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27 fevereiro 2024

Explorando a Complexa Relação entre Renda e Crime

É bem conhecido que pessoas com renda mais baixa cometem mais crimes. Chame isso de resultado transversal. Mas por quê? Um conjunto de explicações sugere que é precisamente a falta de recursos financeiros que causa crime. De forma simplificada, talvez pessoas mais pobres cometam crimes para obter dinheiro. Ou, pessoas mais pobres enfrentam maiores pressões - raiva, frustração, ressentimento - o que as leva a agir ou pessoas mais pobres vivem em comunidades menos integradas e bem policiadas ou pessoas mais pobres têm acesso a piores cuidados médicos ou educação e assim por diante, o que leva a mais crime. Essas teorias implicam todas que dar dinheiro às pessoas reduzirá sua taxa de criminalidade.

Um conjunto diferente de teorias sugere que a correlação negativa entre renda e crime (mais renda, menos crime) não é causal, mas é causada por uma terceira variável correlacionada tanto com renda quanto com crime. Por exemplo, um QI mais alto ou maior conscienciosidade poderia aumentar a renda enquanto reduz o crime. Essas teorias implicam que dar dinheiro às pessoas não reduzirá sua taxa de criminalidade.

As duas teorias podem ser distinguidas por um experimento que aloca dinheiro aleatoriamente. Em um artigo notável, Cesarini, Lindqvist, Ostling e Schroder relatam os resultados de um experimento desses na Suécia.

Cesarini et al. observam suecos que ganham na loteria e comparam suas taxas subsequentes de criminalidade com não-ganhadores semelhantes. O resultado básico é que, se alguma coisa, há um leve aumento na criminalidade ao ganhar na loteria, mas, mais importante ainda, os autores podem rejeitar estatisticamente que a maior parte do resultado transversal seja causal. Em outras palavras, como aumentar aleatoriamente a renda de uma pessoa não reduz sua taxa de criminalidade, o primeiro conjunto de teorias é falsificado.

Algumas observações. Primeiro, você pode objetar que os jogadores de loteria não são uma amostra aleatória. No entanto, uma parte substancial dos dados de loteria de Cesarini et al. vem de contas de poupança vinculadas a prêmios, contas de poupança que pagam grandes prêmios em troca de pagamentos de juros mais baixos. As contas de poupança vinculadas a prêmios são comuns na Suécia e cerca de 50% dos suecos têm uma conta PLS. Assim, os jogadores de loteria na Suécia parecem bastante representativos da população. Em segundo lugar, Cesarini et al. têm dados sobre cerca de 280 mil ganhadores da loteria e têm o universo de condenações criminais; isto é, qualquer condenação de um indivíduo com 15 anos ou mais de idade de 1975 a 2017. Uau! Em terceiro lugar, algumas pessoas podem objetar que a correlação que observamos é entre condenações e renda e talvez as condenações não reflitam o crime real. Não acho que isso seja plausível por várias razões, mas os autores também não encontram evidências estatisticamente significativas de que a riqueza reduza a probabilidade de alguém ser suspeito em uma investigação criminal (Deus abençoe os suecos pela coleta de dados extremos). Em quarto lugar, a análise foi pré-registrada e correções são feitas para testes de hipóteses múltiplas. Preocupo-me um pouco com o fato de que os ganhos na loteria, na sua maioria, são da ordem de 20 mil ou menos e gostaria que os autores tivessem falado mais sobre o seu tamanho em relação às diferenças transversais. No entanto, no geral, este parece ser um artigo muito credível.

Em seu resultado mais importante, mostrado abaixo, Cesarini et al. convertem ganhos na loteria em choques de renda permanente equivalentes (usando uma taxa de juros de 2% ao longo de 20 anos) para estimar causalmente o efeito de choques de renda permanente sobre o crime (quadrados sólidos abaixo) e eles comparam com os resultados transversais para jogadores de loteria em sua amostra (círculo) ou pessoas similares na Suécia (triângulo). Os resultados transversais são todos negativos e diferentes de zero. Os resultados causais da loteria são na maioria positivos, mas nenhum rejeita zero. Em outras palavras, aumentar aleatoriamente a renda das pessoas não reduz sua taxa de criminalidade. Assim, a correlação negativa entre renda e crime deve-se a uma terceira variável. Como os autores resumem de forma bastante modesta:

Embora nossos resultados não devam ser extrapolados casualmente para outros países ou segmentos da população, a Suécia não se destaca por taxas de criminalidade particularmente baixas em relação a países comparáveis, e a taxa de criminalidade em nossa amostra de jogadores de loteria é apenas ligeiramente menor do que na população sueca em geral. Além disso, há uma forte relação negativa transversal entre crime e renda, tanto em nossa amostra de jogadores de loteria suecos quanto em nossa amostra representativa. Nossos resultados, portanto, desafiam a visão de que a relação entre crime e status econômico reflete um efeito causal de recursos financeiros sobre a delinquência adulta.


