Um ex-conselheiro da Petrobras solicita que os balanços de 2013 a 2015 da empresa seja refeito em razão da contabilidade do hedge (VALENTI, Graziella. CVM avalia balanços da Petrobras, Valor Econômico, 12 de abril de 2015):
Desde 2013, a Petrobras usa seus contratos de exportação de petróleo para diminuir o efeito negativo da alta do dólar sobre sua dívida em moeda estrangeira. Rodrigues da Cunha foi conselheiro da estatal, eleito por minoritários donos de ações ordinárias, de abril de 2013 a abril de 2015.
Se não fosse esta prática contábil, o prejuízo da Petrobras seria de 71 bilhões de reais (e não 35).
De forma simplificada, o que a empresa faz é subtrair, do total que a dívida cresce por causa da alta do dólar, o quanto as exportações também aumentam em valor.
O argumento do ex-conselheiro é muito interessante:
Na opinião de Rodrigues da Cunha, a prática da Petrobras não é adequada pois é importadora líquida. A contabilidade de hedge da Petrobras é o oposto do retrato verdadeiro e justo da realidade, pondera ele. "Ela [a prática contábil] a permite operar - como tem operado - com enorme descasamento cambial, sem que seu lucro líquido seja proporcionalmente afetado. Ou seja, além de levar o investidor a "interpretar equivocamente a realidade econômica, pode ainda servir de conforto para que a administração assuma risco cambial desproporcional.
Em texto anterior (CARRANÇA, Thais. Hedge tira R$36 bi do prejuízo da Petrobras, Valor Econômico) o jornal apresentava uma defesa da metodologia:
Especialistas [QUEM???] em contabilidade, no entanto, defendem a adoção do mecanismo, considerado uma tendência internacional.
O texto afirma que as receitas de exportação serviriam de proteção. No final do texto, um argumento horrível do presidente do Ibracon:
A não utilização da contabilidade de hedge traria volatilidade ao resultado
Não é e nem deveria ser função da contabilidade evitar a volatilidade. Há fortes questionamentos neste sentido - que os acadêmicos chamam de suavização - que confunde com manipulação.
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12 abril 2016
21 novembro 2012
Fraude e outros termos
Toda vez que surge um escândalo termos como fraude,
contabilidade agressiva e outros são discutidos. A seguir uma tentativa de
diferenciar alguns destes termos.
Contabilidade criativa – este termo surgiu na década de
oitenta do século passado. Alguns autores consideram que a contabilidade
criativa inclui a fraude. Outros afirmam que a contabilidade criativa é aquela
que ocorre dentro da legalidade. Ou seja, dentro das normas contábeis aceitas. Nesta
concepção do termo não existe, a rigor, nada de errado já que as regras não são
quebradas. As empresas usariam a contabilidade criativa para seus interesses,
em especial dos gestores. A contabilidade criativa é resultado da existência de
flexibilidade nas normas contábeis; mas isto não significa dizer que normas
mais flexíveis (ou baseadas em princípios) apresentam maior ocorrência de "criatividade". É importante notar que a presença da
contabilidade criativa, mesmo que dentro das normas, contraria a noção do “true
and fair view”.
Fraude – a fraude ocorre fora do sistema regulatório.
Envolve quebrar as normas e regras e por isto pressupõe que seja provada numa
corte ou através da condenação do órgão regulador. Uma empresa pode cometer
fraude quando sua contabilidade não segue o que está nas normas contábeis.
Contabilidade agressiva – Este termo é quase igual a
contabilidade criativa. A principal distinção é que a contabilidade agressiva
é no sentido positivo de melhorar o resultado de uma empresa, enquanto a
contabilidade criativa pode ser para melhorar ou piorar o desempenho.
Administração do resultado – termo mais acadêmico. Ocorre
gerenciamento de resultado quando os administradores tem um objetivo
específico. Por exemplo, atingir certo grau de endividamento. As escolhas
contábeis realizadas podem conduzir a administração do resultado nas empresas
de diferentes formas. Por ser um termo mais neutro, pode incluir a fraude,
embora seja mais usual associar com a contabilidade criativa.
Administração das impressões – é a tentativa dos gestores de
influenciar o usuário da informação contábil. Não é uma fraude. Em geral está
associado a forma como a contabilidade é apresentada ao usuário. Assim, o uso
de gráficos, fotografias, cores, narrativas, entre outras estratégias, para
influenciar o usuário faz parte da administração das impressões. Quando o
gestor usa uma figura de um funcionário sorridente no relatório contábil isto
seria administração da impressão.
Suavização do lucro – o mercado penaliza as empresas com
grande variação nos lucros. Sabendo disto, a empresa pode fazer escolhas
contábeis para obter uma menor variância, ao longo do tempo, no lucro apurado.
Este é um caso específico de contabilidade criativa (e administração dos
resultados), onde a finalidade é impedir variações bruscas no lucro.
Leia mais
em JONES, Michael. Creative Accounting, fraud and international accounting
scandals. Wiley, 2011.
30 novembro 2008
Suavização do Lucro
Se executivos corporativos possuem uma liberdade para relatar qualquer número que desejar nas demonstrações financeiras, então o que deveria ser o(s) princípio(s) norteador (s) por atrás de suas escolhas? A resposta, fiéis leitores, é que temos de novo a Suavização do Lucro (Income Smoothing) vindo para os Estados Unidos.
Era uma vez nos Estados Unidos, a Suavização do Lucro foi uma prática comum nos Estados Unidos. Suavização do Lucro, pura e simplesmente é uso de manobras contábeis para mudar os relatórios contábeis para que diga uma história desejada. Na sua forma mais pura, toma uma série temporal de lucro líquidos suaviza relataram que até é uma tendência aparente. Os picos são amassados, vales estão preenchidos, e uma linha estética tendência aparece.
(…)Historicamente, verificou-se um debate sobre esta prática. O consenso que surgiu foi que a suavizaçao do lucro aproxima-se da fraude. (...)
O FASB foi bem sucedido em que termina-lo. Seu sucesso pode ser medido através dos muitos exemplos de como desobediência dos executivos corporativos que propositadamente optaram por não seguir as regras contábeis. (...) Ambos os grupos internacionais [Iasb e Iasc] decidiram não lutar contra a suavização do lucro, mas a adotá-la como fundamento para a apresentação de informações financeiras. (...)
Accounting Education Under IFRS - David Albrecht
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