A compensação de risco é um aspecto teórico conhecido desde os anos 70. A ideia básica é que as pessoas ajustam seu comportamento diante da percepção de risco. Em outras palavras, elas serão mais cuidadosas quando sentem que uma situação é de maior risco. O principal ponto da compensação de risco ocorre no sentido contrário: as pessoas tendem a ter um comportamento mais arriscado quando percebem que estão mais protegidas.
O exemplo mais citado da compensação de risco ocorre no trânsito. Os motoristas adotam um comportamento mais arriscado quando possuem equipamentos de segurança. O termo "compensação" é relevante: a melhoria no equipamento de segurança, como freio de melhor qualidade ou cinto de segurança, produz um efeito não esperado dos motoristas agirem de maneira mais imprudente.
A compensação de risco ajuda a explicar por que medidas de prevenção podem não atingir o efeito desejado. Como as pessoas se adaptam a uma nova situação, uma política no sentido de diminuir os riscos pode não surgir os efeitos esperados em razão da mudança de comportamento.
O estudo originário foi publicado em 1975 por um economista da Universidade de Chicago, Sam Peltzman. O estudo de Peltzman, que originou o efeito Peltzman ou compensação de risco, era com trânsito. Apesar do estudo original apresentar muitas falhas e seu modelo não ter tido sucesso em prever a mortalidade, sua influência é enorme. Na verdade, alguns acreditam que é inadequada por levar a uma inércia nas políticas públicas. Afinal, existindo a compensação de risco, qual a razão de melhorar o trânsito ou adotar políticas de saúde de prevenção?
Há alguns exemplos práticos onde foi observado a compensação de risco. Em 1967, a Suécia resolveu mudar a direção do trânsito, abandonando o "jeito" inglês. Os especialistas imaginavam que inicialmente a taxa de mortalidade aumentaria, já que ocorreu uma mudança na mão da direção. Entretanto, por 18 meses, a taxa de mortalidade reduziu, mesmo diante de uma mudança tão grande. Os motoristas suecos responderam ao aumento do perigo percebido tomando mais cuidado. Mas um ano e meio depois, a taxa de mortalidade voltou aos padrões normais: os motoristas já não notavam os efeitos da mudança da direção e passaram a agir normalmente. (Eu gosto de usar este exemplo nas minhas aulas)
Outro estudo, realizado em Munique, comparou os taxis com freios ABS e os taxis com freios comuns. Os automóveis eram semelhantes, mas as taxas de acidentes dos automóveis com ABS era um pouco maior. Ou seja, os motoristas com automóveis mais "seguros" percebiam esta diferença e ajustava seu comportamento.
Apesar da formulação da compensação de risco, os estudos mostram que medidas de segurança realmente reduzem as mortes no trânsito. Um artigo da Slate questiona que as consequências da proposição da compensação de risco tem um efeito danoso sobre melhorias para população:
A compensação de risco foi levantada para questionar uma ampla gama de intervenções em saúde pública, inclusive refrigerante diet, cigarros com pouco alcatrão, tampas de segurança para crianças em medicamentos, tratamentos de hipertensão e programas de troca de seringas. Em cada caso, o raciocínio é que a intervenção pode sair pela culatra porque as massas são burras ou indisciplinas demais para agir no que a comunidade médica considera ser do seu interesse.(...)
Isto inclui
(...) a infame hesitação do CDC e da OMS em recomendar máscaras no início da pandemia teve muitas causas ... Mas a causa básica é muito simples: as autoridades não confiavam no público. (...) A questão - para segurança do motorista, atividade sexual ou saúde pública - não é se algumas pessoas mudam seu comportamento em resposta ao risco percebido. É se, no nível da população, uma intervenção torna o mundo um lugar mais seguro e melhor