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11 agosto 2016

Custo do Rio 2016

Um estudo da Oxford University (Flyvbjerg, Bent et al. The Oxford Olympics Study 2016: Cost and Cost Overrun at the Games) mostra que o custo real para se fazer as olimpiadas é de 5,2 bilhões de dólares em média. O custo para os jogos de inverno é de 3,1 bilhões em média. O estudo mostrou que os jogos mais caros foram Londres (15 bilhões, em 2012) e Sochi (21,9 bilhões, em 2014). A série analisada pelos pesquisadores compreende o período entre 1960 a 2016 e abrange somente os custos relacionados ao desporto. Assim, este custo médio é maior na prática. Um segundo aspecto do estudo é a análise do cost overrun. Conforme já comentamos aqui, o conceito de cost overrun refere-se ao incremento do custo em relação ao orçamento. Isto já foi observado na Comperj, Boeing e olimpíadas, entre outras situações. A estimativa dos autores é que em metade dos casos o valor orçado ultrapassou ao dobro do valor original. Em Montreal, por exemplo, o valor gasto foi de 720 por cento acima do valor orçado; em Barcelona foi de 266%. O percentual de cost overrun do Rio foi de 51% (Londres igual a 76%)

Agora atenção:

the Rio 2016 Games, at a cost of USD 4.6 billion, appear to be on track to reverse the high expenditures of London 2012 and Sochi 2014 and deliver a Summer Games at the median cost for such Games. The cost overrun for Rio – at 51 percent in real terms, or USD 1.6 billion – is the same as the median cost overrun for other Games since 1999.

O custo dos jogos do Rio estão estimados em 4,6 bilhões de dólares, bem inferior a Londres (15 bilhões), Pequim (6,8 bilhões), mas superior a Atenas (2,9 bilhões) e Atlanta (4,1). Quando se compara o custo por atleta temos 0,4 para o Rio, 1,4, 0,6 e 0,5 para Londres, Pequim e Sidnei.

Eis uma tabela comparativa:

12 fevereiro 2014

Comperj

Sobre a obra do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em construção, um texto sobre atrasos, aumento no orçamento entre outros aspectos:

Projetado em 2006 por US$ 6,5 bilhões, terá sua primeira unidade inaugurada, na melhor das hipóteses, cinco anos depois do programado, em agosto de 2016, por pelo menos US$ 13,5 bilhões (R$ 32 bilhões, pelo fechamento de sexta-feira).

O valor compreende apenas uma refinaria (165 mil barris/dia), a menor de um total de duas previstas. Produzirá combustíveis e é uma das esperanças da Petrobrás para reduzir importações, que chegam a cifras bilionárias por mês e castigam as ações da petroleira.

Em oito anos, o projeto já foi alterado várias vezes, o preço inflado e houve anos de atraso pela dificuldade de chegada de equipamentos. A unidade petroquímica que batizou o empreendimento não sairá como planejada inicialmente. A segunda refinaria, para 300 mil barris/dia, quase o dobro da primeira, ainda não tem investimentos garantidos. Essa é uma das incógnitas em relação ao plano de negócios, que a companhia pode levar a apreciação no Conselho de Administração no próximo dia 25.


Como já afirmamos várias vezes nestes blog, este caso é mais comum do que se pensa. Trata-se do conceito de cost overrun. Trata-se de um incremento no custo ou orçamento, envolvendo valores inesperados ou subestimativa do custo real durante a fase de planejamento. Existem inúmeros exemplos de obras que sofreram com este problema: Canal de Suez (20 vezes o valor estimado), Opera de Sidnei (15 vezes) e Concorde (12 vezes).

Existem diversas explicações para este fenômeno. Uma delas é o excesso de otimismo. Em geral as pessoas são otimistas na sua visão de futuro. Isto é passado para os projetos das empresas.

Outra explicação é um erro básico de probabilidade. A chance de um evento negativo ocorrer numa determinada fase de um projeto como a construção de uma refinaria pode ser reduzida. Entretanto, como muitos eventos estão interligados, a probabilidade de ocorrer eventos negativos torna-se elevada. Ou seja, sempre existirá atrasos neste tipo de obra.

19 abril 2013

Estádio de Brasília

Há uma pergunta de um bilhão de reais dividindo a capital do país. E no dia 18 de maio, quando for inaugurado o Estádio Nacional de Brasília, após sucessivos adiamentos, dificilmente alguém terá uma resposta convincente. A nova data foi definida só no início desta semana. As fortes chuvas dos últimos dias na cidade seriam as responsáveis pelo atraso na colocação do gramado. A arena, orçada inicialmente em R$ 740 milhões, acabou custando quase 40% [1] a mais e garantiu um título antecipado: será a mais cara da Copa do Mundo de 2014. Até agora, contudo, ninguém sabe com exatidão se ela conseguirá driblar o risco de tornar-se um elefante branco depois do megaevento esportivo.

