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23 março 2015

O que é preciso para o Brasil crescer?


O que é preciso para crescer?

Fernando Dantas
21 março 2015 | 19:45

Novo centro de pesquisa sobre desenvolvimento da FGV tem como foco educação e eficiência. Políticas industriais serão questionadas.

Num momento de recessão e paralisia econômica, um novo “think tank” sobre crescimento está sendo criado: o Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico, ligado à presidência da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Por enquanto, três pesquisadores estão à frente do projeto: Pedro Cavalcanti Ferreira e João Victor Issler, professores da Escola de Pós-Graduação em Economia (EPGE/FGV), e Roberto Castello Branco, ex-diretor e economista-chefe da Vale, hoje na FGV.
No dia 8 de abril, na FGV-Rio, haverá um seminário de inauguração do Centro, que contará com personalidades conhecidas como Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC), e Ricardo Paes de Barros, especialista em temas sociais com carreira no Ipea, mas atualmente no Insper.

O tema principal do centro não são as agruras conjunturais pelas quais o País está passando, mas sim o crescimento no médio e longo prazo. O foco é o Brasil mas o trabalho vai recorrer bastante a comparações internacionais.

Ferreira explica de forma bem clara a abordagem e a linha geral de pensamento que vai guiar a pesquisa. Para ele, o que explica a defasagem de desenvolvimento econômico entre o Brasil e os países mais ricos não é a falta de investimento ou as dificuldades da indústria, mas sim as deficiências da educação e problemas de produtividade, ou eficiência.

“Nossa abordagem é contrária à visão cepalina (de Cepal, Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe), heterodoxa, que busca incentivar investimentos em setores chaves”, ele diz. Segundo o economista, mais da metade da diferença de renda entre o Brasil e os países ricos provém da menor produtividade, uma boa parte vem da educação inferior e apenas uma pequena parcela deve-se a investimento em capital fixo.
“Não somos atrasados porque não temos boas estradas ou porque não temos investimento suficiente”, ele diz. É claro que Ferreira não nega a importância de estradas e investimento, mas considera que o aumento da eficiência econômica ampliaria o retorno do capital e faria o investimento aumentar.

Uma questão decisiva, na sua abordagem, é o setor de serviços. Ele nota que as economias avançadas vêm aumentando o setor de serviços, o que também é uma tendência em países emergentes como o Brasil. De maneira simplificada, os países saíram da predominância agrícola para a industrialização, concomitante à expansão dos serviços. Num momento mais recente, a indústria recua e os serviços aumentam ainda mais.
Ferreira já investigou a questão dos serviços, de forma comparativa, no Brasil e na Coreia do Sul. Há 50 anos, ele observa, ambos os países eram 65% agrícolas, mas hoje têm 65% a 70% da sua economia em serviços. “O problema é que os serviços coreanos são de altíssima produtividade e os nossos são muito pouco eficientes”, nota o economista.

A diferença está muito no tipo de serviço que predomina. Ferreira exemplifica com empregadas domésticas e guardadores de carro, tipicamente uma mão de obra pouco educada e de baixa eficiência, em contraste com segmentos como design, software, mercado financeiro, etc.

Segundo o pesquisador, o tipo de política pública que decorre de sua análise – e que é a visão do Centro de Estudos em Crescimento e Desenvolvimento Econômico – é a promoção do avanço da educação em quantidade e qualidade e a agenda microeconômica de melhora do ambiente de negócios e de racionalização tributária e burocrática.

A má alocação de capital por políticas intervencionistas, seja de proteção, subsídios ou conteúdo local, é um entrave ao desenvolvimento. Ele cita a Sete Brasil, com o projeto de bilhões de dólares de construir plataformas de petróleo no Brasil que hoje estão custando duas vezes mais do que externamente. “Este capital poderia estar indo para outros setores em que somos mais competitivos”.

