Da coluna do Financial Times de Tim Harford:
Quando Ernest Borgnine (foto) fez o teste para o papel principal em Marty, ele sabia que essa poderia ser sua grande chance. Estereotipado como um bandido de pequenos papéis, Borgnine tinha quase 40 anos, estava perdendo cabelo e ganhando peso. *Marty* lhe oferecia a oportunidade de interpretar o protagonista: Marty Piletti, um açougueiro solitário à procura de amor.
Enquanto lia as falas do teste, protestando para a mãe de Piletti: “Eu sou apenas um homem gordo e pequeno. Um homem gordo e feio!”, ele imaginou que estava falando com sua própria mãe ítalo-americana. Ele olhou para o diretor e o roteirista, que estavam chorando. Borgnine havia conseguido o tipo de papel com que sempre sonhara. Era seu passaporte para a fama.
Havia apenas um problema: Marty nunca foi planejado para ser concluído. A autobiografia de Borgnine afirma que ele percebeu que o projeto inteiro foi concebido para ser meio filmado, drenado de recursos para subsidiar outros filmes, e depois arquivado, tudo como estratégia para reduzir as contas de impostos do produtor executivo Burt Lancaster.
É difícil dizer se Borgnine descreveu com precisão a natureza do esquema, mas é evidente que o mundo dos impostos é mais estranho do que imaginamos. *Rebellion, Rascals, and Revenue* — uma história dos impostos escrita por Michael Keen e Joel Slemrod — está cheia de maravilhas. Considere o imposto sobre barbas de Pedro, o Grande, imposto em 1698 com o objetivo estranho, mas plausível, de não arrecadar dinheiro, mas fazer com que os nobres russos se barbeassem. (Os que pagavam o imposto recebiam um medalhão com a imagem de uma barba.)
Ou os impostos sobre solteiros, populares em muitos lugares tanto como forma de incentivar a procriação quanto de espremer dinheiro dos homens solteiros que — presume-se — tinham recursos sobrando. Mas e se um homem não conseguisse encontrar uma esposa? Certamente o fiscal não acrescentaria insulto à injúria ao tributar seu fracasso em encontrar o amor? Isenções foram introduzidas para aqueles que tentaram, mas não conseguiram, conquistar uma esposa. Como resultado, uma nova profissão surgiu na Argentina por volta de 1900: a “rejeitadora de cavalheiros”, que, por uma modesta quantia, assinava uma declaração afirmando que determinado cavalheiro havia lhe proposto casamento, mas ela recusou a oferta. O imposto — e a sua evasão — segue caminhos misteriosos.
(...) Quando Lancaster viu o filme completo, apaixonou-se por ele e o promoveu energicamente. Borgnine conquistou o Oscar de melhor ator. (...)