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15 julho 2013

História da Contabilidade - Guarda-livros, Escriturário, Amanuense e Conferente

Na segunda metade do século XIX o número de profissionais que trabalhavam na contabilidade de uma empresa brasileira cresceu substancialmente (1). Quando o número de funcionários cresce é natural que comece a surgir graduações entre aqueles com maior poder e os subalternos. Isto também ocorreu com a contabilidade.

Sabemos que o profissional era conhecido como “guarda-livros”, que era o corresponde ao bookkeeper (2) da língua inglesa. Mas afirmar que o guarda-livros era o profissional contábil do passado é uma simplificação, já que um departamento de contabilidade de uma grande empresa possuía vários tipos de profissionais (3).

Um deles era o escriturário. Algumas empresas nos dias de hoje ainda possuem este cargo na sua estrutura e geralmente corresponde a função de nível subalterno, relacionada com a burocracia. No passado, o escriturário era aquele que fazia a “escrita” da empresa e esta é a origem da palavra. Os mais antigos associam o termo “fazer escrita de uma empresa” como sendo igual a “fazer a contabilidade de uma empresa”. Isto significa dizer que o escriturário correspondia a uma função onde se fazia os lançamentos contábeis.

Outro profissional era o amanuense (4), responsável pela copia de textos à mão. É bom lembrar que na época não existia nem computador nem máquina de datilografar. Então, para a função do amanuense era necessária ter boa caligrafia.
Finalmente tem-se o conferente, uma profissão que ainda existe nos dias de hoje. O número deste profissional era bem menor que o amanuense (5).

Considere a empresa citada anteriormente Central do Brasil, uma empresa férrea. Em 1902 a divisão de contabilidade tinha (6) como chefe o bacharel em engenharia João Baptista Maia de Lacerda. Junto à ele trabalhavam dois oficiais, um amanuense e um contínuo. Esta divisão estava subdividida em seções. A primeira seção tinha um contador (7), seu ajudante, oito primeiros escriturários, dez segundos escriturários, doze terceiros escriturários, um arquivista, 24 amanuenses, 25 praticantes, um impressor, um ajudante, um autografista e um contínuo. A segunda seção era comandada por um guarda-livros, com um ajudante, 2 primeiros escriturários, dois segundos escriturários, um terceiro escriturário, um amanuense e um contínuo. A contagem revela um total de cem empregados, mas existiam escriturários em outras divisões.

Uma repartição menor, a Repartição Geral dos Telegraphos, vinculada ao Ministerio da Instrucção Publica, Correios e Telegraphos (8) possuía na seção de contabilidade um chefe, um ajudante, um tesoureiro, um fiel (9) e dez escriturários (10). A contadoria do Correio Federal, na mesma época, possuía 32 funcionários, sendo oito amanuenses, nove praticantes e dez oficiais (11).

(1) Em postagem anterior mostramos isto.
(2) Vide http://pt.wikipedia.org/wiki/Guarda-livros
(3) No Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, edição 48, p. 396, mostra uma organização onde a seção de contabilidade era dividida em Chefe, Escriturário, Amanuenses e Conferente.
(4) http://pt.wikipedia.org/wiki/Amanuense
(5) Conforme a organização existente no Almanak, citada em (3), existia uma proporção de 1 para 4 entre o escriturário e o amanuense e a mesma relação entre o conferente e o amanuense.
(6) Conforme Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, edição de 1902, p. 1220 e seguintes.
(7) É sempre bom destacar que “contador” não corresponde ao que hoje conhecemos como profissional formado em contabilidade. Era um cargo público, geralmente voltado para área de arrecadação.
(8) Grafia da época.
(9) Trata-se de um cargo que ainda existe nos dias de hoje, como por exemplo na gestão de armazéns. Vide http://pt.wikipedia.org/wiki/Gest%C3%A3o_do_armaz%C3%A9m
(10) Também Almanak (...) , 1902, p. 669. Os três exemplos citados são de entidades vinculadas ao governo. Isto pode sugerir um número mais elevado de funcionários do que o necessário, em razão do tradicional apadrinhamento na área pública.

08 julho 2013

História da Contabilidade: O Guarda-livros no final do século XIX

A função de guarda-livros corresponde ao que hoje denominamos de contabilistas. No final do século XIX o número de profissionais desta categoria cresceu, muito embora seja difícil determinar o número existente.

Ser um guarda-livros representa uma oportunidade de ascensão social e econômica pela acessibilidade aos ensinamentos.

Era possível adquirir conhecimentos necessários para exercer a profissão através de cursos particulares, muitos deles ministrados num horário bastante conveniente, ou mesmo até junto com as primeiras lições de matemática e escrita, conforme já demonstramos aqui em outras postagens. Ao contrário da advocacia, que era necessários estudos superiores, ser guarda-livros não possuía este requisito.

O curso Veridiano de escrituração mercantil, por exemplo, ensinava os livros exigidos por lei, além de noções de direito, redação e outros assuntos (1). O curso funcionava das 7 as 9 da manhã e das 7 a 9 da noite, o que permitia que o interessado que estivesse trabalhando pudesse adquirir conhecimentos de contabilidade.

