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05 setembro 2022

Museu Getty devolve estátuas para Itália e resolve um problema contábil

Um grupo de estátuas de terracota em tamanho real (foto abaixo) esta sendo devolvida para a Itália pelo museu Getty. O conjunto foi adquirido pelo J. Paul Getty, o milionário que fundou o museu com suas obras de artes, nos anos setenta. 

O museu teve como curador Jiri Frel, que recomendou a Getty, em 1976, a aquisição. Frel esteve envolvido em aquisição de itens de origem duvidosa ou retirados de vários países de forma ilegal. Este é o caso das estátuas. As esculturas foram produzidas entre 350 a 300 anos antes de Cristo, na colônia grega de Tarentum, atual Taranto, Itália.

Segundo o diretor do museu, via TheHistoryBlog, trata-se de um dos itens mais importantes da coleção do Getty. As estátuas foram compradas por 550 mil dólares, o que seria equivalente a 3 milhões nos dias atuais. Mas há uma estimativa que seu valor de mercado seria 8 milhões. 

Em termos contábeis, objetos de procedência duvidosa é um interessante desafio para o profissional. Em certa situações, a baixa liquidez pode comprometer sua mensuração. Mas existindo a possibilidade do museu perder seu acervo, uma vez comprovado que o objeto foi obtido por meio questionável, não deve constar como ativo. Recentemente a França devolveu inúmeros objetos que foram saqueados do Benin. Este caso é muito semelhante das estátuas do museu Getty.

Outros casos a chance de devolução talvez seja remota, seja pela falta de interesse de ter a obra de volta, ou pelo fato que não há registro fidedigno de quem é o verdadeiro dono, ou pelo fato que a devolução pode colocar em risco a obra, ou pela preciosidade da obra. Pense na pedra Roseta, que está no Museu Britânico. Este museu listou dez itens mais relevantes de sua coleção, sendo metade de origem duvidosa. 

A questão contábil inclui responder se o item roubado deve ser considerado um ativo; se deve estar reconhecido na contabilidade do museu que detém sua posse; e como mensurar. No caso do museu Getty, as estátuas serão devolvidas e estas questões já estão resolvidas. 




09 dezembro 2021

Arte Roubada

 O filme A Dama Dourada conta a história de uma descendente de judeus que entra na justiça para recuperar um quadro de Klimt que foi roubado de sua família durante a invasão dos nazistas na Áustria. O quadro tinha sido pintado retratando uma pessoa da família Bloch-Bauer e era uma atração no museu austríaco. É um filme que mistura batalha judicial com reconstituição histórica de um grande saque artístico realizado pelos nazistas.

O fato narrado no filme não é único. Durante séculos, os países conquistadores levavam as obras de arte dos países dominados. Isto inclui obras que são atrações nos principais museus, obras que são destaques para os visitantes. Entre estas obras podemos citar a Vênus de Milo, uma atração do Louvre, que foi retirada da ilha grega de Milos ou a pedra Roseta, que permitiu decifrar os hieroglifos egipcios, do Museu Britânico.


Neste sentido, há um meme que consegue expressar bem o significado deste saque:


Parece exagero, mas alguns dos dados apresentados no texto Geopolítica da arte mostram o tamanho do saque:


No Museu Britânico são 73 mil objetos da África Subsaariana, muitos deles saqueados

A França possui 90 mil objetos, sendo a grande parte roubada

O Museu Holandês de Culturas Mundiais estima que 40% do acervo de 450 mil itens foram obtidos de forma ilegítima

Os objetos contemplam parte da cultura e história de países como o Iraque (exemplo: placas cuneiformes de Gilgamesh, roubada pelos Estados Unidos em 1990), Nigéria (3 mil objetos retirados do antigo Reino de Benin por diversos países europeus), Grécia (mármore do Partenon) e até Brasil. No nosso caso, os seis únicos exemplares de mantos tupinambás estão espalhados pela Europa, desde a invasão holandesa no século XVII.


Se no filme A Dama Dourada foi necessário todo um processo para provar que a pintura foi saqueada, nós podemos imaginar o trabalho que será necessário para que este processo ocorra com estas milhares de obras. Alguns países estão adotando uma postura de reconhecer o saque e devolver algumas das obras: os Estados Unidos resolveram devolver as placas cuneiformes de Gilgamesh; a Alemanha está devolvendo alguns dos bronzes de Benin; e até a Bélgica, responsável por um dos piores massacres colonialista no Congo, também deve iniciar o processo. A Holanda foi um pouco além, facilitando o processo, até mesmo quando não existia um registro completo da procedência.


Além da questão legal existem outros problemas. O primeiro é que muitos dos itens provavelmente não estão catalogados e provavelmente nem as instituições sabem o que estão guardando.


O segundo é que alguns dos itens roubados são hoje uma atração para os museus que detêm sua posse. Veja o exemplo do Museu Britânico. Esta instituição destacou dez itens da sua coleção em um catálogo, sendo que metade possui origem duvidosa. Há resistências em desfazer dos itens roubados, pois é uma preciosa fonte de receita para os museus.


