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19 junho 2020

Inflação subestimada

Anteriormente postamos que os índices de inflação são superestimados. A mudança tecnológica do longo prazo explica parte desta variação, mas alteração do peso do consumo de certos produtos também é importante na explicação.

Mas uma análise de curto prazo parece mostrar que a pandemia pode ter mudado os padrões de consumo e isto influencia a inflação que ocorre nos últimos meses. Assim, no curto prazo, talvez a inflação seja maior que a divulgada. Se antes você comprava sua comida em um restaurante, agora ela chega na sua casa com uma taxa de entrega. O mesmo produto está sendo consumido por um preço maior.

Uma análise em 17 países (via aqui e aqui)) encontrou que as pessoas estão gastando mais em comida e outros itens que aumentaram nos últimos meses; ao mesmo tempo reduziram seu consumo de transporte, onde ocorreu uma deflação. Entre os países, o Brasil:
A inflação registrada foi negativa (-0,28%), enquanto a inflação Covid foi de 0,20%. A diferença é pequena, embora seja maior em termos anuais: 2,10% x 2,76%.

17 junho 2020

Superestimação da inflação

Há um certo consenso que os índices tradicionais de mensuração de inflação são superestimados. É isto mesmo: os índices que tentam medir a variação dos preços geralmente apresentam um resultado acima da inflação real. Uma estimativa fala em 1% ao ano. Parece pouco, mas quando se considera o longo prazo, este valor pode fazer uma grande diferença

A superestimação da inflação pode ocorrer em razão da mudança tecnológica e da qualidade de vida que isto representa. O primeiro iPhone surgiu em 2007, com uma câmera de 2 megapixels. O modelo de agora é muito melhor que este celular. O mesmo aconteceu com os automóveis, os computadores e outros produtos. Basicamente, o índice de inflação não leva em conta a qualidade dos produtos. Mas não é somente isto. A inflação é calculada tendo por base uma cesta de consumo média. Como esta cesta é atualizada em períodos de tempos longos (dez em dez anos, por exemplo), muito produto ou serviço não está nesta cesta. A Netflix, por exemplo, representou uma grande economia para as pessoas em termos de entretenimento. Mas talvez não esteja na cesta de consumo usada para o cálculo da inflação.

Isto poderia ser um problema para a contabilidade? Consideremos uma subestimação anual de 1%, conforme informada anteriormente. Em dez anos, isto representa 10,5%. Em vinte anos, corresponde a 22%. Mas a maioria dos recursos econômicos de uma empresa possuem uma vida abaixo deste patamar. Se um estoque é produzido, vendido e recebido em menos de um ano, a subestimação não será tão expressiva. Já uma máquina, que será usada ao longo de dez ou vinte anos pode sofrer com isto. No caso da máquina, isto pode ser "acertado" com a depreciação.

Dois fatos parecem indicar que talvez a superestimação da inflação não deva incomodar no processo de mensuração contábil. Durante a implantação das IFRS as empresas brasileiras tiveram a oportunidade de corrigir os valores dos ativos através do "deemed cost". Poucas fizeram. O segundo fato é que esta questão foi provocada para fazer parte da agenda de normas do Iasb e o mesmo não contemplou este assunto. A mesma entidade mantem, na estrutura conceitual, uma discussão de manutenção de capital. Durante a grande alteração que realizou na nova estrutura, os aspectos relacionados com a manutenção de capital foram mantidos, conforme sua redação original, da primeira estrutura conceitual desta entidade.

02 janeiro 2020

Preços

Desde o início do Plano Real, os preços no Brasil tiveram um aumento de 513%. Isto significa uma média de 7,5% ao ano. O interessante é a diferença no comportamento dos preços "livres" e daqueles "monitorados". Neste último grupo tem-se todos os produtos e serviços que são, de certa forma, tabelados: água, luz, IPTU, transporte público, planos de saúde, pedágios e outros. Ou seja, são produtos/serviços que o governo deveria ter o interesse social em controlar os preços.
A diferença aumenta com a estabilização efetiva, após 1997. E aumenta a partir de 2003, com o início do governo Lula.

08 julho 2019

Quais são as economias hiperinflacionárias?

