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23 março 2024

Por que voltar do sistema híbrido para o 100% presencial?

Fonte da imagem: Aqui

Recentemente troquei de emprego tendo como principal motivador a busca pelo sistema híbrido de trabalho, no qual é possível alternar entre o remoto e o presencial.  Reportagens que debatem este tema, têm me chamam especial atenção. Esta, da BBC, traz um trecho que, na minha opinião, sintetiza bem a situação atual: 

[...]um estudo realizado em 2023 por dois professores da Escola de Graduação em Negócios Katz da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos. Eles examinaram 137 anúncios diferentes de retorno ao escritório no ano passado. A pesquisa concluiu que os gerentes usam as exigências de retorno ao escritório "para reafirmar o controle sobre os funcionários e culpá-los como bodes expiatórios pelo mau desempenho das empresas". 

[...] Bloom prossegue: "No longo prazo, o desempenho melhora mantendo os funcionários felizes e reduzindo os custos de retenção e contratação. As pesquisas mostram com muita clareza que, para os profissionais e para os gerentes, o trabalho híbrido é lucrativo para as empresas." 

Ele acredita que as empresas que assumiram uma posição linha-dura quanto ao retorno ao escritório são exceções e que muitas das que se opuseram ao trabalho remoto irão mudar de posição em breve. 

"Acho que nenhuma empresa no mundo de hoje pode impor uma política contra os talentos", afirma Choudhury. "Simplesmente não vai funcionar. Você irá sentir a dor. Você irá ver algumas das suas melhores pessoas saírem. E, então, haverá uma correção de curso."

04 junho 2020

Chefia e Zoom

Stela Campos, em sua coluna no Valor Econômico, lembra um aspecto negativo do trabalho nos dias de pandemia: a dificuldade da comunicação virtual com os chefes. A falta do contato pessoal, do “olho no olho”, torna mais difícil a comunicação e suas sutilezas. E isto é agravado por problemas de imagem, onde a tela pequena faz com que a câmera não focalize da expressão corporal. Além disto, segundo Campos, nas reuniões por vídeo as pessoas querem não passar desapercebido e por isto tentam “falar mais do que o normal, e assim vão passando um por cima do outro.”

Observar o movimento do corpo e as ações involuntárias durante uma conversa pode revelar muito sobre o nosso humor, atenção e até o desinteresse pelo que o outro está dizendo. Nesse novo mundo em que aparecemos na tela da cintura para cima, o pé de chinelo batendo nervoso e entediado embaixo da mesa, infelizmente, fica escondido.

É interessante que no mundo pós-pandemia, talvez seja comum as pessoas usarem máscaras. Isto irá esconder uma parte importante do corpo, a boca, que pode dar pistas sobre os sentimentos alheios.

(Sobre isto, lembrei de um professor que quando não gosta de uma apresentação, costuma balançar os pés. Isto já é um aviso que não está agradando. No meu caso, segundo uma ex-orientanda, meus trejeitos irão continuar aparecendo: olhar para o teto, olhar sob os óculos e pegar algo para fazer é perceptível em uma câmera de Skype.)

Campos, Stella. Chefes Indecifráveis ficam mais difíceis nas videoconferências. Valor 1 de junho, B2

22 maio 2020

Teletrabalho 2

A dissertação de mestrado do PPGA-UnB de Juliana Legentil pesquisou o teletrabalho, antes da crise atual. Mas alguns pontos que percebemos hoje, trabalhando em casa, já eram apontados pela mestre.  

O teletrabalho (TT) é uma modalidade que possibilita ao trabalhador executar as suas atividades fora do ambiente organizacional, com o apoio de recursos tecnológicos. A adoção desse arranjo de trabalho é crescente no Brasil e encontra amparo em três marcos legais que regulamentam o TT em órgãos dos Poderes Judiciário e Executivo Federal e empresas públicas e privadas cujos empregados são regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT). Adota-se o modelo teórico de desenho do trabalho, proposto por Morgeson e Humphrey (2006), visando preencher lacuna teórica acerca das percepções de teletrabalhadores sobre as características da tarefa, sociais e do contexto de trabalho. O objetivo desta pesquisa é analisar as percepções dos teletrabalhadores em relação às características da tarefa, sociais e de contexto de trabalho, bem como aos benefícios, às dificuldades e aos desafios associados ao regime de Teletrabalho em Tempo Parcial (TTP). Os dados foram extraídos a partir de 83 entrevistas individuais com servidores predominantemente do sexo feminino; casados; com especialização lato sensu; e com experiência de 1 ano em regime de TTP. Os resultados desta pesquisa indicam que as percepções dos participantes são predominantemente positivas em relação às características do trabalho, como, por exemplo, autonomia para organizar e realizar o trabalho; suporte social do gestor; uso de ferramentas de comunicação; e condições de trabalho em regime de teletrabalho. Os benefícios percebidos pelos entrevistados indicam maior autonomia e flexibilidade para organizar a própria rotina; redução dos deslocamentos; maior qualidade de vida e bem-estar; maior capacidade de concentração; conciliação trabalho-família-trabalho; maior produtividade e qualidade do trabalho; entre outros. As dificuldades e os desafios percebidos revelam preocupações relacionadas às características do contexto de teletrabalho e às características sociais do teletrabalho, como infraestrutura tecnológica provida pelo órgão (lentidão no sistema); fragilidade na gestão do teletrabalho; e autodisciplina. As demandas de aprendizagem percebidas pelos teletrabalhadores parecem reforçar algumas dessas dificuldades e desafios, tendo sido citados temas como conhecimentos de informática (hardware e software) e gestão do tempo. Este estudo apresentou contribuições teóricas, metodológicas e gerenciais ao aprofundar a investigação sobre teletrabalho, as quais permitem sugerir que as características da tarefa, sociais e do contexto de trabalho sejam consideradas pelos gestores que pretendem implantar o regime de teletrabalho ou aperfeiçoar um programa vigente, de modo a possibilitar um melhor ajuste para os que estão direta e indiretamente implicados na adoção da modalidade.