Uma decisão está tomada: o governo do Distrito Federal, que bancou 100% do investimento com dinheiro público e sem recorrer ao BNDES, vai privatizar a administração do estádio. O edital de concessão deverá ser lançado no segundo semestre. A intenção das autoridades locais é assinar um contrato de 30 anos, renovável por outros 30 anos, no qual o gestor privado assumirá as despesas de operação e manutenção - mas sem pagar os gastos de construção [2]. Não está definido se ele pagará um valor prefixado de arrendamento, um percentual das receitas geradas ou uma combinação dos dois.

Segundo fontes do mercado, três grupos estrangeiros já manifestaram interesse na concessão, o que as autoridades do DF não confirmam. Um deles é a gigante americana de entretenimento AEG, que colocou os pés no Brasil recentemente, ao fechar contratos para a gestão de três estádios: a Arena Pernambuco (Recife), a Arena Palestra (São Paulo) e a Arena da Baixada (Curitiba). Outro é o grupo britânico de marketing esportivo CSM, que faz a gestão de camarotes e áreas vip do Engenhão, no Rio. A holandesa Amsterdam Arena, que atua no Brasil em parceria com OAS, também estaria de olho.

Sob vários aspectos, o Estádio Nacional pode tornar-se referência em construções sustentáveis, o que encarece a obra, mas amortece os custos de operação. Estão sendo instaladas 9,6 mil placas solares no teto da arena, com 2,5 megawatts de potência, que vão entrar na rede da distribuidora de energia local. Dessa forma, quando precisar acender os holofotes e consumir eletricidade, o estádio usará seus créditos pela geração de energia e provavelmente terá despesa insignificante com as contas de luz. Cinco piscinões subterrâneos e um lago de retenção no entorno da arena poderão armazenar até 7 milhões de litros, reduzindo gastos com o fornecimento de água.

Mesmo assim, é uma conta difícil de fechar. O valor do estádio, que terá capacidade para 71 mil pessoas, já subiu para R$ 1,015 bilhão [3] [4]. Esse acréscimo se deve essencialmente às licitações para a cobertura, as cadeiras e o gramado, que foram feitas de forma isolada e não estavam na previsão original [5]. Outra licitação, estimada em R$ 305 milhões, está em andamento e contratará uma empresa responsável pela requalificação do entorno - o que envolve um projeto de paisagismo assinado por Burle Marx, mas também ações básicas, como a instalação de calçadas no Eixo Monumental, a enorme avenida do Plano Piloto, às margens da qual se situa a arena.

Trata-se de um investimento quase impossível de recuperar, conforme nota o ex-governador e senador Cristovam Buarque (PDT-DF), que fez um exercício rápido com a calculadora. Para pagar o valor de todas as obras em 30 anos, o prazo inicial da concessão, seria preciso colocar 42 mil pessoas no estádio, todas as semanas, cobrando R$ 20 por ingresso. "Obviamente posso ser desmentido pelos fatos, mas o meu sentimento é que estamos caminhando para ter um elefante branco no meio de Brasília." [6]

Uma forma cogitada pelas autoridades locais de dar uso mais intensivo ao estádio foi trazer pelo menos dois jogos de cada time grande do eixo Rio-São Paulo, no Campeonato Brasileiro, para Brasília. Os próprios cartolas, no entanto, reconhecem que a ideia é inviável. "Temos uma torcida apaixonada pelos times de fora e alguns clubes demonstram interesse em jogar aqui, mas não dá para pensar em trazê-los em todas as rodadas do Brasileirão", admite o presidente da Federação Brasiliense de Futebol, Jozafá Dantas. No dia 26 de maio, Santos e Flamengo vão jogar no Estádio Nacional, pela primeira rodada do campeonato nacional.

Dantas afirma que há dificuldades, no entanto, para ter equipes paulistas e cariocas vindo regularmente a Brasília. Muitos times descartam jogar longe de casa partidas decisivas e nem querem criar desestímulos à adesão de sócios-torcedores, que podem desistir de ter uma carteirinha do clube, se uma parte dos jogos em que há mando de campo for em outra cidade. Para complicar, há quem prefira simplesmente evitar o Cerrado entre julho e setembro, meses de forte seca. A respiração fica difícil e o rendimento dos jogadores tende a ser menor.