Com o retorno do tratamento à inflação na contabilidade brasileira (vide aqui), resta saber em que situações o IAS 29 deve ser aplicado. O International Practices Task Force (IPTF) of the Centre for Audit Quality (CAQ) (via aqui) considerando os dados de diversos países, considera como status de economias "altamente inflacionárias", baseado nos critérios do IAS 29, a seguinte listagem:

Economias com inflação de três anos acima de 100%:

Angola
Argentina
República Democrática do Congo
Sudão do Sul
Sudão
Venezuela

Economias com inflação projetada de três anos maior que 100%:

República Islâmica do Irã
Iémen
Zimbábue

Economias com inflação de três anos superiores a 100% após um pico de inflação:

Suriname

Economias com inflação em três anos entre 70% e 100% ou com um aumento significativo (25% ou mais) da inflação durante o período atual

Libéria
Líbia

04 março 2019

Volta do Tratamento da Inflação na Contabilidade Brasileira: Ambev

  • Desde a extinção da correção das demonstrações contábeis, as empresas brasileiras não usavam qualquer tipo de tratamento para situações de inflação elevada
  • No ano passado, o CPC aprovou o IAS 29 para ser aplicado no Brasil
  • A Ambev, ao divulgar suas demonstrações contábeis de 2018, está aplicando o CPC 42/IAS 29 para as operações na Argentina
A demonstração contábil divulgada da Ambev marca a volta do tratamento da inflação na contabilidade brasileira. Usando a norma recentemente aprovada IAS 29/CPC 42, a empresa realizou o tratamento dos números contábeis em ambientes inflacionários. No caso, através do tratamento da filial na Argentina.

Como naquele país a inflação em três anos foi superior a 100% - somente em 2018 chegou quase a 50% - a empresa de cerveja divulgou a aplicação da norma no seu balanço divulgado no final de fevereiro. Conforme a empresa

A IAS 29/CPC 42 exige a divulgação dos resultados das operações da empresa na Argentina como se fossem altamente inflacionárias a partir de 1º de janeiro de 2018 (início do período em que se identifique a existência de hiperinflação).

Isto não é bem verdade, já que anteriormente, no regime da família Kischner, a inflação era manipulada.

De acordo com a IAS 29/CPC 42, os ativos e passivos não monetários, o patrimônio líquido e a demonstração do resultado de subsidiárias que operam em economias altamente inflacionária são corrigidos pela alteração no poder geral de compras da moeda corrente, aplicando um índice geral de preços.
As demonstrações contábeis de uma entidade cuja moeda funcional seja a moeda de uma economia altamente inflacionária, quer estejam baseadas na abordagem pelo custo histórico ou na abordagem pelo custo corrente, devem ser expressas em termos da unidade de mensuração corrente à data do balanço e convertidas para real na taxa de câmbio de fechamento do período.

Um problema do mecanismo aplicado pela empresa é que

os impactos das alterações no poder de compra geral a partir de 1 de janeiro de 2018 foram reportados na demonstração de resultados em uma conta específica para ajuste de hiperinflação, no resultado financeiro (ver Nota 24 - Despesas e receitas financeiras).

Esta opção é realmente muito ruim, já que o problema inflacionário do investimento foi considerado dentro da conta de receita financeira. Ainda nas notas explicativas:

No exercício findo em 31 de dezembro de 2018, a utilização da norma de Contabilidade e Evidenciação em Economia Altamente Inflacionária, de acordo com as regras do IFRS, resultou (i) em um ajuste positivo de R$182,5 no resultado financeiro, (ii) em um impacto negativo no lucro líquido de R$292,4.

Entretanto, o impacto negativo no lucro não fica claro na DRE da empresa.

02 agosto 2017

Evolução nos juros reais

O gráfico mostra a evolução da taxa de juros anuais reais na economia brasileira, de 2004 até junho de 2017. A taxa usada no gráfico é a Selic e o deflator é o IPCA, calculado pelo IBGE. Depois de atingir o valor máximo de quase 13% em agosto de 2005, os juros reais caíram ao longo do tempo, até início de 2013. Naquele momento, o governo tinha adotado a postura de reduzir os juros, sem uma política econômica adequada. Os juros reais aumentaram desde então, chegando ao patamar de 5% em dezembro de 2014. O aumento nos juros reais nos últimos meses, para algo em torno de 7% ao ano, ocorreu em razão da redução nos preços aos consumidor, de 9% em agosto de 2016 para 3% em junho de 2017.

