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Mostrando postagens com marcador previsão. Mostrar todas as postagens
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10 junho 2024

Valor de uma melhor previsão

 O assunto é a previsão de furacão. Eis o resumo, traduzido pelo navegador Vivaldi 

Qual é o impacto e o valor das previsões de furacões? Estudamos esta questão usando dados de previsão recém-coletados para os principais furacões dos EUA desde 2005. Descobrimos que previsões mais elevadas da velocidade do vento aumentam os gastos com proteção antes do evento, mas subprevisões erradas aumentam os danos após e os gastos com reconstrução. A nossa principal contribuição é uma nova abordagem teoricamente fundamentada para estimar o valor marginal das melhorias previstas. Descobrimos que a melhoria média anual reduziu os custos totais por furacão, incluindo gastos de proteção não observados, em $700.000 por condado. As melhorias desde 2007 reduziram os custos em 19%, com uma média de 5 bilhões de dólares por furacão. Isso excede o orçamento anual para todas as previsões meteorológicas federais.

Para aqueles que ainda não acreditam que melhorar a informação pode trazer benefícios. 

05 fevereiro 2024

Desmistificando Previsões: Entre Especialistas, Modelos Estatísticos e a Heurística na Contabilidade Empresarial

Nós sabemos hoje que os especialistas não são tão bons em fazer previsões. Na verdade, as pesquisas estão mostrando que algumas pessoas não especialistas são capazes de fazer previsões melhor do que os especialistas. Mas imagine que você esteja analisando uma demonstração contábil de uma empresa e exista uma linha explicando uma previsão feita na contabilidade.

Abrindo um parêntese aqui, há diversas situações onde isso pode ocorrer. Vou listar quatro casos: a vida útil futura de um ativo, o percentual de clientes que não irá pagar suas contas, a chance de sucesso ou insucesso nos processos judiciais e a projeção do fluxo de caixa futuro usada para calcular o valor em uso.

Suponha agora que você leia que a empresa utilizou, na sua previsão, a opinião de um especialista da área. Você já sabe que ter a opinião deste especialista não significa uma verdade absoluta, pois a ciência já mostrou que seu nível de erro é elevado. Imagine agora outro caso onde a empresa informa que fez sua previsão usando não especialistas. Com qual informação você, usuário da informação, ficaria mais tranquilo? Provavelmente com a do especialista, apesar das pesquisas indicarem o contrário.

Conforme a ciência tem mostrado, as melhores pessoas em fazer previsões são aquelas hábeis em fazer previsões em outras áreas, mesmo com pouco conhecimento. Mas vamos recuar um pouco. Se queremos fazer uma previsão sobre o futuro, temos as seguintes possibilidades: especialistas, modelos estatísticos, uso de pessoas (especialistas ou não) que emitem sua opinião e mercados de previsão.

Em situações descritas anteriormente, os mercados de previsão talvez sejam a opção pior. Não pela qualidade do resultado ou pela ausência de defensores. Desde o livro “Sabedoria das multidões” sabemos que os mercados de previsão são alternativas adequadas. Tanto é assim que tem sido usado pelo Banco Central (Focus) ou pelo Ministério da Fazenda (previsão dos itens das contas públicas), além de ter gerado sites como Metaculus ou PredicIt. Mas para que o instrumento funcione, é necessário que o mercado seja grande, líquido e acessível para as pessoas apostarem, o que fatalmente não seria o caso de um mercado para prever a vida útil do ativo de uma empresa, por exemplo.

Os modelos estatísticos se desenvolveram muito nos últimos anos. E isso ocorreu graças ao desenvolvimento não de técnicas tradicionais, como regressão, mas da expansão da análise bayesiana. Entretanto, talvez ainda seja um sonho falar em análise bayesiana em contabilidade, mesmo existindo já um grande volume de pesquisa na área, uma vez que não ensinamos esta ferramenta e usamos de maneira adequada na área. De qualquer forma, os modelos estatísticos podem ser uma alternativa para as previsões, uma vez que legitimam o número apresentado e aparentemente seriam mais isentos do que o uso de pessoas para emitirem opinião.

Contar com especialistas pode ter dois problemas sérios. O primeiro é o fato de ser uma opinião cara para a empresa. Imagine contratar um especialista em vida útil de um ativo para emitir sua opinião na grande quantidade de itens que compõem o patrimônio de uma empresa. O segundo problema é a qualidade do resultado, pois, conforme já foi demonstrado, o resultado geralmente é inferior às opiniões de pessoas. A grande vantagem é o fato de que um especialista dá credibilidade ao resultado. Na contabilidade, as empresas contratam empresas especializadas para dizer que suas informações estão adequadas e este profissional recebe o nome de auditor.


