Translate

Mostrando postagens com marcador endividamento. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador endividamento. Mostrar todas as postagens

12 maio 2024

Narciso e Endividamento


 
O resumo:

O objetivo deste artigo é investigar a influência dos traços de personalidade narcisista dos CEOs no endividamento das empresas brasileiras não financeiras listadas na B3. Pesquisas sobre os traços narcisistas têm como temática principal o impacto na rentabilidade das organizações. Desse modo, este trabalho visa preencher a lacuna da compreensão das implicações dos traços narcisistas dos CEOs nas decisões de endividamento das empresas e dos seus determinantes ao inserir uma característica psicológica. Esta pesquisa se torna relevante pois ajuda acadêmicos, profissionais de negócios e formuladores de políticas a identificarem padrões e tendências que possam alertar para possíveis crises financeiras. O impacto causado por este artigo está relacionado às evidências acerca dos efeitos que a contratação de CEOs narcisistas ocasionam no endividamento, pois compreender a interação entre o perfil do CEO e as escolhas financeiras da empresa pode fornecer orientações práticas para a gestão de riscos e tomadas de decisão informadas, contribuindo assim para o campo da estratégia empresarial e finanças corporativas. Foi utilizada uma amostra de 299 empresas não financeiras, analisadas de 2011 a 2020, com dados da base da Economatica, Relatórios Anuais, Relatos Integrados, Relatórios de Sustentabilidade e Relatórios da Administração. Para mensurar os traços de personalidade narcisista utilizou-se duas proxies, baseadas na assinatura e na proeminência da fotografia do CEO. O endividamento foi medido pelos indicadores: endividamento oneroso, total, de curto e longo prazo. Os resultados apontam que quanto maior os traços narcisistas dos CEOs maior será o endividamento das organizações, contribuindo para compreensão aprofundada dos fatores que influenciam as decisões financeiras das empresas, uma vez que identificar os fatores que levam a decisões arriscadas de endividamento pode permitir a implementação de medidas preventivas e estratégias de gestão de risco mais eficazes.

25 junho 2018

Reduzir a alíquota pode ajudar no investimento e no endividamento

No final de 2017, o Congresso dos EUA aprovou uma reforma tributária, reduindo a carga tributária das empresas. Este é um assunto que interessa também ao Brasil, já que um dos argumentos é que esta redução permitiria um aumento nos investimentos, uma redução no endividamento e até mesmo um aumento na arrecadação, já que as empresas aumentaria suas receitas e isto teria um efeito positivo sobre o lucro, mesmo com a redução da alíquota.

Usando dados de outra lei, aprovada em 2005 nos Estados Unidos, um pesquisador verificou se a redução da alíquota pode realmente trazer benefício em termos de investimento, endividamento e impostos. É bom ressalvar que um trabalho como este sempre apresenta algumas simplificações, mas os resultados são apresentados na figura abaixo:

A linha azul apresenta os valores para as empresas que tiveram redução de impostos e a pontilhada são as empresas que não receberam nenhum benefício fiscal. O corte é o ano de 2005. Os resultados mostram que há um benefício claro na questão do investimento e endividamento. Entretanto, o pagamento de impostos não sofreu mudança expressiva (último gráfico)

29 agosto 2014

Curso de Contabilidade Básica: O lado direito

Quando a contabilidade prepara as demonstrações contábeis, o usuário pode fazer destas informações “o que bem entender”. Ou seja, o usuário pode, por exemplo, mudar as contas de lugar. Vamos mostrar como isto ocorre com o capital de terceiros. Parte deste passivo é proveniente das operações da empresa. É o caso dos fornecedores, de salários a pagar, de impostos a pagar, entre outras contas. E existem os empréstimos e financiamentos, que irão gerar despesas financeiras, e dizem respeito a decisão de captação de recursos. Assim, alguns analistas consideram adequado considerar no lado direito do “seu” balanço somente os empréstimos e financiamentos. E o que é feito das outras contas do passivo? Estes analistas “reclassificam” como se fosse uma subtração do ativo.

Veja o balanço patrimonial da Marcopolo, uma empresa que atua na área de transportes. Destacamos na figura os empréstimos e financiamentos, de curto e de longo prazo.  Os demais valores seriam “transferidos” para o ativo com o sinal negativo.

Com isto, o lado direito ficaria da seguinte forma:

Empréstimos e Financiamentos de Curto Prazo = 382.831
Empréstimos e Financiamentos de Longo Prazo = 1.490.414
Patrimônio Líquido = 1.481.624
Participação dos não controladores = 18.408
Total = 3.373.277


Ou seja, reduziu o lado direito em 680.803. O valor do ativo seria subtraído também neste valor. Observe que esta alteração no balanço para fins de análise modifica uma série de índices, como o endividamento. Mas ideia aqui é considerar no passivo somente aquilo que gera despesa financeira.  Pode parecer estranho, mas quanto mais usamos um instrumento, maior a chance de querermos customizá-lo. 

