Apesar de difícil, a decisão da Multitek Engenharia de romper seus 11 contratos com a Petrobrás e demitir 1,7 mil empregados foi planejada e considerada "a única" pelos sócios. No mercado há 28 anos e credenciada pela estatal (sua única cliente) para prestar cerca de 90 diferentes tipos de serviços de engenharia, a empresa tomou uma decisão pouco comum. Mesmo entre as empresas com dificuldades após a mudança de postura da Petrobrás na gestão de contratos com empreiteiras, o recurso à Justiça costuma vir somente após a falência ou a recuperação judicial. Dependentes da petroleira e com pouco poder de barganha, pequenas e médias empreiteiras temem ser excluídas de concorrências futuras. A Multitek, porém, agiu antes. Em 08 de agosto, notificou a Petrobrás extrajudicialmente, exigindo respostas para os pedidos de aditivos em contratos em até cinco dias. São R$ 245 milhões, nos cálculos da empresa. Como os pleitos não foram atendidos, os contratos foram rescindidos e os trabalhadores das obras, demitidos. Apenas os cerca de 40 funcionários da sede da empresa, em Juiz de Fora (MG), seguem empregados. A empresa pretende manter-se administrando ativos e passivos. O valor dos pleitos é considerado um ativo, segundo o advogado da Multitek, Juarez Loures de Oliveira. A intenção dele é entrar com a ação para cobrar os 245 milhões nos próximos dias. "Ensaiamos vários cenários", diz Luís Alfeu Alves de Mendonça, presidente e sócio da Multitek, ao lado de seu filho, Rodrigo de Mendonça, numa rara entrevista. O mesmo receio de entrar na Justiça limita empresários desse mercado a entrevistas sem se identificar. Cortes« Segundo Mendonça, apesar do planejamento, a decisão foi difícil: "O dia em que nos dispusemos a botar para fora, falar que do jeito que está nao tem jeito, foi uma dor que você não pode imaginar". Os empresários fazem questão de destacar outra notificação extrajudicial, na qual aMultitek cedeu créditos a receber - serviços já faturados, aditivos de contratos assinados e pleitos aprovados, no valor de R$ 25 milhões, para além dos R$ 245 milhões para que a Petrobrás quitasse as rescisões trabalhistas. A Petrobrás "entende que a responsabilidade pelo pagamento dos empregados, que estavam alocados em Macaé, Ipojuca ou Itaboraí (COMPERJ) é da Multitek", segundo nota. Os sindicatos de Macaé (RJ) e Ipojuca (PE) conseguiram liminares na Justiça obrigando a estatal a assumir os pagamentos. A Petrobrás diz que já fez os pagamentos - bi caso pernambucano, em juízo. Os sócios da Multitek rejeitam a explicação de que os pleitos funcionavam como estratégia de inflacionar valores de contratos ganhos com orçamentos propositalmente depreciados. O problema, segundo eles, está nas mudanças técnicas e de escopo em orçamentos . aprovados e contratados, cada vez mais comuns nas megaobras da Petrobrás.
Multitek rompe 11 contratos com estatal e demite 1,7 mil - Estado de S Paulo - 1 set 2013
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02 setembro 2013
Petrobras e fornecedor 2
0 procedimento interno da Petrobrás para análise e tratamento de pedidos de alterações contratuais está sistematizado e formalizado desde 2002, informa a Petrobrás. Segundo nota envia da ao "Estado", 0 processo começa com o envio, por parte da con tratada, da documentação de solicitação do pleito diretamente para 0 diretor de Engenharia, Tecnologia e Materiais da petroleira. "Essa documentação passa por análise da área responsável pelo projeto, que faz uma avaliação preliminar e verifica 0 cabimento do pleito. Caso considerado cabível, é constituída uma comissão de negociação do pleito, que realiza negociações junto à Contratada, com apoio da área jurídica da Petrobrás. Concluída a negociação, emite-se o relatório, que é encaminhado para aprovação". Em outra nota, a Petrobrás afirma que "sempre pautou sua atuação nas relações contratuais com a Multitek em consonância com os contratos celebrados" e que "nunca se negou a realizar negociações para implementar os ajustes necessários", "A Petrobrás entende que as atitudes da Multitek representam rompimento abrupto e unilateral nas relações contratuais existentes, 0 que implica adoção de eventuais medidas jurídicas. A Petrobrás volta a destacar que realizou todos os pagamentos de seus compromissos reconhecidos com a referida empresa."