A opção de usar um julgamento de alguém pode ser feita e provavelmente é feita em muitos casos. Imagine que no final do exercício é necessário fazer uma estimativa do percentual de valores a receber que seria incobrável no futuro. As pessoas dentro da empresa possuem uma estimativa do valor. Talvez seja justamente este valor que irá prevalecer no final. Para o usuário da informação, isto talvez não fique claro ou fique subentendido. Caso seja necessário, pode-se usar o chavão técnico usual para dizer que o método usado foi a abordagem heurística. Por sinal, se a empresa escrevesse que usou a abordagem heurística, provavelmente a maioria das pessoas não entenderia bem o que isso significa.

Se a contabilidade depende da previsão, como tem ocorrido cada vez mais, talvez seja importante que fique bem claro qual o método iremos adotar. Mas a sinceridade de revelar que a previsão foi realizada com base na abordagem heurística seja crua demais para os leitores das demonstrações, que preferem ser enganados acreditando que modelos complexos, estatísticos ou não, foram empregados na estimativa realizada.

Acredite quem quiser.

Nota: O texto foi inspirado em um artigo publicado no IFP. Este texto é bem mais completo do que as linhas acima e possui uma grande quantidade de links interessantes. 

21 novembro 2023

Um trecho de Gigerenzer

Quando você olha seu aplicativo de tempo e lá tem que a chance de chuva é de 50% para amanhã de manhã e 50% para amanhã no período da tarde, o que isso realmente significa? Essa questão está no livro Preparados para o Risco, de Gerd Gigerenzer.  


Uma possível resposta para a questão acima é que a chance de chuva no dia é de 100%. Mas a resposta é bisonha. Mas o que significa a informação de que há 50% de chance de chuva de manhã? Uma possibilidade é imaginar que em 50% da sua cidade irá chover. Outra possibilidade é que uma reunião de meteorologista mostrou que metade deles acredita que irá chover e metade não.  

Muitas pessoas não sabem realmente o que significa uma chance de chuva de 50%. Basicamente, os meteorologistas afirmam é que em metade dos dias, como amanhã, irá chover e quem em metade não irá chover. Devemos lembrar que esses profissionais são extremamente calibrados no anúncio da previsão, indicando que seus modelos são bastantes precisos. 

Sobre a previsão do tempo, há um ponto muito interessante que está presente no livro do Nate Silver. Você sabia que a previsão do tempo anunciada na televisão é propositalmente enviesada? Assim, quando há 30% de chance de chuva para o dia de amanhã, a televisão destaca que haverá chance de chuva, com frases do tipo "pode chover". Isso tem a ver o fato de as pessoas lembrarem mais quando a apresentadora da previsão do tempo errou dizendo que não teria chuva e choveu.  

Ou seja, eles não estão preocupados com a REPRESENTAÇÃO FIEL. Besteira. O seu público não quer ser surpreendido com uma chuva. É preferível estar com um guarda-chuva e não ter tido a chuva do que estar sem e se molhar. Eu acredito que o usuário prefere o conservadorismo à fidedignidade. 

Foto: Osman Rana

06 novembro 2023

Valor de uma melhor previsão

Qual seria o valor de melhorar a precisão de uma previsão do tempo? Uma pesquisa fez esta estimativa e encontrou que melhorar em 50% as previsões pode salvar mais de duas mil vidas. Eis o resumo:

Nós fornecemos as primeiras estimativas de preferência revelada dos benefícios das previsões meteorológicas de rotina. Os benefícios decorrem de como as pessoas usam informações antecipadas para reduzir a mortalidade devido ao calor e ao frio. Teoricamente, previsões mais precisas reduzem a mortalidade somente se o risco de mortalidade for convexo em erros de previsão. Testamos essa convexidade usando dados sobre o universo de eventos de mortalidade e previsões meteorológicas ao longo de um período de doze anos nos Estados Unidos. Os resultados mostram que previsões erroneamente amenas aumentam a mortalidade, enquanto previsões erroneamente extremas não reduzem a mortalidade. Tornar as previsões 50% mais precisas salvaria 2.200 vidas por ano. O público estaria disposto a pagar $112 bilhões para tornar as previsões 50% mais precisas ao longo do resto do século, dos quais $22 bilhões refletem como as previsões facilitam a adaptação às mudanças climáticas.

