como se estas entidades estivessem delegado para o CIPFA a emissão de norma para o terceiro setor. Bom, agora isso ficou mais claro. A CIPFA usa as normas das entidades, especialmente de pequenas empresas, para construir seu texto. Reconhece esse uso logo no início do documento.
Em razão de usar as normas de pequenas e médias empresa, o documento informa o seguinte:
O projeto IFR4NPO buscou opiniões, através de um Documento de Consulta emitido em janeiro de 2021, sobre a proposta de que o IFRS para PMEs seja utilizado como base para um único conjunto de orientações autorizativas para ONGs.
Considerando o feedback da consulta, estão sendo propostas adaptações ao IFRS para PMEs para criar a Orientação Internacional de Contabilidade para Organizações Sem Fins Lucrativos (INPAG), como uma orientação específica para relatórios financeiros de ONGs.
O primeiro Rascunho de Exposição foi focado no quadro geral para relatórios financeiros de ONGs e foi emitido em novembro de 2022. O segundo Rascunho de Exposição foi focado em questões contábeis chave e, em particular, na contabilidade de subsídios e doações, e foi emitido em setembro de 2023. O Secretariado do INPAG está atualmente considerando o feedback fornecido pelos respondentes.
Este novo documento tem um foco mais específico:
No ED3, o foco está na apresentação das informações financeiras. Ele inclui novas seções sobre contabilidade de fundos, classificação de despesas e custos de captação de recursos. Também inclui uma nova seção sobre informações suplementares que estão vinculadas a um documento complementar – o Guia de Práticas INPAG 1 – Declarações suplementares (Guia de Práticas), que também é emitido para comentários como parte do ED3. Este Guia de Práticas fornece propostas para declarações suplementares que apoiam os requisitos de relatórios de stakeholders individuais, incluindo doadores. Há também uma atualização importante no ED3 relacionada à definição de patrimônio, bem como propostas para a adoção inicial do INPAG. Assim como o ED2, o ED3 inclui várias Seções que são atualizadas para mudanças de terminologia ou alinhamento, mas não são atualizadas por outras razões.
Particularmente acho que a Fundação IFRS faria um bom serviço endossando o documento que está sendo preparado. Afinal, a terceirização do serviço de emissão de norma pode ser uma proposta interessante para uma entidade que, mesmo com o aumento da sua estrutura, não tem condições de abarca todas as demandas dos interessados por normas. E a contabilidade de entidades sem fins lucrativos é importante demais para esperar a boa vontade dos burocratas da Fundação decidir por trabalhar no assunto.
09 fevereiro 2024
Capitalismo e Caridade
Scott Alexander, no astralcodexten.com, apresenta algumas reflexões interessantes sobre capitalismo e caridade. É um texto comparativo entre os dois para tentar chegar a resposta de qual é o melhor. Parece algo estranho a comparação, mas não tanto quando lemos o texto. Vou tentar resumir os argumentos dele a seguir.
Inicialmente parece inegável que os países que ficaram ricos, assim o fizeram a partir do capitalismo. Isto inclui, por exemplo, os Estados Unidos, a Alemanha e, mais recentemente, a Coreia e Japão. Aqueles que tentaram outro caminho aparentemente fracassaram, como é o caso notório da extinta União Soviética. Se existem pessoas boas no mundo e estas querem ajudar os outros, talvez seja interessante deixar de lado a caridade, pura e simples, e passar a “doar para o capitalismo”.
Algumas opções que podem incluir a doação para capitalismo: gastar o dinheiro com algo desejável e com empresas eficientes ou doe para instituições que busquem promover o capitalismo de alguma forma.
A partir desta ideia, Alexander comparar gastar dinheiro com Instacart – uma espécie de Uber de compras, versus uma instituição de caridade que promove água potável para população carente. Esta instituição de caridade é uma escolha do GiveWell, o que significa, em outras palavras, que é algo sério. Se você tivesse um milhão para gastar para fazer o bem, qual seria a melhor opção? O senso comum escolheria a entidade do terceiro setor. Mas Alexander mostra que “doar” para o capitalismo pode criar empregos, promove uma empresa que tem uma continuidade clara, há efeitos de segunda ordem (o salário do empregado da Instacart gera outros benefícios indiretos), há um retorno do investimento, entre outros aspectos.
Portanto, diante dessas considerações, a abordagem proposta por Scott Alexander nos leva a repensar a tradicional dicotomia entre caridade e capitalismo. A sugestão de investir no capitalismo como uma forma de impacto social, ao criar empregos, gerar benefícios indiretos e promover a continuidade de empresas eficientes, oferece uma perspectiva intrigante.
Entretanto, a carência de entidades do terceiro setor que promovam o capitalismo de maneira séria apresenta um desafio significativo. Nesse contexto, surge a indagação sobre a possibilidade de entidades como o sistema CFC desempenharem esse papel crucial. Seria o momento de repensar o papel das organizações não governamentais e filantrópicas, buscando formas inovadoras de promover sua contribuição para a vida das pessoas.