Uma das tarefas que o centro estabeleceu para si é medir a produtividade de setores e subsetores da economia. No caso dos serviços, são sete subsetores, e, por razões comparativas, também a produtividade na indústria e na agricultura – para as quais há mais dados – será estudada. Em todos os casos, trata-se da produtividade total dos fatores (PTF), e Issler, especialista em econometria, vem trabalhando em técnicas para vencer o desafio de fazer essas mensurações.

No site do centro, já é possível encontrar alguns estudos como um trabalho sobre os Brics, de Castello Branco, e sobre o desenvolvimento brasileiro no pós-guerra, de Ferreira e do economista Fernando Veloso, da FGV-Rio, entre outros. (fernando.dantas@estadao.com)

Fernando Dantas é jornalista da Broadcast

27 fevereiro 2015

Por que o Brasil cresce tão pouco em relação a outros emergentes?

Edmar Bacha - Phd em Yale- Folha de São Paulo

Podemos reparar que quase tudo em nossas casas é feito no Brasil: material de construção, móveis, eletrodomésticos, roupas, comida.

O raro produto importado é comprado a preços surreais. Isso nos parece natural. O espanto ocorre quando viajamos ao exterior e nos deparamos, nas lojas dos EUA e da Europa, com a grande quantidade de produtos fabricados em outros países e com a ausência quase completa de produtos made in Brazil.

Como me disse minha neta Luiza, de nove anos, em sua primeira viagem a Nova York: "Vovô, aqui tudo é bom e barato. Por que não é assim também no Brasil?".

Dedico a ela este texto, na expectativa de que o possa ler daqui a alguns anos com a mesma perplexidade com que os jovens hoje em dia nos escutam contar como era a hiperinflação antes do Real.

Robert Solow, Prêmio Nobel de Economia, é seguramente um dos economistas mais admirados do mundo. Em entrevista recente, disse não acreditar na estagnação da economia mundial.
E explicou: "A chave são economias como a Rússia, a Índia, a China, o Brasil. Nelas, as indústrias ainda têm que se modernizar para chegar ao nível de avanço tecnológico em que a Europa e a América do Norte já estão. Temos que esperar que essa convergência ocorra. Se não ocorrer, será provavelmente por razões políticas, e não por razões econômicas. Deixando a política de lado, sobre a qual é difícil dizer qualquer coisa inteligente, há ainda muito espaço para essa modernização".
Infelizmente, no Brasil não podemos deixar a política de lado, pois são inúmeros os impedimentos que ela coloca para a modernização. Eles incluem absurdos como a nomeação para ministro da Ciência e Tecnologia do ex-deputado Aldo Rebelo, que apresentou projeto de lei para proibir a adoção de novas tecnologias no setor público. Passam pela bizarrice da tomada de três pontos. E atingem o trágico com os escândalos em série na Petrobras, que revelam o extraordinário poder corruptor de uma política industrial baseada no monopólio estatal, na reserva de mercado e no conteúdo nacional.

São exemplos extremos de políticas de isolamento do país ao comércio internacional, que também se expressam na ausência de acordos comerciais com os países desenvolvidos, na atração das multinacionais para explorar o mercado interno, mas não para exportar a partir do Brasil, na paralisante burocracia portuária e alfandegária, nas altas tarifas aos importados, nas exageradas margens de preferência para as compras governamentais de produtos locais, nas políticas de adensamento produtivo (nome novo para a velha substituição de importações).

Disso tende a resultar uma taxa de câmbio supervalorizada que dificulta ainda mais as exportações e reduz a competitividade dos produtores brasileiros. Paradoxalmente, essa supervalorização fornece justificativa para o próprio protecionismo que está na raiz do câmbio valorizado.

Quando expressa sua confiança em que os emergentes atingirão o nível de renda per capita dos países hoje desenvolvidos, Robert Solow nos fala dos benefícios da interconexão entre as economias.
Da maior importância para o crescimento da produtividade nesses países são o acesso a novas tecnologias, produtos e insumos, as economias de escala que se obtêm num mercado ampliado e as reduções de custo que resultam da maior concorrência entre as empresas.