O cartola acredita que a melhor solução, de caráter estrutural, é desenvolver o futebol candango. Mas isso, por enquanto, parece ser apenas uma ilusão.

Domingo definitivamente ainda não é dia de futebol em Brasília. No plano nacional, não há times na primeira ou na segunda divisão. No torneio local, 57 partidas haviam sido disputadas até a semana passada. Somando todos os jogos, houve 47.625 pagantes - público insuficiente para lotar o Estádio Nacional uma única vez. Três dos seis jogos da penúltima rodada tiveram menos de 200 espectadores. O duelo entre Legião e Luziânia contou com 18 pessoas nas arquibancadas. Arrecadou apenas R$ 135. [7]

Obviamente, como se trata de uma arena multiuso, a expectativa do governo local é colocar Brasília no roteiro de grandes shows e eventos. Sérgio Graça, coordenador da Secretaria Extraordinária da Copa no DF, ressalta a estrutura do estádio para esse tipo de espetáculo. "Poderemos colocar mais de 20 mil pessoas só no gramado e evacuar essa multidão em oito minutos", entusiasma-se o executivo, apontando as gigantescas portas de entrada e saída em cada ponta do estádio.

"O problema é que não teremos uma Madonna vindo a Brasília mais de uma vez por ano", pondera o senador Cristovam, cético quanto à possibilidade de atração de shows em ritmo que possa justificar os investimentos feitos no estádio. Geralmente, onde há uma concessionária explorando comercialmente a arena, é ela quem se dedica à captação dos eventos. "O parceiro tem que ter expertise para trazer espetáculos relevantes", observa Marcelo Doria, presidente da BSB - Brunoro Sport Business, uma firma de consultoria esportiva.

"Dos estádios da Copa, Brasília é quem melhor está se preparando para funcionar como arena multiuso, mas também tem desafios enormes pela frente", complementa Doria. Segundo ele, estádios como o Maracanã e o Itaquerão deverão extrair pelo menos 80% de sua receita com o futebol, depois da Copa. Em Brasília, o mix pode ser de 30% com eventos esportivos e 70% com espetáculos. "Para isso, é preciso desenvolver o futebol local, no médio e longo prazos", conclui.

O governo também espera fazer do estádio um grande centro de lazer, com dois restaurantes e 14 lanchonetes e 40 bares, além de reservar espaço para atividades culturais, como exposições de arte. Para Sérgio Graça, o investimento já vale a pena diante das estimativas feitas pela Fundação Getulio Vargas (FGV), que apontam a perspectiva de 600 mil turistas circulando por Brasília durante a Copa do Mundo.

"Eles podem deixar R$ 5 bilhões na cidade", prevê Graça [8]. Ele diz que outro fator precisa ser levado em conta. "Só na abertura da Copa das Confederações", ressalta, referindo-se à partida inaugural entre Brasil e Japão, no Estádio Nacional, "será vista por 2 milhões de pessoas". "Quanto teríamos que gastar para ter uma publicidade semelhante? No mínimo, depois de tudo isso, todo o planeta vai saber que Brasília é a capital do país", finaliza.


Brasília "caça" público para novo estádio - Daniel Rittner | De Brasília - Valor Econômico - 18/04/2013


[1] Existe uma explicação plausível para isto. Alguns autores chamam de efeito Concorde ou cost overun.
[2] Isto é custo perdido. Não deve ser levado em consideração na decisão.
[3] Anteriormente o mesmo jornal tinha feito matéria sobre o assunto com uma série de erros conceituais. Vide aqui para mais detalhes.
[4] Em postagem anterior mostramos que a média mundial é um custo de 7 mil dólares por assento. A conta é simples aqui: 1.015/71 = 14 mil por assento que corresponde a 7 mil dólares. Exatamente o valor médio mundial.
[5] A impressão inicial é que ocorreu um reajuste no valor orçado, o que não é verdadeiro.
[6] Os cálculos são: 42 mil x 20 x 52 semanas x 30 anos = 1,31 bilhão. Mas ele está considerando as obras em torno do estádio, que não seriam vinculadas a obra em si. Mas o cálculo também possui erros já que deixa de considerar o valor do dinheiro no tempo e considera que toda receita gerada seria retornada para pagar o investimento. Mas seria pedir demais para sua calculadora.
[7] Obviamente estes dados estavam disponíveis quando a decisão de fazer o estádio foi tomada. Decisão esta de responsabilidade dos políticos, incluindo o senador.
[8] OS valores são questionáveis, mas devemos reconhecer que o argumento tem uma certa fundamentação.