Um terceiro fato é que muitos objetos foram saqueados de civilizações que já não existem. Em alguns casos, o território onde o objeto foi retirado não está claramente mapeado, podendo ser objeto de questionamento por mais de um país. Isso sem falar nas situações onde o objeto foi retirado de uma área que atualmente está sendo disputada entre dois ou mais países. A questão aqui é para quem devolver e isto pode ser um problema sério. Mesmo em alguns casos aparentemente simples, como a Vênus de Milo, a devolução deveria ser para o governo grego ou para cidade de Milo? Lembro também alguns objetos que viajaram ao longo da história e que poderia talvez não ter somente uma procedência: uma espada da cruzada, fabricada na França e encontrada no Oriente teria de qual país?


Finalmente, a preservação e o transporte dos itens, após a superação dos obstáculos anteriores, também pode ser um problema. Alguns países não possuem um museu capaz de receber seus tesouros ou quando possuem a conservação é precária.


Sobre a questão, em 2020 postamos o seguinte:


Um dos grandes desafios da contabilidade é a mensuração de ativos culturais. O caso do Museu Britânico é muito mais desafiador. Afinal, um objeto roubado pode ser considerado um ativo? Veja que os reguladores não apresentam uma resposta satisfatória para este caso. Na lógica da apropriação do fluxo de caixa, a resposta seria sim. Os artefatos seriam um ativo do Museu Britânico. Mas é válido considerar desta forma? A ética do contador não deveria tratar disto de maneira melhor?


Revendo agora creio que o assunto envolve realmente muitas questões. A primeira delas, é claro, se um item roubado pode ser considerado um ativo. A contabilidade sempre esteve dividida entre o aspecto jurídico e o aspecto econômico. A frase “essência sob a forma” não deixa de ser uma escolha; nesta frase há uma clara escolha para o aspecto econômico. Entretanto, a contabilidade nasceu, cresceu e solidificou nas regras do capitalismo e uma das suas regras é o respeito ao direito de propriedade. Este é um ponto sensível para o capitalismo, já que o sistema jurídico garante alguns direitos e deveres das partes que permite o funcionamento da economia. Esquecer estas regras pode ser complicado. Certamente uma delas, este direto à propriedade, é importante na discussão sobre um ativo roubado. Não é possível afirmar que um objeto saqueado se enquadre dentro do direito à propriedade. Isto significa, sem dúvida nenhuma, que temos aqui uma discussão também jurídica e mais profunda que esta postagem. E este aspecto está inserido dentro do controle, um dos itens cruciais da definição de ativo. É possível afirmar que um item roubado deve ser ativo? Provavelmente não.


A atual definição de ativo do Iasb reforça esta posição no que se refere a associação de ativo com recurso econômico e deste com o termo “direito”. Assim, pelas regras e fundamentos da contabilidade, um item roubado não pode ser considerado um ativo. Mas em termos práticos isso se sustenta? Provavelmente um contador deve ter uma grande quantidade de argumentos para defender o reconhecimento do ativo e em muitos casos o responsável pela contabilidade não possui condições de verificar a procedência do item. E nos casos onde a entidade adquiriu o item de um terceiro, o problema pode ser mais complicado ainda.


Mas esta questão talvez seja mais fácil de ser considerada dentro de uma empresa do que de um museu. Uma empresa de posse de um ativo roubado deve ter problemas com seus clientes, seus fornecedores e talvez com o governo se reconhecer isto na contabilidade. O mecanismo de controles e governança talvez seja maior nas grandes empresas do que nas entidades do terceiro setor. Em especial nos museus, onde um objeto roubado pode ser muito importante para sua coleção. Uma atitude prática, para não dizer cínica, é não reconhecer tal bem como “ativo”, muito embora esteja ajudando o museu a gerar riqueza. Seria a abordagem possível, sustentado pela desculpa de dificuldade de mensuração do valor do ativo?

10 setembro 2014

Listas: Museus por visitantes

1. Louvre, Paris = 9,3 milhões (foto)
2. British Museum, Londres = 6,7 milhões
3. Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque = 6,2 milhões
4. National Gallery, Londres = 6 milhões
5. Vaticano Museums, Vaticano = 5,5 milhões
6. Tate Modern, Londres = 4,9 milhões
7. National Palace, Taipei = 4,5 milhões
8. National Gallery of Art, Washington = 4,1 milhões
9. Centre Pompidou, Paris = 3,7 milhões
10. Musée d´Orsay, Paris = 3,5 milhões

As exposições mais visitadas:

1. Dinastia Zhou - Taipei = 10 946 por dia
2. Lingman - Taipei = 10.711 visitantes por dia
3. Impressionistas: Paris e Modernidade - Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro = 8.099
4. Dali - Paris = 7,364
5. Dalí - Madri = 6.615
6. Cai Guo-Qiang - Centro Cultural BB RJ = 6.409

Fonte: Aqu