06 junho 2014

Curso de Contabilidade Básica: Índices

Os índices são amplamente usados para analisar o desempenho de uma empresa. Quando queremos saber se uma empresa está muito endividada, usamos índices que tentam expressar o seu nível de endividamento; se o foco da análise é lucro, os indicadores de rentabilidade são usados; e assim por diante. Sabendo que os usuários gostam de usar os índices, muitas empresas divulgam seus valores nas demonstrações, poupando o trabalho de se fazer os cálculos.

Obviamente que os índices também são usados para acompanhar o desempenho quando o usuário possui um interesse direto na empresa. É o caso dos financiadores da empresa, que utilizam os índices para ter (ou não) uma tranquilidade sobre a chance de pagamento dos seus recursos.

Considere o exemplo da empresa de logística Vix e suas informações contábeis. A empresa lançou em 2010 um título chamado debêntures. Uma nota explicativa detalha esta operação:

Observe o campo de obrigações adicionais. A empresa garante que o índice de dívida líquida sobre Ebitda deverá ser igual ou menor que 2 para controladora. Ao final de cada ano, o investidor poderá verificar através das demonstrações se este valor foi obtido.

Esta situação é bastante comum nas empresas. Em geral os índices usados são de endividamento, como o da empresa Vix, mas também poderão ser usados os índices de liquidez ou mesmo (grupo de) contas, como patrimônio líquido.

29 maio 2014

Curso de Contabilidade Básica: Endividamento 2

Enquanto a contabilidade produz informações a partir de um conjunto de normas até certo ponto rígidas, a utilização destas informações por parte do analista é muito livre. Isto significa dizer que cada analista pode construir seu conjunto de índices e seu relatório sobre o desempenho de cada empresa, destacando os pontos que julgar mais relevantes. Em outras palavras, “não existe amarras na análise das demonstrações contábeis”.

De igual modo, quando uma empresa apresenta suas demonstrações, existem alguns trechos onde prevalece certa liberdade. Isto é particularmente presente, por exemplo, no relatório de administração. Por este motivo, o usuário das informações que são geradas pela empresa deve ter muito cuidado ao lidar com estes relatórios.

Um caso interessante foi notado por duas alunas de graduação: Guiliana Cordeiro e Marcela Araujo (grato). Ao pesquisarem no sítio do Corinthians elas descobriram que o clube divulga uma informação sobre seu endividamento, conforme apresentado a seguir:

Em geral a informação do endividamento de uma entidade aparece sob a forma de índice, relacionando as contas do passivo com o ativo ou o patrimônio líquido. O Corinthians preferiu trabalhar com os valores absolutos. Segundo este clube, o seu endividamento ao final de 2013 era de 194 milhões de reais, negativos. Como o clube chegou a este resultado? Primeiro somou o circulante com o realizável a longo prazo; depois, subtraiu do passivo. Esta informação não é muita usada em análise de balanço, mas tem a seguinte explicação: usando os recursos do circulante e do realizável a longo prazo, o clube não consegue pagar sua dívida com terceiros.

É útil? Depende do usuário. Mas aqui é necessário um cuidado: o sinal (novamente). No final de 2010 o “endividamento” era de 122 milhões negativos. Rigorosamente (ou melhor, matematicamente), o Corinthians diminuiu o endividamento. Afinal 194 milhões de reais negativos é menor que 122 milhões de reais negativos. Mas será que é isto que ocorreu? Veja a informação da data:
Veja o leitor que o passivo do clube era de R$368 milhões no final de 2010 e R$1,2 bilhão no final de 2013. Há dúvidas que a dívida aumentou? Além disto, quando soma com parte do ativo, o “total do endividamento” saiu de 122 para 194. Mesmo deixando de lado o sinal, a situação apresentada pela direção do clube parece muito mais “agradável”.

O usuário das demonstrações contábeis precisa ter discernimento para não aceitar passivamente estas maluquices criadas e divulgadas nas demonstrações contábeis.

Curso de Contabilidade Básica - Editora Atlas - César Augusto Tibúrcio Silva e Fernanda Fernandes Rodrigues (prelo)

27 maio 2014

Curso de Contabilidade Básica: Endividamento

As dívidas com empréstimos e financiamentos é uma das mais relevantes informações de uma empresa. O analista deve verificar basicamente cinco aspectos: (a) a composição do endividamento, em curto e longo prazo; (b) as taxas de juros cobradas nos empréstimos e os efeitos sobre o risco; (c) a evolução do volume de dívidas no longo prazo; e (d) onde está sendo usados os novos empréstimos. Vamos mostrar isto através do exemplo da Cerâmica Portobello e as demonstrações do primeiro trimestre de 2014. E iremos trabalhar a questão da taxa de juros cobradas.

As taxas cobradas podem ser obtidas nas notas explicativas da empresa. A figura ilustra o caso da Portobello:
A empresa possui empréstimos onde paga taxas de 3% ao ano até 12%. Outra maneira de obter esta informação é dividir as despesas financeiras pelo total de empréstimos e financiamentos. Apesar de ser uma simplificação para obtenção da taxa de juros, pode ajudar na análise. No caso da Cerâmica Portobello, a empresa teve R$10,3 milhões de despesas no primeiro trimestre. O valor dos empréstimos e financiamentos inicial (de 31 de dezembro de 2013) era de R$91,1 milhões mais 202 milhões ou R$293,1 milhões. Dividindo 10,3 por 293,1 temos uma taxa de 3,51%. É importante destacar que esta é a taxa trimestral. Para ter a taxa anual basta elevar a quarta o valor de 1,0351. Ou seja, a empresa está pagando 14,81% de taxa de juros.