08 novembro 2023
Norma internacional para o terceiro setor
Já comentamos aqui, mas o texto abaixo reforça a discussão:
Atenção, organizações sem fins lucrativos: um novo padrão para relatórios internacionais está chegando
31 de outubro de 2023
Um projeto inovador para desenvolver as primeiras diretrizes internacionais de contabilidade para organizações sem fins lucrativos está em andamento. Vivienne Russell conversou com os diretores do projeto, Sam Musoke e Karen Sanderson.
Em todo o mundo, diz Sam Musoke, Diretor do Projeto IFR4NPO, há profissionais financeiros que trabalham em organizações sem fins lucrativos que se sentem isolados. Eles participam de eventos de contabilidade e ninguém está discutindo as especificidades de trabalhar em uma organização sem fins lucrativos. Eles participam de eventos para organizações sem fins lucrativos e todos estão falando sobre a entrega operacional e não sobre as finanças.
Mas isso está começando a mudar, graças a um projeto que Sam co-direciona e que deu voz à comunidade financeira de organizações sem fins lucrativos.
"Muitas vezes encontramos pessoas que dizem 'Meus colegas, meus profissionais de finanças sem fins lucrativos!' e eles estão se encontrando", ela conta ao AAT Comment de sua casa em Uganda.
Definindo o padrão
O Projeto de Relatórios Financeiros Internacionais para Organizações Sem Fins Lucrativos, ou IFR4NPO, é um projeto que oficialmente começou a trabalhar no final de 2019. Sua missão é simples, mas inovadora. Desenvolver as primeiras diretrizes de relatórios financeiros globalmente aplicáveis para organizações sem fins lucrativos, como instituições de caridade e organizações não governamentais (ONGs). Isso permitirá que organizações sem fins lucrativos em todo o mundo produzam demonstrações financeiras de melhor qualidade e mais úteis, ajudando-as a melhorar sua credibilidade e acesso a financiamento.
O progresso tem sido constante, e os diretores do projeto imaginam que as diretrizes finais, chamadas de Diretrizes Internacionais de Contabilidade para Organizações Sem Fins Lucrativos (INPAG), estarão prontas até o meio de 2025.
O projeto está sendo conduzido em conjunto pela CIPFA, a organização profissional de contabilidade do setor público baseada no Reino Unido, e pela Humentum, que oferece programas de defesa e treinamento para aumentar a resiliência operacional e melhorar a responsabilidade e conformidade das organizações que realizam trabalhos humanitários e de desenvolvimento global.
O projeto IFR4NPO aproveita a experiência e redes diferentes, mas complementares, das duas organizações.
"O que torna esse molho especial da CIPFA e da Humentum tão poderoso é que [a Humentum] tem uma rede muito bem conectada com organizações sem fins lucrativos, tanto entidades locais em um grande número de países quanto ONGs internacionais a nível de sede e financiadores, e a CIPFA traz as organizações profissionais de contabilidade, os contadores, os definidores de padrões, a comunidade de auditoria", explica Sam. "Sente-se que estamos trabalhando como uma equipe de duas faces. Estamos realmente unidos no propósito."
Juntas, as duas organizações têm um poder significativo de convocação e estão descobrindo que, unindo forças, estão criando um espaço que antes não existia.
Abordando o fardo da inconsistência
O ímpeto para o projeto IFR4NPO veio do próprio setor sem fins lucrativos. Uma pesquisa realizada pela CCAB descobriu que 659 respondentes sem fins lucrativos de 179 países (72%) disseram que um padrão contábil internacional seria útil. Embora alguns países tenham desenvolvido seu próprio padrão para preencher a lacuna, a falta de consistência apenas piora o problema e coloca consideráveis ônus sobre aqueles encarregados de preparar as contas.
"Cada doador tem sua própria variante do que acredita ser uma boa demonstração financeira", diz Karen Sanderson, Diretora Técnica do INPAG, que lidera o projeto pelo lado da CIPFA e trabalha no Reino Unido.
"Portanto, há um grande fardo sobre as organizações sem fins lucrativos, onde elas têm vários doadores produzindo diferentes formas de relatórios. E uma de nossas grandes esperanças com este projeto é aproximar um pouco mais a comunidade de doadores em termos das informações de relatórios financeiros de que precisam."
O projeto realizou uma grande quantidade de engajamento, divulgação e consulta com grupos de partes interessadas em todo o mundo. Já foi realizada uma consulta sobre um primeiro Rascunho de Exposição, que é um texto proposto para as diretrizes e está aberto a comentários e pode ser alterado de acordo com o feedback recebido.
Uma consulta sobre um segundo Rascunho de Exposição, que abrange alguns dos desafios contábeis exclusivos das organizações sem fins lucrativos, foi lançada em setembro e será realizada até março do próximo ano. Outra consulta sobre um terceiro e último Rascunho de Exposição sobre apresentação de contas está planejada antes que as diretrizes finais sejam publicadas em 2025.
