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29 março 2022

Mercado e Fraude

 

A Hindenburg Research LLC é uma empresa de pesquisa de investimento que está focada nas empresas que podem ser potenciais desastres. O nome é uma homenagem ao desastre do Hinderburg, considerado um desastre evitável. A empresa publica relatórios de empresas com má gestão. Basicamente sua estratégia é: investigue uma empresa, encontre algo que possa ser caracterizado como fraude, invista contra a empresa, revele suas descobertas e espere o preço cair.

AstralCodex pergunta se isto não poderia ser um substituto para a imprensa. Isto permitiria que os clientes paguem pela pesquisa de uma empresa como a Hindenburg, sem precisar de comprar outras coisas que não deseja.

Na opinião do site, havendo um bom mercado de previsão, você poderia financiar relatórios investigativos. E permitiria que notícias falsas fossem punidas pelo próprio mercado - se você denunciar uma empresa e não for verdade, os traders deixarão de confiar nos seus relatórios. 

Será que isto não poderia ser uma solução para o mercado de auditoria? Permitir que qualquer pessoa possa divulgar seus relatório; as empresas mais competentes ficariam no mercado e os erros das grandes seriam realmente punidos na sua reputação. 

Foto: Manik Roy

25 janeiro 2018

Inovação para sobreviver em uma fábrica de sinos

Um texto muito curioso do Jornal Econômico de Portugalsobre a fábrica Serafim da Silva Jerónimo e Filhos Lta, fundada em 1932 (somente) e com 40 funcionários. A empresa produz de 250 a 280 sinos por ano. O segredo: a inovação. Eis alguns trechos (negritos meus):

Num mercado de nicho, para sobreviver e crescer, a Jerónimo desde cedo procurou apostar na inovação e alargar a sua atuação para além do fabrico, restauro e instalação de sinos. A sua atividade começou com a construção de sinos e carrilhões, mas expandiu-se, logo em 1947, à produção dos relógios de torre. Em 1954, abriu as portas à importação e comercialização de harmónios de pedais. E em 1960, começou a automatizar os toques de sinos por meios eletromecânicos, situação inovadora na época, dedicando-se também, a partir de 1972, ao comércio de órgãos eletrónicos para igrejas, conservatórios e particulares.

Esta diversificação permitiu à Jerónimo impor-se no mercado nacional, ao longo de décadas. E foi acompanhada de um foco na inovação, através de parcerias com universidades.

Arlindo Jerónimo [foto], filho do fundador da empresa, é um dos sócios-gerentes e tem no sangue a construção sineira. Apaixonado desde sempre pela arte, Arlindo Jerónimo lembra que a sua empresa tem, neste momento, “bem mais de 11 mil sinos espalhados por Portugal e também no estrangeiro, a exibir a arte da fundição de sinos”.

“O nosso forte é claramente a fundição de sinos. Até porque somos únicos nessa arte. No entanto, temos apostado em diversos mercados e ramos de ação porque o negócio dos sinos é uma coisa limitada. Temos espalhados por Portugal e em vários países mais de 4.000 relógios de torre, 7.500 mostradores exteriores e 10.500 aparelhos de toque de sinos, para além de mais de 5.000 órgãos vendidos ao longo destes anos”.

“Temos como clientes cerca de 90% das paróquias nacionais, mas isto é sempre um número muito limitado porque os sinos são feitos para durar uma vida. As paróquias não mudam sinos de ano para ano, nem de 10 em 10 anos. Como tal, o nosso mercado nesse campo está limitado. Daí termos apostado desde cedo noutros mercados”, explicou ao Jornal Económico.

Esta atividade construída de raiz em Braga significa um volume de negócio anual que ronda os dois milhões de euros.

Com exemplos da sua arte espalhados por todo o país, a Serafim da Silva Jerónimo forneceu sinos a diversas catedrais, basílicas, santuários, mosteiros e conventos, seminários, igrejas paroquiais, câmaras municipais, centros comerciais, universidades, palácios, entre outros edifícios espalhados pelo território nacional. Está também presente no estrangeiro, com forte implementação nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), Brasil, Canadá, Espanha, França, Porto Rico e Venezuela.

