Para medir o grau com que as mulheres ficam em silêncio, [eu] parti dos quase 1 milhão de comentários feitos no site do New York Times em resposta a artigos publicados entre junho de 2013 e janeiro de 2014, e apenas 25% dos comentários foram feitos por mulheres, mesmo embora 44% dos leitores do New York Times são do sexo feminino . (Eu inferi o sexo do autor pelo seu primeiro nome usando uma lista de 40.000 nomes internacionais para cerca de metade dos comentários. Eu filtrei gênero os nomes ambíguos como "Pat", bem como iniciais e pseudônimos.) As mulheres constituem a maioria apenas em cinco dos 144 fóruns (...): o Blog Motherlode (79% mulheres), o blog de New Old Age (70%), a seção Moda / Casamentos (63%), o o blog Diner (53% ), e as páginas Projetos (52%). As mulheres eram mais propensas a comentar artigos escritos por mulheres (...)
Raro, mas valorizado
(...) As mulheres fizeram apenas 18% dos comentários do fórum de futebol, por exemplo, mas cada comentário de uma mulher recebeu 39% mais recomendações que a média. Para os homens, vi o efeito oposto: quanto mais machista o artigo, a menos recomendações os homens receberam. (...)
Inclinando-se para fora
Mas também vi algo menos animador: [comentários d] as mulheres podem ser raras em parte porque eles são menos confortáveis. As fêmeas que comentam são significativamente menos propensos a incluir seus sobrenomes, o que está de acordo com uma pesquisa anterior em que as mulheres se preocupam mais com a privacidade on-line , já que eles são mais propensas a enfrentar assédio . (...)
Perspectiva Vital
(...) As mulheres eram mais propensas a usar frases relacionadas à família, educação e saúde. Elas também eram mais propensas a usar frases específicas do sexo feminino ("mama", "misoginia", "gravidez"), bem como frases relacionadas a questões que afetam desproporcionalmente as mulheres ("controle de natalidade", "violência doméstica").
Em um artigo sobre a necessidade de os empregadores a fornecer contracepção , 26% dos comentários dos homens se opôs à exigência, mas nenhum dos comentários de mulheres que examinei o fez. Ou considere a carta aberta em que Dylan Farrow acusou Woody Allen de abusar sexualmente dela. As mulheres foram significativamente menos propensos a incluir um link para uma refutação das alegações de Farrow em seus comentários. (...)
O que acontece quando as mulheres ficam em silêncio
(...) Parece muito mais plausível que as mulheres são raras [em comentários] por causa das forças sociais mais amplas. Estudos mostram que as mulheres são menos inclinadas a falar ainda na infância; estudos sobre a participação das mulheres em fóruns on-line encontrar grandes sinais de desigualdade. Os efeitos que observamos são, portanto, susceptíveis de ocorrer em outros lugares também.
(...) Nós vemos as consequências deste [mundo] não apenas quando as mulheres comentam no New York Times, mas quando uma mulher que foi violentada sexualmente permanece em silêncio em vez de comunicar o crime a um departamento de polícia dominado por homens; quando um Congresso historicamente masculino não aprova uma legislação para proteger as vítimas de violência sexual nos campi universitários ;quando as mulheres no serviço militar dominado por homens são mais propensas a ser estupradas por outros soldados do que morreram pelo fogo inimigo .
Precisamos de mulheres para falar porque esses problemas ficam sem solução se ficar em silêncio. Precisamos delas para falar por causa de meio milhão de comentários que mostram que elas têm algo importante a dizer.
Adaptado: Daqui
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23 outubro 2014
01 abril 2013
Baixaria
No início, os deuses da tecnologia criaram a internet e viram que era algo bom. Finalmente havia um espaço público com potencial ilimitado para um debate racional e uma troca de ideias, uma espécie de ponte para ampliar os horizontes ligando as muitas barreiras geográficas, sociais, culturais, ideológicas e econômicas que nos separam na vida, uma maneira de fazer as coisas livremente.
Mas então alguém inventou a seção de “comentários do leitor” e o paraíso foi perdido.