Trabalhando em relatórios exclusivos
As diretrizes que estão sendo desenvolvidas são baseadas no padrão contábil IFRS para PMEs (Pequenas e Médias Empresas), com algumas referências aos padrões de relatórios financeiros do setor público, quando relevantes e úteis. O projeto trouxe à tona alguns desafios contábeis complexos. Organizações sem fins lucrativos, que dependem em grande parte de doações e subsídios para sua receita, não são como empresas onde a receita é recebida em troca da venda de um bem ou serviço, com ambas as partes recebendo algo da transação.
Nas organizações sem fins lucrativos, as transações-chave podem ser unilaterais. O doador fornece dinheiro com a compreensão de que ele será usado em benefício de outra pessoa. "Isso muda toda a contabilidade e abre todo tipo de questões que não são abordadas em outros padrões contábeis", diz Sam.
Uma complicação adicional vem do fato de que muitos subsídios vêm com limitações sobre como podem ser usados. "Novamente, isso não acontece nas empresas", observa Sam.
"Se eu comprar uma garrafa de água de você, não vou dizer como usar esse dinheiro. É seu dinheiro para usar como quiser. A ideia de restrições impostas pelo doador é muito única para o setor e tem um grande impacto na contabilidade e responsabilidade. Porque não só preciso dizer o que tenho e no que gastei, mas também tenho que mostrar que gastei no que se entende que seria gasto. Agora isso é outro nível de complexidade em termos de responsabilidade."
Foram desenvolvidas uma variedade de soluções e abordagens diferentes para resolver esse dilema de responsabilidade. As diretrizes propostas que estão sendo desenvolvidas buscam harmonizar essas abordagens e desenvolver uma linguagem comum que todas as partes possam entender e que construa credibilidade e confiança.
Abraçando a mudança
As respostas ao trabalho do projeto têm sido encorajadoramente diversas, dizem Sam e Karen, com contribuições de todas as regiões e continentes globais, bem como uma ampla gama de grupos de partes interessadas, todos informados por um alto grau de paixão e engajamento.
De um começo discreto, o projeto agora construiu uma reputação e respeito no setor sem fins lucrativos, e tanto Sam quanto Karen concordam que houve uma mudança real na percepção.
"Somos uma pedra que rola", diz Karen. "Começamos do zero e crescemos muito."
Ela reflete que os diretores do projeto tendem a olhar para a montanha à frente deles, "mas na verdade, quando olhamos para trás, podemos ver o quanto já percorremos".
06 julho 2023
Desafios Financeiros e Gerenciais no Terceiro Setor: O Caso da Color of Change
A maior entidade do terceiro setor de justiça social dos Estados Unidos, com mais de sete milhões de membros, parece estar enfrentando dificuldades comuns às organizações sem fins lucrativos. Desde 2006, a Color of Change atua no combate ao preconceito, especialmente o racial. Após as manifestações de 2020 relacionadas ao assassinato de George Floyd pela polícia, a organização expandiu sua atuação, incluindo parcerias com o Airbnb, por exemplo, e seu presidente, Rashad Robinson (foto), tornou-se uma celebridade na mídia, com aparições na Oprah e na Forbes.
Isso também resultou em um aumento nas doações, com um valor de 30 milhões de dólares somente no primeiro semestre de 2020, superando as receitas anuais anteriores. Mais dinheiro deveria significar uma melhoria nos controles e na transparência contábil, mas isso não parece funcionar no terceiro setor, onde maiores receitas frequentemente são acompanhadas por descontrole financeiro.
Períodos de bonança levaram a um aumento nos salários dos executivos da Color of Change, realização de eventos maiores, projetos questionáveis e falta de supervisão. Com a redução da receita, esses gastos excessivos resultaram em déficits. Uma característica interessante das entidades do terceiro setor é que geralmente o volume de doações aumenta durante as crises para as quais a organização foi criada. Após o impacto da morte de Floyd, as receitas diminuíram. Embora houvesse uma expectativa de orçamentos anuais no valor total de 43 milhões nos últimos dois anos, o valor efetivo foi de 26 milhões.
A situação se complicou a ponto de, em uma reunião da diretoria, ser sugerida a falência da organização. Assim, a Color of Change começou a reduzir seu orçamento, o que incluiu demissões de funcionários.
Uma relação importante em uma entidade do terceiro setor é a relação entre despesas administrativas e receita, que consiste principalmente em doações para a organização. Com a queda na receita, essa relação aumentou para 1,52. Em outras palavras, a cada unidade monetária doada para a entidade, havia 1,52 unidades monetárias de gastos. Isso tem sido uma constante nos últimos meses.
A solução foi utilizar o caixa acumulado de 4 milhões para pagar as contas. No entanto, o valor não foi suficiente e resultou em atrasos nos pagamentos. Sem receber pagamento, os fornecedores começaram a interromper os serviços.