Estatal pode processar a Multitek - O Estado de S. Paulo - 01/09/2013
Estatal pode processar a Multitek - O Estado de S. Paulo - 01/09/2013
Petrobras e fornecedores 1
Mesmo faturando R$ 200 milhões por ano e com expectativa de ganhar um contrato de R$ 480 milhões com a Petrobras, a Multitek Engenharia resolveu cancelar obras e demitir 1,7 mil empregados. Nos próximos dias, entrará na Justiça contra a gigante estatal, sua única cliente.
Segundo a empresa, a atitude radical foi a única saída para evitar a falência e contornar dificuldades que se tornaram comuns a muitos prestadores de serviço e fornecedores da estatal. As demissões da Multitek serviram de estopim para protestos no Complexo Petroquímico do Estado do Rio (Comperj) na semana passada.
Dependência excessiva nos contratos com a estatal, projetos malfeitos, incapacidade financeira de fornecedores, além de mais rigor e demora da Petrobras nas negociações estão entre os motivos para falências e dificuldades na cadeia de petróleo e gás. Por trás disso, está o aperto de caixa: com o preço dos combustíveis defasado e necessidade de investir, a Petrobrás resolveu secar a torneira em projetos que costumavam ficar mais caros que o previsto.
O movimento foi acentuado na gestão da presidente Graça Foster, iniciada há um ano e meio. A Petrobras diz que "o procedimento de análise e tratamento de alterações contratuais é o mesmo desde 2002".
Uma das primeiras prestadoras de serviços a quebrar, em novembro passado, a Tenace atribuiu a falência, em carta ao mercado, à "danosa relação contratual estabelecida com a Petrobrás" e à mudança de postura da estatal. A empreiteira, com 25 anos e 3 mil funcionários, perdeu R$ 800 milhões em contratos, 90% deles com a petroleira.
Dois meses depois foi a vez da GDK, cujo pedido de recuperação judicial foi aceito em 10 de janeiro, minando novos contratos. A GDK perdeu, por exemplo, a disputa por obras de duas plataformas (P-74 e P-76) no início do ano. TKK, Delta e Egesa também estão entre as que enfrentaram dificuldades.
Mudança. As dificuldades começaram com uma mudança da Petrobras na análise dos pedidos de aditivos aos contratos. Até 2011, eram analisados de forma descentralizada e menos burocrática, com gerentes dando aval a mudanças e permitindo às empresas tocar as obras com caixa próprio na quase certeza de aprovação. Após a mudança, cada contrato passou a ser analisado com lupa.
Paralelamente, a Petrobras voltou a investir em megaobras, de interesse do governo. É o caso da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, investimento de US$ 20 bilhões, e do Comperj, de US$ 13 bilhões. Ambos estão atrasados, têm custos explosivos e vaivém na definição.
As prestadoras de serviços lamentam que a Petrobras tenha "endurecido" as negociações, especialmente quanto a custos surgidos durante as obras. Reclamam que, muitas vezes, eles decorrem de mudanças dos projetos em relação ao edital.
Há vários aditivos de obras contratadas pela Petrobras contestados pelo TCU por superfaturamento. O objetivo, segundo já disse Graça, é não repetir exemplos como o da Abreu e Lima, cujo orçamento inicial era de US$ 2,3 bilhões, quase 10% do atual. No mês passado, auditoria do TCU determinou que a Petrobrás cobre a devolução de R$ 69,6 milhões de um consórcio de grandes empreiteiras nas obras de terraplenagem.
A Petrobras também quis mudar uma prática comum: prestadores e fornecedores entram na licitação com preço abaixo da realidade e compensam depois com os aditivos. Prestadores médios e pequenos, em geral, negam a prática, mas um engenheiro que já trabalhou no Comperj e prefere não se identificar diz que ela "faz parte do jogo".
Nessa mudança, não há falta de pagamento da petroleira. Apenas menos disposição para aceitar aumento de custos. A situação é mais complicada para pequenos e médios prestadores de serviço.