A internet, deve ser dito, ainda é um lugar maravilhoso para o debate público. Mas quando se trata de ler e compreender artigos online – como este, por exemplo – este meio pode ter um efeito surpreendente poderoso sobre a mensagem. Uma pesquisa feita por nós mostrou que comentários de alguns leitores podem distorcer, e muito, o que outros leitores acham daquilo que foi inicialmente informado nos artigos e notícias.
Mas, neste caso, não é o conteúdo dos comentários que importa. É o tom deles.
No nosso estudo publicado online no mês passado na revista acadêmica The Journal of Computer – Mediated Communication, nós dois e mais três colegas relatamos um experimento para medir o que pode ser chamado de “efeito grosseria”.
Selecionamos 1.183 participantes e pedimos para lerem cuidadosamente um post de um blog fictício em que eram explicados os riscos e os benefícios potenciais de um novo produto tecnológico chamado “nanopartícula de prata”. De acordo com o artigo no blog, estes elementos minúsculos de prata, mais finos do que 100 bilionésimos de um metro em qualquer dimensão, têm vários benefícios potenciais (como propriedades antibacterianas) e riscos (como contaminação da água).
Em seguida, os participantes eram instruídos a ler os comentários, supostamente publicados no blog fictício por outros leitores, para depois responder às perguntas sobre o conteúdo do próprio artigo.
Metade dos participantes foi exposta aos comentários de leitores mais civilizados e a outra metade, às opiniões mais grosseiras – em ambos os grupos, o conteúdo, a extensão e a intensidade dos comentários eram equivalentes, embora variassem entre os que apoiavam a nova tecnologia e os mais cautelosos em relação aos riscos.
A única diferença era que os comentários grosseiros continham palavrões ou insultos pessoais como “Se você não vê benefícios no uso da nanotecnologia neste tipo de produto, você é um imbecil” ou “Você é estúpido se não pensa nos riscos para os peixes, plantas e outros animais por causa da água contaminada com prata”.
Os resultados do experimento foram surpreendentes e perturbadores. Os comentários mais grosseiros não só polarizaram os leitores que participaram da pesquisa, mas com frequência mudaram a interpretação deles sobre o próprio conteúdo do artigo.
No grupo exposto às reações mais contidas, tanto os participantes que apoiaram a nova tecnologia quanto os que a desaprovaram ao ler o texto mantiveram sua opinião depois de ler os comentários. Já os outros participantes, que leram as manifestações grosseiras, ficaram depois com uma compreensão mais polarizada sobre os riscos da nanopartícula fictícia.
O simples fato de haver um ataque pessoal no comentário de um leitor foi suficiente para fazer os participantes pensarem que as desvantagens da tecnologia fossem maiores do que eles haviam imaginado antes ao ler o texto.
Embora seja difícil quantificar os efeitos distorcivos dessa grosseria online, ela ocorre de maneira substancial e particularmente – talvez ironicamente – na área do jornalismo científico.
Cerca de 60% dos norte-americanos que buscam se informar sobre assuntos científicos afirmam que a sua fonte primária de informação é a internet – ela aparece no topo sobre qualquer outra fonte de notícias.
Novas regras. A situação em que vivemos, de uma mídia online emergente, criou um novo fórum público sem as tradicionais normas sociais e o autocontrole que normalmente influenciam nossas trocas de ideias cara a cara com uma pessoa – e este meio determina cada vez mais aquilo que sabemos e o que achamos que conhecemos.
Claro que uma estratégia possível para diminuir o efeito da grosseria é fechar completamente o espaço de comentários, como algumas empresas de comunicação e blogueiros fazem. Por exemplo, o post no blog de Paul Krugman, no New York Times, publicado no dia que marcou os dez anos dos atentados de 11 de setembro de 2001, terminou simplesmente com: “não vou permitir comentários neste post, por razões óbvias”.
Outras organizações de mídia adotaram regras para favorecer a civilidade entre os leitores de seus sites ou para receber comentários de usuários mais moderados.