Fonte: Marginal Revolution (negrito meu). 

03 fevereiro 2022

Crime precisa ter um bom contador?


Usando dados da máfia italiana, a resposta é SIM. Eis o abstract: 

We investigate if organized crime groups (OCG) are able to hire good accountants. We use data about criminal records to identify Italian accountants with connections to OCG. While the work accountants do for the OCG ecosystem is not observable, we can determine if OCG hire “good” accountants by assessing the overall quality of their work as external monitors of legal businesses. We find that firms serviced by accountants with OCG connections have higher quality audited financial statements compared to a control group of firms serviced by accountants with no OCG connections. The findings provide evidence OCG are able to hire good accountants, despite the downside risk of OCG associations. Results are robust to controls for self-selection, for other determinants of auditor expertise, direct connections of directors and shareholders to OCG, and corporate governance mechanisms that might influence auditor choice and audit quality.

O paper pode ser acessado aqui, via aqui. Foto: Rezaei

22 dezembro 2020

Crime contra o ambiente


O jornal The Guardian trouxe uma discussão sobre a criação de um tipo de crime contra a humanidade: o crime contra o ambiente. O jornal britânico afirma que o ecocídio corresponde a um crime internacional, assim como crimes contra humanidade, crimes de guerra e genocídio. Parlamentares suecos solicitaram que a Fundação Stop Ecocide elaborasse um projeto sobre o assunto, para coincidir com o 75o. aniversário do julgamento de Nuremberg, em 1945. 

A proposta interessa de perto nações como Vanuatu e Maldivas, que podem desaparecer se ocorrer um aumento no nível do mar em razão do aquecimento global. Segundo o jornal, o Tribunal Internacional, com sede em Haia, teria prometido priorizar os crimes contra o ambiente, a exploração de recursos naturais e a desapropriação ilegal de terras. Em 2016, o ICC já tinha indicado que avaliaria os crimes contra a humanidade em um contexto mais amplo. 

Contabilidade? - Se o ecocídio for criado, as nações devem incorporar na sua legislação. Isto pode criar possibilidades de processar as empresas infratoras em todo o mundo. Uma empresa que promova uma destruição em massa, sistemática ou generalizada poderia ser processada. Isto inclui desmatamento de floresta em grande escala, pesca ilegal ou derramamento de óleo. Além do passivo criado por tais crimes, a condenação por um tribunal internacional pode colocar em risco a sobrevivência de uma empresa. 

27 agosto 2020

Crime Solucionado: pouca justiça para os criminosos

 

O gráfico do The Conversation, para os Estados Unidos, mostra que 50% dos crimes são relatados para polícia. A maior parte dos crimes, por decisão dos lesados principalmente, não são objeto de registro. Deste total, a polícia prende 11% dos casos, sendo que em 2% há uma condenação. Veja o grifo: nos Estados Unidos. 

25 novembro 2019

Redução de homicídios 2

Anteriormente mostramos uma estatística que diz que o envelhecimento da população contribui para redução do crime no mundo. Os dois gráficos abaixo são melhores ainda (via Marginal Revolution). O primeiro gráfico mostra a taxa de criminalidade antes, durante e após a maternidade:


A redução é nítida. Parece que o fato de uma mulher ser mãe contribui para redução da chance de crime. As restrições físicas podem ser uma possível explicação. Mas o gráfico a seguir é muito parecido com o anterior, com uma importante diferença: o impacto no pai.
Também há uma redução na taxa. Existe uma mensagem nesta estatística:

Mais geralmente, no entanto, há implicações políticas se pensarmos além dos resultados imediatos. Primeiro, esses resultados mostram que o crime não é simplesmente um produto de antecedentes familiares, pobreza e negligência. O crime é uma escolha.