16 março 2016

Política e Mercado

A notícia de que o ex-presidente Lula pode assumir o cargo de ministro da Secretaria do Governo desagradou os investidores, que apostavam em uma melhora da política econômica numa eventual ruptura do governo Dilma Rousseff. Eles temem que o ex-presidente possa tentar retardar o processo de impeachment da presidente, que começa a ser analisado hoje na Câmara dos Deputados. Lula também poderia incentivar políticas de crédito expansionistas para reanimar economia, e sugerir mudanças na condução da política econômica que aumentem o déficit fiscal. A mudança nas expectativas com a política causou um forte ajuste de preços nos ativos locais. O Ibovespa fechou em baixa de 3,56% aos 47.130 pontos, a menor pontuação desde 2 de março. O dólar comercial subiu 3,05%, negociado a R$ 3,76 para venda, a maior alta percentual desde 13 de outubro de 2015. As taxas de juros também avançaram na BMFBovespa. (Valor Econômico)

09 agosto 2015

Resolvendo a escassez num mercado sem preço: o caso da doação de sangue



Shortage is common in many markets, such as those for human organs or blood, but the problem is often difficult to solve through price adjustment, given safety and ethical concerns. In this paper, we investigate whether market designers can use non-price methods to address shortage. Specifically, we study two methods that are used to alleviate shortage in the market for human blood. The first method is informing existing donors of a current shortage via a mobile message and encouraging them to donate voluntarily. The second method is asking the patient’s family or friends to donate in a family replacement (FR) program at the time of shortage. We are interested in both the short-run and long-run effects of these methods on blood supply. Using 447,357 individual donation records across 8 years from a large Chinese blood bank, we show that both methods are effective in addressing blood shortage in the short run but have different implications for total blood supply in the long run. Specifically, we find that a shortage message leads to significantly more donations among existing donors within the first six months but has no effect afterwards. In comparison, a family replacement program has a small positive effect in encouraging existing donors (who donated before the FR) to donate more blood voluntarily after their FR donation, but discourages no-history donors (whose first donation is the FR) from donating in the long run. We compare the effect and efficiency of these methods and discuss their applications under different scenarios to alleviate shortage.



Fonte: Solving Shortage in a Priceless Market: Insights from Blood DonationTianshu Sun, Susan Feng Lu, and Ginger Zhe JinNBER Working Paper No. 21312July 2015

21 janeiro 2013

Axioma de House

O mundo se divide entre comprados e vendidos, que se revezam nessa posição, e todos mentem sobre a sua real condição. [Axioma de House]

Por Gustavo Franco

No mercado, como já observado, tudo se sabe. Entretanto, diferentemente do high society, onde o exibicionismo é a regra, no mercado os operadores estão mais para pragmáticos jogadores de pôquer ou para poetas fingidores como Fernando Pessoa, que chegam a fingir a dor que deveras sentem, e nada indicam sobre as dores (e posições) existentes e sentidas, apenas revelando as descritas na poesia.

As verdadeiras crenças e a efetiva natureza, montante e direção das apostas dos operadores de mercado, nunca serão reveladas corretamente diante de uma pergunta direta. Todos mentem, conforme o bordão criado pelo doutor Gregory House, o controvertido especialista em diagnósticos de uma das mais bem-sucedidas séries de televisão dos últimos tempos.

A verdade do mercado está sempre nas posições assumidas, nunca no discurso: o mercado só fala nos autos. E para evitar que a mentira – melhor dizendo, a desobrigação de dizer a verdade – fique evidente, os participantes do mercado recorrem a uma imagem muito popular, a “Muralha da China” (em inglês, the Chinese Wall), atrás da qual põem a falar a figura do “economista-chefe”, alguém que tem uma opinião sincera que não tem nenhuma relação com a do pessoal que opera.
A “Muralha da China” designa a separação que deveria existir, por exemplo, entre quem faz pesquisa econômica e publica suas recomendações vagas e inofensivas para os clientes (“os analistas”) e a tesouraria. Os primeiros são os estudiosos, os que escrevem relatórios, os que respondem aos questionários do BCB (Banco Central do Brasil) e os que fazem declarações públicas inteligentes e espirituosas, normalmente otimistas e cautelosas. A tesouraria, onde estão os operadores que têm o talão de cheques, não aparece, não fala, ninguém sabe de quem se trata e, graças à figura da “Muralha da China”, em nada se associa ao que diz o economista-chefe ou mesmo o presidente do banco.

