Quem conhece um pouco de música provavelmente já deve ter escutado uma música da banda de rock Queen. A figura de Freddie Mercury é o centro das atenções, mas o guitarrista Brian May – aquele cabeludo da fotografia abaixo – merece nossa consideração. Além de músico, May é cientista. Originalmente astrofísico, com especialização em imagens de corpos distantes, ele já trabalhou com a NASA. Começou seu doutorado em 1974, mas abandonou para seguir carreira musical. Mais adiante, concluiu o curso em 2007.
Nos últimos anos, May tem se concentrado em uma disputa científica interessante, fora da astrofísica ou da música. O foco é a origem da tuberculose bovina. Há uma crença de que a doença pode ter sua origem no texugo europeu. Se isso for verdade, a eliminação do texugo pode reduzir o problema. Desde 2013, estima-se que cerca de 230 mil texugos foram abatidos. Uma alternativa seria a vacinação, mas ainda existem licenças para o abate dos animais.
May se dedica há uma década em pesquisas para tentar entender o assunto e confirmar que o texugo não tem culpa no problema.
Entrevista:
Qual foi a influência da sua formação científica sobre o seu trabalho com os animais? Você acha que isso lhe deu mais confiança?
Com certeza. O método científico é algo precioso, e você aprende – da maneira mais difícil – se estiver fazendo um doutorado. Tudo se resume a fazer as perguntas certas, manter a mente aberta e resistir à terrível inclinação que os cientistas têm, porque são seres humanos, de encontrar o que esperam encontrar. Todos nós fomos ensinados que os texugos são responsáveis pela disseminação do patógeno, então procuramos esse padrão. E, infelizmente, acho que é por isso que o mito se perpetuou.
Você estava convencido desde o início de que os texugos não estavam causando a propagação da tuberculose em bovinos?
Sempre fui desconfiado, mas não tinha nada que justificasse minha posição. Mas eu sentia que, mesmo que fossem responsáveis, não era culpa deles. Lembro-me de estar em uma reunião da Sociedade Zoológica há cerca de 13 anos, onde tive a audácia de me levantar e dizer: "Ninguém acha que isso é moralmente errado?" E me senti como uma criança, porque todo mundo olhou para mim com tanto desprezo. Percebi que a única maneira de progredir era parar de gritar, começar a ouvir e me aprofundar na ciência. Ao longo do caminho, acho que fizemos avanços que eu nem sonhava em alcançar.
Você passou os últimos 12 anos como parte de uma equipe de pesquisa na fazenda Gatcombe, em Devon, perto da costa sul da Inglaterra, estudando a transmissão da tuberculose. O que você descobriu?
Desenvolvemos uma visão sobre como o Mycobacterium responsável pela TB é transmitido de um animal para outro. A tuberculose tem sido classicamente conhecida como uma doença respiratória, mas nossa descoberta é que uma vaca não contrai a tuberculose respirando algo, mas sim ingerindo o patógeno presente nas fezes de uma vaca vizinha. É uma descoberta monumental, porque, uma vez que você começa a entender seu inimigo, pode começar a derrotá-lo. Agora sabemos que a doença é transmitida de vaca para vaca por falta de higiene.
Como os testes contribuem para o problema?
Também descobrimos que o teste cutâneo [sancionado pelo governo] para tuberculose tem uma precisão de apenas 50%. Isso é algo terrível de se descobrir, porque é como jogar uma moeda. Descobrimos que uma vaca passou pelo teste cutâneo 30 vezes e foi considerada saudável, mas quando foi realizada uma autópsia, estava cheia de tuberculose. Portanto, o teste cutâneo é o vilão da história, e o fato de os agricultores confiarem nesse teste incrivelmente impreciso para remover vacas de seus preciosos rebanhos e levá-las para o abate é um escândalo.
Você tem planos de publicar suas descobertas em um artigo científico?
Com certeza. Esse é definitivamente um dos nossos próximos passos. É um pouco frustrante que ainda não tenhamos um artigo científico publicado, mas tudo a seu tempo.
O que o deixa tão convencido de que os texugos não desempenham nenhum papel na transmissão?
Na fazenda de Robert Reid, tivemos, por algum tempo, um rebanho saudável com uma população infectada de texugos ao seu redor. E durante todo esse período, quase 10 anos, nunca houve uma única infecção nas vacas que pastavam nos campos, perto de onde os texugos viviam. Todas as infecções ocorreram nos galpões.
Há também um agricultor em Tiverton que construiu uma cerca incrível de oito quilômetros de comprimento em torno de seu rebanho de carne para manter a vida selvagem fora. Eventualmente, ele perdeu metade do seu rebanho. Como isso aconteceu? É altamente provável que um novo touro – considerado saudável pelo teste cutâneo – tenha sido o responsável pela destruição desse rebanho. É provável que esse padrão tenha sido visto em muitos outros lugares também. Eu gostaria que os agricultores vissem o documentário e pensassem: "OK, talvez estejamos prontos para uma mudança." Precisamos mudar muitos métodos na pecuária para resolver esse problema.