23 novembro 2019

Redução dos homicídios no mundo


A taxa de homicídio no mundo está caindo, conforme a tabela acima. Exceto na América Latina, que aumentou entre 1990 a 2015. A razão? Não é uma política pública ou algo relacionado com a economia.

Um declínio global da violência sugere que as políticas de justiça criminal de cada país podem ter menos impacto no declínio do homicídio do que eventos ou tendências mundiais.

Em nosso novo estudo, publicado em 9 de outubro, defendemos outra explicação possível: A população de países ao redor do mundo está envelhecendo.

06 agosto 2019

Contabilidade do PCC

O PCC (Primeiro Comando da Capital) criou um sistema de tributação de crimes e chegou a cobrar até R$ 250 por mês de seus integrantes para sustentar suas atividades. O esquema foi revelado pelo delegado Ricardo Hiroshi Ishida, da PF (Polícia Federal), responsável por investigações sobre crime organizado em Curitiba. Ishida acompanhou nesta manhã a operação Cravada, que visa desarticular a rede de financiamento da facção criminosa e prendeu 20 pessoas em sete estados. "É como se houvesse um sistema de tributação do crime", afirmou o delegado, descrevendo o financiamento do PCC. "Se pegarmos um salário mínimo de hoje [R$ 998], 25% desse valor iria para essas contribuições para a facção criminosa", explicou.

De acordo com o delegado da PF Martin Bottaro Purper, coordenador da operação Cravada, a estimativa é que o PCC obtinha até R$ 1 milhão por mês com essas contribuições. Esse valor era distribuído por cerca de 400 contas bancárias para evitar seu rastreamento e, de lá, saia para financiar compra de armas, drogas, pagamento de despesas de familiares de membros da quadrilha e para remunerar lideranças.

"Eles arrecadam valores em rifas ou mensalidades. Esse valor sai da base e chega para os líderes, que administram o dinheiro", disse Purper. "Tudo é feito para que os líderes tenham bastante dinheiro, a base sustente e vários crimes sejam cometidos com ajuda do financiamento". Segundo a PF, toda a contabilidade era era feita pelos próprios presos de dentro dos presídios. Na operação Cravada, a PF constatou que funcionava no presídio estadual de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, uma espécie de central de administração dos recursos.
(...)

O superintendente regional da PF no Paraná, o delegado Luciano Flores, disse que as mais de 400 contas bancárias usadas pelo PCC foram bloqueadas por ordem judicial. Ele espera que a operação e o bloqueio sirva para "asfixiar os meios de financiamento da facção". "Que o dinheiro deixe de circular e financiar crimes violentos", afirmou.

Fonte: Aqui

Mais sobre a contabilidade do PCC aqui e aqui.

30 maio 2019

Celular e homicídio

Há alguns anos, uma pesquisa mostrou existir uma relação entre crimes e legislação de aborto. Agora, outra pesquisa acrescentou outro fator para explicar o número de homicídios: o celular. Eis o resumo:

US homicide rates fell sharply in the early 1990s, a decade that also saw the mainstreaming of cell phones – a concurrence that may be more than a coincidence, we propose. Cell phones may have undercut turf-based street dealing, thus undermining drug-dealing profits of street gangs, entities known to engage in violent crime. Studying county-level data for the years 1970-2009 we find that the expansion of cellular phone service (as proxied by antenna-structure density) lowered homicide rates in the 1990s. Furthermore, effects were concentrated in urban counties; among Black or Hispanic males; and more gang/drug-associated homicides.

As pesquisadoras da Universidade de Colúmbia acreditam que os telefones reduziram os crimes relacionados com gangues, facilitando a chamada para os policiais. A construção de antenas e a expansão dos celulares afetou, por exemplos, os crimes praticados por estranhos, mas não os assassinatos de esposas.

It's the Phone, Stupid: Mobiles and Murder. Lena Edlund, Cecilia Machado. NBER Working Paper No. 25883

09 janeiro 2019

Malas de dinheiro 2

Muitos países estão retirando de circulação das notas de elevado valor:

Após um relatório escrito por Peter Sands, em 2016, onde implorou-se para os bancos centrais do mundo parassem de emitir notas de alto valor, a Comunidade Europeia resolveu tirar de circulação a nota de 500 euros neste ano


A partir de final de janeiro, as notas de 500 euros serão retidas nos bancos:

A maioria dos bancos centrais da zona euro, incluindo o português, vai reter as notas de 500 euros que cheguem à sua posse já a partir do próximo dia 27 de janeiro, no âmbito da decisão do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE) tomada a 4 de maio de 2016.