Estado de S Paulo - 1 de setembro de 2013 p. B4 - Petrobras dificulta vida de fornecedores
Segundo a empresa, a atitude radical foi a única saída para evitar a falência e contornar dificuldades que se tornaram comuns a muitos prestadores de serviço e fornecedores da estatal. As demissões da Multitek serviram de estopim para protestos no Complexo Petroquímico do Estado do Rio (Comperj) na semana passada.
Dependência excessiva nos contratos com a estatal, projetos malfeitos, incapacidade financeira de fornecedores, além de mais rigor e demora da Petrobras nas negociações estão entre os motivos para falências e dificuldades na cadeia de petróleo e gás. Por trás disso, está o aperto de caixa: com o preço dos combustíveis defasado e necessidade de investir, a Petrobrás resolveu secar a torneira em projetos que costumavam ficar mais caros que o previsto.
O movimento foi acentuado na gestão da presidente Graça Foster, iniciada há um ano e meio. A Petrobras diz que "o procedimento de análise e tratamento de alterações contratuais é o mesmo desde 2002".
Uma das primeiras prestadoras de serviços a quebrar, em novembro passado, a Tenace atribuiu a falência, em carta ao mercado, à "danosa relação contratual estabelecida com a Petrobrás" e à mudança de postura da estatal. A empreiteira, com 25 anos e 3 mil funcionários, perdeu R$ 800 milhões em contratos, 90% deles com a petroleira.
Dois meses depois foi a vez da GDK, cujo pedido de recuperação judicial foi aceito em 10 de janeiro, minando novos contratos. A GDK perdeu, por exemplo, a disputa por obras de duas plataformas (P-74 e P-76) no início do ano. TKK, Delta e Egesa também estão entre as que enfrentaram dificuldades.
Mudança. As dificuldades começaram com uma mudança da Petrobras na análise dos pedidos de aditivos aos contratos. Até 2011, eram analisados de forma descentralizada e menos burocrática, com gerentes dando aval a mudanças e permitindo às empresas tocar as obras com caixa próprio na quase certeza de aprovação. Após a mudança, cada contrato passou a ser analisado com lupa.
Paralelamente, a Petrobras voltou a investir em megaobras, de interesse do governo. É o caso da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, investimento de US$ 20 bilhões, e do Comperj, de US$ 13 bilhões. Ambos estão atrasados, têm custos explosivos e vaivém na definição.
As prestadoras de serviços lamentam que a Petrobras tenha "endurecido" as negociações, especialmente quanto a custos surgidos durante as obras. Reclamam que, muitas vezes, eles decorrem de mudanças dos projetos em relação ao edital.
Há vários aditivos de obras contratadas pela Petrobras contestados pelo TCU por superfaturamento. O objetivo, segundo já disse Graça, é não repetir exemplos como o da Abreu e Lima, cujo orçamento inicial era de US$ 2,3 bilhões, quase 10% do atual. No mês passado, auditoria do TCU determinou que a Petrobrás cobre a devolução de R$ 69,6 milhões de um consórcio de grandes empreiteiras nas obras de terraplenagem.
A Petrobras também quis mudar uma prática comum: prestadores e fornecedores entram na licitação com preço abaixo da realidade e compensam depois com os aditivos. Prestadores médios e pequenos, em geral, negam a prática, mas um engenheiro que já trabalhou no Comperj e prefere não se identificar diz que ela "faz parte do jogo".
Nessa mudança, não há falta de pagamento da petroleira. Apenas menos disposição para aceitar aumento de custos. A situação é mais complicada para pequenos e médios prestadores de serviço.
Estado de S Paulo - 1 de setembro de 2013 p. B4 - Petrobras dificulta vida de fornecedores
05 março 2011
Efeitos do poder de compra da Petrobrás nos seus fornecedores.
Efeitos do poder de compra da Petrobrás nos seus fornecedores. - Por Pedro Correia
Entre 2009 e 2010, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fez um amplo estudo para estimar o impacto das atividades da Petrobras sobre o desenvolvimento produtivo e tecnológico dos seus fornecedores no Brasil. O estudo foi publicado em novembro de 2010 e está disponível em um livro no site do IPEA.Quando se compara os fornecedores da Petrobras com os não fornecedores, nota-se que os primeiros: a) pagam um salário médio 80% maior; b) têm um porte médio maior (ganhos de escala); c) rotatividade da mão de obra menor; d) empregam 42,1% de todos os engenheiros que têm carteira assinada na indústria e serviços selecionados pelo estudo; e e) empregam também 43,3% dos profissionais científicos e 45,9% dos pesquisadores dos setores analisados. No entanto, os resultados não são tão espetaculares quando se investigam os efeitos dinâmicos do relacionamento com a Petrobras.