Não se trata apenas de teoria. Os países que conseguiram entrar para o Primeiro Mundo após a Segunda Guerra Mundial o fizeram com uma forte integração comercial com os países mais ricos.
Foi esse o caso de Israel e dos tigres asiáticos (Coreia do Sul, Cingapura, Hong Kong e Taiwan), cuja integração se baseou na exportação de produtos industriais.

Foi esse o caso da periferia da Europa (Portugal, Espanha, Grécia e Irlanda), com exportações predominantemente de serviços. Foi esse também o caso da Austrália, da Nova Zelândia e da Noruega, cujas exportações são principalmente de produtos primários.

Não se conclua que o comércio internacional só beneficia países pequenos. Há também o exemplo da China, que renasceu a partir da década de 1980 com a decisão de Deng Xiaoping de abandonar o isolacionismo maoista e abrir o país para o comércio e o investimento estrangeiro.

Em contraste, o Brasil se mantém como uma das economias mais fechadas ao comércio internacional. Somos o último da fila, com a menor participação do comércio exterior no PIB entre os 179 países para os quais o Banco Mundial tem dados.

Não é porque sejamos um país grande. Os seis países maiores (EUA, China, Alemanha, Japão, França e Reino Unido) são também os seis maiores exportadores. O Brasil é apenas o 22º maior exportador. Temos 3,3% do PIB mundial, mas nossas exportações representam apenas 1,3% do total mundial.

Caso exemplar é a indústria automobilística brasileira. Protegida há seis décadas, mal exporta para nossos vizinhos. Em contraste, fábricas mexicanas, que produzem duas vezes mais por trabalhador, exportam para o lucrativo mercado americano e participam ativamente das cadeias globais de valor.
Com esse isolamento comercial, não é de estranhar que, além de baixa, a produtividade cresça pouco. Nos últimos 33 anos, a produtividade do trabalho no Brasil cresceu um minúsculo 0,3% ao ano, nos condenando a permanecer como um país de renda média. Enquanto isso, os demais emergentes vão nos ultrapassando, um a um.

Em entrevista recente, Ricardo Paes de Barros, ex-subsecretário da Secretaria de Assuntos Estratégicos, diz: "São mais de 500 políticas voltadas a elevar a produtividade...Então, não é falta de política, é preciso analisar melhor por qual motivo essas políticas não estão tendo o impacto que gostaríamos que elas tivessem".

A razão parece clara diante do que expus. As empresas no Brasil não têm motivos para aumentar a produtividade. Por um lado, são forçadas a comprar localmente insumos caros e obsoletos. Por outro, vendem seus produtos quase que só dentro do país, em mercados protegidos e com diminuta concorrência. Por isso o Brasil cresce tão pouco em relação a outros emergentes.

09 dezembro 2014

Comportamento dos pobres e desenvolvimento econômico

A BAT and a ball cost $1.10 between them. The bat costs $1 more than the ball. How much does each cost? By paying attention to how people actually think, behavioural economics has qualified some of the underlying assumptions of classical economics, notably that everyone is perfectly rational. In fact, the mind plays tricks, dividing up $1.10 (in this example) neatly into $1 and 10 cents, rather than correctly into $1.05 and 5 cents. People also tend to copy others and often prefer to co-operate rather than compete. For these reasons, some of the simplifying assumptions of economics are not always correct: people do not act in every instance in their long-term self-interest; they do not weigh up all the costs and benefits before taking a decision.

Many of the insights of behavioural economics were based on studies of American university students and other privileged folk. But they apply with greater force to the poor—both the poor in rich countries and the more numerous inhabitants of developing ones. Behavioural economics therefore has profound implications for development. The new “World Development Report”, the flagship publication of the World Bank, considers them.
As the report shows, the poor are more likely than other people to make bad economic decisions. This is not because they are irrational or foolish but because so much is stacked against them. They are more likely to lack the basic information needed to make good choices, such as which fertiliser to use or when to apply it. They are more likely to live in societies which hold mistaken or harmful views, such as that girls should not go to school.