"As notas de 500 euros são vistas cada vez mais como um instrumento de atividades ilegais, e é nesse contexto que estamos a considerar ações”, disse, na altura, Mario Draghi, perante o Comité de Assuntos Económicos do Parlamento Europeu, reunido em Bruxelas.

Cerca de três meses depois, o Conselho do Banco Central Europeu optou oficialmente por parar a produção de notas de 500 euros, atendendo aos receios de que estas notas possam ser utilizadas para facilitar atividades ilícitas. Ainda assim, o BdP assegurou que não era necessário trocar quaisquer notas e que os cidadãos poderiam continuara a utilizar as notas de 500 euros sem restrições, incluindo para fazerem pagamentos.

07 janeiro 2019

Crime e castigo

Um argumento comum é que uma forma de combater o crime é através do aumento da punição. Isto seria uma forma de reduzir os potenciais benefícios do crime, dentro da lógica de Garry Becker. Uma pesquisa mostrou, a princípio, que isto pode não ser verdadeiro (via aqui):

Esse aumento na duração do encarceramento é impulsionado por sentenças mais longas, tanto para crimes violentos quanto para crimes de propriedade, e se traduz em um aumento persistente do encarceramento. Essas melhorias de sentenciamento e encarceramento não diminuem o crime no nível do condado, indicando que, em termos de segurança pública, o retorno marginal à postura duradoura do crime pode ser próximo de zero.

20 julho 2018

Crime

Do mesmo modo, entendemos que a corrupção é adquirida pelo hábito de praticar atos ilícitos, pela pretensão de obter vantagem em tudo e saber que a punição, em grande parte dos casos, pode ser branda. Neste sentido, estudos apontam que, de certo modo, o crime compensa. Ao que parece, o fator decisivo na escolha pela prática do crime não é a probabilidade de que o criminoso não seja capturado, mas a severidade da punição que irá, ou não, receber.

Zumir Breda, presidente do CFC. 

No dia 23 de agosto o programa de pós-graduação terá a defesa de doutorado de Mariana Bonfim. Sobre honestidade e influência do grupo. A questão da probabilidade está na raiz da teoria do economista Gary Becker. A questão do hábito não tem sido considerada, de forma forte, na teoria, ao contrário da citação. E afirmar que o crime compensa certamente é assustador, para um presidente do CFC.

Finalmente, a questão da severidade da punição é muito, muito questionável. Dan Ariely e cia possuem pesquisas interessantes na área que não podem ser esquecidas. Bonfim avança no sentido de considerar a influência do grupo.

06 junho 2018

Trump e os crimes de ódio

A rede social pode influenciar o comportamento das pessoas. Mesmo que esta pessoa seja Donald Trump. O presidente dos Estados Unidos é um usuário muito conhecido do Twitter. Nesta rede, Trump expressa suas opiniões. Uma pesquisa revelou que seus comentários também possuem efeito sobre o comportamento das pessoas; no caso, mensagens de ódio aos muçulmamos geram violência contra os muçulmanos.

O gráfico a seguir compara os crimes de ódio contra os muçulmanos (em azul) e as mensagens de Trump (vermelho). A correlação é elevada.
(...) encontramos um vínculo estreito entre o conteúdo das mensagens do Twitter de Trump em uma determinada semana e os eventos subsequentes da vida real. Em particular, o tempo dos tweets de Donald Trump sobre os muçulmanos coincide de perto com os crimes de ódio contra os muçulmanos. De fato, os tweets muçulmanos têm poder substancial de previsão até três semanas no futuro

(...) Descobrimos que o aumento acentuado nos crimes de ódio contra os muçulmanos começou com o início da campanha presidencial de Donald Trump em junho de 2015, e foi quase exclusivamente dirigido por condados com muitos usuários do Twitter.

08 abril 2018

Rastreamento digital como solução para a governança?

Diante da fraude da Caterpillar, do engodo do teste de emissão de poluentes da Volks ou da decisão da Wells Fargo de abrir contas falsas em nome de clientes, as empresas estão diante do dilema entre os custos e benefícios do comportamento ético.