28 julho 2017

Presidente do BNDES faz uma afirmação estranha

Há dias, o presidente do BNDES defendeu a instituição pelos negócios com a JBS. Segundo Mariana Sallowciz, em Para Rabello, JBS é um dos melhores negócios do BNDES, Estado de São Paulo, 15 de julho de 2017, p. B6:

Até a lambança da delação a empresa estava cotada a quanto? Era mais de R$10 (a ação) e o BNDES quando entrou estava cotada a R$7

Ou seja, ocorreu um crescimento de 43%. Parece um bom negócio. Mas não é e é estranho (ou má fé ou incompetência ou distração) que o presidente do BNDES trabalhe com valores nominais. Entre 2006 a final de 2015 a inflação brasileira foi de 77%. Ou seja, redução em termos reais de quase 20%. Se este foi um dos melhores negócios, imagine os piores.

06 junho 2017

Matemática Financeira e a multa da JBS

O jornal Estado de S Paulo traz uma interessante aplicação de matemática financeira: a multa da JBS. Pelo acordo firmado na semana passada e assinado nesta semana, a empresa, ex-campeã nacional, terá que pagar 10,3 bilhões de reais de multa. Este valor deverá ser pago em 25 anos, sendo que inicialmente de forma semestral e depois anualmente. Além disto, o montante deverá ser corrigido pelo IPCA.

O jornal usou os préstimos de uma empresa de gestão de recursos chamada Quantitas. Estes concluíram que a multa deve sair pela metade do valor originalmente acertado. O cálculo feito é o seguinte: o valor será corrigido pela inflação somente, sem incluir uma taxa de juros, ao contrário do acordo da Odebrecht, que será corrigido pela Selic. Assim, se a empresa aplicar os recursos que serão usados para pagar a multa em NTN-B, um investimento do próprio governo, corrigido pelo IPCA mais juros, os recursos gerados seriam suficientes para reduzir o impacto da dívida pela metade. Ou, se a empresa aplicar R$5,158 bilhões hoje nestes títulos, os recursos serão suficientes para efetuar todo pagamento.

(Em matemática financeira, seria descobrir o valor presente - que neste caso é de R$5,158 bilhões - que será igualado as anuidades ou pagamentos a serem realizados pela empresa, a taxa de juros)

É um cálculo simples que assume uma hipótese: a taxa de juros do título público deverá continuar nos atuais níveis. Se ocorrer um aumento na taxa, o valor irá reduzir; existindo uma redução, como parece ser possível, o valor a ser aplicado deverá ser maior.

De qualquer forma, o texto mostra que o MPF precisa contratar aulas de reforço de matemática financeira para seus negociadores.

02 junho 2017

Frase

Baseado na nossa experiência, recomendamos o reconhecimento dos efeitos da inflação seja feito quando a taxa de inflação acumulada em três anos for de 26% (aproximadamente 8% ao ano)

Sugestão do GLASS (Grupo da América Latina de Reguladores Contábeis) em encontro no início de maio. Pelo levantamento do grupo, cerca de 50 países ultrapassaram este número pelo menos uma vez entre 2010 a 2014. O Brasil chegou perto: 19,37%. Atualmente o parâmetro é de 100% em três anos. Por este critério, o número de países cairia de 50 para 4 países do mundo.

26 dezembro 2015

Metas de Inflação não ancoram expectativas de inflação


Resumo:

We study the (lack of) anchoring of inflation expectations in New Zealand using a new survey of firms. Managers of these firms display little anchoring of inflation expectations, despite twenty-five years of inflation targeting by the Reserve Bank of New Zealand, a fact which we document along a number of dimensions. Managers are unaware of the identities of central bankers as well as central banks’ objectives, and are generally poorly informed about recent inflation dynamics. Their forecasts of future inflation reflect high levels of uncertainty and are extremely dispersed as well as volatile at both short and long-run horizons. Similar results can be found in the U.S. using currently available surveys as shown in Binder (2015).

Inflation Targeting Does Not Anchor Inflation Expectations: Evidence from Firms in New ZealandSaten Kumar, Hassan Afrouzi, Olivier Coibion, Yuriy Gorodnichenko


17 setembro 2014

Curso de Contabilidade Básica: Inflação

Até 1994 a variação dos preços era muito alta no Brasil. Com a contabilidade presta informação basicamente em moeda, foram criados mecanismos para que as demonstrações pudessem refletir o desempenho de cada empresa. Estes mecanismos faziam com que a contabilidade fosse bastante complexa e trabalhosa.

Após a implantação do Plano Real estes mecanismos perderam parte de sua validade. Nos últimos anos a inflação esteve próxima a 6%, uma variação bem reduzida quando se compara com os índices de vinte anos atrás. Isto não signifique que as empresas não estejam atentas ao problema. A gestão financeira sabe que ainda existem aumentos (e reduções) nos preços e algumas destas variações são relevantes na composição dos resultados. Mas provavelmente pouquíssimas empresas usam mecanismos de tratamento à inflação nas demonstrações contábeis (confesso que não conheço nenhum exemplo).