No caso do engajamento em atividades de inovação, o resultado da pesquisa mostra que, de fato, o crescimento no número de pesquisadores, engenheiros e profissionais científicos é maior para empresas que passam a fornecer para a Petrobras do que para os não fornecedores. No entanto, na pesquisa qualitativa com cerca de 100 fornecedores, 75% deles afirmam que o desenvolvimento de novos produtos decorreu de esforços próprios de inovação e apenas 8,3% destacam a parceria com a Petrobras como principal fonte. Ou seja, as empresas inovam por esforço próprio e não porque contam com uma ajuda tutorial da Petrobras.
Os pesquisadores investigaram também se o fato de se tornar um fornecedor da Petrobras aumentaria o acesso ao crédito do BNDES e se aumentaria o investimento. Essa hipótese, no entanto, não foi comprovada.
Um dos capítulos do livro (capítulo 5) analisa o efeito da Petrobras nos fornecedores de máquinas e equipamentos. As empresas que fornecem para a estatal são grandes exportadoras (exportaram US$ 2,3 bilhões em 2006), mas são também grandes importadores (importaram US$ 2 bilhões no mesmo período). Adicionalmente, a tabela 1 da página 63 mostra que, com exceção de três produtos, a demanda da petroleira não chega a 10% do total de compras do setor, o que mostra ser a demanda da Petrobras insuficiente para modificar o padrão de especialização da indústria de máquinas e equipamentos no Brasil. No caso da inovação neste setor, apesar de os fornecedores da Petrobras empregarem um maior número de trabalhadores em carreiras técnico-cientificas, “esses profissionais estariam sendo empregados mais para a adaptação tecnológica do que para a geração de tecnologias endógenas às firmas” (página 75).
O capítulo 6 analisa a indústria naval e mostra que as encomendas da Petrobras foram importantes para reativar a indústria naval no Brasil que, em 2009, já empregavam cerca de 232 mil trabalhadores. No entanto, dados para a indústria naval mostraram também que os gastos em P&D (em percentual da receita líquida) são inexpressivos no setor e que existem apenas 21 pessoas (sendo sete deles doutores) ocupados em P&D. Ao contrário do Japão e Coreia do Sul, está-se criando, no Brasil, uma grande indústria de montagem de navios; ou indústrias maquiladoras do setor naval (páginas 84-85).
Por fim, um dado interessante, que não aparece no livro publicado mas escutei de pesquisadores que participaram da pesquisa, é que mais da metade das compras da Petrobras (entre 55% e 60%), no setor industrial doméstico, de 2004 a 2007, são compras de empresas brasileiras de capital estrangeiro. Ou seja, a exigência de conteúdo nacional parece estar funcionando muito mais para atrair empresas estrangeiras para o Brasil do que como estímulo ao desenvolvimento de empresas nacionais.
Em resumo, a Petrobras é uma grande empresa, com acionistas estrangeiros e com mais da metade de fornecedores industriais que são empresas estrangeiras no Brasil. Isso não é, necessariamente, ruim; e talvez seja essencial para que a estatal continue como a empresa mais inovadora no Brasil e América do Sul. Dito isso, precisamos entender que os dilemas para o crescimento do Brasil são muito maiores que o crescimento da Petrobras. Assim, controle o seu entusiasmo com o “petróleo é nosso”.
As compras da Petrobras: controle seu entusiasmo
Mansueto Almeida é técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Valor Econômico - 04/03/2011
Entre 2009 e 2010, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fez um amplo estudo para estimar o impacto das atividades da Petrobras sobre o desenvolvimento produtivo e tecnológico dos seus fornecedores no Brasil. O estudo foi publicado em novembro de 2010 e está disponível em um livro no site do IPEA.Quando se compara os fornecedores da Petrobras com os não fornecedores, nota-se que os primeiros: a) pagam um salário médio 80% maior; b) têm um porte médio maior (ganhos de escala); c) rotatividade da mão de obra menor; d) empregam 42,1% de todos os engenheiros que têm carteira assinada na indústria e serviços selecionados pelo estudo; e e) empregam também 43,3% dos profissionais científicos e 45,9% dos pesquisadores dos setores analisados. No entanto, os resultados não são tão espetaculares quando se investigam os efeitos dinâmicos do relacionamento com a Petrobras.