Um dos pontos observados é que a organização aparentemente não tinha uma auditoria independente. O termo "aparentemente" é sintomático aqui, pois a contabilidade da organização era e ainda é opaca. Esse parece ser um problema comum das entidades do terceiro setor, que só se preocupam com a contabilidade quando a crise surge.
Técnicas de análise de custo-benefício não eram consideradas. Em uma situação, a organização gastou 25 mil dólares em um podcast que tinha apenas 300 ouvintes mensais. Não é preciso ser um especialista em finanças para perceber que uma análise custo-benefício reprovaria esse gasto.
Outro exemplo de gasto inadequado foi o pagamento de aluguel para o filho da presidente da diretoria da organização em Manhattan, além de despesas com sua segurança e automóveis de luxo. E o salário anual do presidente da organização, até recentemente, era próximo de 500 mil dólares, muito embora essa informação não foi, e ainda não é divulgada, sendo baseada em suposições.
Fonte: Business Insider
04 dezembro 2022
Estrutura Conceitual do Terceiro Setor
O Relatório Financeiro Internacional para Organizações Sem Fins Lucrativos (IFR4NPO) é uma iniciativa para desenvolver a primeira orientação de relatórios financeiros aplicável internacionalmente para organizações sem fins lucrativos, lançou o 'Diretório Internacional de Contabilidade sem Fins Lucrativos, Projeto de Exposição 1'.
A nova orientação, International Non-Profit Accounting Guidance (INPAG), busca melhorar a clareza e consistência dos relatórios financeiros da Non-Profit Organization (NPO), resultando em maior credibilidade e confiança no setor globalmente.
O rascunho da exposição é a primeira de três partes, cada uma seguida por um período de consulta de quatro meses. O ED1 aborda quatro tópicos principais que são importantes para o enquadramento e o contexto do INPAG :
1. Uma descrição das organizações sem fins lucrativos
2. Uma estrutura para o INPAG
3. Apresentação das demonstrações financeiras
4. Relatórios narrativos
O INPAG terá 36 seções. ED1 contém o prefácio, seções 1 a 10 e seção 35. As seções restantes serão cobertas no ED2 e ED3 em 2023.
(Fonte: Iasplus
O documento completo, com 188 páginas, pode ser acessado aqui
25 outubro 2022
Terceiro setor: quanto menor despesa administrativa, melhor?
A análise de desempenho, especialmente quando lida com regras práticas simplistas, pode não ser adequada. Regras do tipo "quanto maior, melhor" são, em essência, horrorosas e devem ser usadas com muito, muito cuidado.
Um exemplo foi constatado na utilização da despesa geral e administrativa em entidades do terceiro setor como índice de eficiência. Acredita-se que quanto menor o volume deste item, melhor será a entidade. Isto aparece, por exemplo, no livro Teoria da Contabilidade, de Niyama e Silva, no capítulo relacionado com as entidades do terceiro setor. Esta tem sido a regra usada por muitos doadores: verificar o nível deste tipo de despesa em relação, por exemplo, ao volume de receita. É um sinal do esforço que a entidade faz para captar receita, que será útil no objetivo da entidade.
Quando uma entidade do terceiro setor monta uma rede de telemarketing, que passa o dia ligando para as pessoas, solicitando doações, o gasto com despesa geral e administrativa será muito grande. Ou seja, a entidade dedica mais esforço em captar recursos do que atender aos seus objetivos. Esta é a ideia que leva o uso deste parâmetro como critério para verificar a eficiência.
Dois pesquisadores (via aqui) analisaram os dados de mais de 22 mil entidades do terceiro setor nos Estados Unidos, entre os anos de 2008 a 2018. A maioria destas entidades eram museus e teatros e com isto eles puderam verificar se as despesas administrativas tinham alguma relação com o número de pessoas que compareciam aos eventos e exposições. Neste tipo de entidade, o objetivo é divulgar a arte e o número de pessoas que assiste a uma peça ou entra no museu é um sinal de que sua finalidade está sendo realizada.
Os pesquisadores descobriram algo interessante: a relação entre o volume de despesa administrativa, em percentual da receita, não é do tipo "quanto menor, melhor". Na verdade, a relação está traduzida no seguinte gráfico:
O que isto significa? As entidades que possuem pouca despesa administrativa atraem um público bem reduzido para seus eventos. Mas na medida que cresce a despesa, o público também aumenta. Ou seja, gastar pouco em termos de despesa pode não ajudar a atrair as pessoas para os eventos. Mas a partir de um determinado patamar, o aumento dos gastos prejudica o desempenho. Ou seja, passa a prevalecer o "quanto maior, pior". Este ponto, descoberto na pesquisa empírica, é de 35%.Em outras palavras, quando a relação da despesa administrativa em relação as receitas é abaixo de um terço, aproximadamente, "quanto maior, melhor". Mas a regra inverte a partir deste ponto, ou "quanto maior, pior".