O texto pode ser encontrado aqui

25 outubro 2023

Previsão e Inteligência Artificial

Na discussão sobre a inteligência artificial, é sempre bom ser cético sobre previsões realizadas por empresas de consultoria. São chutes. Mas também é curioso ver algumas falhas grotescas cometidas no passado. Em um texto da Business Insider encontrei o seguinte: 


Pegue a internet, por exemplo: em 1995, a revista Newsweek publicou um artigo intitulado "Por que a Web não será o Nirvana", argumentando que livros e passagens aéreas nunca seriam comprados pela internet. Ainda naquele ano, Bill Gates foi questionado por um cético David Letterman: "E quanto a essa coisa da internet?". Mesmo três anos depois, à medida que a adoção crescia, o economista Paul Krugman declarou famosamente que a influência da internet não seria maior do que a da máquina de fax. (...)

Em 2017, a McKinsey estimou que modelos de linguagem grandes e robustos, como o GPT-4, seriam desenvolvidos até 2027. Mas eles já estão aqui. (...)

Em 1987, o economista Robert Solow declarou famosamente: "Você pode ver a era do computador em todos os lugares, exceto nas estatísticas de produtividade". O "paradoxo da produtividade" de Solow destacou um quebra-cabeça-chave da emergente era dos computadores. 

Mas vejam que interessante este trecho aqui: 

Um estudo amplamente citado pelo economista David Autor e seus colegas constatou que 60% dos trabalhadores de hoje têm empregos que não existiam há 80 anos, sugerindo que 85% do crescimento do emprego foi resultado da inovação tecnológica.

foto: Unsplash+


26 agosto 2023

Previsão e contabilidade

A questão da previsão é um assunto que interessa de perto à contabilidade. Há diversas situações em que a contabilidade necessita olhar para o futuro e, nesses casos, saber como lidar com previsões ou estar a par das mais recentes previsões realizadas por especialistas pode ser importante.

Na contabilidade, o exemplo onde a previsão é fundamental ocorre na determinação sobre a continuidade ou não de uma entidade. Apesar de existirem ferramentas para saber sobre a chance de uma empresa entrar em processo de descontinuidade, estamos falando de modelos probabilísticos, que podem estar certos ou não.


Outro exemplo é a previsão sobre a vida útil de um ativo. Baseada em fatos passados, a contabilidade determina uma vida útil e a partir daí faz-se o cálculo de depreciação. Novamente, a previsão exerce um papel crucial na mensuração. E podemos falar das previsões dos clientes que irão pagar, dos estoques que não serão vendidos e perderão validade, da chance de ocorrer um evento que irá demandar recursos da entidade para processos judiciais, da obtenção de uma patente, entre muitos outros eventos.

De maneira mais moderna, a contabilidade passou a escolher certos caminhos que dependiam substancialmente da previsão, sem que isto significasse necessariamente um aumento na qualidade da informação. Ao contrário da meteorologia, onde a previsão teve um grande desenvolvimento nos últimos anos, o olhar para o futuro da sociedade, da economia e das transações ainda carece de melhoria.


Quando trazemos a questão ambiental de forma explícita para as informações empresariais, as incertezas são enormes. Vamos lembrar um pouco o que ocorreu nos anos setenta. Após diversas guerras contra Israel, alguns países árabes começaram a usar o petróleo como arma política. O cartel formado pelos produtores incentivou uma crise, onde o preço de um insumo até então barato, subiu de forma considerável. A crise do petróleo aumentou os preços e fez com que os países importadores gastassem quantias muito maiores na compra do insumo.

Neste momento, as previsões eram que o produto sofreria por muitos anos com seu preço. Seria necessário encontrar substitutos que possibilitassem a redução da dependência dos países em relação aos árabes. Cinquenta anos depois, ainda temos uma economia baseada no petróleo, indicando que as profecias falharam. E o preço está bem acessível em relação ao esperado. E o Brasil, tradicional importador, hoje tem no petróleo a segunda fonte de exportação. Ou seja, a bola de cristal dos anos setenta estava errada. E estamos falando de cinquenta anos em termos de horizonte de tempo.

A expectativa com o futuro do mundo também deve levar em consideração o fato de sabermos muito pouco sobre como fazer previsões adequadas. Em um artigo da Vox, no endereço https://www.vox.com/future-perfect/23834709/social-cost-carbon-future-predictions-climate-change-progress-possibilities, há uma discussão sobre nosso histórico de previsões e a situação atual sobre o que sabemos sobre a mudança no clima. Apesar de termos hoje mais instrumentos de previsão do que há cinquenta anos, a humanidade ainda não sai bem nas previsões sobre aspectos vinculados à mudança climática.


Parte do nosso problema, embora não seja somente isto, está na inovação. Nos anos setenta, um dos motivos de preocupação era o fato dos automóveis consumirem combustível de forma exagerada. Alguns modelos parecem que não evoluíram, mas hoje é comum encontrar automóveis com um consumo médio de 15 quilômetros por litro ou mais, o dobro do que existia há cinquenta anos.

