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20 maio 2014

Dilma desconfia do mercado

Dilma desconfia do mercado como regulador de preços
VALDO CRUZ DE BRASÍLIA
Folha de S. Paulo, 19/05/2014


No início de seu mandato, em 2011, Dilma Rousseff fez uma cobrança dura à equipe: na sua opinião, eles não estavam fazendo nada para segurar o aumento, considerado por ela "exagerado", das passagens aéreas.
Ao ouvir de assessores que os preços do setor são livres, a presidente, irritada, gritou: "Isso é coisa de tucano". Foi então lembrada que a última normatização sobre a área havia sido feita em 2006 –no governo Lula, portanto. 

O episódio ilustra bem o que passa na cabeça da presidente quando o assunto é o sistema de preços. Dilma tem uma visão ideológica do mercado, o que desperta nela uma tendência intervencionista, de conter preços administrados como gasolina. 

A avaliação é partilhada por assessores presidenciais e por conselheiros do ex-presidente Lula. O primeiro grupo enxerga no estilo presidencial uma virtude, na linha de quem busca segurar o apetite de lucro dos empresários e proteger o consumidor.



O segundo grupo considera a estratégia uma política equivocada, que provoca distorções e trará custos pesados para ser desmontada. O debate sobre preços administrados gerou polêmica na semana passada depois que o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil) admitiu à Folha que o governo dosa os reajustes de preços públicos para não prejudicar o consumidor e garantir o cumprimento da meta de inflação.
Sua fala foi criticada pela oposição e acabou sendo contestada por Guido Mantega (Fazenda), que não quis admitir o que o governo tem feito nos últimos anos ao conter o aumento da gasolina e empurrar para 2015 o das tarifas de energia elétrica. 

Criticado, o discurso de Mercadante reflete o que vem sendo debatido pela cúpula da campanha da reeleição. Em reuniões no Alvorada, Dilma e sua equipe buscam uma vacina contra a tática da oposição de acusar o governo de segurar artificialmente o aumento de preços e jogar a conta para 2015.
A estratégia, definida nas reuniões no Alvorada, vai na linha da fala de Mercadante, que participa dos encontros. O governo e a candidata vão sustentar que o governo adota esta política para poupar o bolso do consumidor em períodos desfavoráveis da economia e não fazer um tarifaço no ano que vem, diluindo os aumentos ao longo dos próximos anos.


DESCONFIANÇA 

Segundo interlocutores, Dilma tem uma "desconfiança do empresariado" e acredita que o governo tem de enfrentá-lo para evitar "lucros excessivos". Foi isso, diz um assessor, que fez o governo fixar uma taxa de retorno muito baixa para as concessões de rodovias -depois foi obrigado a recuar para garantir a realização dos leilões. 

Como, no final, as taxas ficaram próximas do que o governo defendia, Dilma disse que sua visão de apertar o lucro estava na linha correta.
No caso da gasolina, ela é contra repassar para o preço toda a variação cambial, como quer a Petrobras. Para Dilma, o consumidor não pode pagar tudo e a estatal tem de absorver parte do custo. Além disso, ela adotou essa política para conter artificialmente a inflação e evitar que estoure o teto de 6,5%.

04 janeiro 2013

Capitalismo

Abaixo, uma pesquisa em diversos países sobre a crença no livre mercado. Notem que 75% do brasileiros acreditam nele, apesar de termos um país governado por pessoas que, aparentemente, não gostam deste conceito. O resultado no Brasil é o maior entre os países pesquisados! E não temos nenhum partido forte que defenda claramente este conceito.


27 março 2012

Custos da Constituição e a Informalidade Laboral


Desde os anos 30 do século XX, uma legislação trabalhista rígida e complexa, desemprego elevado, trabalho informal são problemas da economia brasileira. Não obstante, a Constituição de 88 , formulada com o intuito de prover mais proteção os trabalhadores, ampliou a complexidade e rigidez dessa legislação e, por conseguinte, os custos trabalhistas. Em 90, algumas alterações foram implementadas no sentindo de reduzir a rigidez da CF/88.Legislações trabalhistas corrigem falhas de mercado e, ao mesmo tempo, promovem interferências no funcionamento do mercado de trabalho. Um ordenamento jurídico-trabalhista muito rígido, como no Brasil, cria incentivos para trabalhadores e empresas contorná-lo através de acordos informais de emprego. Ademais, reduz a sensibilidade dos salários às condições macroeconômicas.

No working paper do FMI: Institutions, Informality, and Wage Flexibility: Evidence from Brazil, os autores têm por objetivo examinar como a sensibilidade dos salários reais alterou-se de acordo com as condições do mercado de trabalho ,no período de 1981 a 2009, e se o mercado informal promoveu uma menor redução da rigidez salarial . Eles concluem que: " nosso principal resultado é que a sensitividade dos salários reais às condições dos mercados de trabalho regionais foi reduzida depois da passagem da Constituição de 1988, o que pode ter contribuído para as taxas de desemprego mais altas vigentes desde então. Além disso ," nós encontramos que estados com maiores aumentos na informalidade (i.e.trabalho informal) depois de 1988 tiveram menores reduções na sensitividade dos salários reais às condições macroeconômicas, o que sugere que um dos papéis da informalidade é atuar como válvula de escape para um ambiente econômico sobre-regulado.

Além disso, eles apresentam outras consequências de um mercado de trabalho sobre-regulado e suas implicações econômicas negativas :

" A importância crescente da informalidade na flexibilidade salarial no Brasil demonstra a rigidez da regulamentação do mercado de trabalho no país. No entanto, eles escrevem: "a informalidade tem muitas facetas sombrias, incluindo possíveis efeitos deletérios sobre a produtividade e o crescimento. Primeiro, os trabalhadores informais tendem a ser menos apegados aos seus postos de trabalho, reduzindo o incentivo para as empresas a investir em seu capital humano. Segundo, porque as grandes empresas não podem escapar da fiscalização do governo, assim, as empresas que contratam trabalhadores informais têm incentivos para permanecerem pequenas e são, portanto, incapazes de explorar economias de escala. Como resultado, as empresas maiores tendem a ser mais produtivas, mas também pagam tributos e acabam enfrentando uma concorrência desleal por parte das menores.

Com um mercado reduzido para os seus produtos e serviços, as empresas no setor formal também enfrentam menores incentivos para investir e crescer. Os efeitos deletérios da informalidade tendem a ser ampliadas, porque a informalidade é "contagiosa"; uma vez uma empresa contrata trabalhadores sem um compromisso formal , uma rede de relações informais (caracterizada por evasão fiscal) com fornecedores e clientes precisam ser estabelecidass para evitar a detecção. Estes fornecedores e clientes precisam ser informais, bem como para cobrir seu relacionamento com a empresa informal. Como resultado,a informalidade se espalha na economia.

Os resultados deste estudo sugerem que as reformas do mercado de trabalho precisa ser projetadas cuidadosamente para incentivar a participação na economia formal, sem afetar a flexibilidade dos salários; Por exemplo, mudar o foco de protecção do emprego para assegurar melhores mecanismo de seguro para os desempregados, enfraqueceria a segmentação entre os empregados e os candidatos a emprego e reduziria os incentivos à informalidade, melhorando a rede de proteção para os desafortunados. De modo mais geral, visando a regulamentação dos fatores básicos que afetam o bem-estar dos trabalhadores - seguro contra choques ruins e renda mínima, sem aumentar a rigidez e os custos, reduziria o papel das relações de trabalho informais (e os potenciais efeitos colaterias negativos dessa relação).