Conventional economic thinking assumes the poor will want to earn their way out of poverty. But as studies from countries as different as Ethiopia and France show, poverty makes people feel powerless and blunts their aspirations, so they may not even try to improve their lot. When they do, they face obstacles everywhere. They have no margin for error, making them risk averse. If they do not know where their next meal is coming from, saving and investing for the future is hard. George Orwell said, “Within certain limits, the less money you have the less you worry.” He was wrong. The poor are subject to exceptional levels of stress: childhood sickness is more likely to be life-threatening; crop failure can lead to destitution. And stress makes good decision-making harder. Above all, the poor lack the institutional framework which, in the West, improves decisions. Everywhere, people underestimate the benefits of education and save too little for their retirement. But children in the West go to school as a matter of course; pension systems make some savings automatic. Poor countries provide few such props.

All this helps explain why the poor stay poor; why (for example) subsistence farmers do not buy fertiliser or put children into secondary school, though they would benefit from doing so. More important, though, behavioural economics provides a different way of thinking about some of the problems of poverty.
Traditional development programmes stress resources and markets. People are poor, the argument goes, because they lack resources: not just money but roads, clinics, schools and irrigation canals. The job of development is to provide those things. And since resources also need to be allocated properly, prices have to be right. So a lot of development is about freeing prices and making markets more efficient.

A behavioural approach to development is different. It focuses on how decisions are made and how they can be improved. For example, in Bogotá a conditional-cash transfer programme paid mothers a monthly stipend if they took their children to school. Attendance during the school year was good but re-enrolment rates were low. A shift in the timing of the hand-out—withholding a part of the regular payment until just before the start of the school year—boosted enrolment sharply. This makes little sense in conventional economic terms: going to school is so beneficial that families should not need extra incentives and the overall sum available did not change. Yet the pay-off was substantial.
Actions like this sound marginal. Economists should be paying attention to the details of policy anyway. It may not seem to amount to a profoundly different approach—but it actually might.

A tweaking revolution

Some small-scale policies turn out to be far from marginal. A programme in Jamaica in the 1990s taught mothers of chronically malnourished toddlers how to play with them in such a way as to encourage greater verbal and physical skills—a behavioural tweak. Twenty years later, the average earnings of these children (among the most deprived in the country) were higher than those of children who had not been malnourished, and far higher than malnourished children who were not part of the programme. Paying attention to how the poor actually think would also imply big changes to financial-inclusion policies, encouraging financial products that people want to buy.

Moreover, development experts have their biases and blind spots, like anyone else. In principle, behavioural development could sit happily alongside the traditional sort. In practice, the two will compete for resources and professional attention.

A behavioural approach to poverty is not new. The World Bank has long had a behavioural unit. The Poverty Action Lab at the Massachusetts Institute of Technology has championed randomised control trials to test tweaks to policy. But by making this the subject of its main annual publication, the Bank has brought behavioural economics into the mainstream of development. It is likely to prove a challenge to traditional ways of combating poverty, as well as a complement to them.

Fonte: aqui

23 novembro 2012

Segredo de Bangladesh: as mulheres



A despeito do aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho de Blangadesh, casos de assédio sexual e discriminação são cada vez mais comuns. Eis um excerto do artigo Urbanisation in Bangladesh proves a double-edged sword for women:

[...]Yet even as urbanisation has galvanised women's march towards greater economic freedom, the equality and safety of Bangladesh's new workers are still major issues.
In the garment industry, women are an easy target for exploitation and discrimination. With an average age of 19, usually unmarried and with little education or training, many women enter urban employment with a comparative disadvantage in terms of pay, working conditions, the possibility of promotion and even getting paid for overtime. They earn 60% of the salary of male colleagues.
According to a 2003 report (pdf) by the Centre for Policy Dialogue and UN Population Fund, there is a clear link between the increased sexual harassment of Bangladeshi women and their improved economic status, increased mobility and newfound visibility away from the home.
2011 War on Want report (pdf) on the Bangladesh garment industry found that 297 out of a total of 998 women workers interviewed reported unwanted sexual advances, while 290 said they had been touched inappropriately. A further 328 reported "threats of being forced to undress", while almost half said they had been beaten and hit in the face by their supervisors.
Sexual harassment of women on the street and in urban schools is on the increase, according to Bangladeshi NGO Brac, which in 2010 launched Mejnin, a project to tackle the increasing harassment of women and girls. 


11 agosto 2012

China na África: mercados x democracia

Stephan Richter é editor chefe do "The Globalist".
Valor Econômico -09/08/2012

As formas e meios pelos quais os chineses estão penetrando no continente africano são tema de debates acalorados em todo o mundo - e em nenhum lugar mais do que nos EUA. A visita de 10 dias de Hillary Clinton, secretária de Estado dos EUA, a toda a África colocou o debate em foco detalhado.

De um lado, os que afirmam que os chineses estão comportando-se como neocolonialists (ocidentais), ansiosos por explorar as vastas riquezas de matérias-primas e minerais do continente. Eles veem a China como interessada em ocupar cada espaço não coberto por empresas multinacionais ocidentais.

Do outro lado, principalmente fora dos EUA e predominantemente na África e nos mercados emergentes, estão os que aplaudem a ascensão da China e apontam para os seus sucessos como uma forma tardia de justiça econômica. Estes acreditam que finalmente é hora de uma potência não ocidental rica e mirando horizontes de tempo de longo prazo emergir como parceira viável para o continente.

Melhor ainda, argumentam essas vozes, os chineses - com a sua proposta de construção de infraestrutura em t roca da exploração de matérias-primas - estão apenas cumprindo o que acabaram revelando-se promessas vazias, feitas há um século pelas potências ocidentais.
Construção de ferrovias ligando áreas do interior à costa? A eventual perspectiva de formar uma rede cobrindo a África Subsaariana? Formação de redes de rodovias e autoestradas de quatro pistas a preços acessíveis em todo o continente? Disponibilizar moderníssimos complexos de escritórios, construídos dentro de orçamentos que as nações africanas têm condições de custear?

Essas são, certamente, metas que os líderes africanos vêm perseguindo há muito tempo. Mas, no passado, uma combinação tóxica de sua própria corruptibilidade, laços obscuros entre ex-países colonizadores (e suas elites empresariais) e os novos governantes, bem como estruturas de planejamento excessivamente complexas, muito frequentemente resultaram em projetos proibitivamente caros.


Considerando que o crescimento econômico da África tem sido retardado pela inexistência de infraestrutura de transportes confiável - nos países e entre eles - essa é uma oferta mais que tentadora. Ela representa uma oportunidade de proporções históricas.

Sim, o continente tem uma abundância de aeroportos e de telefones celulares, mas devido à infraestrutura totalmente insuficiente, o comércio continua sendo dificultado de uma maneira reminiscente da Europa pré-1820.

Nesse sentido, as iniciativas empreendidas pelos chineses na África são, agora, o equivalente histórico do que as guerras napoleônicas trouxeram para um país como a Alemanha. Representam um há muito tempo necessário brado de alerta para o abandono de tradições ultrapassadas, para um avanço à era de intercâmbio e comércio modernos.
Sem ignorar os problemas inerentes à maneira como os chineses operam, inclusive o fato de que empregam predominantemente mão de obra de suas próprias empresas de construção civil, mesmo para projetos no interior da África subsaariana, a visão chinesa é muito distinta da abordagem ocidental nos últimos 50 anos.


A fórmula do Ocidente aplicada à África pós-independência, pós-1960, é priorizar a construção da democracia em detrimento da construção de mercados. Os chineses, como se sabe, optam exatamente pelo oposto.