Em muitos casos, os gestores das entidades são pressionados a cortar as despesas para atender os critérios dos doadores. Mas este corte pode ser inadequado, já que a entidade negligencia fatores relevantes, como a divulgação, a infraestrutura, os salários do pessoal. Ter um volume reduzido de despesas gerais, pagando baixos salários, trocando funcionários pagos por voluntários, não investindo em equipamentos pode ser bom para alguns doadores, mas afasta o público dos eventos.
Os autores da pesquisa recomendam, no entanto, que o percentual de 35% não seja uma regra fixa. O valor irá depender das características de cada entidade. O importante é não considerar somente a regra do "quanto menor, melhor", que prevalece hoje no terceiro setor.
21 setembro 2022
Normas Internacionais de Contabilidade para o Terceiro Setor
Uma iniciativa do CIPFA, uma entidade contábil britânica, está sendo desenvolvida o primeiro conjunto de normas contábeis internacionais para o terceiro setor. Isto é bastante importante, já que o terceiro setor é uma espécie de patinho feio das normas internacionais. Enquanto a Fundação IFRS cuida das normas do segundo setor - entidades com fins lucrativos, o IFAC faz a adaptação para o setor público. Mas o terceiro setor ficou à margem deste processo.
A iniciativa irá criar um Relatório Financeiro Internacional para as Entidades sem Fins Lucrativos e recebeu a sigla de IFR4NPO. É um projeto de cinco anos, tendo a liderança da Humentum e o CIPFA. Segundo o site, o IFR4NPO tem por objetivo trazer clareza e consistência para as entidades sem fins lucrativos através das informações contábeis. Estas devem ser consistentes e de alta qualidade.
Como não existem padrões internacionais para este setor, um documento de consulta foi realizado anteriormente. O relatório final foi apresentado no início deste ano. Segundo informações do site do IFR4NPO já existem 157 jurisdições interessadas. Ontem foi anunciado o nome oficial do Guia que está sendo desenvolvido: INPAG.
É um desenvolvimento interessante para o terceiro setor.
14 abril 2022
Contribuições em entidades sem fins lucrativos
O Fasb propôs, em setembro de 2020, uma mudança no relato das contribuições - que incluem as doações, presentes, serviços voluntários e outros termos - das entidades sem fins lucrativos. O documento, intitulado Presentation and Disclosures by Not-for-Profit Entities for Contributed Nonfinancial Assets sugere segregar as contribuições em caixa e outros ativos financeiros, das contribuições em ativo não financeiro, como terrenos, edifícios, equipamentos, utilitários, materiais, suprimentos, ativos intangíveis, serviços e promessas incondicionais desses ativos.
Acima um exemplo desta evidenciação
24 fevereiro 2022
Psicologia da Doação
Uma estratégia interessante é solicitar uma doação em dinheiro. Algumas apelam para valores como $19 por mês. Mas qual a razão de pedir $19 e não $20? Uma resposta interessante é que ao pedir $19, as pessoas terão mais dificuldades de calcular o valor ao final de um ano. Se o pedido for de $20, parece mais simples multiplicar por 12 para ter a despesa anual.
Outro fato de pode ajudar na definição do valor é que o montante deve ser grande o suficiente para cobrir os custos de arrecadação e permitir que o doador imagine que fará diferença com aquele valor, sem pesar demais no bolso.
Adicionalmente é comum a solicitação em outra moeda - em dólar, por exemplo. Dez dólares não parece muito e pode ser que isto aumente a possibilidade de doação. Parece melhor que pedir R$50 (câmbio na data da postagem era um pouco acima de R$5 = US$1). Ou pedir o correspondente a 12 cafezinhos.
Veja mais aqui
20 janeiro 2022
Religião, imóveis e mercado
A The Economist apresentou no artigo "Deus, cobiça e mercado imobiliário" (o termo cobiça não combina com o conteúdo) um bom panorama da atualidade das igrejas. Não somente a pandemia, mas também as mudanças de hábito nos últimos anos, fez com que reduzisse o número de pessoas que vão à uma igreja. Isto traz consequências para receita (arrecadação de dízimo menor) e despesa. O lado da despesa merece mais destaque pelas consequências.
Sobre a pandemia:
Muitas instituições religiosas fecharam as portas da noite para o dia, transferindo seus serviços para o Zoom. Agora, à medida que suas instalações reabrem, elas não estão certas se os fiéis retornarão. Se menos congregados aparecerem, duas tendências poderão se intensificar. Muitas organizações religiosas se livrarão de imóveis mal aproveitados. E mais igrejas se fundirão.Por séculos, as religiões acumularam riquezas terrenas na forma de imóveis. O Vaticano possui milhares de edifícios, alguns nas mais requintadas regiões de Londres e Paris. A Igreja da Cientologia é dona de endereços em Hollywood que, estima-se, valem US$ 400 milhões, de um castelo na África do Sul e de uma mansão do século 18 em Sussex. O Wat Phra Dhammakaya, templo da seita budista mais abastada da Tailândia, ostenta centros de meditação em todo o mundo. O tamanho da fortuna da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como a igreja Mórmon, é um mistério; afirma-se que a instituição possui investimentos de US$ 100 bilhões, incluindo fazendas de gado, um parque temático no Havaí e um shopping center em Utah. Templos, sinagogas e mesquitas assistem atentamente os preços dos imóveis aumentar.