Uma alternativa possível, que está sendo usada por empresas como Uber, Airbnb, Microsoft, Tesla, Under Armour e a Kimberly-Clark, são os rastreadores de ética de empresas. Empresas, como Convercent, desenvolveram software de ética que se conecta a estrutura digital das empresas, do e-mail aos contratos, para, através do aprendizado de máquina, procurar padrões suspeitos. As empresas assumem o compromisso de resolver os problemas, incluindo aí a demissão do empregado.

Este tipo de serviço ainda está no seu início. A Convercent obteve receita de 78 milhões de dólares, menos de 2% do que uma Big Four fatura anualmente. Mas tudo leva a crer que os padrões destes softwares sejam mais rígidos do que aqueles exigidos pelos reguladores.

Dois problemas podem ser apontados para este tipo de serviço. O primeiro é o fato de ser uma tecnologia invasiva, podendo ser usada para descobrir por exemplo, preferências políticas ou sexuais. O segundo problema é a qualidade do serviço, que ainda não está provada ser melhor que os sistemas tradicionais (apesar da fonte primária deste texto vender esta ideia).

07 fevereiro 2018

Crime e desempenho de empresa

Um trabalho de três pesquisadores italianos analisou a consequência de se ter o crime organizado dentro da empresa. De uma maneira geral, seria esperado que a presença de diretores “contaminados” pelo crime organizado pudesse tornar a empresa mais lucrativa em razão das vantagens ilegais obtidas pelas ligações com a máfia. Mas os diretores contaminados podem piorar a rentabilidade, em razão do seu comportamento. Os autores usaram uma amostra de empresas, usando dados confidenciais de investigações realizadas no país europeu. Foram usadas informações de 16.382 empresas no período de 2006 a 2013. Se um diretor tivesse seu nome sendo investigado, o mesmo seria considerado “contaminado”. Cerca de 7% destas empresas tinham pelo menos um diretor contaminado, o que mostra um grande número de entidades com a participação (ou a suspeita de participação) de organizações criminosas. Essas empresas tinham menos caixa e eram menos rentáveis.

Oferecemos duas interpretações dessas principais descobertas.
Uma possibilidade é que as empresas utilizem políticas financeiras para reduzir o risco de expropriação, potencialmente promovido por diretores contaminados.
Outra possibilidade é que as empresas sejam completamente capturadas por esses diretores, que usam as empresas para lavrar dinheiro e gerenciar participações de caixa com o objetivo de minimizar o risco de detecção.
Além disso, nossas descobertas também sugerem que a presença de diretores contaminados piora a rentabilidade da empresa.

15 março 2016

Desapareceram 81 milhões de dólares do Banco Central de Bangladesh

Atiur Rahman (foto) renunciou ao cargo que ocupava no Banco Central de Bangladesh, informou o El País. A razão foi um estranho saque ocorrido na conta do banco existe no Federal Reserve de Nova Iorque. No início de fevereiro, um grupo de hackers infiltrou no sistema do Banco Central e transferiu dinheiro para vários casinos da Filipinas.

O roubo foi descoberto somente dias depois por um jornal. O Federal Reserve e a empresa de mensagens financeiras Swift informaram que não ocorreu nenhum problema nos seus sistemas e que as transferências foram feitas com base nos procedimentos habituais.

A perda só não foi maior em razão de um erro de digitação de uma das ordens transferência, que interrompeu a transação. Do total que sumiu da conta do Banco Central, 30 milhões de dólares foram entregues em dinheiro vivo em Manila, Filipinas.

Além disto, o banco central não informou o governo do ocorrido, que soube pela imprensa.

P.S. Segundo o Estadão, os hackers escreveram errado a palavra "foundation" (digitaram "fandation").

04 julho 2015

Redução da maioridade penal e crime no Brasil


As pessoas não têm nenhuma noção sobre maioridade penal, diz professor
Em entrevista ao InfoMoney, o especialista em economia do crime João Manoel Pinho de Mello fala sobre a falta de conhecimento e dados sobre segurança no Brasil e a polarização das discussões

SÃO PAULO - O Brasil não tem dados suficientes para iniciar uma discussão profunda sobre a redução da maioridade penal. Essa é a conclusão do economista e professor do Insper João Manoel Pinho de Mello, em meio à evolução do assunto no Congresso, onde deverá ser votado ainda nesta semana. A complexidade da questão da segurança pública em um dos países com as maiores taxas de homicídio no mundo e a polarização da discussão em argumentos apaixonados, segundo ele, também dificulta o debate propositivo por melhorias no sistema.