Entre os que falam e os que operam parece haver uma lógica muito assemelhada ao que se conhece nos Estados Unidos como plausible deniability, expressão cuja tradução ao pé da letra seria “a capacidade de negar envolvimento de forma plausível”. Esse tema foi extensamente discutido no mundo jurídico anglo-saxão quando se investigou a atuação da CIA (agência central de inteligência americana) em diversos episódios controversos nos quais as cadeias de comando eram estabelecidas de forma deliberadamente informal, a fim de que a Autoridade máxima sempre pudesse negar de forma plausível que tivesse conhecimento de qualquer operação mais polêmica que de fato ordenou. É a mesma lógica, segundo dizem os ufólogos, pela qual as Autoridades dizem desconhecer as evidências de vida extraterrestre ocultas nos arquivos militares.

O fato é que, no mercado, sempre, em qualquer ocasião, metade da munição está com os comprados e a outra metade com os vendidos, se o preço está dado. Repare que isso não tem nada a ver com esperteza, assunto de que tratamos logo acima (n. 3, Axioma de Malan), a propósito da ignomínia e da capacitação dos participantes do mercado, mas com o ânimo comprador. O que se procura estabelecer neste tópico é que o mercado não tem nenhum viés nesse assunto, a despeito do que as instituições falam através de seus porta-vozes. O pessimismo seria uma ocorrência rara, se a verdade do mercado estivesse refletida nas manifestações institucionais. Na prática, há sempre uma metade do mundo pessimista, mas quem realmente está comprado, ou vendido, nunca se sabe, até porque, no momento seguinte, as instituições trocam de posição, a dança das cadeiras recomeça e o preço muda, ou não, e sempre uma metade acredita e a outra duvida.

Franco, Gustavo H. B. (2012). As leis secretas da economia. Zahar-Brasil. Kindle Edition. Dica de Pedro Correia.

08 abril 2011

Livre Mercado

Por Pedro Correia

O Brasil é o segundo país (de uma amostra de 25) em que os entrevistados mais concordam com a noção de que um sistema de livres mercados é o melhor. Nós somos os primeiros se considerarmos somente os que "concordam fortemente". Inacreditável,né? Por estas e por outras não acredito muito em pesquisas de opiniões.

Como disse o diplomata Paulo Roberto de Almeida:


"Os brasileiros adoram o capitalismo, ou pelo menos pensam que adoram.Provavelmente, tanto quanto adoram o Estado e as políticas públicas."



Fonte: The Economist

08 março 2011

Bolha do mercado imobiliário mundial

Bolha do mercado imobiliário mundial - Postado por Pedro Correia

O mercado imobiliário no Brasil está cada vez mais aquecido e por consequência os preços estão bastantes altos. O preço dos imóveis estão super valorizado não apenas no Brasil, mas em todo o planeta. Em reportagem da revista The Economist, o preço dos imóveis na Australia está super valorizado em 56%, em Hong Kong em 53%. A revista alerta que essa bolha imobiliária poderá causar grandes consequências para a economia global. A situação é tão drástica, que na China existem 64 milhões de propriedades desocupadas.


A aquisição de imóveis nem sempre é um investimento seguro, na verdade em muitas vez é um investimento altamente arriscado. A compra de um imóvel é um investimento que involve de forma exarcebada a questão emocional, assim muitas vezes os indivíduos tomam decisões irracionais. Além disso, a compra de um imóvel, normalmente, está relacionada a tomada vultouosa de recursos no mercado de crédito que podem prejudicar a situação financeira do adquirente.

Outro ponto interessante é que esse mercado muitas vezes desafiam as leis da oferta e demanda, pois quando os preços sobem é um sinal para que outros indivíduos façam aquisições.

08 outubro 2009

Jogos Olímpicos e Previsão do Mercado

A decisão de escolher o Rio de Janeiro para sede dos Jogos de 2016 pegou de surpresa os apostadores: o favorito era Chicago, a primeira cidade eliminada na escolha final.

Isto coloca em questionamento a utilização do mercado como preditor de eventos futuros. O uso do mercado tem sido defendido por alguns especialistas.

Um justificativa do erro da técnica é que o IOC, que escolhe a cidade sede, é um grupo aristocrático com baixa informação. Não seria possível obter informações agregadas confiáveis, necessárias a aplicação da técnica.

É questionável, já que o mecanismo é usado para prever a escolha dos vencedores do Oscar.

21 agosto 2009

Valor justo e Mercado


Este gráfico é muito bom (clique na imagem para ver maior ou então clique aqui). Ele mostra o comportamento da SP500 nos últimos meses. Em destaque, situações sobre possíveis mudanças nas regras contábeis pelo Fasb/SEC no que diz respeito ao valor justo.