Curso de Contabilidade Básica - Editora Atlas - César Augusto Tibúrcio Silva e Fernanda Fernandes Rodrigues (prelo)

01 julho 2013

Dívidas das empresas X

Os representantes de Eike Batista estão correndo os bancos na tentativa de renegociar as dívidas de curto prazo do “império X”, que chegam a R$ 7,9 bilhões, conforme levantamento feito pela Folha nos balanços das empresas do primeiro trimestre.

Isso significa que OGX (petróleo), MMX (minério), LLX (logística), OSX (estaleiro), MPX (energia) e CCX (carvão) precisam pagar ou renegociar todo esse volume de dinheiro até março de 2014. Pelo menos R$ 1,5 bilhão tinha que ter sido equacionado até a sexta-feira passada.(...)

Os números ajudam a entender a aflição dos investidores com as companhias de Eike, que sofrem uma crise de confiança e vêm sendo castigadas na Bolsa. Nos últimos 12 meses, as ações das empresas caíram entre 24,6% (MPX) e 85% (OSX).(...)

Para os analistas, a tendência é os bancos não serem tão duros nas negociações, porque têm muito a perder. Os principais credores são Itaú BBA, Bradesco e BNDES, que emprestaram pelo menos R$ 1 bilhão cada um para pagamento no curto prazo.

Em seguida, vem a Caixa, com R$ 750 milhões. As empresas de Eike têm dívidas de curto prazo com 11 bancos diferentes. A distribuição por banco não inclui as dívidas da MMX, única companhia aberta do grupo que não divulga essa informação.

O endividamento de curto prazo das empresas do “império X” representa 33% das dívidas totais do grupo, que chegam a R$ 23,7 bilhões. Cerca de R$ 9 bilhões dos empréstimos de longo prazo foram feitos pelo BNDES.

(...) Com exceção da MMX, todas as outras empresas de Eike “queimaram caixa” no primeiro trimestre, o que significa destruir riqueza. Isso em razão do alto endividamento e/ou porque a operação ainda não consegue produzir o suficiente para fazer frente aos compromissos.


Empresas de Eike têm dívidas com 11 bancos de R$ 7,9 bi - Folha de S Paulo - 30 de jun 2013 via aqui

19 março 2013

Endividamento

Como as decisões de arrendar x comprar são afetadas pela análise de balanços:

Os limites para endividamento da Petrobrás e a urgência de não atrasar a produção de petróleo têm feito a companhia [Petrobras] alugar embarcações no exterior, em vez de construí-las no Brasil dentro de regras de conteúdo local. Estaleiros investindo na retomada do setor naval brasileiro - há mais de uma dezena em construção - reclamam perda de encomendas de barcos de apoio e temem que o mesmo aconteça com sondas e plataformas, equipamentos ainda mais complexos.

(...) Segundo fontes do setor, a Petrobrás já negocia afretar mais duas grandes plataformas flutuantes (alfa e beta, para 120 mil barris de óleo/dia) para o pré-sal da Bacia de Santos com a SBM. Elas seriam realocadas à área da cessão onerosa, onde a Petrobrás poderá explorar até 5 bilhões de barris de petróleo.

Segundo as fontes, a estatal poderia estender a opção pelo afretamento às cinco megaplataformas flutuantes que ainda precisará empregar na área da cessão onerosa. A Petrobrás diz que "não decidiu afretar FPSOs (plataformas ) para utilização na cessão onerosa".

O aluguel é importante diante do limite de alavancagem da Petrobrás, acima do considerado confortável pela própria empresa (2,5 vezes a geração líquida/Ebitda). A zona de conforto só será retomada em 2014. A construção de navios próprios no Brasil entra como endividamento no balanço financeiro. Já no caso de afretamento a despesa não entra como dívida. Se excessivamente elevada, a alavancagem levaria a companhia a perder o grau de investimento por agências de classificação de risco. (...)

Custo final, A estratégia de afretamento também aumenta os gastos finais para a Petrobrás. Cada plataforma flutuante custa cerca de US$ 1,5 bilhão para ser construída. Já no afretamento, o custo final ao longo do período de produção pode dobrar. Porém, não é esta a reclamação da indústria local. E sim o fato de os contratos serem feitos no exterior. (...)


Fonte: Aqui

03 novembro 2012

Economia e Empresa Estatal

Um exemplo claro de como as empresas estatais são usadas pelo governo com finalidade de ajudar na política econômica:

O Orçamento da União - com a previsão de receita muito maior do que aquela que está se concretizando - e o ritmo fraco da economia fizeram de 2012 um ano difícil principalmente para as empresas estatais, que mesmo com este cenário tiveram que ajudar as contas públicas. O resultado disso é que essas companhias tiveram que procurar os bancos para ter de bancar o custeio de sua máquina pública e a do setor público consolidado.