Formado em Administração Pública pela Fundação Getulio Vargas, com mestrado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e PhD em Economia pela Stanford University, João Manoel Pinho de Mello é especialista no tema Economia do Crime, sendo membro afiliado da Academia Brasileira de Ciências e coordenador da America Latina Crime and Policy Network (AL CAPONE) da Latin American and Caribbean Economic Association (LACEA)


InfoMoney - A discussão sobre a maioridade penal voltou ao centro da pauta de repente. O que o senhor tem a dizer a respeito?


João Manoel Pinho de Mello - Assim como várias outras discussões de política no Brasil, esta aparece de uma forma atabalhoada na pauta. Não vou fazer grandes elucubrações a respeito das razões pelas quais ela apareceu agora na pauta – poderia muito bem ter aparecido ao longo de muitos anos.


IM - A pressão popular é constante...


JMPM - Pois é. O Brasil mostra um movimento quase ininterrupto, constante para cima, da violência homicida a partir de meados da década de 1980. Alguns períodos de civilidade... A década de 1990 foi terrível. Esse movimento sobe com o Brasil atingindo níveis como 30 homicídios por 100 mil habitantes em meados da década de 2000. Essa pauta poderia ter 10 anos, se você olhar do pico da violência homicida.

IM - Houve redução com o estatuto do desarmamento, não? Uma pontual redução e, depois, uma retomada no crescimento.


JMPM - Se olharmos pelo ponto de vista estritamente estatístico, cego para qualquer teoria ou análise a respeito do que ocorreu no período, vemos um pico mais ou menos em 2004/2005, e aí, ao que parece, estabilização ou leve queda na violência homicida, calculada em nível do país. Há muita heterogeneidade entre os estados nessa dinâmica. As tendências de São Paulo são radicalmente diferentes das tendências que ocorreram no Nordeste.

Esse é um tema muito espinhoso. A primeira coisa que eu vou dizer é muito desanimadora: a verdade nua e crua é que não sabemos nada. Com dados brasileiros, a gente não tem nenhum guia para caminhar.

IM - Como se explica a definição do marco etário que delimita maiores e menores infratores?


JMPM - Do ponto de vista conceitual, se vamos estabelecer um marco arbitrário - em algum momento, sociedades como a nossa escolhem traçar uma coisa arbitrária, enquanto outras escolhem outros procedimentos menos dicotômicos –, o que sabemos é que o marco deve ser algum lugar entre 7 e 30 anos de idade. A maioria das pessoas concordaria com isso, mas não é muito informativo um recorte desses, não resolve nosso problema. Mas só para não fazer um argumento radical, vamos falar algo entre 12 e 25 anos. 18 anos é um ponto focal, porque sempre foi assim. Por que não 17 ou 19? Acho que não tem nada particularmente relevante com relação aos 18 anos exceto uma evidência intuitiva, que hoje a gente sabe relativamente bem, com dados norte-americanos, de qual é a dinâmica da propensão a cometer crime ao longo da vida.


Quando pensamos na propensão em cometer crimes ao longo da vida, essa coisa começa a parecer um pouco menos arbitrária. Aquele corte que fizemos entre 12 e 25 anos começa a ficar muito grande. Quando olhamos esse indicador, percebemos que ele muito flat, mas que começa a subir levemente a partir dos 14 anos. 16 e 17 anos já são idades razoavelmente criminogências e vão alcançar o pico lá por 21 ou 22 anos. Depois, fica estável e cai.


Evidentemente, a dinâmica da propensão a cometer crimes não é exógena. Ela depende de quando você estabelece a maioridade penal, é claro. Porque alguma diferença no tratamento pode fazer diferença nessa variável.


IM - Quais são as bases estatísticas que temos sobre isso?


JMPM - Vamos separar a discussão em três fatores: incapacitação, dissuasão genérica e dissuasão específica (o mesmo que reincidência). Por que você pune maiores e menores, do ponto de vista econômico (já que, do ponto de vista filosófico, pode haver uma série de razões: vingança, resposta à sociedade etc.)? Uma coisa que você pode fazer ao punir é incapacitar um criminoso. Ou seja, tirá-lo do convívio social para que ele não cometa mais crime. Para adultos, há uma tonelada de evidências – tanto europeias como americanas - de que incapacitação é um fator importante. Daí a nós queremos usá-lo é outra coisa.


[...]

Fonte: Continua aqui