17 agosto 2009

Céticos e Mercado

Opinião - Deixem os céticos das finanças nas rédeas
Dani Rodrik - Valor Econômico - 12/8/2009

O que atrapalhou Greenspan e Bernanke como reguladores financeiros foi sua excessiva reverência a Wall Street

A corrida para preencher o cargo de política econômica mais importante do mundo começou. O mandato do presidente do Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) acaba em janeiro e o presidente do país, Barack Obama, precisa decidir antes disso: ou mantém Bernanke ou escolhe outra pessoa - os nomes mencionados com mais frequência são Larry Summers e Janet Yellen - com credenciais democratas mais sólidas.

É uma decisão de consequências cruciais não apenas para os EUA, mas também para a economia mundial. Como guardiões da base monetária do país e encarregados das taxas de juros de curto prazo, as autoridades monetárias sempre desempenham papel crítico. Reduza demais os juros e o resultado será inflação e instabilidade monetária. Eleve-os demais e a economia deslizará em recessão e desemprego.

A política monetária dificilmente é uma ciência, portanto um bom banqueiro central precisa ser humilde. Precisa reconhecer os limites de seu poder de compreensão e da eficácia das ferramentas a sua disposição. Não pode, entretanto, ser visto como indeciso, algo que apenas seria um convite para uma especulação financeira desestabilizadora.

Aliás, dada a importância de suas funções, nas últimas décadas as autoridades monetárias tornaram-se ainda mais relevantes em decorrência do desenvolvimento dos mercados financeiros. Apesar de não serem formalmente designados como tal, os banqueiros centrais tornaram-se guardiões da sanidade do mercado financeiro. Os perigos de fracassar na tarefa ficaram dolorosamente claros na débâcle das hipotecas "subprime", de baixa qualidade. Pelas novas regras propostas sob o regime de Obama, o Fed terá responsabilidades ainda maiores e estará encarregado de evitar crises financeiras e assegurar que os bancos não assumam riscos demasiados.

É um trabalho no qual o ex-presidente do Fed Alan Greenspan mostrou um fracasso espetacular. Seu ponto cego para os excessos do mercado financeiro - a pequena "falha" em seu raciocínio, como posteriormente a chamou - o deixou alheio aos perigos das inovações financeiras dos titãs de Wall Street. Bernanke, como membro do Conselho de Governadores do Fed entre 2002 e 2005, sob o mandato de Greenspan, também pode ser acusado de ter seguido o jogo.

O presidente do Fed exerce influência mundial não apenas por meio da política monetária, mas também com suas palavras. Ele dá o tom das discussões políticas e ajuda a moldar o sistema de confiança dentro do qual operam as autoridades monetárias de todo o mundo.

O que atrapalhou Greenspan e Bernanke como reguladores financeiros foi sua excessiva reverência e temor a Wall Street e a sua influência. Operaram sob o pressuposto de que se algo era bom para Wall Street, também era bom para a "Main Street" (a economia da população em geral). Isso mudará, sem dúvida, em decorrência da crise, mesmo se Bernanke continuar no comando. O que o mundo precisa, entretanto, é de um presidente do Fed instintivamente cético quanto aos mercados financeiros e seu valor social.

Aqui estão algumas das mentiras que o setor financeiro conta a si mesmo e a outros e às quais qualquer novo presidente do Fed precisará resistir:

Os preços determinados pelos mercados financeiros são os apropriados para alocar capital e outros recursos para seus usos mais produtivos. Isso é o que os livros acadêmicos e os financistas vão lhes dizer, embora agora tenhamos muitos motivos para ficarmos desconfiados.

Na linguagem dos economistas, há demasiadas "falhas de mercado" nas finanças para que esses preços sejam um bom guia para a alocação de recursos. Há os "problemas de representação", que separam interesses dos donos do capital dos de seus representantes, os executivos-chefes de bancos e outros executivos de finanças. A assimetria de informações entre vendedores e compradores de produtos financeiros podem facilmente deixar os compradores vulneráveis a abusos, como vimos com os "títulos lastreados por hipotecas" (MBS, na sigla em inglês).

Além disso, a garantia, implícita ou explícita, de resgates financeiros induz à assunção de riscos excessivos. Grandes intermediários financeiros colocam em perigo todo o sistema financeiro quando usam modelos de risco equivocados e tomam más decisões. A regulamentação é, na melhor hipótese, um remédio parcial para tais problemas. Portanto, os preços que os mercados financeiros geram têm a mesma probabilidade de enviar sinais errados ou certos.

