A Noruega é uma das economias mais digitalizadas do mundo, mas o governo está agora tentando reverter esse processo. Apenas 3% dos noruegueses usaram dinheiro físico, de acordo com uma pesquisa recente do Banco Central, o Norges Bank, e muitos estabelecimentos não o aceitam como forma de pagamento.
No entanto, o governo e o Banco Central da Noruega estão buscando desacelerar essa tendência. A partir de outubro, uma nova mudança na lei passou a reforçar os direitos de quem deseja pagar com dinheiro, incluindo a aplicação de multas para os estabelecimentos que se recusarem a aceitá-lo. Estima-se que 600 mil pessoas, ou 10% da população, enfrentam algum tipo de dificuldade em utilizar pagamentos digitais, sendo assim excluídas da economia. O dinheiro é uma forma de pagamento inclusiva e democrática, fácil de usar em transações, especialmente para idosos, que podem ter dificuldade em lembrar códigos ou confiar no processo de pagamento digital.
Para os comerciantes, o formato digital geralmente tem um custo menor, uma vez que as taxas cobradas, quando existem, são reduzidas. No entanto, há também riscos associados ao uso exclusivo de pagamentos digitais, como apagões na internet, falhas nos sistemas bancários, ataques cibernéticos, interrupções na rede elétrica ou erros nos sistemas dos bancos. Um recente caso de indisponibilidade do sistema Pix no Brasil demonstrou que esses problemas são reais. Além disso, o incidente envolvendo a CrowdStrike em julho ilustra a vulnerabilidade dos sistemas digitais. Essas falhas estão sendo relatadas em países desenvolvidos também. No setor, isso é chamado de "resiliência". O dinheiro, por sua vez, não depende de energia ou de sistemas eletrônicos, sendo uma alternativa segura diante de um ataque cibernético ou de uma falha tecnológica.
As medidas adotadas pela Noruega estão sendo implementadas também em outros países, que buscam proteger o direito das pessoas de usarem dinheiro como forma de pagamento. O Banco Central da Suécia, um país onde o uso de moeda digital é muito difundido, comentou sobre a importância do dinheiro físico:
"O dinheiro é essencial para consumidores excluídos digital e financeiramente. Além disso, é o único instrumento de pagamento que pode ser usado independentemente da eletricidade e das telecomunicações, sendo, portanto, crucial para a preparação de emergência da Suécia. Não há motivo ou tempo para esperar por uma nova revisão, como sugere a consulta. Existe um risco considerável de que o dinheiro seja ainda mais marginalizado e, em um futuro próximo, não possa mais ser usado para compras essenciais. O Riksbank, portanto, propõe emendas legislativas sobre a possibilidade de pagar em dinheiro por bens essenciais e a obrigatoriedade de os bancos aceitarem depósitos em dinheiro dos consumidores."
Baseado no texto do Naked Capitalism