Quando temos que mensurar o custo do carbono, isso está vinculado à quantidade de CO2 que é liberada na atmosfera. Mas também como a mudança climática irá afetar as pessoas. Não temos a alternativa de esquecer o futuro, mas trabalhar com modelos preditivos falhos pode ser pior. Uma crítica feita no texto da Vox é que algumas das estimativas tentam fazer previsões para o ano 2300; isto é lidar com uma grande incerteza. Talvez ser menos ambicioso, como fazer previsões para as próximas décadas, seja melhor.

Não há como evitar o problema central aqui. Temos o poder, como civilização, de mudar o mundo em que vivemos de maneiras duradouras e potencialmente irreversíveis; as decisões que tomamos provavelmente afetarão nossos distantes descendentes. Adivinhar qual será a produtividade das culturas em 2300 pode ser quase impossível, e cálculos sobre os custos sociais do carbono que dependem dessas suposições sobre a produtividade das culturas terão uma incerteza extraordinariamente alta.


Mas declarar que não faremos essas suposições não significa que não afetamos o mundo no futuro distante, apenas que paramos de tentar adivinhar como. Eu tendo a pensar que é melhor ter suposições inadequadas do que não ter suposições, melhor ter uma ampla faixa de possibilidades do que tratar uma pergunta como desconhecida e, portanto, calcular como se seu valor fosse zero. Mas é importante prosseguir com um sentimento doloroso da inadequação dessas suposições. 

Foto: Vox e JJ Jordan

22 julho 2023

Vantagens da boa previsão


Eis o abstract

We provide the first revealed preference estimates of the benefits of routine weather forecasts. The benefits come from how people use advance information to reduce mortality from heat and cold. Theoretically, more accurate forecasts reduce mortality if and only if mortality risk is convex in forecast errors. We test for such convexity using data on the universe of mortality events and weather forecasts for a twelve-year period in the U.S. Results show that erroneously mild forecasts increase mortality whereas erroneously extreme forecasts do not reduce mortality. Making forecasts 50% more accurate would save 2,200 lives per year. The public would be willing to pay $112 billion to make forecasts 50% more accurate over the remainder of the century, of which $22 billion reflects how forecasts facilitate adaptation to climate change.

Apesar do aumento substancial da qualidade da previsão do tempo, colocar mais fundos públicos nesta atividade pode ser interessante. O texto mostra a quantidade de vidas salvas. Uma reportagem sobre a pesquisa pode ser encontrada aqui

Sobre a qualidade crescente das previsões meteorológicas, vide o livro Sinal e Ruído, de Nate Silver. Um ponto interessante é que a previsão de calor salva mais vidas humanas que a previsão do frio. Isto parece contra-intuitivo. Mas é do texto acima. 

Foto: Angela Compagnone

04 maio 2023

Previsão, Economia, Astrologia e Contabilidade

Sobre a questão da previsão, a coluna de Tim Harford é bem interessante . Eis alguns trechos:

O economista Ezra Solomon certa vez brincou que "a única função da previsão econômica é fazer a astrologia parecer respeitável" (...).

Parece difícil imaginar que um meteorologista econômico jamais ganhará tais vales. Mas muitos especialistas econômicos parecem ter tido lições dos astrólogos. Considere este horóscopo: “O equilíbrio de riscos permanece inclinado para baixo, mas os riscos adversos são moderados . . . No lado positivo, um aumento mais forte da demanda reprimida em várias economias ou uma queda mais rápida da inflação são plausíveis. Por outro lado, os resultados ruins na China podem impedir a recuperação . . . "

Isso praticamente cobre tudo: boas notícias, más notícias, mais inflação, desinflação. Caso você esteja se perguntando, é o mais recente World Economic Outlook do FMI. Mas esse tipo de "previsão do arco-íris" é típico do gênero.

Especialista em previsão Philip E Tetlock, em seu livro de 2005, Julgamento político especialista, observou que os especialistas tinham uma tendência a fazer previsões vagas e a usar desculpas como "errar por precaução" ou “estar errado apenas no momento”.


Nesse caso, esses especialistas estão trilhando um caminho conhecido. Considere as seguintes frases: “Você precisa muito de outras pessoas para gostar e admirar você”.“ Você tem uma tendência a ser crítico consigo mesmo”. “Embora você tenha algumas fraquezas de personalidade, geralmente é capaz de compensá-las”. Eles soam como o tipo de coisa que um clarividente pode dizer depois de olhar para uma bola de cristal, mas essas declarações são de um artigo acadêmico, “A falácia da validação pessoal”, publicado em 1949 pelo psicólogo Bertram Forer.