(...) De acordo com os dados mais recentes, divulgados pelo Banco Central (BC), as estatais estaduais são as maiores devedoras aos bancos. Em setembro, esse valor era de R$ 11,719 bilhões. No caso das empresas federais (exceto Petrobras e Eletrobras), esse endividamento atingiu R$ 110 milhões. E nas municipais, R$ 244 milhões. "O endividamento dos estados e municípios aumentou devido à frustração da arrecadação de impostos por conta da desaceleração do PIB [Produto Interno Bruto]. Como o Orçamento previa uma receita maior do que realmente está sendo registrada, somando ao fato de que é ano de eleições, os gastos não poderiam ser cortados e a estatais também entraram nessa situação", explica o professor.


Estatais elevam dívida com bancos para salvar governo - 1 de Novembro de 2012 - DCI

29 junho 2012

Superendividamento


Valor Econômico - 25/06
Superendividamento
Jairo Saddi, pós-doutor pela Universidade de Oxford, professor de Direito do Insper



(...)O tema do superendividamento é ainda mais relevante em razão da proposta de reforma do Código de Defesa do Consumidor (CDC) elaborada por uma comissão de juristas do Senado Federal e que, de forma minudente, trata do tema. Primeiro, é importante ressaltar que o CDC, ainda que, como afirmou o Supremo Tribunal Federal na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 2591, tenha seu "valor constitucionalmente fixado, como cláusula pétrea, garantido como direito fundamental pelo Art. 5º, XXXII da Constituição Federal de 1988", causou profundas mudanças no ordenamento jurídico (e econômico) brasileiro, ampliando direitos (e o contencioso) de consumidores e fornecedores.

Nessa mesma toada, é inegável que o CDC adotou o princípio da "vulnerabilidade do consumidor" (art. 4º), reforçando a ideia de assimetria informacional entre consumidor e bancos ofertantes de crédito, e protegeu os hipossuficientes, compreendidos como a parte fraca da relação de consumo, desinformados e alvos do poder econômico dos bancos.

É ainda imperioso que exista o fortalecimento do contrato e das obrigações que foram ali assumidas

O citado projeto da comissão de juristas estabelece algumas vertentes sobre o superendividamento que valem o debate. Destacam-se os seguintes temas ali estabelecidos: "1) Proibição de promover publicidade de crédito com referência a "crédito gratuito", "sem juros", "sem acréscimo", com taxa zero ou expressão de sentido ou entendimento semelhante; 2) Para a prevenção do superendividamento, impõe a concessão responsável de crédito, em que o fornecedor, além de informar, deve aconselhar o consumidor e avaliar de forma leal as condições deste repagar suas dívidas, sob pena de redução dos juros; 3) Criação da figura do assédio de consumo, definido como pressão ao consumidor, em especial se idoso, analfabeto, doente ou em estado de vulnerabilidade agravada, para contratar o fornecimento de produto, serviço ou crédito, em especial se a distância, por meio eletrônico ou por telefone, ou se envolver prêmios; 4) Criação de procedimento intitulado "da conciliação em caso de superendividamento", de forma a estimular a repactuação das dívidas em audiências conciliatórias com todos os credores, onde se elabora plano de pagamento de até cinco anos para quitar as dívidas, preservado o mínimo existencial".

Enquanto a teoria da responsabilidade do banqueiro pela concessão de empréstimo é antiga na Europa, só agora está se sedimentando no Brasil (vide, por exemplo, Clarissa Costa de Lima, "Empréstimo responsável: os deveres de informação nos contratos de crédito e a proteção do consumidor contra o superendividamento" (dissertação de mestrado em Direito, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2006) e constitui um tema espinhoso. Por exemplo, o que seria ideal como "aconselhamento" de forma "leal" ao consumidor, ou será que se pode definir "assédio" ao consumidor como o esforço mercadológico de vendas? Em outras palavras, até onde vai a liberdade de iniciativa e a livre concorrência, valores tão caros à democracia e ao desenvolvimento e à legítima proteção ao consumidor?

Além disso, o grande risco de proteção ao superendividamento é literalmente acabar com o acesso ao crédito a quem mais precisa dele. Bancos, como quaisquer agentes econômicos, operam com o objetivo de lucro. Se a expectativa de oferta de crédito acabar na inadimplência, o crédito seca. Por maior que seja a necessidade de ofertar informação e responsabilidade que se pretenda outorgar ao banqueiro, é ainda imperioso que exista o fortalecimento do contrato e das obrigações ali assumidas. Como afirma Enzo Roppo, deveria haver "responsabilidade pelos compromissos assumidos, configurados como um vínculo tão forte e inderrogável que poderia equiparar-se à lei: os contratos legalmente firmados têm força de lei para aqueles que os celebraram" (Enzo Roppo, O contrato (Trad. Ana Coimbra e M. Januário C. Gomes. Coimbra: Almedina, 1988, p. 34-35). O que se pode perceber pelo horizonte vislumbrado é que o debate sobre o assunto está apenas começando.