Da mesma forma, é pouco usual que as demonstrações contábeis das empresas expressem sua preocupação com a variação dos preços. Provavelmente os gestores sabem que os usuários não consideram este aspecto relevante na atual situação. Mas existem exceções, como é o caso da Natura, a conhecida empresa de cosméticos. Esta empresa fez a seguinte observação:


A preocupação da empresa é informar o comportamento de duas variáveis econômicas: o câmbio e a inflação. Mais adiante a empresa tece a seguinte consideração:
Esta é uma observação bastante genérica e que não ajuda o usuário a verificar o efeito da inflação sobre o resultado da empresa.


14 agosto 2014

Valores Reais x Nominais

Deixar de levar em consideração a inflação no longo prazo pode iludir que lida com números. Eis um exemplo recente:

Um site lançado pelo ex-presidente Lula para exaltar feitos petistas usa dados ilusórios ao afirmar que, com o partido no poder, a riqueza nacional triplicou.

“Com Lula e Dilma, o Brasil ficou três vezes mais rico. O Produto Interno Bruto (PIB), soma de todas as riquezas que o país produz no ano, saltou de R$ 1,48 trilhão em 2002 (com FHC) para R$ 3,77 trilhões em 2010 (com Lula) e para R$ 4,84 trilhões em 2013 (com Dilma).”

Batizado “O Brasil da Mudança”, o site foi lançado nesta terça-feira (12), com a presença da presidente Dilma Rousseff, para propagar dados favoráveis aos governos do PT -ou, no caso, para rebater críticas ao fraco crescimento da economia nos últimos anos.

O artifício adotado para medir o enriquecimento do país, no entanto, produz distorções grosseiras. A maior parte do aumento dos valores do PIB no período mencionado é mero resultado da inflação -outro foco de críticas, aliás, ao governo Dilma.

Descontada a variação dos preços, o crescimento real do PIB de 2003 a 2013 é de 46%, numa média anual de 3,49%. Nesse ritmo, a riqueza do país levaria 32 anos para triplicar.

Pelo critério adotado pelo site petista, o PIB teria quadruplicado no governo FHC, de R$ 349 bilhões para R$ 1,48 trilhão.

02 julho 2014

Franco, Real, Copa e Inflação

O economista Gustavo Franco é torcedor do Botafogo e está acompanhando os jogos da Copa do Mundo. Um dos formuladores do Plano Real, que completa 20 anos durante o Mundial, ele diz que o "futebol se tornou uma metáfora exata das causas da inflação" no Brasil.

"Alguns estádios foram construídos com um dinheiro que não existe, aumentando a dívida do governo. Se queríamos exemplos de irresponsabilidade fiscal que todos entendessem, a Copa foi um espetáculo", disse Franco, que presidiu o Banco Central de 1997 a 1999, à Folha.

Próximo ao PSDB, ele defende que o próximo governo faça uma discussão "transparente" sobre o orçamento e critica a administração Dilma Rousseff. "É preciso fazer quase uma comissão da verdade para saber o que houve com as contas públicas." 

Franco diz que a alta de preços preocupa, mas nada comparável à hiperinflação que o Plano Real derrubou. Para o economista, o país fez progressos institucionais contra o "comportamento inflacionista dos políticos".

Folha: Vinte anos depois do lançamento do real, a inflação ainda preocupa?
Gustavo Franco - A inflação é uma doença que vai nos ameaçar sempre. Infelizmente tivemos um episódio crítico, que foi a hiperinflação. Por isso, nosso organismo é mais sensível que o de outros países a essa doença. O que significa que precisamos ter mais cautela pelo resto da vida. É como o alcoolismo: não existe cura, só abstinência.

Folha: A inflação se aproxima do teto da meta estabelecida pelo governo. É preocupante?
Não é comparável a 1992 e 1993, mas é grave. A experiência dos vizinhos demonstrou que uma inflação, que pode até parecer pequena, se torna desestabilizadora. 

Na Argentina, a situação degringolou quando a inflação chegou a 15%. Foi uma esbórnia de controle de preço e ocultação de informação. Na Venezuela, a inflação subiu para 60% e, retirados os controles, já se parece com hiperinflação. É uma inflação dolorida, porque gera escassez. 

Esses países demonstraram que existe uma fronteira, entre 10% e 15%, que é muito perigosa. Será uma tragédia histórica se a inflação escapar e entrarmos na trajetória de Argentina e Venezuela.