Depois de fazer com que seus alunos preenchessem um questionário de diagnóstico, Forer entregou a cada um deles uma avaliação por escrito de suas características. Os alunos acreditavam que as avaliações eram adaptadas exclusivamente com base no questionário. Mas, de fato, cada aluno recebeu a mesma lista de 13 frases, incluindo as três acima. Os alunos sentiram que o diagnóstico havia feito um excelente trabalho, e a grande maioria concordou com pelo menos 10 das 13 declarações. Quando o engano foi revelado, escreveu Forer, “eles começaram a rir”.

Essas "declarações de Forer" - às vezes também chamadas de "declarações de Barnum" em homenagem ao showman PT Barnum - podem parecer estranhamente específicas. A maioria das pessoas não se dá conta de que elas são quase universais.

Em defesa dos analistas econômicos, incluindo o FMI, o palavreado barnumiano é tradicionalmente acompanhado de previsões numéricas específicas e falseáveis. Certamente, os verdadeiros incorrigíveis são os colunistas econômicos. Nós acenamos alegremente com riscos e oportunidades que podem ou não se manifestar. E, assim como os astrológos, somos mantidos por aqui apenas porque as pessoas acham nossos prognósticos divertidos.

Os paralelos não deveriam ser uma surpresa. A história da previsão econômica de Walter Friedman, Fortune Tellers, explica que clarividentes e analistas econômicos começaram em um lugar semelhante. Evangeline Adams e Roger Babson estavam perto de contemporâneos, nascidos nos EUA em 1868 e 1875, respectivamente. Ambos ofereceram consultoria de investimento em geral e previsões do mercado de ações em particular. Ambos tinham uma alta procura e morreram ricos. A principal diferença foi que Adams era um astrólogo, enquanto Babson oferecia previsões baseadas em dados inspiradas em idéias da física.


As ideias de previsão de Babson parecem muito estranhas hoje em dia. Ele era um grande fã de Isaac Newton: comprou e mudou a sala de estar da casa de Newton de Londres para Massachusetts, financiou pesquisas sobre antigravidade e suas ideias de previsão estão repletas de física newtoniana mal apropriada. Seu "Babsonchart" foi construído com base na ideia newtoniana de que cada alta acima da tendência era seguida por uma baixa igual e oposta abaixo. Em retrospecto, isso era verdade por definição, quando Babson traçava a linha de tendência no lugar certo. Infelizmente, isso oferecia pouco poder de previsão além de generalidades.

Ainda assim, as generalidades o levarão muito longe. A reputação de Babson como previsor foi garantida quando, em 5 de setembro de 1929, algumas semanas antes do grande crash, ele opinou: "mais cedo ou mais tarde, um crash está chegando, o que causará um declínio de 60 a 80 pontos no Barômetro Dow-Jones". Impressionante. O que é menos impressionante é que essas previsões sombrias começaram anos antes, em 1926, e depois disso, o índice Dow mais do que dobrou. A queda foi muito maior do que Babson havia previsto e continuou muito tempo depois que Babson começou a prever uma recuperação.

Não importa. Pouco depois do início do crash, Babson publicou um anúncio no The New York Times anunciando que "os clientes da Babson estavam preparados" e ele ainda recebe o crédito por ter previsto o crash.

Os aficionados por clarividência reconhecerão algumas semelhanças aqui. Se quiser ser admirado por suas previsões, tempere suas afirmações ousadas com imprecisão e não deixe de alardear os sucessos e minimizar os fracassos. (…)

A contabilidade é uma área que precisa lidar com diversas previsões ao longo do tempo. Uma dessas previsões é a questão da continuidade de uma entidade, que é extremamente importante para o responsável pela contabilidade. Essa previsão baseia-se na crença de que a empresa irá persistir no tempo e é usada para escolher o método de avaliação dos elementos patrimoniais.

Além disso, a contabilidade também precisa fazer previsões sobre a vida útil de ativos, como máquinas, equipamentos e outros bens. Essas previsões são importantes para determinar o desgaste desses ativos com o tempo e, consequentemente, o seu valor contábil. Essas previsões podem ser lineares ou não e devem ser precisas para garantir a acurácia das informações contábeis.

Outra previsão importante na contabilidade é a chance de receber uma dívida de um cliente. Nesses casos, é necessário fazer uma previsão sobre a probabilidade de recebimento e o prazo em que isso pode ocorrer. Essas previsões são essenciais para determinar o valor a ser registrado no balanço patrimonial e a provisão que deve ser feita para cobrir possíveis perdas.

Ao contrário dos astrólogos, a contabilidade deve trabalhar com previsões precisas e baseadas em dados concretos. É fundamental que as previsões sejam o mais exatas possível, para evitar distorções nas informações contábeis e prejuízos para a empresa.