A internet permite que uma missa do Padre Marcelo seja assistida por milhares de pessoas. Mas retira pessoas dos templos e isto tem seu preço:
A internet tem sido tanto uma bênção quanto uma maldição. Um sermão virtual do arcebispo de Canterbury, em 2020, foi ouvido por 5 milhões de pessoas – mais de cinco vezes o número de fiéis que frequentavam a igreja semanalmente no Reino Unido antes da pandemia. Mas a participação online cobra um preço. Os fiéis param de frequentar os centros religiosos, e construções tornam-se obsoletas.Por isso, grupos religiosos têm vendido imóveis mais rapidamente do que antes – ou estão explorando novos usos. Líderes em busca de um lugar no Céu estão aprendendo a vender ou alugar lugares na Terra. Testemunhas de Jeová, que têm 9 milhões de fiéis no mundo, venderam sua sede no Reino Unido. A Hillsong, uma gigantesca igreja australiana de 150 mil fiéis em 30 países, aluga teatros, cinemas e outros espaços para serviços dominicais.
02 dezembro 2021
Revolução na Filantropia
A revista The Economist traça um perfil sobre Kenzie Scott, uma das fundadoras da Amazon, que após o divórcio, resolveu gastar sua fortuna com doações para o terceiro setor. O texto traz algumas informações relevantes. Eis algumas delas:
Além do ritmo das doações, Scott é extraordinária pela maneira como doa. A maioria dos “megadoadores” de hoje se vale de uma abordagem tecnocrática. Eles estabelecem uma fundação, definem beneficiários por meio de extenuantes processos seletivos, financiam projetos específicos e os monitoram atentamente. Já Scott está doando como as pessoas da classe média doam: distribuindo dinheiro entre várias organizações e permitindo que elas continuem seu trabalho.
(...) A abordagem envolve distribuir doações por organizações relativamente pequenas, que atuam em uma gama de campos, incluindo equidade racial e de gênero. Boa parte das doações de Scott foi para grupos locais nos EUA, como bancos de alimentos e YMCAs.
A Bloomberg News enviou questionários para os beneficiários de todas as 786 doações de Scott e obteve resposta de 270 organizações. A pesquisa constatou que metade delas, excluindo faculdades e universidades, mantém menos de 50 funcionários. Para quase 90% dos grupos, a doação de Scott foi a mais alta que já receberam. Em contraste, a Fundação Gates doou cerca de 30% de seu fundo ao longo de duas décadas para dez grandes instituições internacionais, incluindo a Organização Mundial da Saúde; a aliança vacinal Gavi; e o Fundo Global de Luta Contra Aids, Tuberculose e Malária.
A segunda decisão é como distribuir o dinheiro. Neste sentido, a decisão de Scott de realizar doações irrestritas é popular entre beneficiários. Líderes de ONGs reclamam há muito que doadores destinam dinheiro para projetos específicos, o que faz com que eles tenham dificuldades para financiar as atividades cotidianas. Um terço dos grupos que receberam doações de Scott está usando o dinheiro para contratar mais funcionários, e mais de um quinto planeja investir em tecnologia, segundo pesquisa da Bloomberg.
(...) A terceira decisão é como avaliar o que as ONGs fazem com o dinheiro. Scott falou pouco desse assunto, mas neste sentido também, afirmam os beneficiários, a abordagem dela é suave. A uma delas, o Centro Nacional para Filantropia Familiar, foi solicitado o envio de um relatório anual “simples e breve” nos próximos três anos, que informe as atividades da organização. Não há nenhum tipo de formulário ou modelo para esse relatório e nenhum esforço de aconselhamento para a organização é feito ao longo desse tempo. Scott cunhou um termo para essa abordagem: “semear concedendo”.
Tenha sido esta sua intenção ou não, Scott fez um desafio muito necessário ao modelo hierárquico de burocracia que prevaleceu na filantropia por décadas. Isso parece já estar influenciando outros ricaços. O ex-marido de Scott, por exemplo, é criticado por rejeitar a assinar o Giving Pledge e ser vagaroso em fazer doações. Mas, quando Bezos voltou para a Terra, após sua primeira viagem ao espaço, este ano, ele anunciou uma doação de US$ 200 milhões que foi uma surpresa para os beneficiários e foi concedida na forma de financiamentos irrestritos. “Sem burocracia”, afirmou ele.
