Os contadores passaram a adotar como mantra que a informação deve apresentar representação fiel ou fidedigna. Essa ideia tem prevalecido e sido amplamente aceita, sem maiores críticas. A presença da representação fiel na estrutura conceitual parece reforçar que isso é, de fato, algo desejável em uma informação.
É bom lembrar que isso começou nos anos sessenta e, logo depois, foi incorporado à primeira estrutura conceitual emitida por uma entidade — no caso, a estrutura do FASB, que já estava em gestação antes mesmo da criação formal dessa entidade do terceiro setor nos Estados Unidos. A estrutura conceitual pareceu tão boa que foi rapidamente incorporada pelo IASC. Com a transformação do IASC em IASB, a estrutura passou a ser repensada em conjunto com o FASB, no que ficou conhecido como Acordo de Norwalk.
Levaram anos para finalizar a nova estrutura conceitual, mas, quando o texto ficou pronto, a representação fiel permanecia entre as características — assim como já constava nos documentos anteriores. E tem sido considerada tão importante que recebe o selo de característica "fundamental". Parece um tanto óbvio afirmar que a informação deve representar a realidade. Mas será essa uma verdade absoluta?
Veja o mapa do mundo. Há uma história rica sobre o tema, que inclui as primeiras tentativas feitas pela humanidade desde a Antiguidade até Mercator. Mercator viveu no século XVI e propôs uma representação do mundo por meio de um mapa que transformava uma esfera — a Terra — em um desenho plano: o seu mapa. O mapa de Mercator é tão influente (e veja que uso o verbo no presente) que, quando imaginamos uma representação do mundo, a imagem proposta por ele é a que nos vem à mente. Pense no Brasil e no mapa do Brasil. Agora pense na América do Norte. Ao juntar ambos, se você imaginou o Brasil na parte inferior do mapa e a América do Norte na parte superior, isso é resultado da influência dessa antiga representação do mundo, especialmente do mapa de Mercator. Mas será uma representação fiel? Talvez seja uma das possíveis representações do mundo — mas não é fiel, pois estamos desenhando algo em duas dimensões quando, na verdade, temos uma esfera.
A representação nada fiel do mundo em um mapa é um exemplo que me vem à mente quando lemos sobre estrutura conceitual e suas características fundamentais. Em muitos casos, a falta de fidedignidade não compromete o objetivo da informação. Uma situação em que isso aparece de forma clara, além do mapa de Mercator, é no mapa do metrô de Nova York. No passado, o blog apresentou esse exemplo.
Agora, temos a notícia de que o famoso mapa do metrô está mudando. Segundo as informações, o mapa foi redesenhado, tornando-se muito parecido com um modelo usado brevemente nos anos 1970. Esperamos que ele não esteja buscando representar fielmente a cidade, mas sim oferecer algo útil para os usuários.