06 fevereiro 2023

Exxon previu o aquecimento global

A empresa Exxon sempre esteve no centro da polêmica sobre aquecimento global. A companhia de petróleo dos Estados Unidos negou, de maneira insistente, os efeitos do clima no futuro. Uma empresa de petróleo tem interesse neste assunto, já que a emissão de carbono é, de maneira geral, considerada uma das causas do aquecimento global, sendo que as empresas de petróleo responsáveis por uma grande parcela do problema. 

Assim, admitir o problema do aquecimento global corresponde, para as petrolíferas, reconhecer parte de sua responsabilidade na questão, o que pode induzir a eventuais passivos futuros. Afinal, governo e sociedade podem querer responsabilizar alguém pelo problema do clima e as empresas de petróleo, com grande volume de riqueza e uma associação com o problema, são as candidatas naturais para ações judiciais.

Entre as empresas do setor, a Exxon, pelo porte e pela posição firme na defesa de que não há um problema com o clima global, é o grande destaque. Uma pesquisa publicada este ano na revista Science expôs um aspecto importante da questão. Segundo os autores do estudo, os cientistas da Exxon previram o aquecimento global com precisão no período de 1977 a 2003. Isto, de certa forma, contradiz o discurso da administração, que negava o problema. 

Para chegar a esta conclusão, os pesquisadores coletaram os relatórios realizados pelos cientistas da empresa e constantes dos documentos internos. Isto permitiu chegar a previsões, que quando confrontadas com a realidade, mostraram muito próximas da realidade. 

Veja o gráfico abaixo:

O gráfico mostra a evolução de dados desde 1960 e vai até o ano de 2080. Este gráfico foi realizado no início dos anos 80. O incremento da temperatura está na parte de baixo do gráfico, onde a previsão é a linha escura e o valor observado a linha vermelha. Na verdade, neste gráfico, a previsão do estudo interno era de um aumento na temperatura acima do valor que foi observado; ou seja, a previsão interna era mais pessimista do que ocorreu, muito embora a diferença não seja tão substancial para uma estimativa de longo prazo. 

Mesmo com estes estudos, a Exxon negava, em público, as conclusões dos estudos. Ou mesmo denegria os modelos climáticos que faziam previsões de mudanças no futuro. 

O estudo é importante pois traz evidências que a empresa previu com precisão o aquecimento global, muito embora adotasse outra postura para o público externo. Para a contabilidade também pode servir de estudo para confrontar o discurso das informações constantes dos relatórios - e das estimativas de mensuração dos valores dos ativos e passivos - com o conhecimento da área técnica. 

Além disto, a divulgação da pesquisa pode servir de munição para àqueles que desejam uma alteração no pensamento das empresas poluidoras mundiais. 

Supran, G., Rahmstorf, S. & Oreskes, N. (2023). Avaliando as projeções de aquecimento global da ExxonMobil. Science. 379(6628). 

Veja também aqui. E aqui

29 março 2022

Mercado e Fraude

 

A Hindenburg Research LLC é uma empresa de pesquisa de investimento que está focada nas empresas que podem ser potenciais desastres. O nome é uma homenagem ao desastre do Hinderburg, considerado um desastre evitável. A empresa publica relatórios de empresas com má gestão. Basicamente sua estratégia é: investigue uma empresa, encontre algo que possa ser caracterizado como fraude, invista contra a empresa, revele suas descobertas e espere o preço cair.

AstralCodex pergunta se isto não poderia ser um substituto para a imprensa. Isto permitiria que os clientes paguem pela pesquisa de uma empresa como a Hindenburg, sem precisar de comprar outras coisas que não deseja.

Na opinião do site, havendo um bom mercado de previsão, você poderia financiar relatórios investigativos. E permitiria que notícias falsas fossem punidas pelo próprio mercado - se você denunciar uma empresa e não for verdade, os traders deixarão de confiar nos seus relatórios. 

Será que isto não poderia ser uma solução para o mercado de auditoria? Permitir que qualquer pessoa possa divulgar seus relatório; as empresas mais competentes ficariam no mercado e os erros das grandes seriam realmente punidos na sua reputação. 

Foto: Manik Roy

01 fevereiro 2022

Previsão do futuro e Café


Para os amantes do café, eis um aplicativo interessante, que usa uma tradição oriental de leitura do futuro a partir da borra do produto. Eis um resumo do que se trata:

Todos os dias, mais de um milhão de usuários do Faladdin enviam fotos de suas moagens de xícaras de café, e a equipe de Taşdelen fornece "leituras" personalizadas em 15 minutos. Dessas leituras, 700.000 estão em turco, 200.000 em árabe e 100.000 em inglês. Com sua publicidade extravagante e reivindicações bombásticas, o aplicativo certamente está pronto para zombaria. No entanto, desde o seu lançamento no início de 2017, mais de 20 milhões de pessoas, principalmente da Turquia e do Golfo Pérsico, baixaram Faladdin.