Folha: O Brasil corre esse risco?
O risco existe, mas é pequeno. Temos progressos institucionais que nos defendem. O Banco Central hoje tem outro status. A lei de responsabilidade fiscal representou uma tomada de consciência da população da importância de proteger a moeda e as finanças públicas. É isso que nos salva hoje de um governo que, na ausência dessas condições, sabe-se lá o que estaria acontecendo.

Folha: Como o próximo governo deve controlar a inflação?
O próximo governo precisa recompor os pilares de uma economia sadia, que foram abandonados por questões ideológicas. 

Temos que falar da responsabilidade fiscal em todas as suas dimensões e não apenas em superavit primário. É preciso fazer quase uma comissão da verdade para saber o que houve com as contas públicas nos últimos tempos. 

O segundo ponto é o câmbio flutuante. O que está em jogo é o relacionamento do Brasil com o mundo. Com o Plano Real, abrimos o país para a economia internacional. Recentemente houve um recuo perigoso em direção a ideias dos anos 1950. 

Também existia no Brasil a percepção de que o governo gostava da liderança.

Folha: O Plano Real se baseou em juros altos para estabilizar a inflação. Como resolver isso?
Não concordo com a premissa. O Plano Real foi calcado em fundamentos macroeconômicos, fiscais, monetários e cambiais. Para isso utilizou todas as âncoras disponíveis: política monetária, fiscal e cambial. 

A política monetária foi usada de forma pesada em alguns momentos, quando a política fiscal não pode ser utilizada. A política cambial também. Depois que a situação fiscal melhorou em 1997 e 1998, foi possível mudar.

Folha: Como baixar os juros?
Esse dilema ficou na cabeça do governo, que acha que a única maneira de reduzir a inflação é subir os juros. É perfeitamente factível reduzir os juros se houver uma política fiscal correta. 

O atual governo tentou reduzir os juros sem responsabilidade fiscal e teve que voltar atrás. Esse é o governo dos juros altos tanto quanto qualquer outro.

Folha: Qual foi o principal mérito do Plano Real?
Reduzir uma inflação que chegou perto de 12.000% ao ano para 1,6% em 1998, sem praticamente nenhuma alteração do desemprego.

Folha: E qual foi o principal defeito?
É difícil apontar um defeito no plano de estabilização. Só que a estabilização não resolve todos os problemas. Muitas reformas poderiam ter sido feitas, mas foram interrompidas. Só que aí entramos em outro processo, que é a recomposição do crescimento.

Folha: Até a desvalorização em 1999, vocês mantiveram o câmbio fixo por tempo demais?
O câmbio valorizado não foi um desejo, mas um problema que tivemos de lidar. Até perto da crise da Rússia (1998), o Brasil sofria uma enxurrada de dólares. A dificuldade de fazer o câmbio desvalorizar era grande –situação parecida com o que viveu o governo Lula em 2008. 

Tínhamos duas alternativas: deixar flutuar o câmbio e fazer uma maxidesvalorização, ou sustentar a política cambial, fechar um acordo com o FMI, deixar o tumulto passar, e fazer uma flutuação fora da crise. Escolhemos a segunda opção.

A experiência recente do PT destrói o argumento de que estávamos mantendo o câmbio artificialmente valorizado. O dólar estava quase em R$ 1,50 quando veio a crise de 2008 e bateu em R$ 2,50.

Folha: Você teve dúvidas de que o Plano Real funcionaria?
Tive dúvidas e certezas todo o tempo. Nesse ramo, você tem convicções muito fortes, mas não controla todas as variáveis. A dúvida é saudável porque te deixa mais vigilante aos imprevistos. E por mais esperto que esteja, o imprevisto sempre vai ser pior do que você esperava.

Folha: Que tema hoje mereceria um novo Plano Real?
É preciso continuar o processo que começamos. O brasileiro chegou perto de entender as causas da inflação e estabelecer instituições que evitem o comportamento inflacionista dos políticos. 

Nos últimos anos, esse comportamento voltou. A inflação começou a subir e a reação popular foi forte. O futebol ajudou muito porque se tornou uma metáfora exata das causas da inflação. 

Nada pode ser mais ilustrativo da forma como as finanças públicas são conduzidas do que os estádios superfaturados e a discricionariedade de como um político determina que um banco federal coloque R$ 1 bilhão para construir um estádio do nada.

Folha: Mas os manifestantes pediam para gastar em saúde e educação e não para economizar...