Os mercados financeiros trazem disciplina aos governos. É um dos benefícios mais alardeados dos mercados financeiros, embora tal reivindicação seja evidentemente falsa. Quando os mercados estão em estado de euforia, não estão em posição de exercer disciplina nem sobre captadores de crédito, quanto mais de um governo com classificação de risco de crédito razoável. Se há duvidas quanto a isso, pergunte aos montes de governos de países emergentes que não encontraram dificuldade de captar nos mercados internacionais, tipicamente antes de crises de pagamento.

Em muitos dos casos - a Turquia nos anos 90 é um bom exemplo -, os mercados financeiros permitiram a governos irresponsáveis embarcarem em ondas de captações insustentáveis. Quando a "disciplina do mercado" chega, normalmente é tarde demais, severa demais e aplicada indiscriminadamente.

A disseminação dos mercados financeiros é um benefício que não foi mitigado. Bem, não. A globalização financeira supostamente teria permitido aos países pobres e descapitalizados ganhar acesso à poupança dos países ricos. Supostamente, teria promovido um compartilhamento mundial de riscos.

Na verdade, nenhuma dessas expectativas concretizou-se. Nos anos anteriores ao desmoronamento financeiro, o capital saiu dos países pobres para os ricos, em vez do contrário. Isso pode não ter sido algo ruim, já que no fim das contas grandes captadores (líquidos) de crédito nos mercados internacionais tendem a crescer menos do que os outros. E com a globalização, a volatilidade econômica, na verdade, aumentou nos mercados emergentes, em parte pelas frequentes crises financeiras decorrentes da mobilidade de capital.

A inovação financeira é um grande motor de crescimento de produtividade e bem-estar econômico. Novamente, não. Imaginem que há cinco anos tivéssemos perguntado exemplos de tipos de inovação financeira realmente úteis. Teríamos ouvido uma longa lista de instrumentos ligados a hipotecas que supostamente possibilitavam financiamento a compradores de casas que, de outra forma, não teriam condições de comprá-las. Sabemos aonde isso nos levou. A verdade é algo mais próximo à visão de Paul Volcker, de que, para a maioria das pessoas, os caixas automáticos de banco trouxeram mais benefícios do que qualquer bônus arquitetado financeiramente.

A economia mundial vem sendo guiada há tempo demais por entusiastas das finanças. É hora de os céticos das finanças começarem a assumir as rédeas.

07 abril 2009

Balanços e Mercado

Safra de balanços pode esfriar entusiasmo nas bolsas
David Gaffen, The Wall Street Journal
The Wall Street Journal Americas - 6/4/2009 - 1

A temporada de balanços está começando e vai ser deprimente. Apesar disso, o mercado acionário dos Estados Unidos — que de uma maneira ou outra acaba ditando o ritmo das bolsas ao redor do mundo — está entrando nessa nova fase no vácuo da disparada de quatro semanas mais agressiva em mais de 70 anos.

Dessa forma, mesmo que praticamente todos os investidores reconheçam que as coisas estão realmente feias, ainda assim eles estão criando bases para uma decepção. E se os últimos oito anos servirem como alguma orientação, é isso que provavelmente acontecerá.

A empresa de pesquisa de investimento Bespoke Investment Group LLC examinou todas temporadas de balanço desde meados de 2001 e concluiu que se os investidores aplicassem dinheiro no índice Standard & Poor's 500 no primeiro dia da temporada de balanços e vendessem as ações no último dia perderiam quase 27%. Os que fizessem o oposto conseguiriam um retorno de 7,1%.

Os números parecem especialmente pertinentes neste trimestre, levando-se em consideração que a recente alta do mercado foi furiosa. A Média Industrial Dow Jones subiu 21% nas últimas quatro semanas, o mais rápido ganho de 20% do índice desde 1938. O S&P 500 acumula alta de 23%.

As duas últimas temporadas de balanço, que aconteceram durante extremo nervosismo do mercado, mostraram, respectivamente, quedas de 8,5% e 9,3% no S&P 500, como mostra a pesquisa da Bespoke. A temporada de balanços do primeiro trimestre começa com a divulgação dos resultados da Alcoa amanhã e será encerrada a 14 de maio, quando a rede Wal-Mart Stores apresenta seus números.

Os analistas esperam um declínio de 37% nos lucros em comparação com o mesmo período do ano passado. A expectativa é de que todos os dez grupos do S&P 500 apresentem queda anual, um corte uniforme que nunca havia acontecido durante os dez anos de acompanhamento desses dados pela Thomson Financial.