Parece brincadeira, mas não é. Um milhão de leituras por dia é bastante razoável, não? A empresa possui uma receita com anúncios, que ajuda a bancar 30 funcionários, com planos de expansão. 

Será que um contador pode usar os serviços da empresa para fazer seu teste de impairment? Chute por chute, o do café parece mais razoável ...

20 dezembro 2021

Futebol mais previsível?


A resposta parece ser sim, para o futebol inglês e de outros países europeus. Eis o abstract (via aqui):

In recent years, excessive monetization of football and professionalism among the players have been argued to have affected the quality of the match in different ways. On the one hand, playing football has become a high-income profession and the players are highly motivated; on the other hand, stronger teams have higher incomes and therefore afford better players leading to an even stronger appearance in tournaments that can make the game more imbalanced and hence predictable. To quantify and document this observation, in this work, we take a minimalist network science approach to measure the predictability of football over 26 years in major European leagues. We show that over time, the games in major leagues have indeed become more predictable. We provide further support for this observation by showing that inequality between teams has increased and the home-field advantage has been vanishing ubiquitously. We do not include any direct analysis on the effects of monetization on football’s predictability or therefore, lack of excitement; however, we propose several hypotheses which could be tested in future analyses.

(Artigo com estrutura interessante, onde a conclusão aparece antes da seção "dados e métodos")

08 abril 2021

Previsões de curto ou longo prazo


As previsões meteorológicas de cinco dias agora são tão precisas quanto as previsões de um dia eram em 1980. As previsões modernas de 72 horas de rastros de furacões são mais precisas do que as previsões de 24 horas eram há 40 anos. Ninguém sabe até onde os meteorologistas podem levar suas previsões com precisão, mas eles estão tentando .

É uma história promissora de avanço científico, que pesquisadores em vários campos - da economia às doenças infecciosas - estão procurando replicar. E muitos formuladores de políticas estão apoiando modeladores com quantidades substanciais de recursos.

Fonte: aqui

Isto pode ser um alento para a Contabilidade, que resolveu arriscar e associar as informações contábeis com as previsões. Mas ao contrário da meteorologia, a Contabilidade não trabalha com situações de previsões diárias, com um feedback constante, que permite ajustar o modelo. 

24 janeiro 2021

Previsão e Contabilidade - 2


Na postagem anterior vimos que existe uma ênfase em se fazer previsão na contabilidade atual. Mas temos vários problemas com esta escolha. 

Aqui vamos enfatizar somente um aspecto: como melhorar a contabilidade, através da melhoria do processo preditivo. Quando a contabilidade lida com a previsão, geralmente isto não está explicito nas informações. O especialista sabe que o valor do passivo judicial de uma empresa depende, substancialmente, de previsão. Também sabe que uma decisão sobre a recuperabilidade dos ativos é apoiada nestas previsões. 

Uma das melhores maneiras que as pessoas aprendem é errando e corrigindo o erro. Entretanto, o processo contábil não permite que isto seja feito. Se o profissional fez uma estimativa que uma determinada causa não resultaria em um passivo para a empresa e errou, o usuário dificilmente saberá deste erro. Há algumas exceções. Algumas empresas divulgam suas principais projeções. Mas na maioria dos casos, é impossível saber aonde termina uma estimativa e começa uma projeção. A melhor maneira de saber se a mensuração realizada pela entidade através da previsão é adequada será através de um sistema que permita analisar seu grau de acerto. 

Fazer uma previsão de que o PIB deverá aumentar este ano pode ser fácil. Ou dizer que a sua vida irá mudar para melhor este ano é muito genérico. Os horóscopos geralmente se baseiam em afirmações amplas o suficiente para incorporar as mais diferentes possíveis situações. Por isto a leitura dos astros parece com charlatanismo. 

Mas especificar um valor para este acréscimo faz com que tenhamos melhores motivos para tentar acertar nossa decisão. Da mesma forma, indicar que um processo judicial não irá resultar em perdas para a empresa é uma previsão bem específica. Assim podemos saber se houve um acerto ou um erro na previsão. 

Observe que isto também pode ajudar os reguladores. Divulgando as previsões precisas das empresas, será possível perceber o quanto erramos e como isto interfere nos resultados apresentados nas informações. Se o erro for substancial e estiver atrapalhando a análise do desempenho da empresa, talvez seja melhor pensar em outra alternativa para mensuração contábil. 