Nada disso indica que Scott tenha encontrado alguma fórmula mágica para a filantropia responsável. Em busca de discrição, ela abdica de transparência. Scott manteve secretos seus conselheiros e, desta maneira, nenhum dos líderes de ONGs ávidos para entrar em seu radar conseguiu entrar em contato com ela, a não ser por comentários em seu blog.
Existem tantos estelionatários que fingem fazer doações em nome de Scott que o perfil dela no Twitter direciona vítimas para a página de reclamações do FBI. E pelo motivo de Scott doar como indivíduo, ela não é sujeita à mesmas auditorias que uma fundação. Rob Reich, da Universidade Stanford, aponta que essa opacidade é rara entre grandes doadores. “Isso insulta cidadãos democráticos por causa do tipo de poder que ela ostenta”, observa.
04 agosto 2021
Doação
Um dos aspectos mais complicados em uma entidade do terceiro setor é a contabilidade das doações. Eis uma situação prática apresentada pelo IntheBlack da Austrália
Uma grande quantidade de receita vem de doações concedidas por governos, fundos fiduciários e fundações, filantropos privados e, em muitos casos, membros do público em geral fazendo pequenas doações.
É aqui que as coisas podem ficar bastante complicadas do ponto de vista contábil, especialmente quando se trata de determinar o momento em que certas formas de receita precisam ser reconhecidas.
Fazer isso efetivamente requer um entendimento detalhado de dois padrões contábeis da Conselho Australiano de Normas Contábeis (AASB) - AASB 15 Receita de contratos com clientes e AASB 1058 Renda de entidades sem fins lucrativos.
Também é importante entender a distinção entre revenue e income.
Embora "revenue" seja geralmente definida como receita decorrente no curso das atividades comuns de uma entidade, "income" inclui não apenas receita, mas também outros aumentos nos benefícios econômicos recebidos (incluindo doações) que não sejam contribuições dos proprietários.
(...)
“Algumas doações podem envolver o recebimento de uma quantia em dinheiro sem condições específicas de como ela é usada. Outros envolvem dinheiro fornecido sob um contrato formal que especifica como e quando o dinheiro é gasto. A questão gira em torno do momento do reconhecimento da receita da subvenção.
“Às vezes, quando um ESL (entidade sem fins lucrativos) recebe uma grande quantia em dinheiro da subvenção, as regras contábeis podem exigir o reconhecimento de todo o dinheiro recebido como receita no ano do recebimento.
“Isso pode causar desafios para a ESL, pois os leitores de suas demonstrações financeiras podem assumir que a entidade teve um ano muito bom quando, de fato, o dinheiro reconhecido como receita naquele ano deve ser alocado para uso em anos futuros." (...)
"As organizações sem fins lucrativos querem um resultado equilibrado ou sustentável que não possua oscilações. Eles não querem mostrar um grande lucro com o reconhecimento antecipado de receita em um ano e depois despesas no próximo exercício financeiro. David Hardidge FCPA, Escritório de Auditoria de Queensland
"Eles não têm necessariamente a equipe que pode passar um tempo lendo os padrões de 100 páginas.
(...)
16 outubro 2020
Prêmio Nobel da Paz e a derrota da Contabilidade
Se o Nobel de Economia foi relevante para a contabilidade, o Nobel da Paz é um tapa na cara da contabilidade. O 135o. prêmio da paz foi para o Programa Alimentar Mundial, da ONU, na seguinte justificativa:
Pelos seus esforços no combate à fome, pelo seu contributo para melhorar as condições pela paz em zonas atingidas por conflitos e por agir como uma força motriz nos esforços para prevenir o uso da fome como uma arma de guerra e de conflito
O programa é a maior agência humanitária do mundo, que fornece alimentos para 90 milhões de pessoas em 80 países. Com sede em Roma, o Programa foi criado em 1963 em caráter experimental e depois tornou uma atuação contínua.
E a Contabilidade? - O CDEG (Center for Development Global) fez um ranking em 2018 para medir a qualidade da ajuda fornecida por diversas entidades (via aqui). A medida foi realizada tendo por base a figura abaixo:
A pesquisa mostrou que alguns países fornecem ajuda em grande quantidade, mas com baixa qualidade: Alemanha e Noruega. Outros, com baixa quantidade e qualidade (Estados Unidos e Espanha). Mas alguns países fornecem ajuda com alta qualidade, seja com baixa quantidade (Nova Zelândia) ou alta quantidade (Dinamarca).
Mas os pesquisadores também compararam algumas agências de ajuda. Somando os países e estas agências temos 40 avaliações. Adivinhe quem ficou em ultimo lugar na listagem? O vencedor do Nobel da Paz de 2020.
Mas este não é a única pesquisa. Em 2008, em um artigo intitulado Where Does the Money Go? Best andWorst Practices in Foreign Aid, William Easterly e Tobias Pfutze, também analisaram as ajudas internacionais. Usando uma medida por empregado, os autores encontraram um elevado overhead. O seu ranking de melhores práticas, o Programa ficou na última posição, novamente.