18 março 2012

Endividamento Oneroso

Definição – Mensura a participação do endividamento que gera despesa financeira para empresa em relação ao total do ativo

Fórmula – Endividamento = (Passivo Oneroso / Ativo) x 100

Sendo
Passivo Oneroso – Deve ser considerado somente o passivo que gera despesa financeira para a empresa: empréstimo, financiamento e debêntures. Não são considerados os passivos relacionados ao ciclo operacional ou referentes as dívidas com o governo.
Ativo – refere-se ao total do ativo da empresa. Nas empresas com desconto de duplicatas expressivo, este valor deverá ser considerado no passivo, pois se trata de um empréstimo com garantia.

Unidade de Medida – O valor está em percentagem. Como estamos usando dados do balanço patrimonial, o endividamento oneroso é uma informação de uma data específica, geralmente final de período.

Intervalo da medida – O índice pode variar entre zero e cem por cento, sendo que quando mais próximo de cem por cento mais endividada será a empresa. Pelo menos teoricamente o valor pode ser maior que cem, quando a empresa possui passivo a descoberto.

Como calcular – A fonte do índice é o balanço patrimonial da empresa.

A figura a seguir é o extrato do balanço da empresa Positivo Informática. Os valores estão em mil reais. Observe que se deve separar o passivo oneroso somente, que no caso corresponde aos empréstimos:

Passivo Oneroso = 236 441 + 116 377 = 352 818




O valor do ativo é obtido facilmente, conforme a figura abaixo:



Assim, o endividamento oneroso corresponde a:

Endividamento Oneroso 31/12/2011 = 352,8 / 1451 = 24,3%

Grau de utilidade – Moderado. É um índice pouco destacado na literatura e na prática, apesar de ser bastante útil. É interessante comparar o resultado com o endividamento. Na empresa que usamos como exemplo, o índice de endividamento é de 57,32% (661 milhões mais 171 milhões dividido por 1451). Ou seja, apesar do endividamento da empresa ser quase 60% do ativo, somente 24% gera despesa financeira.

Controvérsia de Medida – Pouca.

Observações Adicionais
a) Uma alternativa é comparar com o investimento da empresa, conforme demonstrado no índice ROI.
b) Apresentar um endividamento oneroso não significa algo ruim. Se a taxa de juros cobrada no empréstimo for reduzida, isto indica que a empresa consegue captar por um custo baixo e poderá aproveitar a alavancagem.
c) O endividamento oneroso possui um resultado menor que o endividamento. Esta diferença corresponde ao endividamento com passivo não onerosos. No caso da empresa Positivo, 33% da estrutura de financiamento é derivada de terceiros, de maneira não onerosa.

Endividamento
Ebitda
Margem Operacional
NIG sobre Vendas
Valor do Empreendimento
Capitalização
Margem Bruta
ROI
Liquidez Corrente

29 novembro 2011

Endividamento

A notícia seguinte é um exemplo de como não fazer um texto jornalístico:


De acordo com a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), 41% das famílias na capital paulista estão endividadas em novembro (1).


O estudo realizada pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), mostra que o resultado é o menor desde outubro de 2009, quando a inadimplência registrou 40,9% (2).


Além disso, apenas 8% das famílias na capital paulista têm contas atrasadas em novembro, com queda de 2,8 pontos porcentuais ante o mês anterior. (3)


Segundo a pesquisa, 3,3% dos paulistanos não terão condições de pagar total ou parcialmente suas dívidas. (4)


O cartão de crédito é o principal meio utilizado para adquirir essas dívidas, com 76,3% do total de endividados (5). Já 22,4%, assumiram dívidas nos carnês e 11,4% no crédito pessoal.


A maior parte dos endividados (57,1%), comprometeu de 11% a 50% da renda familiar e cerca de 49,1% têm contas vencidas há mais de 90 dias.


(1) A rigor isto significa que qualquer família que possua uma dívida estaria nesta categoria. Este valor é, portanto, muito reduzido. Acredito que o termo "endividado" é incorreto.
(2) Aqui a comparação é inadimplência, que é completamente diferente de endividamento. Você pode ter dívida, mas estar em dia com as obrigações. Outra questão é que a variação foi de 40,9% para 41%. Isto provavelmente deve estar dentro da margem de erro de uma pesquisa por amostragem.
(3) Esta informação já é diferente da anterior e mostra que o problema é menor agora. Mas observe que o termo usado é "contas atrasadas"
(4) Como é calculado isto?
(5) Esta é uma informação preocupante, já que o cartão possui juros elevados. Mas observe que ter dívida com cartão parece classificar a família dentro do grupo dos 41%.

07 outubro 2011

Teste 526


O teste de hoje corresponde a três questões que preparei para um prova, mas acabei não usando. Vamos lá:

A figura a seguir apresenta a relação entre a margem bruta e a margem líquida de dezoito empresas de varejo com ações negociadas na bolsa de valores em 31 de dezembro de 2010.





Com base na figura é possível afirmar que:

a) O lucro bruto é menor que o lucro operacional
b) O valor maior da margem bruta pode ser explicado pelo desempenho da receita
c) Quanto maior a margem líquida maior a margem bruta
d) Quanto menor a margem líquida maior a margem bruta
e) Uma redução na margem bruta deve aumentar a margem líquida

A figura a seguir apresenta a relação entre o endividamento e a liquidez corrente de dezoito empresas de varejo com ações negociadas na bolsa de valores em 31 de dezembro de 2010.