Mas, como dizem, é só para enxugar gelo. A interação do leitor é parte do que faz a internet ser a internet, como também o Facebook, Twitter e qualquer outra plataforma de mídia social. Este fenômeno só vai ganhar mais impulso à medida que avançamos para um mundo de celulares e TVs inteligentes em que qualquer tipo de conteúdo se incorpora imediatamente ao fluxo constante de comentários e aos contextos sociais.
É possível que as normas sociais neste admirável domínio novo mudem mais uma vez – e que os usuários passem a rejeitar ataques mesquinhos de alguém que assina com um pseudônimo e, em vez disso, cultivem o debate civilizado. Até então, tenham cuidado com o efeito grosseria.
O efeito da baixaria - 10 de março de 2013 - Estado de S Paulo - Link - / Tradução de Terezinha Martino - Dominique Brossard e Dietram A. Scheufele
03 março 2012
Comentários sobre comentários
Isso não acontece por aqui. Mas posto pois achei divina a prosa de Antônio Prata:
Eu conheci o Vitor num revéillon em Picinguaba, lá por 2003. Ele me emprestou uns pés de pato, ou eu emprestei pra ele, já não me lembro bem. Sei que ele era gente fina e que nunca mais nos vimos. Mas, semana passada, depois de todos esses anos, ele me escreveu, para dar uma bronca. Disse que acha mal educado eu não responder aos comentários dos leitores, aqui neste blog. Pô, a pessoa se dá ao trabalho de ler, escrever elogiando ou criticando e eu nem tchuns?
O problema, meu (s) caro (s), é o contrário: eu tchuns. E como me conheço, sei que, se começar a comentar os comentários, em breve não vou mais conseguir escrever uma única crônica, pois passarei o tempo todo aqui, de papo pro ar, conversando. Já é uma luta não entrar 243 vezes por dia no twitter e no Facebook. Uma luta não ficar toda hora checando a caixa de entrada, apertando send/receive ou F5, em busca de alguma novidadezinha social.
Agradeço imensamente a todos os que elogiam ou criticam -- desde que não me chamem de babaca, imbecil e cretino, como sói acontecer, infelizmente, mais de uma vez por dia, para meu eterno espanto. Em 99% dos casos, eu leio os comentários e fico contente, fico sabendo o que agrada e o que desagrada e isso ajuda muito no meu trabalho. Mas, feliz ou infelizmente, o trabalho tem que ser feito, por isso entro mudo e saio calado destas – quase sempre – gentis opiniões sobre meus textos. Espero que entendam.
E Vitor, te agradeço pelo e-mail e pelos pés de pato, caso tenha sido você a emprestar-me, e não o contrário.
Eu conheci o Vitor num revéillon em Picinguaba, lá por 2003. Ele me emprestou uns pés de pato, ou eu emprestei pra ele, já não me lembro bem. Sei que ele era gente fina e que nunca mais nos vimos. Mas, semana passada, depois de todos esses anos, ele me escreveu, para dar uma bronca. Disse que acha mal educado eu não responder aos comentários dos leitores, aqui neste blog. Pô, a pessoa se dá ao trabalho de ler, escrever elogiando ou criticando e eu nem tchuns?
O problema, meu (s) caro (s), é o contrário: eu tchuns. E como me conheço, sei que, se começar a comentar os comentários, em breve não vou mais conseguir escrever uma única crônica, pois passarei o tempo todo aqui, de papo pro ar, conversando. Já é uma luta não entrar 243 vezes por dia no twitter e no Facebook. Uma luta não ficar toda hora checando a caixa de entrada, apertando send/receive ou F5, em busca de alguma novidadezinha social.
Agradeço imensamente a todos os que elogiam ou criticam -- desde que não me chamem de babaca, imbecil e cretino, como sói acontecer, infelizmente, mais de uma vez por dia, para meu eterno espanto. Em 99% dos casos, eu leio os comentários e fico contente, fico sabendo o que agrada e o que desagrada e isso ajuda muito no meu trabalho. Mas, feliz ou infelizmente, o trabalho tem que ser feito, por isso entro mudo e saio calado destas – quase sempre – gentis opiniões sobre meus textos. Espero que entendam.
E Vitor, te agradeço pelo e-mail e pelos pés de pato, caso tenha sido você a emprestar-me, e não o contrário.
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