29 setembro 2020
Doação e sua contabilização: novas regras do Fasb
O Fasb, entidade que emite normas contábeis nos Estados Unidos, está atualizando a forma de evidenciar uma doação não financeira:
A atualização exige que uma organização sem fins lucrativos mostre os ativos não financeiros doados como um item de linha separado na demonstração de atividades, à parte das contribuições em dinheiro ou outros ativos financeiros.
As organizações sem fins lucrativos também precisarão divulgar os ativos não financeiros doados reconhecidos na demonstração de atividades desagregada por categoria que descreve o tipo de ativos não financeiros doados.
Para cada categoria reconhecida dos ativos não financeiros doados, as organizações sem fins lucrativos também precisam divulgar informações qualitativas sobre se os ativos não financeiros contribuídos foram monetizados ou usados durante o período de relatório. Se tiver sido usado, eles precisam fornecer uma descrição dos programas ou outras atividades em que esses ativos foram usados. As organizações sem fins lucrativos também precisam fornecer sua política (se houver) sobre monetização, em oposição à utilização de ativos não financeiros contribuídos. Eles também precisam incluir uma descrição de quaisquer restrições impostas pelo doador associadas aos ativos não financeiros contribuídos.
18 julho 2020
Confusa história dos Capacetes Brancos
Por atuar em um conflito tão complicado, a SCD tem sido alvo de críticas, especialmente do governo sírio e da Rússia. As controvérsias incluem a forma como a SCD trabalha, mas parte das críticas é alimentada por uma campanha de desinformação, que inclui teoria da conspiração.
O problema agravou com a morte do fundador dos Capacetes Brancos, em novembro. Le Mesurier foi oficial do exército britânico no passado e trabalho nas forças de paz da ONU na Iugoslávia. O corpo de Le Mesurier foi encontrado na rua, de madrugada, no que parecia ser uma queda da varanda, em Istambul. As autoridades consideraram o caso de suicídio.
Entre 2014 a 2018 a entidade de Le Mesurier recebeu doações de 127 milhões de dólares, a grande maioria de governos ocidentais. Este é um ponto interessante. O governo britânico chegou a afirmar que os capacetes brancos foram responsáveis por mais de 100 mil vidas salvas durante a guerra na Síria.
Contabilidade - Antes da sua morte, Le Mesurier denunciou a existência de uma fraude na fundação. O contador holandês aparentemente tinha visitado Le Mesurier e informou ter descoberto recibos falsos. Uma investigação posterior, conduzida pela empresa de auditoria Grant Thornton, confirmou problemas com a contabilidade da fundação. Parte das doações recebidos foram, aparentemente, usadas para pagar o seu casamento, entre outros problemas. Entretanto, o papel dele na denúncia de ataques químicos promovido pelo governo sírio pode ser uma pista para entender sua morte.
24 abril 2020
Devolva o dinheiro - parte 2
Agora, a entidade anunciou que não irá aceitar os 8,6 milhões de dólares. É muito pouco, para uma instituição que possui um orçamento de 41 bilhões de dólares. Mesmo que os recursos sejam destinados a assistência financeira dos alunos carentes.
O apoio é uma ajuda do governo dos Estados Unidos para as instituições que recebem alunos carentes, dentro de um pacote de 2 trilhões de ajuda aprovado em março pelo congresso dos EUA. Ao recusar, Harvard disse que enfrenta sérios desafios financeiros, mas que o foco político da ajuda era um problema. O senador Ted Cruz, ex-aluno de Harvard, também condenou o apoio. Logo após a crítica de Trump, Stanford e Princeton afirmaram que não aceitariam o financiamento público; isto significa 7 e 5 milhões de dólares, na ordem.
23 abril 2020
Devolva o dinheiro
O presidente Trump não gostou de saber que Harvard tinha recebido este apoio do governo. Afinal Harvard é riquíssima e detém fundos suficientes para sustentar um programa como este. Trump exigiu que Harvard devolvesse 8 milhões de dólares. Trump disse que o dinheiro deveria ser destinado aos trabalhadores, não a uma instituição tão rica.
Harvard afirmou que não irá devolver o dinheiro recebido. A universidade disse que o recurso não irá pagar os custos institucionais, mas ajudar os estudantes carentes.
Este é a situação.
Mas como fazer o registro disto? Veja que existe uma controvérsia se este dinheiro é da entidade, embora esteja na sua conta corrente.Seria o caso de fazer uma contabilidade separada?
07 fevereiro 2020
Selecionando o terceiro setor
Navegando pela internet, descubro o GiveWell. O objetivo do site é indicar as entidades do terceiro setor que são sérias. Ou seja, que melhoram vidas por unidade monetária. Isto inclui: consórcio Malária, Hellen Keller, entre outras poucas entidades. Veja que um dos objetivos da entidade é selecionar poucas entidades, usando a análise custo efetividade. O modelo pode ser baixado.
Mas olhe algo mais interessante: uma página chamada "nossos erros".
P.S. A dica apareceu daqui