Teletrabalho 1

Atropelados pelo futuro
Rachel Maia
21 de maio de 2020 Forbes CoLab

O trabalho remoto parece ser a principal revolução do mundo após a pandemia
O mundo que parecia distante nos pegou de surpresa, avassalador. Muita coisa mudou no mundo do trabalho, e muito ainda vai mudar. Nesse novo cenário, o trabalho remoto parece ser a principal revolução. Se antes questionávamos seus prós e contras, hoje essa é a única realidade possível – ao menos, no caso de serviços não essenciais. Um amadurecimento brusco tanto para as empresas quanto para seus colaboradores.


Até o início da pandemia, a adoção da alternativa era tímida na maioria das companhias, que concediam a modalidade de trabalho à distância uma vez por semana, em geral. Quais serão os desdobramentos da jornada home office em nosso dia a dia e na economia como um todo? Inúmeros, com seus bônus e ônus.

As empresas entenderam que é possível operacionalizar o negócio à distância. Os atuais sistemas digitais podem suportar essa demanda, não precisamos de grandes espaços físicos e infraestrutura para alocar equipes, e existem outras formas de controle que vão além das que adotamos até ontem, de forma presencial.

Enquanto trabalhamos de casa, não usamos carros, poluímos menos e colaboramos para diminuir os inúmeros e quilométricos engarrafamentos de nossas cidades. Por outro lado, consumimos menos de tudo: o próprio combustível, alimentos prontos, sapatos, roupas, acessórios, maquiagem, entre outros serviços e produtos. Uma adaptação aparentemente simples, mas capaz de provocar uma onda de mudanças no ambiente ao seu redor e em boa parte da nossa estrutura econômica.

No universo corporativo, passou a ser essencial considerar de forma enfática princípios que nem sempre estão alinhados às questões financeiras e de lucratividade – como as condições físicas e psicológicas dos funcionários, a relação com as comunidades envolvidas no processo de produção ou impactadas por ele, de forma direta e indireta. O “novo normal” competitivo é sermos sustentáveis para além de pautas já conhecidas, como o uso adequado de recursos naturais, as mudanças climáticas e a criação de códigos rigorosos de sistemas e condutas (o famoso compliance).

Nesse momento incerto e desequilibrado, o comprometimento, a eficiência e a eficácia tornam-se competências ainda mais requisitadas. Isso significa que o mercado buscará com maior ênfase por profissionais mais assertivos, com capacidade de entregar bons resultados com menos custo, menos recursos e mais rapidez, juntamente com a habilidade de criar soluções para questões que nunca imaginamos.

A mudança que já olhávamos pela fechadura, visualizando muito pouco do todo que havia para além da porta, entrou voando pela janela, tornou-se realidade, a favor ou contra nossa vontade. Precisamos nos reinventar em um espaço de tempo muito curto, numa velocidade única. Fomos fortemente desafiados pela natureza a rever nosso jeito de fazer as coisas, a reexperimentar o mundo, a redefinir valores e recriar riquezas.

A crise deixou claro que a visão que tínhamos sobre o mundo globalizado é frágil e vulnerável. É tempo de agir pela coletividade sistematicamente, não apenas enquanto durar o medo e a incerteza. Não se trata de modismo: agora a jornada é diferente, mais igualitária e fraternal. Em mandarim, a palavra “crise” significa oportunidade. E é exatamente isso o que temos hoje em nossas mãos: a oportunidade de aprender com os erros da humanidade e recalcular a rota para nossa reconstrução.

Rachel Maia é CEO da Lacoste Brasil