O que pode manter a alta das bolsas não é tanto se os resultados do primeiro trimestre atingirão ou superarão essas expectativas. Os ganhos dependerão mais do que os executivos disserem sobre o segundo, terceiro e quarto trimestres.

"A esperança de todo mundo, no momento, é a compilação de dados menos ruins", diz Linda Duessel, estrategista de renda variável da Federated Investors. "Queremos ouvir que caímos no abismo e que a queda provavelmente chegou ao fim."

O que as empresas informarem deve determinar se as bolsas americanas podem sair do declínio de 18 meses — a Média Dow Jones ainda está 43% abaixo do pico de outubro de 2007 — e transformar a fase recente de quedas num período de altas consistentes. Na sexta- feira, a Dow fechou a 8.017,59 pontos e o S&P 500 a 842,50 pontos.

Os investidores foram brindados com algumas fagulhas de esperança no começo de março, como as declarações dos diretores-presidentes do Citigroup, Vikram Pandit, e do Bank of America, Kenneth Lewis, de que os dois bancos tiveram lucro em janeiro e fevereiro. Esses comentários foram alguns dos catalisadores do retorno dos investidores às bolsas, especialmente às ações de bancos, que têm tido um desempenho melhor do que a média do mercado desde que este bateu em seu nível mais baixo da crise, a 9 de março.

O entusiasmo dos dois executivos foi diluído há poucos dias, quando Lewis e Jamie Dimon, diretor-presidente do J. P. Morgan Chase, declararam que março foi um mês difícil. A confiança dos investidores no setor bancário aumentou, mas eles já se decepcionaram no passado e, por isso, qualquer sinal de que os bancos ainda enfrentam dificuldades colocará à prova a fé deles.

Os relatórios sobre produção industrial, habitação, setor imobiliário e atividade das fábricas sugerem que, pelo menos, a economia se estabilizou. Se empresas de outros setores indicarem a retomada da atividade com sinais de melhora no número de pedidos ou nas entregas, isso vai aumentar o otimismo recente.

"A questão é: as empresas vão fazer comentários sobre expectativas que sejam significartivamente muito diferentes do que é esperado? E o que vamos ouvir sobre as atividades dos negócios em abril?", diz Jim McDonald, diretor de estratégias de investimento da Northern Trust.

Os primeiros sinais são contraditórios. Os números da habitação melhoraram, mas as empresas de construção civil Lennar e KB Home informaram perdas contínuas, e a última informou que não previa nenhuma melhora significativa nas condições do mercado pelo resto do ano.

Os investidores estarão especialmente atentos aos resultados de empresas que servem como referência da demanda global. Como a Caterpillar, que surpreendeu o mercado em janeiro com o anúncio de 20.000 demissões e ofertas de demissões voluntárias para outros 25.000 empregados nos EUA. Em março, a gigante industrial anunciou planos de demitir mais 2.500 pessoas.

Notícias desse tipo durante a temporada de balanços podem esfriar o entusiasmo dos investidores.

25 março 2009

Mercado, Racionalidade e Crise

Tony Jackson, em Theories of rational behaviour are facing crisis (Financial Times, 23/3/2009, London Ed1, 18) traz uma consideração importante sobre a contabilidade e a crise econômica. Jackson lembra que histórias recentes estão baseadas na crença de que o preço de mercado de um bem ou ação é algo verdadeiro e inquestionável em relação a qualquer outro preço possível. Isto tem sua origem nas expectativas racionais, onde o mercado é composto por pessoas bem informadas.

Este pressuposto é essencial na questão da marcação a mercado e em outras bases de mensuração apresentadas nos últimos anos por entidades reguladoras contábeis. Um argumento daqueles que defendem a extinção do valor justo é exatamente este aspecto: não existe mercado hoje para muitos bens e ações. (Muito embora, quando o mercado estava em alta – e este tipo de avaliação não era questionado – existia também irracionalidade).

A doutrina das expectativas racionais é que se o preço da ação da empresa está em queda é que suas perspectivas pioraram.

16 março 2009

BRICs

Dois gráficos comparativos mostram o desempenho do mercado nos países emergentes (BRICs). De 1999 até hoje o mercado brasileiro cresceu 314%, perdendo para Rússia (mais de 600%), mas ganhando da China, Índia e SP500



O segundo gráfico mostra a evolução recente. Entre os mercados do gráfico, o Brasil teve a menor redução (-36%).