Esse debate é maravilhoso e deveria ocorrer no orçamento. É aí que as pessoas devem dizer que querem escola e hospital em vez de estádio. Isso confrontado com a disponibilidade de dinheiro. 

Em muitos casos, os estádios são construídos com dinheiro que não existe, aumentando a dívida do governo. Se queríamos exemplos de irresponsabilidade fiscal que todo mundo entendesse, a Copa foi um espetáculo. 

Cada estádio é um exemplo de um rombo de mais ou menos R$ 1 bilhão. Se esse dinheiro existia, por que não foi utilizado para outra coisa? 

O próximo governo precisa de uma proposta de orçamento transparente. Nunca organizamos direito nosso orçamento, que é o centro econômico de qualquer democracia digna desse nome.

Fonte: "Copa é exemplo de irresponsabilidade Fiscal". Indicado pelo querido Vladmir, a quem agradecemos.

16 junho 2014

Não conhecemos a causa de inflação ou recessões

Macroeconomics is a little like fusion power. When the Great Depression hit, economists finally started taking booms and busts seriously. There’s no denying that something weird happens when a country slips into recession -- all the same factories and offices and people and ideas are there, but suddenly people aren’t producing as much stuff. Why? John Maynard Keynes, Friedrich Hayek and Irving Fisher wrestled with this question in the 1930s, and their work kicked off a decades-long quest to understand what we now call the business cycle. But almost a century later, despite sending some of our best brains up against the problem, we’ve made frustratingly little progress.
It’s hard to overstate how few solid conclusions have emerged out of a century of macroeconomic research. We don’t even have a good grasp of what causes recessions. Robert Lucas, probably the most influential macroeconomist since Keynes, had this to say in 2012:
I was [initially] convinced…that all depressions are mainly monetary in origin…I now believe that the evidence on post-war recessions (up to but not including the one we are now in) overwhelmingly supports the dominant importance of real shocks. But I remain convinced of the importance of financial shocks in the 1930s and the years after 2008. Of course, this means I have to renounce the view that business cycles are all alike!
Lucas’ progression roughly reflects the shifting fads in academia. In the 1970s, people mostly thought that recessions were caused by tight monetary policy. After the big inflation in the '80s, people built models in which recessions happen because fewer new technologies got discovered in a given year. But that didn’t seem to explain the recessions induced by Federal Reserve Chairman Paul Volcker in the early 1980s, so new models were developed that attributed recessions, again, to tight monetary policy. After the financial crisis of 2008 and the deep recession that followed, macroeconomists shifted gears and started building models in which financial crises cause economic busts. The consensus shifts every time something big happens.
Other top macroeconomists put the problem even more starkly. Harvard’s Greg Mankiw said this in 2011:

After more than a quarter-century as a professional economist, I have a confession to make: There is a lot I don’t know about the economy. Indeed, the area of economics where I have devoted most of my energy and attention — the ups and downs of the business cycle — is where I find myself most often confronting important questions without obvious answers...
And in that same year, the University of Chicago’s John Cochranewrote:
Why are we stagnating? I don’t know. I don’t think anyone knows, really...Nothing on the conventional macro policy agenda reflects a clue why we’re stagnating...
We also don’t understand what causes inflation. It makes sense that printing more money would cause prices to rise, but trillions of dollars of quantitative easing -- a policy dreamed up by Milton Friedman as a way to fight stagnation -- haven’t budged the inflation rate from its low level of about 2 percent. That has led a small but growing number of macroeconomists, including Stephen Williamson of Washington University, to suggest that quantitative easing, or long periods of low interest rates, actually reduce inflation. At a recent Hoover Institute conference, Cochrane declared that inflation is actually the result, not of loose monetary policy, but of government borrowing (this is actually an old idea as well).
On the topic of what to do about recessions, opinion also is split. The dominant school of thought among macroeconomists (the “New Keynesians” and “monetarists”) says that fighting recessions is the Fed’s job -- lowering interest rates, or QE, or nominal gross domestic product targeting can get the job done. A branch of this school thinks that monetary policy loses its punch when interest rates are low, and recommends fiscal stimulus spending to fill the gap. A slightly smaller group (the “New Classicals”) think that nothing can be done -- we just need to wait it out, and in the meantime try to cut taxes and implement other structural reforms. The debate rages on. But this argument is a little like medieval doctors arguing over leeches versus bleeding -- without a real understanding of what causes recessions, our medicines are largely a shot in the dark.
Why is macroeconomics one of the great unsolved problems in the history of human science? It isn't because macroeconomists aren’t smart enough, as anyone who has hung around them knows. It’s also not because they’re too politicized; you can find macroeconomists on every end of the spectrum. Nor is it for lack of resources being thrown at the question.
The problem is data. Business cycles are few and far between. And business cycles that look similar to one another -- the Great Depression and the Great Recession, for example -- are even farther apart. It’s hard to tell whether policies have any effect, or whether those effects were about to happen anyway. The main statistical technique we have to analyze macro data -- time-series econometrics -- is notoriously inconclusive and unreliable, especially with so few data points. Comparing across countries helps a bit, but countries are all very different, and recessions can also spill over from one to another.
The uncomfortable truth is this: The reason we don’t really know why recessions happen, or how to fight them, is that we don’t have the tools to study them properly. This is the situation biologists were in when they were trying to fight disease before they had microscopes. Not only did they not have the right tools, they didn’t even have any way of knowing what the right tools would be!
So I can’t tell you when macroeconomics will have a real breakthrough. Will we be able to get insight from simulated economies (called agent-based models)? Will huge multiplayer online video games give us a laboratory to study recessions? Should we look at cities as economies, and gain some insight there? Or is there some other data-gathering method so different from what we do now that I can’t even imagine it?
It’s easy to point and laugh and say that macroeconomics isn’t a science. It’s also easy to convince yourself that if macroeconomists just ditched their blinkered political ideologies, all would become clear. But those are comforting fantasies. The fact is, there are just some big problems that mankind doesn’t know how to solve yet.
Fonte: aqui