Previsão e Contabilidade


Historicamente, a partidas dobradas não dependia substancialmente do processo preditivo. A partir dos meados do século passado, a questão da previsão começou a aparecer na contabilidade, seja na obra dos teóricos, seja nos documentos preparados pelas associações de profissionais contábeis. Com a criação do Fasb, nos Estados Unidos, e a adoção de sua filosofia na preparação de informações contábeis na maioria dos países, através do Iasb, a previsão passou a constar da estrutura conceitual. Sob a denominação de valor preditivo, a informação contábil deveria permitir que o usuário fizesse inferências sobre o futuro da empresa e também confirmasse suas previsões passadas. 

Aqui é importante fazer uma distinção entre os termos estimativa e previsão. A estimativa é geralmente utilizada na literatura contábil sem uma associação com o futuro. Quando o profissional calcula a depreciação mensal de um equipamento, é necessário fazer uma estimativa da vida útil deste ativo, para a determinação do valor da despesa. Da mesma forma, quando é feito o levantamento do estoque através do inventário periódico, estima-se o valor do custo a partir da fórmula (CMV = Estoque Inicial + Compras - Estoques Final). Nos dois exemplos, o futuro não é a parte relevante no processo de mensuração, embora esteja mais forte na primeira situação. 

Já a previsão tem uma associação mais estreita com o que irá ocorrer no futuro. Com base nos processos judiciais anteriores, é possível prever que a empresa deverá ter sucesso em uma determinada causa, e irá vencer. Assim, a contabilidade não irá reconhecer no passivo este processo. 

O que a estrutura conceitual enfatiza é o chamado valor preditivo. Há uma discussão inicial se o valor preditivo é do preparador da informação ou se, com base nas informações apresentadas, deve ser do usuário. Quando a norma enfatiza o valor justo, parece que a responsabilidade está sob os ombros do preparador. 

Imagem: aqui

03 dezembro 2020

Sobre a questão da previsão

A recente eleição do presidente dos Estados Unidos trouxe uma discussão sobre as pesquisas eleitorais. A vitória de Biden parecia bem mais fácil nas pesquisas do que foi na prática. Na eleição passada, as pesquisas tinham apostado em Clinton, mas Trump venceu. 

Entre as discussões, um texto trouxe alguns considerações interessantes:

Uma previsão cuidadosamente construída é (muito provavelmente) melhor do que a alternativa. Ou, para citar uma frase de Bill James que Andrew usou, “A alternativa para boas estatísticas não é nenhuma estatística, são estatísticas ruins”.

O que aconteceria se não houvesse previsões profissionais de grupos como a equipe do Economist ou analistas profissionais como Nate Silver? (...) Ou talvez eles questionem ansiosamente amigos e vizinhos (na verdade, provavelmente há algumas informações valiosas lá , mas apenas se agregarmos as pessoas!), Ou extrapolem a partir da atenção dada aos candidatos na televisão pública, ou quantos sinais eles veem em pátios ou janelas próximos , ou examinar folhas de chá, observar entranhas de animais mortos, etc. 

Uma alternativa que já existe são os mercados de previsão. Mas é difícil argumentar que eles são mais precisos do que uma previsão cuidadosamente construída [isto é controverso]. (...)

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22 agosto 2020

Imprevisão e contrato jurídico

 

Muito conhecida no universo jurídico e também sempre debatida sobre o aspecto da previsibilidade ou não do acontecimento, a Teoria da Imprevisão vem sendo bastante discutida nesses tempos de pandemia.

Diante do cenário que estamos experimentando nos últimos meses, somado às incertezas, inclusive, sobre quando tudo isso passará, parece-nos adequado olharmos as relações contratuais pela ótica da imprevisibilidade da situação atual, sendo os caminhos do diálogo e da negociação os mais indicados para os contratantes.

No entanto, quando tais caminhos não levam a uma convergência, pode o Judiciário, com o uso da Teoria da Imprevisão, buscar o reequilíbrio das relações, como forma de ajustá-las e se alcançar o melhor ponto possível para as partes.

Tal posicionamento do Judiciário se mostra admitido quando nos deparamos com relações comuns. Porém, em um cenário de recuperação judicial, poder-se-ia admitir o uso da referida teoria? (...)

Fernando Pompeu Luccas - Valor Econômico - Teoria da Imprevisão aplicada à recuperação - 21 de agosto. Imagem aqui

16 agosto 2020

Futuro no Cinema

 

Há muitos filmes que falam do futuro. Eis uma relação (via aqui) de alguns e o ano onde se passa a ação.

E a contabilidade? - fazendo previsões sobre o fluxo de caixa futuro das unidades de negócios.