No caso do engajamento em atividades de inovação, o resultado da pesquisa mostra que, de fato, o crescimento no número de pesquisadores, engenheiros e profissionais científicos é maior para empresas que passam a fornecer para a Petrobras do que para os não fornecedores. No entanto, na pesquisa qualitativa com cerca de 100 fornecedores, 75% deles afirmam que o desenvolvimento de novos produtos decorreu de esforços próprios de inovação e apenas 8,3% destacam a parceria com a Petrobras como principal fonte. Ou seja, as empresas inovam por esforço próprio e não porque contam com uma ajuda tutorial da Petrobras.
Os pesquisadores investigaram também se o fato de se tornar um fornecedor da Petrobras aumentaria o acesso ao crédito do BNDES e se aumentaria o investimento. Essa hipótese, no entanto, não foi comprovada.
Um dos capítulos do livro (capítulo 5) analisa o efeito da Petrobras nos fornecedores de máquinas e equipamentos. As empresas que fornecem para a estatal são grandes exportadoras (exportaram US$ 2,3 bilhões em 2006), mas são também grandes importadores (importaram US$ 2 bilhões no mesmo período). Adicionalmente, a tabela 1 da página 63 mostra que, com exceção de três produtos, a demanda da petroleira não chega a 10% do total de compras do setor, o que mostra ser a demanda da Petrobras insuficiente para modificar o padrão de especialização da indústria de máquinas e equipamentos no Brasil. No caso da inovação neste setor, apesar de os fornecedores da Petrobras empregarem um maior número de trabalhadores em carreiras técnico-cientificas, “esses profissionais estariam sendo empregados mais para a adaptação tecnológica do que para a geração de tecnologias endógenas às firmas” (página 75).
O capítulo 6 analisa a indústria naval e mostra que as encomendas da Petrobras foram importantes para reativar a indústria naval no Brasil que, em 2009, já empregavam cerca de 232 mil trabalhadores. No entanto, dados para a indústria naval mostraram também que os gastos em P&D (em percentual da receita líquida) são inexpressivos no setor e que existem apenas 21 pessoas (sendo sete deles doutores) ocupados em P&D. Ao contrário do Japão e Coreia do Sul, está-se criando, no Brasil, uma grande indústria de montagem de navios; ou indústrias maquiladoras do setor naval (páginas 84-85).
Por fim, um dado interessante, que não aparece no livro publicado mas escutei de pesquisadores que participaram da pesquisa, é que mais da metade das compras da Petrobras (entre 55% e 60%), no setor industrial doméstico, de 2004 a 2007, são compras de empresas brasileiras de capital estrangeiro. Ou seja, a exigência de conteúdo nacional parece estar funcionando muito mais para atrair empresas estrangeiras para o Brasil do que como estímulo ao desenvolvimento de empresas nacionais.
Em resumo, a Petrobras é uma grande empresa, com acionistas estrangeiros e com mais da metade de fornecedores industriais que são empresas estrangeiras no Brasil. Isso não é, necessariamente, ruim; e talvez seja essencial para que a estatal continue como a empresa mais inovadora no Brasil e América do Sul. Dito isso, precisamos entender que os dilemas para o crescimento do Brasil são muito maiores que o crescimento da Petrobras. Assim, controle o seu entusiasmo com o “petróleo é nosso”.
As compras da Petrobras: controle seu entusiasmo
Mansueto Almeida é técnico de planejamento e pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Valor Econômico - 04/03/2011
08 janeiro 2008
Jogo do Giro
Conforme a CFO Magazine (Playing Games, 10/12/2007), uma pesquisa nas demonstrações contábeis de 145 grandes empresas européias mostrou que estas entidades fazem operações para melhorar seu capital de giro. No final do ano, as empresas aumentam o desconto, devolvem estoques para fornecedores etc para reduzir o dias de vendas a receber (DVR ou DSO). O dia de vendas em estoque também reduz no período.