Com base na figura é possível afirmar que:

a) Empresas com alto volume de capital de terceiros tendem a ter liquidez reduzida
b) Empresas com maior ativo possuem maior liquidez corrente
c) O passivo de curto prazo ajuda a explicar a relação inversamente proporcional entre os dois índices
d) O passivo de longo prazo ajuda a explicar a relação inversamente proporcional entre os dois índices
e) Quanto maior o endividamento, maior a liquidez corrente

A figura a seguir apresenta a relação entre a relação entre fornecedores/ativo e estoques/ativo de dezoito empresas de varejo com ações negociadas na bolsa de valores em 31 de dezembro de 2010.






Com base na figura é possível afirmar que:
a) A grande maioria das empresas apresentava valores de estoques abaixo de 10% do seu ativo
b) Em empresas de comércio o volume de recursos em estoques é reduzido
c) Esta relação é inesperada já que a dívida com fornecedores é decorrente das vendas a prazo
d) Existe uma relação direta entre a conta do passivo e a conta do ativo
e) Quanto maior o volume de recursos em estoques, menor as dívidas com fornecedores

Resposta do Anterior: A resposta do anterior está nesta postagem, na ordem das perguntas, em negrito. 

04 outubro 2011

Câmbio 2


Conhecida a taxa de câmbio que será base para os balanços no terceiro trimestre, as empresas começam a fazer as contas e ver o efeito da alta do dólar em seus resultados do período. A expectativa é que os números sejam impactados negativamente pela variação brusca do câmbio no final do trimestre.


O maior reflexo será no endividamento das empresas, que cresceu 20% na parcela de dívida em moeda estrangeira desde o fechamento dos balanços do segundo trimestre, em junho, segundo estudo da Economática com 241 companhias listadas na Bovespa. Essa dívida atingiu o equivalente a R$ 182,3 bilhões em setembro, tendo como base o dólar fechado nesta sexta-feira, 30, a R$ 1,8455.


Ter dívidas maiores em seus balanços pode representar também alta de custo. Com a alavancagem maior (relação da dívida líquida sobre o Ebitda), muitas empresas podem descumprir cláusulas de compromissos financeiros, conhecidas como covenants, e ter de pagar mais para renegociar a dívida.


Algumas empresas até já anteciparam o resgate de debêntures esta semana. A Providência, fabricante de não tecidos, fez o movimento exatamente para não ver seus covenants descumpridos. O mercado gostou da iniciativa acreditando que, com isso, a empresa se antecipou ao desgaste de renegociação com credores.


Fibria e Suzano, fabricantes de papel e celulose, são dois exemplos de companhias que devem ver suas alavancagens subirem. A relação dívida líquida/Ebitda da Fibria deverá se aproximar de 4 vezes. Já o indicador na Suzano pode se aproximar de 3,5 vezes, números considerados elevados para duas companhias cujas metas são manter essa relação abaixo de 3,5 vezes.


No caso da Fibria, a companhia tem cláusulas contratuais vinculadas a operações de financiamento que determinam que a alavancagem não poderá superar 4,25 vezes ao final do terceiro trimestre de 2011 e 4 vezes entre dezembro de 2011 e setembro de 2012. A Suzano não divulga as condições de cláusulas semelhantes feitas com as instituições financeiras.


Benefícios. Se o impacto da alta do dólar mostra efeitos negativos na dívida, empresas exportadoras, como as próprias Fibria e Suzano, podem se beneficiar com o aumento da receita. O setor de açúcar e álcool mostra bem isso. O impacto da valorização do dólar é minimizado pelo fato de que as dívidas em moeda estrangeira são vinculadas aos contratos de exportação.


"As dívidas são feitas em Adiantamento de Contrato de Câmbio (ACC) ou pré-pagamentos de exportação, o que transforma a exportação em um hedge natural, não impactando o setor", explicou Alexandre Figliolino, diretor do Itaú BBA. Na Cosan, por exemplo, a valorização do dólar deve gerar saldo líquido positivo de R$ 758 milhões, segundo a analista do Itaú BBA Giovana Araujo.


Lógica parecida vale para a indústria de alimentos e bebida, que tem entre os seus representantes diversas companhias com grande peso nas exportações brasileiras. Luiz Fernando Furlan, membro do conselho de administração da BRF Brasil Foods, lembra que as exportações representam 40% das vendas do grupo. Isso proporciona um hedge natural da ordem de US$ 500 milhões por mês, suavizando os impactos da variação cambial na linha da dívida.


O risco cambial recai mesmo é sobre companhias que têm um descasamento entre despesas e receitas, por faturarem em reais e se endividarem e terem despesas em moeda estrangeira, como ocorre nos setores de saneamento e de aviação civil. Enquanto o primeiro setor tem como característica utilizar recursos de organismos multilaterais para financiar os seus projetos de expansão, o segundo tem parte de seus custos operacionais e financeiros em dólar.


Gol e TAM terão impacto negativo do câmbio nos resultados do terceiro trimestre, já que algo entre 50% e 60% dos custos estão direta ou indiretamente atrelados ao dólar. O que salva as empresas, segundo analistas ouvidos pela Agência Estado, é a queda do preço internacional do petróleo e o movimento, já iniciado, de aumento das passagens. Com isso, a expectativa é de melhora nos resultados no segundo semestre, apesar do câmbio.