No filme, você diz que falar contra o abate de texugos se tornou tão importante para você quanto sua música. Onde a astrofísica se encaixa nisso?
Ela está lá em cima. Eu ainda faço astrofísica. Tenho o privilégio de fazer parte de algumas equipes de exploração na NASA, na Agência Espacial Europeia e na Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial. Eu me divirto muito fazendo isso. O que eu contribuo é a estereoscopia, e tem sido muito divertido, porque ela oferece insights muito humanos sobre a exploração desses lugares maravilhosos que estão sendo visitados.
O que o caso da tuberculose bovina nos ensina sobre ciência e formulação de políticas?
Tudo o que gostaria de dizer é que me preocupa que o processo de revisão por pares possa conter falhas. Se as pessoas que fazem a revisão são do mesmo grupo, você não examinará o material de maneira suficientemente rigorosa.
27 agosto 2024
Brian May, ciência e os direitos dos animais
23 dezembro 2023
Music Map
A ferramenta Music-Map é um instrumento interessante. Você digita o nome de um músico e aparece as ligações mais próximas. Veja um exemplo:
João Gilberto e os músicos mais próximos dele. O resultado mostra que há limites na ferramenta. É possível perceber, próximo de João Gilberto, a presença de um tal de Jao Gilberto, que assumo ser o mesmo músico. Os nomes da música brasileira (e estrangeira) são limitados. Assim, não tem na pesquisa Taracón, um grupo de música latina dos anos 70 a 90.
Isso me fez lembrar um exemplo que já usei em sala de aula para exemplifica a aplicação de MDS. Dois finlandeses, pai e filho (Mustonen e Mustonen), um estatístico e outro músico, fizeram a seguinte classificação entre dez dos maiores compositores de todos os tempos. :
03 maio 2023
Uso da tecnologia em sala de aula há cem anos
O assunto parece estar sempre em discussão: como a tecnologia ajuda ou atrapalha a educação. Há cem anos, já existiam salas de aula com máquinas de escrever e até mesmo rádio. Esse tipo de tecnologia mudou a forma da educação, afetando tanto os professores quanto os alunos.
A utilização da tecnologia na educação não é algo recente. A aprendizagem com a tecnologia permite mais oportunidades para o ensino. Eu encontrei no Daily Jstor um estudo de caso do uso da tecnologia na área de música. A empresa Victrola usou o trabalho da educadora Frances E. Clark na aula de música.
Clark era do meio-oeste rural dos Estados Unidos e começou no ensino com aulas de canto, quando ainda era adolescente. Depois de casar, ter dois filhos e ficar viúva, ensinou música em escolas públicas e em aulas particulares. Mesmo com dificuldades, Clark se mantinha atualizada sobre a educação musical e adotava novos métodos. Em 1911, a Victor Corporation contratou Clark para chefiar a divisão de educação. Clark desejava enfatizar a "boa música" e a Victor expandir o mercado de registros sonoros de óperas e músicas clássicas.
Naquele momento, os educadores não acreditavam que a música gravada pudesse ser usada na educação musical. Existia dúvida sobre a qualidade dos produtos lançados pelas gravadoras e a possível ameaça ao emprego dos músicos profissionais.
Clark virou essa lógica de cabeça para baixo, sugerindo que registros de alta qualidade ofereciam às crianças a chance de ouvir "música real", em oposição aos esforços vacilantes de seus colegas de classe. Ela introduziu a "apreciação musical" nas escolas primárias, liderando a criação de um livro para ajudar os professores a planejar lições em torno de vários registros da Victor.
Em tempos de celular e chatgpt, a história parece repetir.
04 fevereiro 2023
Concentração na música
Bieber , possui 70 milhões de ouvintes, recentemente vendeu seu catálogo por 200 milhões de dólares. Mas a relação entre a posição do artista no ranking do Spotify e o seu valor não é absoluta: Bruce Springsteen, em destaque no gráfico e abaixo dos 20 milhões de ouvintes, vendeu sua obra, há dois anos, por 500 milhões.
17 agosto 2022
Apelido honorário e o caso da Mariah Carey
Uma frase pode ser um ativo? Eis um caso interessante que pode afetar sua resposta:
A cantora Mariah Carey entrou com um pedido de marca registrada para a frase Rainha do Natal. Em 1994 a cantora lançou um álbum denominado Merry Christmas, sendo o disco natalino mais comprado de todos os tempos. Os números que a cantora alcançou, por conta do sucesso deste disco, são enormes.
Há dois problemas aqui. O primeiro é que a solicitação vai além do termo "Rainha do Natal" e inclui até máscaras faciais. O segundo problema é que o título está sendo questionado, seja por cantoras que também se consideram "rainha do natal" como pelo fato de que, no passado, em 2021, a própria Mariah afirmou que não se concordava com o título.
Se Mariah conseguir o registro, certamente poderá usá-lo para gerar riqueza e impedir que outras pessoas avance sobre a denominação. O registro, uma vez obtido, seria um ativo para a Mariah Carey.
A propósito, na wikipedia há um verbete com uma lista de apelidos honorários na música. Alguns bem interessantes.
