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08 julho 2013
08 janeiro 2013
Boa letra
Na postagem "Debitador" constatamos que antigamente era importante ter boa caligrafia. Eis um texto relacionado:
Vale a pena preservar a escrita à mão? A resposta é menos óbvia do que se pensa. Claro que você continua a rabiscar listas de coisas a fazer ou pequenos bilhetes que deixa no balcão da cozinha. Talvez faça anotações à mão nas reuniões. Mas qual foi a última vez que preencheu uma página de papel inteira com frases ininterruptas tentando expressar um argumento ou defender um ponto de vista? Qual foi a última vez que usou caneta e papel para escrever e não só para anotar?
O livro The Missing Ink (A Tinta Desaparecida, em tradução livre, sem edição brasileira), do britânico Philip Hensher, faz uma defesa que provavelmente demorou demais para sair. Com o subtítulo “A Arte Perdida da Caligrafia”, o livro é parte um lamento, parte obituário e parte um grito de guerra a uma forma de escrita que vem definhando.
Numa era em que textos e notas são digitados em tablets, estamos perdendo a habilidade necessária para escrever à mão e com rapidez uma frase que seja ao mesmo tempo inteligível e atraente. O tempo dedicado ao ensino da caligrafia nas escolas diminuiu. Por isso, Hensher inicia o livro com uma pergunta dolorosa: “Devemos nos preocupar? Devemos aceitar que a escrita à mão é uma habilidade do passado? Ou ela tem um valor que nunca será substituído pelo mundo digitalizado?”.
Hensher tem interesse nessa briga. No livro, ele faz referência aos capítulos que esboçou à mão – um processo incompreensível para alguém que, como eu, chega a digitar seu texto no iPhone às 4h58 da madrugada. Mas Hensher é um homem que escreve à mão com uma letra elegante. Ele usa papel para escrever e tem até uma marca preferida de caneta-tinteiro. Em outras palavras, ele é bem diferente de muitos dos homens modernos.
Mas compartilho da preocupação dele sobre a “arte perdida da escrita à mão”. Quando vejo meus rabiscos indecifráveis percebo que não posso mais dizer que tenho uma caligrafia definida. Ela muda de letra cursiva para letra de forma conforme a necessidade. E quando revejo os 42 blocos de notas que preenchi nos anos trabalhando como jornalista na revista Slate, eles parecem diários de uma louca – uma mistura sem consistência de estilos. Isso é preocupante diante da ênfase de Hensher de que tudo o que escrevemos, de certa forma, é a expressão de nós mesmos.
The Missing Ink tem um capítulo divertido sobre a análise da escrita à mão e está repleto de observações e enigmas interessantes. Hensher observa na introdução que não consegue reconhecer a caligrafia dos seus amigos mais íntimos e que nunca viu textos escritos à mão por eles.
Mas o que ele enfatiza no livro é como é breve e infeliz a história da escrita à mão. Antes da revolução industrial, a habilidade era restrita à elite. Com o desenvolvimento do comércio, uma classe de trabalhadores passou a frequentar escolas de caligrafia para escrever de maneira clara, correta e com rapidez.
A primeira escola de caligrafia teve como modelo o ensino da gravura e os alunos eram incentivados a contemplar formas bem definidas de escrita, como “um ‘o’ perfeitamente redondo”. Depois surgiram outras formas de ensino, como o método Palmer, de estilo cursivo. Hoje ele parece rebuscado, mas seu objetivo na verdade era desenvolver a rapidez e a naturalidade.
As informações históricas são fascinantes e têm um ponto em comum. Toda inovação da escrita manual teve por finalidade aprimorar a velocidade e clareza da comunicação humana. E é aí que a quixotesca defesa de Hensher tropeça. Pois o que é mais rápido e mais claro do que digitar? Não é mais fácil entender e prestar atenção quando você está diante de um texto bem definido como este? A escrita à mão não é a maneira mais clara de comunicação quando o objetivo é expressar o que temos em mente e sermos compreendidos.
Isso significa que a única defesa da escrita à mão é nostálgica. Ainda hoje é maravilhoso receber uma carta que foi fisicamente tocada e trabalhada pelo remetente. Talvez as mesmas pessoas que condenam a era digital em breve adotarão a escrita à mão em massa. Eu certamente vou continuar escrevendo bilhetes assim de vez em quando. Mas é preciso admitir: cultivar a caligrafia será um hobby como o tricô. Nossos filhos precisam aprender a escrever na escola, mas provavelmente não precisarão escrever à mão.
Hensher conclui com um apelo para mantermos viva a escrita à mão. “Continuar diminuindo o espaço da escrita à mão nas nossas vidas é diminuir, de maneira limitada, mas real, a nossa humanidade”, diz. Num mundo em que a digitação predomina, talvez nossa humanidade fique ainda mais aparente: seremos julgados não pela habilidade manual com uma caneta, mas pelo que dizemos.