Para a Sabesp, do setor de saneamento, a alta do dólar tem impacto relevante, tendo em vista que a estatal recorre aos bancos multilaterais para financiar os seus projetos. Hoje, 30% da dívida são denominadas em moeda estrangeira. "Sob este aspecto, não tem como não sermos afetados. Como o dólar não recuou para o patamar antigo na virada do trimestre, é inevitável o impacto da variação cambial", afirma o superintendente de Captação de Recursos e Relações com Investidores da Sabesp, Mario Sampaio. Segundo o estudo da Economática, a empresa fechou setembro de 2011 com uma dívida em moeda estrangeira de R$ 2,89 bilhões, alta de 18,7%. A estratégia para minimizar esse problema é diluir os vencimentos das dívidas em moeda estrangeira no longo prazo, o que diminui a pressão sobre o caixa da companhia.


O levantamento produzido pela Economática não considera as estratégias de hedge adotadas pelas empresas para minimizar os efeitos da variação cambial em seus resultados, nem o hedge natural que companhias com receitas em dólares possuem, como as exportadoras e a holding federal Eletrobras. Além disso, 76 empresas não participaram do estudo por não publicarem em seus ITR as informações sobre as dívidas em moedas estrangeiras, entre elas a Vale, a CSN, a Gerdau, a CCR e a Usiminas. Nesses casos, os dados constam nas notas explicativas dos balanços, cujas informações não são processadas e acompanhadas pela Economática. (colaborou André Magnabosco, Eduardo Magossi e Silvana Mautone)


Empresas abertas fecham balanço com dívida em dólar 20% maior - Estado de S Paulo - 2 out 2011 - Wellington Bahnemann. Imagem, aqui

06 julho 2011

Dívida do Brasileiro

Com respeito a dívida do brasileiro, o Financial Times alerta o risco que isto pode representar para economia. Aqui um resumo e alguns dados interessantes, que reproduzo:

- A taxa de juros paga pelos consumidores subiu de 41% ao ano em 2010 para 47% ao ano em maio de 2011; 
- 50% da renda da classe média é usada para pagar dívidas; 
- a inadimplência (atraso de mais de 15 dias no pagamento) subiu de 7,8% em dezembro do ano passado para 9,1% em maio último; 
- a poupança do País, soma de recursos que consumidores, empresas e governo poupam, estava em 17% em 2010; a média dos mercados emergentes é de 32%.

06 junho 2011

Mais endividados

A seguir uma tabela com os países mais endividados e os juros dos títulos CDS de cinco anos:
A surpresa é que o Japão é o país mais endividado do mundo, com dívidas que superam em duas vezes sua economia. Apesar disto, os juros dos empréstimos são baixos, informando que o risco daquele país é reduzido. Na realidade, quando fazemos a correlação entre as duas colunas, para os nove países com informações, o valor é de -0,09051, indicando uma relação estatística reduzida. Fonte da informação: aqui

26 abril 2011

Rombo, endividamento, ...

Nesta segunda-feira, o COF (Conselho de Orientação e Fiscalização) do Palmeiras tomará conhecimento do balanço do ano passado com um déficit maior que R$ 70 milhões no período. Em 2009, primeiro ano de gestão do ex-presidente Luiz Gonzaga Belluzzo, que deixou o cargo na última temporada, o rombo foi de R$ 41 milhões. A participação do departamento de futebol no endividamento de 2010 é de 80% do valor total, ou seja, mais de R$ 56 milhões.
Observem a confusão: no primeiro parágrafo comenta-se sobre o déficit (ou "rombo"). Depoois sobre endividamento. Só para confirmar: 80% de 70 milhões é igual a 56 milhões.

 Fonte: Falha de São Paulo

23 setembro 2010

Futebol quebrado


O Real Madrid está quebrado.

E quebrou antes de completar as duas mais caras transferências em 2009, trazendo Kaká por US$86 milhões e Cristiano Ronaldo por US$ 123 milhões. Foi quando bateu os recordes de transferências anteriores, na compra de Luis Figo por US$ 57 milhões em 2000 e Zinedine Zidane por US$71 milhões em 2001. (...)

Apesar de gerar mais de US $ 500 milhões por ano, que inclui um contrato de TV que rende mais de US $ 200 milhões por ano, a dívida do Real Madrid é de US $ 414 milhões, segundo o relatório financeiro do clube de 2008-09.

Contudo, os gastos do Real não pararam. Só nesta última janela de transferência, o clube gastou 114 milhões dólares em novos jogadores (...)

O maior rival do Real, é também está quebrado.

Barcelona estava falido antes da compra de David Villa, Javier Mascherano e Adriano por US $ 52 milhões, US $ 28,4 milhões e 11,6 milhões dólares, respectivamente, neste verão. O clube está precisando tanto de dinheiro que pegou um empréstimo ponte de 195 milhões para garantir que ele poderia pagar salários.