03 maio 2014

Fato da Semana

Fato da Semana: Reajuste de 4,5% da tabela do imposto de renda. No pronunciamento em cadeia de rádio nacional feita no dia 30 do último mês, a presidente da República anunciou um reajuste na tabela do imposto de renda. Segundo a presidente: “Isso vai significar um importante ganho salarial indireto e mais dinheiro no bolso do trabalhador”.
Qual a relevância disso? Segundo o Sindifisco, de 1996 - ano em que a tabela foi congelada - até 2013, o IPCA acumulou uma alta de 206,64%. Contudo, as faixas de cobrança só foram ajustadas em 89,96% nesse período. Cabe ressaltar que o congelamento durou de 1996 a 2001. A partir daí a tabela foi reajustada, mas os reajustes, em geral, foram mais baixos do que a inflação.

Positivo ou negativo? Negativo.

O Sindifisco acrescenta:

"[...] a discrepância crescente penaliza, sobretudo, os contribuintes de mais baixa renda. Quem ganha até R$ 2.761 por mês deveria ser isento de IR, segundo os cálculos do Sindifisco, mas acaba sendo tributado atualmente pelas alíquotas de 7,5% e 15%.
A classe média também arca com uma carga tributária bem maior do que deveria. Trabalhadores quem ganham R$ 3 mil mensais, por exemplo, são descontados na fonte em R$ 129,39. Se a tabela fosse integralmente corrigida, o valor seria de R$ 17,89, de acordo com a pesquisa. Isto é, o Fisco fica com R$ 111,50 a mais, uma diferença de 623,25%.
Já no extremo oposto, o efeito é bem menor. Quem recebe R$ 100 mil por mês deixa na fonte R$ 26.709,43. Se houvesse o reajuste, o desconto seria de R$ 26.223,86, uma diferença de apenas 1,85%.
Salário mínimo. A defasagem ainda se soma ao aumento do salário mínimo, também superior à correção da tabela. Neste ano, o mínimo foi elevado para R$ 724, uma alta de 6,78% ante os R$ 678 vigentes em 2013.
O resultado disso é o aumento da tributação sobre o assalariado. Em 1996, a isenção do imposto beneficiava quem recebia até 6,55 salários mínimos, segundo levantamento da consultoria Ernst & Young. Em 2014, essa relação despencou para 2,47. Assim, brasileiros antes isentos por causa da baixa renda vão paulatinamente ingressando na condição de contribuintes." [marcações nossas]

Desdobramentos: pagar mais tributos é uma escolha do povo brasileiro. Optamos por um Estado grande e por um amplo conjunto de benefícios sociais (vide Constituição Federal). Tudo isso tem um custo. O que o povo pode fazer é exigir mais eficiência dos serviços públicos. A conta está salgada e com certeza vai piorar. A tabela do IR é injusta. Isso é bom para mostrar como uma inflação descontrolada afeta a vida de todos.