29 junho 2022
12 janeiro 2022
11 fevereiro 2020
Negativo e positivo na música pop
As músicas populares de hoje são claramente mais tristes do que aquelas do passado. Usando dados da parada de sucesso dos Estados Unidos, a Billboard Hot 100 do final de cada ano (além de um conjunto de 150 mil músicas em inglês do site Musixmatch), Charlotte Brand analisou as palavras com emoções negativas (dor, ódio, tristeza etc) e positivas (amor, alegria, felicidade, por exemplo), entre 1965 a 2015.
Os gráficos mostram os resultados. Palavras negativas aumentaram em mais de um terço. Apesar disto, o número de palavras positivas continua sendo maior que as negativas.
Esse é um recurso universal da linguagem humana, também conhecido como princípio de Pollyanna (do protagonista perfeitamente otimista do romance homônimo), e dificilmente esperaríamos que isso fosse inverso: o que importa, porém, é a direção das tendências.
Isto inclui a palavra “amor”, cujo uso caiu pela metade. Já ódio, que não eram mencionadas nas músicas, agora é mais comum.
Fonte: aqui
06 janeiro 2020
13 dezembro 2019
John ou Paul?
Conclusão
Paul foi o melhor Beatle. Simplesmente não há um vencedor claro, mas se pressionado, eu diria que essa análise mostra Paul como o compositor um pouco melhor. Uma coisa que pode ser dita com segurança é que John não era a única força motriz artística por trás dos Beatles
O autor usou Streaming (Paulo é mais popular, pois as 10 músicas mais escutadas, 5 são de Paul, 2 dos dois, 2 de John e 1 George) e sua própria análise das músicas dos Beatles.
15 fevereiro 2019
04 fevereiro 2019
Música cada vez menor
A música está encolhendo:
De 2013 a 2018, [o tempo médio] da música na Billboard Hot 100 caiu de 3 minutos e 50 segundos para cerca de 3 minutos e 30 segundos. Em 2018 seis por cento das músicas de sucesso foram 2 minutos e 30 segundos ou menos, acima de 1% cinco anos atrás.
A razão deste encolhimento seriam os serviços de streaming (Spotify e Apple Music). O pagamento é feito por música, entre 0,004 e 0,008 dólares. Isto está criando um incentivo a produzir músicas mais curtas. Entretanto, é difícil comprovar esta tese, já que a duração estava em queda desde os anos 90. Outra possibilidade é a atenção dos ouvintes, já que nossa capacidade de atenção está mudando.
13 setembro 2018
Streaming para amigos
Em 2017, um jornal norueguês publicou informações dizendo que o número de assinantes era muito menor do que o anunciado publicamente. Algo como 850 mil assinantes versus 3 milhões, em março de 2016.
Mais de um ano depois, o mesmo jornal publicou um relato afirmando que os dados de dois albuns podem ter sido manipulados. O álbum de Kanye West foi tocado 250 milhões de vezes nos primeiros dez dias de lançamento em 2016, quando a empresa dizia ter 3 milhões de assinantes. Isto significaria que cada assinante escutaria em média 8 vezes por dia o álbum. Difícil de acreditar. Além disto, o álbum Lemonade, de Beyoncé, teria tocado 306 milhões de vezes nos primeiro quinze dias, o que significaria uma média diária bastante alta.
A manipulação dos números, levaria o pagamento em excesso para Beyoncé e Kanye West, em detrimento de outros artistas. A empresa negou. Beyoncé é mulher de Jay Z e Kanye West é seu amigo.
18 agosto 2018
14 julho 2018
27 março 2018
10 fevereiro 2018
14 dezembro 2017
Rir é o melhor remédio
Hand Shadow - Raymond Crowe at Royal Variety Show from RAYMOND CROWE on Vimeo.
07 dezembro 2017
Links
05 dezembro 2017
Rir é o melhor remédio
“Drive My Google Car”
“Ticket to ‘Hamilton’ ”
“ 👩 😍 U, 👍 👍 👍 ”
“She’s Leaving Home to Go Backpacking for a Semester”
“In My Wife!”
“Do You Want to Know a Secret? Click Here”
“I Am the Wall Street Lobbyist”
“While My Video Slowly Buffers”
“Honestly? Honey Don’t”
“And Your Bird Can Oppa Gangnam Style”
“Flying (I’m On Molly) ”
“A Day in My Wife!”
“Lucy Stuntin’ on the Jumbotron with Blood Diamonds”
“Here, There, Yeah, They Love Me Everywhere”
“Ph.D. Candidate Robert”
“Hey My Dude!”
“Lady Madonna? We’re Feuding”
“I Want to Hold Your Phone”
“Her Majesty’s Instagram”
“Help!!! I’m Unskilled”
“With a Little Help from Chandler, Joey, Phoebe, Monica, Ross, and Rachel”
“Don’t Bother Me (Until I’ve Had My Covfefe)”
“Here Comes Global Warming”
“Run for Your Life to Canada”
“Angry Birds Slinging in the Dead of Night”
“Got to Get You into My Wife!”
“Yesterday” (This is a timeless classic.)