Como o Real, Barcelona também tem um acordo de radiodifusão lucrativo, avaliado em mais de 185 milhões dólares por ano, e obtém mais 293 milhões dólares em receitas. No entanto, como o Real, o Barcelona tem uma dívida por 578 milhões dólares. Mas ambos os times não mostram sinais de contenção nos gastos.

SINAIS DE AVISO

Os 10 clubes mais endividados do futebol europeu conjuntamente devem 5,74 bilhões dólares.

Os vinte clubes ingleses da Premier League têm uma dívida que aumentou espectacularmente para 4,45 bilhões dólares. Catorze deles perderam dinheiro em 2008-09, a temporada mais recente em que os números estão disponíveis. O quadro financeiro é ainda pior em La Liga, que no ano passado, as 20 equipas apuraram 4,65 bilhões dólares em dívidas. Apenas três dos baluartes do futebol ibérico obtiveram um lucro operacional: Barcelona, Real Madrid e o pequeno Numancia (...)

Entre as 36 equipes nas duas divisões profissionais holandesas, apenas quatro são consideradas financeiramente sólidas pela associação de futebol holandesa. Doze deles, incluindo o lendário Feyenoord, estão com suas finanças supervisionadas pela Liga. Quanto aos outros 20 clubes, a liga classifica como "preocupante" a sua situação financeira. (...)


NEGÓCIO ARRISCADO

Os clubes de futebol, especialmente os que estão num nível mais alto, tem desenvolvido uma aversão a dar lucro, ou mesmo a um equilíbrio. Afinal, se você administrar um clube como um bom negócio, você não vence. Muitas equipes consideram postergar a falência como o único verdadeiro objetivo de longo prazo (ou de curto prazo). E preferível gastar o dinheiro que não se têm em novos jogadores para tentar reforçar os seus esquadrões do que se preocupar em equilibrar as contas. (...)


A Folha de pagamento é outro elemento-chave. Na Espanha, 85 por cento das receitas é gasto com salários dos jogadores. Alguns clubes, como Atlético de Madrid, Sevilla e Valencia, gastam mais do que as receitas obtidas no período 2008-2009, a época mais recente na qual são conhecidos os números financeiros.

O [jornal] The Guardian publicou um estudo, baseado em números de 01 de junho de 2008 até 31 de maio de 2009, onde mostra que a receita bruta e a folha de pagamento foram perigosamente próximos em muitos clubes da EPL. A receita bruta do Manchester City foi de US $ 133 milhões e sua folha de pagamento foi de US $ 127 milhões. Blackburn Rovers arrecadou US $ 78 milhões e gastou US $ 70 milhões em salários. As receitas do Wigan Athletic e números salário foi de US $ 70 milhões e 64 milhões dólares, respectivamente. Na cidade de Birmingham e Wolverhampton Wanderers, a margem entre o volume de negócios e da massa salarial foi de aproximadamente um milhão e meio de dólares. (...)

Deve ser dito que algumas equipes da Premier League mantém seus salários no nível ou abaixo de 65 por cento da receita bruta. No ano passado, por exemplo, o Manchester United foi a 44 por cento e 32,9 por cento no Arsenal.

Mas nos casos em que folha de pagamento chega perto de ultrapassar a receita há uma margem muito pequena de manobra para evitar problemas financeiros inesperados, tais como abandono do patrocinador, falência das emissoras (como pode acontecer no caso de Barcelona e Real Madrid) ou declínio na venda de ingressos. Quando isso acontece, os clubes estão mal equipados para saldar a dívida e acabam cavando um profundo buraco financeiro. (...)

"Independentemente das responsabilidades que foram acumuladas por muitos clubes em toda a Europa, não há qualquer risco de falência semelhante ao que é enfrentado por empresas regulares", explica o economista Bernd Frick, da Universidade do Paderborn, na Alemanha. "Os clubes sempre encontram ajuda de políticos, quer na sua comunidade local, no âmbito federal, estadual ou mesmo no governo nacional.

"Ninguém se importa se empresas de porte semelhante desapareceu. Mas isso não é o caso de clubes de futebol. A [receita] média dos clubes da Bundesliga alemã é de 100 milhões de euros -... Isso é menos do que a minha universidade"

E, ao contrário da universidade Frick, clubes de futebol sabem aproveitar os holofotes. "A atenção da mídia funciona como um seguro de vida para os clubes de futebol", disse Frick. "Se o teto em seu jardim de infância local cai e fere alguns dos filhos, mesmo assim é muito difícil mobilizar mais do que 20 pais de marchar até a prefeitura. Mas se o seu clube de futebol local é ameaçado, todo mundo se levanta para ajudar o clube."

Se não se pode contar com o governo ou as empresas locais, o que é um clube deve fazer? Encontrar um rico benfeitor, é claro, alguém que pode comprar o clube, sustentar sua dívida e financiar enormes gastos. Roman Abramovich, do Chelsea, por exemplo, injetou cerca de US $ 1,1 bilhão para pagar dívidas e comprar jogadores, um montante que provavelmente nunca será reembolsado. (...)

A UEFA, organismo regulador do futebol europeu, irá (...) proibir que as equipes gastem mais do que ganham (...)


Fora de Controle - Leander Schaerlaeckens - ESPN