24 dezembro 2007
Dívida do Estado
Uma reportagem muito interessante sobre a dívida do Governo Português com os seus fornecedores. Seria interessante um estudo deste tipo no Brasil?
Estado deve mais de dois mil milhões a fornecedores
Bruno Faria Lopes
Diário Económico 22/12/2007
As dívidas do Estado aos fornecedores cresceram 332 milhões de euros em 2006, uma variação de 19% face ao ano anterior impulsionadas pela subida superior a 32% das dívidas de entidades ligadas ao ministério da Saúde, apontou ontem o Tribunal de Contas.
Segundo o parecer sobre a Conta Geral do Estado de 2006, a dívida total a fornecedores no final desse ano ascendia a cerca de 2,02 mil milhões de euros, mais de metade já vencida, ou seja, em atraso. Do total desta dívida continuavam por pagar no final da primeira metade deste ano cerca de 873 milhões de euros, mais de 62" dos quais já vencidos.
O Tribunal de Contas - que há um ano levou a cabo pela, primeira vez, a identificação dos principais credores do Estado - realça os efeitos que os atrasos nos pagamentos têm nas contas públicas e na actividade das empresas. O relatório destaca que "quando estão em causa as PME [pequenas e médias empresas], os atrasos nos pagamentos influenciam negativamente a competitividade das empresas". No caso da despesa pública, esta é penalizada pelos "encargos acrescidos" com os juros pagos como compensação pelo atraso. O prazo médio de pagamentos da Administração Pública em Portugal é de 152,5 dias, contra uma média europeia de 68,9 dias, de acordo com dados da Intrum Justitia, uma empresa de recuperação de créditos.
No Orçamento do Estado para 2008, o Governo assumiu como prioridade a execução de um Programa de Redução de Prazos de Pagamento, cujos detalhes deverão ser conhecidos no princípio do próximo ano. uma iniciativa considerada "positiva" pela instituição liderada por Guilherme d'Oliveira Martins.
Explicações do Ministério da Saúde são "inaceitáveis"
Segundo o relatório ontem divulgado e entregue na Assembleia da República, o ministério da Saúde é responsável por quase dois terços (72,4%) da dívida do Estado e por grande parte da subida verificada em 2006, com um aumento de 359 milhões de euros.
O Tribunal de Contas considerou "sob o ponto de vista técnico, inaceitável" o argumento invocado pelo ministério de Correia de Campos, segundo o qual a dívida da Saúde se deveria medir em termos líquidos - ou seja, o montante devido subtraído das disponibilidades - o que diminuiria substancialmente os valores em causa.
Com a excepção da Estradas de Portugal e da Direcção Geral do Tesouro e Finanças, a maioria dos grandes devedores são entidades ligadas à Saúde, com destaque para os hospitais-empresa. Entre os principais credores - com montantes superiores a cinco milhões de euros - dominam os laboratórios farmacêuticos e a Associação Nacional de Farmácias.
A maioria das dívidas ao Estado, quase 80%, é inferior a 100 mil euros - contudo, a minoria de maiores devedores representa o grosso (30%) do valor em dívida, cerca de 590 milhões de euros.
Em reacção ao parecer do Tribunal de Contas, o ministério das Finanças optou por desvalorizar as críticas e sublinhar as melhorias identificadas pelo relatório na contabilidade pública.
Pontos-chave do parecer do Tribunal de Contas1 - Despesa cresce mais que receita entre 2002 e 2006
Entre 2002 e 2006 as despesas da Administração Central cresceram a um ritmo médio anual de 3,4% - ligeiramente inferior ao aumento médio do PIB, que registou 3,5%. No entanto, o aumento das despesas foi neste período superior ao das receitas, que se ficou por uma subida média anual de 2,8%. A diferença entre o crescimento médio da receita e da despesa resultou num aumento do défice em 1.761,9 milhões de euros nestes quatro anos (de -4.452,5 milhões de euros em 2002 para -6.214,4 milhões de euros em 2006). A evolução entre 2005 e 2006 foi mais positiva, mas as despesas continuam a representar uma percentagem do PIB superior à das receitas. De 2005 para 2006 as despesas passaram de 35,7% para 34,5% do PIB, enquanto a receita se manteve nos 30,5% do PIB. A diminuição da despesa permitiu que de um ano para o outro o défice recuasse 1.551,7 milhões de euros, de -5,2% para -4%.
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