Em tese, é sempre preferível concentrar-se em estruturas democráticas. E a secretária Clinton certamente referiu-se enfaticamente a isso durante sua visita. Mas em países onde a pobreza continua excessiva, um contra-argumento desconfortável pode ser sustentado, apoiado no histórico dos últimos 50 anos.

E se uma democracia atrofiada constituiu-se em obstáculo ao surgimento de um verdadeiro mercado para as economias nacionais? Nessas circunstâncias, não será preferível privilegiar a construção de um mercado para produzir uma estrutura mercantil suficientemente distribuída?

Esse é, sem dúvida, um dilema bastante desconfortável para ser analisado pelos ocidentais. Mas, claramente, são os africanos que precisam optar por seguir ou não o conceito ocidental de "democracia primeiro".


Melhor ainda, os defensores da estratégia chinesa para a África podem apontar para o fato de que a África não é a China. A preservação do poder em um Estado de partido único não está em causa na maior parte da África.

Em outras palavras, concentrem-se primeiro em acabar com a fome; depois, disseminem-se os benefícios não tão materiais da democracia. Esse foco assegura a formação de um eleitorado com melhor formação educacional e autoconfiante, não suscetível à compra barata de votos.
Essa abordagem também implica que o desenvolvimento econômico produza desenvolvimento político. Coincidentemente, isso é bastante semelhante ao que ocorreu na história da Europa. Lá, a tomada das rédeas da economia catalisou a demanda por mais direitos políticos por parte das classes mercantis, que terminou por colocar a Europa no rumo de democracia plena.


Por enquanto, em grande parte da África, a evolução política permanece tão atrofiada quanto o desenvolvimento econômico. Dito de outro modo, mas em última análise no mesmo sentido, a maturidade política - no sentido de democracia suficientemente robusta para que as eleições resultem em mudança efetiva no poder - só funciona praticamente em países como Gana, onde o desenvolvimento econômico é suficientemente avançado e amplo.

Ponderar esse tipo de sequenciamento é certamente desconfortável para os ocidentais que têm uma preferência instintiva pela democracia. Apesar disso, essa preferência é também desconcertante - especialmente tendo em vista a forte ênfase dos americanos em economia de mercado em seu país. Os americanos, como sabemos, foram afortunados em seu caso histórico especial, onde os desenvolvimentos econômico e político caminharam de mãos dadas.
É muito desconcertante observar nesse debate sobre construção de mercado versus construção de democracia - que são os chineses, e não os americanos - que podem argumentar persuasivamente que seu foco na África é a criação de futuros clientes e parceiros comerciais.

Esse foco em clientes parece contrário à doutrina marxista. E, de fato, os chineses podem citar ninguém menos que o admirável Adam Smith como sua testemunha principal. Ao avaliar estratégias econômicas de grandes impérios, escreveu ele: "Fundar um grande império com o propósito único de criar um povo de clientes pode, à primeira vista, parecer um projeto capaz de servir a uma nação de lojistas. Trata-se, porém, de um projeto totalmente impróprio para uma nação de lojistas. Mas extremamente adequado a uma nação cujo governo é influenciado por lojistas".

Embora os direitos ao voto não possam ser considerados um luxo, na realidade africana, ao menos, o foco central na construção da democracia, em vez da construção de mercados, tem tido o efeito perverso de asfixiar, e não de promover, o crescimento econômico.


Fonte: © 2000 – 2012. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A. . Verifique nossos Termos de Uso em http://www.valor.com.br/termos-de-uso. Este material não pode ser publicado, reescrito, redistribuído ou transmitido por broadcast sem autorização do Valor Econômico.

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14 julho 2012

Desenvolvimento é bom pra todos?

Desenvolvimento econômico nem sempre é bom pra todos:

Development in most places in most of history has basically been a process of violence and coercion, either by your own elites or invading ones. When historical events are “good for growth” they are often very bad for the generation that experienced them, in Africa or elsewhere. So “good for growth” does not necessarily mean “good”.