06 fevereiro 2013

Boeing

A questão da aeronave da Boeing, o 787 Dreamliner, é tratado de maneira interessante por James Surowiecki (Requiem for a Dreamliner?, New Yorker, 4 de fevereiro de 2013). Como bem lembra Surowiecki, este é mais um exemplo de cost overrun, conceito que já tratamos anteriormente neste blog (aqui e aqui). Este é um conceito relacionado a falácia do planejamento. Em geral os gestores são otimistas nas projeções de prazos e orçamentos. Isto já foi observado tanto na área pública (olimpíadas, por exemplo), quanto na iniciativa privada.

A Boeing, quando projetou a aeronave, imaginava que seu produto seria revolucionário. Uma das razões foi a terceirização da sua produção, algo inédito na indústria aeroespacial. A figura acima, que postamos anteriormente mostra diferentes países que participaram da construção (clique na imagem para visualizar melhor). Mas a terceirização também diz respeito a outras áreas que não aparece na figura: engenharia, desenho, etc. Isto também foi objeto de postagem anterior aqui no blog. Surowiecki estima que menos de 40% do avião foi construído pela própria empresa.

A empresa considerou que isto revolucionaria a fabricação de aeronaves, significando um custo menor de fabricação. Entretanto, terceirização exige coordenação e fiscalização. E isto falhou.

Boeing trabalhou com cinquenta parceiros diferentes. Uma cadeia de suprimentos mais complexa torna maiores as chances de que algo saia errado, e a Boeing teria menos controle do que se a operação tivesse sido em sua casa.

31 agosto 2012

Cost Overrun

Do Contas Abertas (via Histórias Contábeis) sobre o orçamento das olimpíadas Rio:

Como aponta o jornalista esportivo José Cruz, “depois que o Brasil ganhou, o orçamento precisou passar por uma atualização. E é isso que o COJO, novamente com os técnicos brasileiros, está realizando. O objetivo é evitar críticas semelhantes às que surgiram por ocasião dos Jogos Panamericanos de 2007, quando o primeiro orçamento, elaborado pela Fundação Getúlio Vargas, ficou em torno de R$ 470 milhões e o evento acabou custando R$ 3,4 bilhões”.

Entretanto, a projeção ainda  não foi realizada:

(...) Para o jornalista José Cruz, que vem acompanhando a questão,“o atraso se deve à complexidade desses orçamentos e à inexperiência do Brasil em apurar um orçamento do tipo. Nós não temos experiência em orçamentos de grandes eventos internacionais, ainda mais em duas moedas – temos que fazer isso em real e transportar depois para dólar – e projetar tudo para 2016. Por isso que entram técnicos de outras áreas, do governo inclusive, para projetar os valores de hoje para 2016”. E acrescenta: “O simples fato de nós termos realizado o Panamericano não quer dizer que a gente tenha aprendido tudo. O Pan tinha 24 modalidades esportivas, agora nós vamos ter 30. O Pan era para 4 mil atletas, agora nós vamos ter 10 mil. O Pan era continental, agora nós vamos ter 202 países representados”, afirmou.

Já comentamos tanto isto, mas nunca é demais: lembre-se do conceito de cost overrun.

04 agosto 2012

Fato da Semana

Fato da Semana – Olimpíadas

Qual a importância disto? – Além do aspecto lúdico, as olimpíadas são importantes para área contábil pela discussão de uma série de aspectos: o governo deve colocar dinheiro nos jogos olímpicos? Quais os benefícios dos jogos para um país? Os gastos podem ser reaproveitados ou são sunk costs? Os jogos atraem turista? (Parece que houve uma queda no número de turistas em Londres nos últimos dias em razão dos jogos) Qual a relevância do orçamento público no financiamento dos jogos? Qual o volume de dinheiro que um país consome para colocar um atleta disputando medalha? Retirar dinheiro da área social para investir nos jogos (e nos atletas, nas instalações etc) é interessante para população? Como o conceito de cost overrun (cost increase ou budget overrun) pode ser aplicado nos jogos olímpicos? Qual o controle do volume de dinheiro público investido na equipe brasileira enviada para os jogos? Como é possível confrontar desempenho com gasto público? (Dizem que o Brasil é o segundo país que mais colocou dinheiro público nos jogos de Londres)

Positivo ou negativo? – Tudo leva a crer que o dinheiro gasto pelo Brasil nos jogos foi mal alocado: muito dinheiro e pouco resultado. Além disto, não existe um controle das entidades responsáveis pela qualidade do gasto público.

Desdobramentos – Esta discussão deveria ser relevante para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos de 2016. Entretanto, parece que o assunto não tem sido tratado com a devida atenção. E os pesquisadores?