O fim da caneta - 6 de janeiro de 2013 - Por Redação Link - Julia Turner - Slate - TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
Vale a pena preservar a escrita à mão? A resposta é menos óbvia do que se pensa. Claro que você continua a rabiscar listas de coisas a fazer ou pequenos bilhetes que deixa no balcão da cozinha. Talvez faça anotações à mão nas reuniões. Mas qual foi a última vez que preencheu uma página de papel inteira com frases ininterruptas tentando expressar um argumento ou defender um ponto de vista? Qual foi a última vez que usou caneta e papel para escrever e não só para anotar?
O livro The Missing Ink (A Tinta Desaparecida, em tradução livre, sem edição brasileira), do britânico Philip Hensher, faz uma defesa que provavelmente demorou demais para sair. Com o subtítulo “A Arte Perdida da Caligrafia”, o livro é parte um lamento, parte obituário e parte um grito de guerra a uma forma de escrita que vem definhando.
Numa era em que textos e notas são digitados em tablets, estamos perdendo a habilidade necessária para escrever à mão e com rapidez uma frase que seja ao mesmo tempo inteligível e atraente. O tempo dedicado ao ensino da caligrafia nas escolas diminuiu. Por isso, Hensher inicia o livro com uma pergunta dolorosa: “Devemos nos preocupar? Devemos aceitar que a escrita à mão é uma habilidade do passado? Ou ela tem um valor que nunca será substituído pelo mundo digitalizado?”.
Hensher tem interesse nessa briga. No livro, ele faz referência aos capítulos que esboçou à mão – um processo incompreensível para alguém que, como eu, chega a digitar seu texto no iPhone às 4h58 da madrugada. Mas Hensher é um homem que escreve à mão com uma letra elegante. Ele usa papel para escrever e tem até uma marca preferida de caneta-tinteiro. Em outras palavras, ele é bem diferente de muitos dos homens modernos.
Mas compartilho da preocupação dele sobre a “arte perdida da escrita à mão”. Quando vejo meus rabiscos indecifráveis percebo que não posso mais dizer que tenho uma caligrafia definida. Ela muda de letra cursiva para letra de forma conforme a necessidade. E quando revejo os 42 blocos de notas que preenchi nos anos trabalhando como jornalista na revista Slate, eles parecem diários de uma louca – uma mistura sem consistência de estilos. Isso é preocupante diante da ênfase de Hensher de que tudo o que escrevemos, de certa forma, é a expressão de nós mesmos.
The Missing Ink tem um capítulo divertido sobre a análise da escrita à mão e está repleto de observações e enigmas interessantes. Hensher observa na introdução que não consegue reconhecer a caligrafia dos seus amigos mais íntimos e que nunca viu textos escritos à mão por eles.
Mas o que ele enfatiza no livro é como é breve e infeliz a história da escrita à mão. Antes da revolução industrial, a habilidade era restrita à elite. Com o desenvolvimento do comércio, uma classe de trabalhadores passou a frequentar escolas de caligrafia para escrever de maneira clara, correta e com rapidez.
A primeira escola de caligrafia teve como modelo o ensino da gravura e os alunos eram incentivados a contemplar formas bem definidas de escrita, como “um ‘o’ perfeitamente redondo”. Depois surgiram outras formas de ensino, como o método Palmer, de estilo cursivo. Hoje ele parece rebuscado, mas seu objetivo na verdade era desenvolver a rapidez e a naturalidade.
As informações históricas são fascinantes e têm um ponto em comum. Toda inovação da escrita manual teve por finalidade aprimorar a velocidade e clareza da comunicação humana. E é aí que a quixotesca defesa de Hensher tropeça. Pois o que é mais rápido e mais claro do que digitar? Não é mais fácil entender e prestar atenção quando você está diante de um texto bem definido como este? A escrita à mão não é a maneira mais clara de comunicação quando o objetivo é expressar o que temos em mente e sermos compreendidos.
Isso significa que a única defesa da escrita à mão é nostálgica. Ainda hoje é maravilhoso receber uma carta que foi fisicamente tocada e trabalhada pelo remetente. Talvez as mesmas pessoas que condenam a era digital em breve adotarão a escrita à mão em massa. Eu certamente vou continuar escrevendo bilhetes assim de vez em quando. Mas é preciso admitir: cultivar a caligrafia será um hobby como o tricô. Nossos filhos precisam aprender a escrever na escola, mas provavelmente não precisarão escrever à mão.
Hensher conclui com um apelo para mantermos viva a escrita à mão. “Continuar diminuindo o espaço da escrita à mão nas nossas vidas é diminuir, de maneira limitada, mas real, a nossa humanidade”, diz. Num mundo em que a digitação predomina, talvez nossa humanidade fique ainda mais aparente: seremos julgados não pela habilidade manual com uma caneta, mas pelo que dizemos.
O fim da caneta - 6 de janeiro de 2013 - Por Redação Link - Julia Turner - Slate - TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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