Sobre o reconhecimento da sociedade é importante citar que o guarda-livros era um dos profissionais aptos a votar no império, conforme está expresso no Decreto 6097, de 12 de janeiro de 1876 (2), desde que tivessem ordenado acima de 200 reis e registro do comercio. Outro caso que prova a fé no guarda-livros está numa declaração dada em 1888 por J. M. Pontes, guarda-livros da Cia Carris de Ferro de S. Paulo, informando que um certo Luiz de Vasconcellos possuía ações da empresa (3).

Associação profissional
O crescimento do número de profissionais trouxe, como consequência, a reunião em associações. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a Associação de Guarda-Livros foi criada em 1876, coincidentemente no mesmo ano da lei eleitoral (4). Para evitar a desconfiança dos patrões, a Associação os convidava: “Pede-se o comparecimento de todos e assim também dos srs. negociantes que quizerem honrar-nos com a sua presença, e fazerem parte da mesma” (grafia da época) (5).

Discussões teóricas
Algumas discussões teóricas começam a surgir neste momento. Um profissional de nome Antônio Tibúrcio de Mello questiona a qualidade de dois peritos sobre o laudo emitido sobre a contabilidade de uma empresa que faliu (6). Outra discussão ocorreu a partir dos balanços da Companhia Cantareira sobre a melhor forma de classificação das ações a emitir (7). Ou a discussão sobre a diferença entre balanço e balancete, na mesma empresa (8).

Tecnologia
A contabilidade ainda era feita à mão. Assim, a boa caligrafia era um requisito básico para um bom profissional. Mas aparecem no Brasil os primeiros avanços tecnológicos para facilitar o trabalho guarda-livros. Um dos grandes problemas deste profissional era lidar com os problemas dos borrões provocados pela tinta. Na véspera da proclamação da república aparecem produtos para tirar borrões dos livros, “sem deixar vestígio”, como “O Electric” (9) ou “Eureka” (10).

(1) O Estado de S Paulo, 2 de fevereiro de 1899
(2) A Província de S Paulo, 4 de fevereiro de 1876.
(3) A Província de S Paulo, 17 de julho de 1888.
(4) A Província de S Paulo, 7 de setembro de 1876.
(5) A Província de S Paulo, 6 de agosto de 1876. No final do século aparece o Grêmio dos Guarda-livros de São Paulo.
(6) O Estado de S Paulo, 4 de outubro de 1899.
(7) A Província de S. Paulo, 13 de abril de 1884, p. 1
(8) A Província de S. Paulo, 21 de março de 1884.
(9) A Província de S Paulo, 19 de junho de 1889.
(10) A Província de S. Paulo, 7 de janeiro de 1889.

27 janeiro 2012

Rir é o melhor remédio

Fringe é uma série televisiva definida na Wikipédia como uma mistura entre “Arquivo X” e “The Twilight Zone”. (Mas é muito mais legal do que essa descrição dá a entender. Se bem que esta postagem não vai exatamente arrecadar audiência)

O Paulo Costa, a quem agradecemos a participação, reparou a seguinte cena no último episódio (9º da atual 4ª temporada):


Repassemos o diálogo:
[...]
Bandido: Vocês sabem o que ela é?
Mocinha: Uma metamorfo. [ Algo como um ser “maligno” que se transforma em outras pessoas, se passa por elas e substitui seus lugares na sociedade].
Bandido: Ela já foi um ser humano como outro qualquer.
Mocinho: Até que você a matou.
Bandido: Oh, ela não está morta. Apesar de que, de certa forma, ela estava. Uma contabilista em uma empresa de contabilidade... Você pode imaginar algo mais sem vida?
[...]

Há há há. Hunf.

Aqui acrescentam sobre a útilma frase: He [o bandido] clearly believed his biomechanical makeover had improved her life. She was special. We all want to be special. Don't we?

Nova velha contabilidade

Acredito que vez ou outra (para ser delicada) a contabilidade e as áreas afins são vistas como vilãs capitalistas, os profissionais como pessoas rígidas e gananciosas. Em países desenvolvidos a ocupação é melhor conceituada e valorizada. Aqui ainda há um bocado a ser construído e modificado para que entendam que não somos apenas “guarda livros”.

Quem der uma chance e tentar ver as nuances talvez observe que algumas sementes foram plantadas e estão se transformando em brotos cheios de vida e potencial. A área financeira pode e está crescendo, preenchendo não somente sua capacidade produtiva, como também demonstrando que, com criatividade, leveza e acessibilidade muito pode ser feito.

Acho fantástico o movimento em prol da “popularização” da educação financeira, que tem sido difundida em empresas para que seus funcionários saibam lidar com seus rendimentos de forma mais saudável, em programas de televisão que ensinam como iniciar um negócio atentando para despesas e investimentos iniciais, em escolas que agregaram a matéria “finanças pessoais” ao currículo do ensino fundamental.

Tudo isso mostra um pouquinho do que está por vir. O Brasil tem demonstrado o gosto pela estabilidade econômica e nada mais natural que começar a valorizar contadores, economistas, financistas e, quem sabe, 'até' educadores.

24 outubro 2011

Frase

"Assim foi que o menino tornou-se filho não de um advogado, mas de um evadido da escola secundária com paixão por mecânica e sua humilde esposa, que trabalhava então como guarda-livros"

Trecho do livro: Steve Jobs - A Biografia