Lucy Kellaway comentou o comunicado do executivo Satya Nadella de 1.500 palavras para os funcionários da Microsoft. Destaca o tamanho, mas a análise mais interessante é a confusão no texto. (Você pode ter acesso ao texto aqui, que foi publicado originalmente no Financial Times e em português no Valor Econômico)
Trata-se da confusão habitual de "plataformas", "motivadores", "ecossistemas", "alinhamento", "DNAs" e "seguir em frente" - além de algumas combinações mais ambiciosas como "ampliar nossa pegada de experiência".
Segundo Lucy, a novidade é que isto originou-se de um executivo de uma grande empresa.
O terceiro executivo-chefe da história da Microsoft estava tentando convencer o mundo e lembrar os funcionários de que a empresa tem um plano. Mesmo assim, o que surgiu disso é ininteligível, em grande parte pelas hipérboles sem sentido - e ninguém ficou perturbado.
Muitos leitores deixaram passar em branco a primeira palavra. "Equipe", começa o comunicado. Os funcionários da Microsoft não são uma equipe, ou não deveriam ser. Estudos vêm mostrando que o número ideal de integrantes de uma equipe é quatro ou cinco, e não 120 mil. "Toda grande empresa tem uma missão permanente", continua Nadella. Isso soa bem, só que não é verdade. Gosto de pensar que o "Financial Times" é uma grande companhia; temos persistido há 127 anos sem uma missão oficial.
Fantástico. As entidades são quase que “obrigadas” a ter uma missão oficial. Kellaway diz que isto não é necessário para uma empresa ter sucesso. A missão anunciada da Microsoft é "habilitar cada pessoa e cada organização do planeta a conquistar mais."
O primeiro sinal de problema é a palavra "planeta". Há uma regra que diz que sempre que essa palavra é usada como substituta de "mundo", a sentença em que ela aparece é uma tolice completa. Se a ressonância cósmica é gratuita, o autor está escrevendo uma besteira.
(...) Conquistar mais o quê? Quanto a essa dúvida vital, Nadella mantém silêncio. Na verdade, a melhor maneira de habilitar as pessoas do planeta a conquistar mais seria convencê-las a amar um pouco menos seus dispositivos móveis e desligá-los ocasionalmente, para cuidar de algo real para variar.
Não satisfeito em anunciar sua nova missão, Nadella se habilita a conquistar ainda mais: "Hoje, quero compartilhar mais sobre o contexto geral e o tecido conjuntivo entre nossa missão, visão de mundo, estratégia e cultura". Ter uma missão e uma visão de mundo é algo ganancioso. Mas ter tantas coisas abstratas com muito tecido conjuntivo entre elas é de dar náusea.
Em seu parágrafo final, Nadella insere duas palavras que finalmente significam alguma coisa. "Escolhas difíceis", alerta ele, em breve terão de ser feitas - usando as mesmas palavras que Lord Hall da BBC escolheu na semana passada ao anunciar a eliminação de mil empregos.
Esse é o mais novo eufemismo de CEO para a demissão de pessoas e um dos mais dissimulados. "Escolhas difíceis" implica em "isso vai doer mais em mim do que em você", sugerindo ao mesmo tempo que o CEO automaticamente fez a escolha certa e a opção da não demissão seria ainda pior. (...)