27 março 2014

Mercadante e o Plano Cruzado


Esse vídeo é hilário. Será que o atual ministro da casa civil é um péssimo economista ou repórter? Fico com as duas alternativas.  Quem quiser saber mais da história pode acessar ler este artigo:




Ou ler este trecho da wikipedia:

O plano começou a fracassar exatamente devido ao desequilíbrio dos preços relativos da economia. Por não equalizarem o valor presente dos preços, muitos produtores que corrigiam seus preços entre dia 1 a 15 do mês, ficaram com o preço tabelado abaixo da rentabilidade desejada ou até mesmo abaixo do custo de produção: algo que ou inviabilizava a venda dos produtos para o consumo, ou levava a uma queda na sua qualidade. Saíram beneficiadas as empresas que reajustaram seus preços nos dias anteriores ao plano.

Como o congelamento não permitiu o ajuste dos preços sujeitos à sazonalidade, houve um desequilíbrio de preços. E como resultado disso, vieram o desabastecimento de bens e o surgimento de ágio para compra de produtos escassos, principalmente os que se encontravam na entressafra (carne e leite) e de mercados oligopolizados (automóveis).

Além desses fatores, alguns economistas apontam o abono concedido ao salário mínimo (aumento real de 16%), e ao funcionalismo público (abono de 8%) como responsável por um aumento do consumo - algo que pressionou ainda mais a demanda, impedida de ser contrabalanceada por um aumento de preços.





17 março 2014

História da Contabilidade A questão inflacionária antes da Lei 6.404

A Lei 6.404 instituiu o mecanismo da correção monetária das demonstrações contábeis (I). Entretanto, antes desta norma, já existia mecanismo de tratamento à inflação no Brasil, inclusive com problemas e defeitos (II).

A discussão sobre a questão da inflação e seus reflexos nas demonstrações contábeis já existia bem antes da aprovação da lei. Em diversas demonstrações publicadas antes da lei já se chamava atenção para o problema. Veja o que indicava o Parecer dos Auditores do balanço da Centrais Eletricas de São Paulo (CESP) de 1967, ou seja, quase dez anos antes da lei:

Dentro da situação inflacionária que tem existido, em nossa opinião, as demonstrações financeiras devem ser apreciadas considerando-se o efeito das distorções causadas pela inflação. O efeito da inflaçãono balanço e no resultado das operações foi reconhecido, em parte, nas demonstrações financeiras anexas, pela nova tradução monetária efetuada em 31 de julho de 1967 no valor original dos bens do ativo imobilizado e das reservas para depreciação e reversão ou amortização, de acordo com os coeficientes publicados em fevereiro de 1967, e pela consignação na demonstração do resultado do exercício da parcela de depreciação aplicável ao aumento das contas do ativo imobilizado decorrente da sua correção monetária. As correções monetárias contabilizados refletem somente uma parte do impacto da inflação nas contas do imobilizado e não traduzem o efeito da inflação sobre o ativo e passivo monetário; os princípios da contabilidade geralmente aceitos não requerem ajustes para refletir totalmente o efeito da inflação nas demonstrações financeiras.

É bem verdade que existia muita incompreensão sobre os efeitos inflacionários na contabilidade. Num longo artigo, Nilson Holanda, do Banco do Nordeste, afirmava que os efeitos da correção, quando considerados como lucros retidos, representava “ganhos ilusórios, pois em nada aumentaram o patrimônio real da empresa (IV).

Antes disto, um artigo de Max Epes, originalmente publicado no The Journal of Accountancy de janeiro de 1961 sobre a contabilidade num país com inflação, foi publicado num jornal de grande circulação (V).
Em 1974 o Iopec oferecia um curso de contabilidade gerencial onde constava, do programa, a “eliminação da inflação dos relatórios contábeis” (VI).
(continua ...)

Referências
(I) Vide capítulo específico no livro de Teoria da Contabilidade, de Niyama e Silva, 3ª. edição.
(II) Vide postagem anterior
(III) Balanço publicado O Estado de S Paulo, 23 de abril de 1968, p. 29, ed. 28537. Parecer da empresa Artur Andersen.
(IV) HOLANDA, Nilson. Inflação não é base para o desenvolvimento. O Estado de S Paulo, ed. 28198, 19 de março de 1967, p. 31.
(V) EPES, Max. Contabilidade num país inflacionista. O Estado de S Paulo, ed. 26663, 27 de março de 1962, p. 14. Infelizmente a versão disponibilizado no acervo digital do jornal não está clara o suficiente.
(VI) O Estado de S Paulo, ed. 30492, 22 de agosto de 1974, p. 22.