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24 agosto 2022

Bancos brasileiros e a questão ambiental


Do Estadão (Via aqui

Os bancos brasileiros vão entrar em dezembro numa nova era sobre como medir os impactos das mudanças climáticas para seus negócios. O Banco Central (BC) começará a cobrar a inclusão de riscos climáticos no gerenciamento de risco e capital, além de uma política de responsabilidade social, ambiental e climática e de um relatório anual com informações padronizadas sobre o tema.

Na América Latina, o Brasil está na vanguarda desse processo, que começou a ser tateado pelas principais economias do globo. Em outubro, o BC deve apresentar no Relatório de Estabilidade Financeira (REF) algumas referências para as instituições seguirem na elaboração de suas estimativas.No documento, devem vir, por exemplo, detalhes sobre como as instituições terão de calcular reflexos de uma seca extrema sobre seus serviços e ativos, além de um estudo sobre riscos de transição.

Como se trata de um aprendizado para todos, o BC promete não ser tão exigente no início desses trabalhos. Já avisou que não necessariamente os bancos devem seguir esse modelo, embora vá monitorar os preparativos para cumprir as novas normas em sua agenda de supervisão para o semestre.

"Em geral, visões agregadas apresentam simplificações, pois é necessário adequar o estudo à disponibilidade de dados e informações de diferentes tipos de instituição. Se o risco for relevante para uma dada instituição, essa deve desenvolver uma técnica mais aprimorada para avaliar o risco", ressaltou o órgão.

Antecipando-se às regras

Sem um padrão definido pelo BC sobre como contabilizar em seus balanços os riscos climáticos, as instituições financeiras no Brasil buscam apoio de especialistas para seguir as novas regras do regulador, que devem ser conhecidas em dois meses. Consultorias têm sido procuradas para tirar dúvidas sobre o tema, e a tendência é de que todos "entreguem a prova", mas algumas casas devem se aprofundar mais no tema e ser mais agressivas do que outras.

"As maiores acabam ficando na vanguarda, pois índices e investidores externos geram pressão. Não está todo mundo na mesma página. Mas a regulação trouxe a urgência do tema, não é mais uma questão voluntária", disse a coordenadora para América Latina e Caribe da iniciativa para o setor financeiro do programa das Nações Unidas (ONU), Maria Eugenia Sosa Taborda.

O BC destaca que não há metodologia ou técnica de elaboração prescrita para os testes de estresse, a partir das estabelecidas pela regulação: análise de sensibilidade; análise de cenários; e teste de estresse reverso. "A escolha de qual metodologia e da complexidade da técnica aplicada deve ser adequada ao risco incorrido em cada instituição", argumenta o BC, reforçando que vem se posicionado sobre o tema no Relatório de Estabilidade Financeira (REF).

No mercado, o diretor de Sustentabilidade da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Amaury Oliva, afirmou que, apesar de o BC não ter definido metodologia ou cenários específicos para os testes de estresse, criou requisitos importantes, como a análise temporal, geográfica, setorial e o alinhamento a aspectos já considerados no gerenciamento de risco.

"Temos um diálogo respeitoso e construtivo com o BC, que tem expectativa de agenda evolutiva. Não é para ter punição, é para avançar como setor bancário."

Segundo Oliva, a Febraban já desenvolveu, com a Coppe/UFRJ e a empresa WayCarbon, cenários climáticos "tropicalizados" para setores-chave da economia brasileira, que podem ser subsídios para análises e testes de estresse dos bancos. Segundo relatório de 2021, com base em dados do BC e em um estudo desenvolvido pela Febraban, a exposição da carteira de crédito para empresas ao risco ambiental era de 43,60% no fim de 2020.

Já a exposição moderada ou alta às mudanças climáticas era de 53,29%.Além disso, a federação criou um grupo específico para implementar as novas regras do BC, com encontros mensais para tirar dúvidas e orientar sobre bases de dados e procedimentos. Conforme Oliva, os associados, que já seguem uma autorregulação sobre o tema desde 2014, estão trabalhando "sem parar" para estar de acordo com as novas regras em dezembro. "Colocamos a régua lá em cima, queremos que os bancos alinhem seus portfólios ao Acordo de Paris, ajudando os clientes nessa transição", diz Sosa Taborda.

Estabelecer padrão para o setor bancário é um dos desafios

Como não há um padrão internacional até o momento e muitos acreditam que dificilmente será feito um, algumas instituições financeiras passaram a criar seus próprios requisitos básicos para avançar em serviços e transparência em relação às mudanças climáticas.O que o mundo todo se pergunta é: como ajustar um só padrão para todos os tipos de itens e negociações que faça sentido para um mercado específico e, ao mesmo tempo, sirva de referência para operações com outros agentes e países?

Da mesma forma que não se pretende engessar demasiadamente um mercado que está apenas engatinhando, temem-se os riscos que possam vir dele, principalmente o chamado greenwashing, que é a prática de classificar ativos como verdes quando, na realidade, não são.Para se ter uma ideia, as três maiores agências de classificação de risco do mundo também criaram suas próprias referências. Apesar de ser do mesmo setor e buscar o mesmo objetivo de medir a saúde financeira de um papel, empresa ou governo, têm réguas distintas para as variáveis relacionadas às questões climáticas.

Veja que já apareceram os consultores para "ajudar". 

16 fevereiro 2022

Guerra ao dinheiro


O banco espanhol BBVA, com forte presença no México, está em guerra contra o dinheiro:

Há pouco mais de uma semana, clientes do BBVA México, o maior banco do México por base de clientes, relataram nas mídias sociais que o banco havia começado a cobrá-los pelo uso de seus cartões de débito para retirar dinheiro dos caixas eletrônicos do banco. (...)

Mas é o princípio que mais importa aqui: os clientes bancários estão sendo obrigados a pagar uma taxa para acessar seu próprio dinheiro. E a solução promovida pelo banco que permitirá que os clientes evitem pagar essa taxa é fazer login no aplicativo bancário do BBVA e encomendar o dinheiro antes de visitar um caixa eletrônico. O aplicativo gera um código para a operação solicitada pelo cliente. Então ele ou ela vai ao caixa eletrônico, insere o código e sai o dinheiro.

O BBVA chama esse serviço de "Mobile Cash" e oferece aos clientes um meio de sacar dinheiro sem precisar usar a carteira; eles apenas usam seu telefone. O problema para o banco é que muitos de seus clientes no México parecem preferir continuar usando seu cartão de débito. Então o banco decidiu dar-lhes um empurrãozinho, cobrando-os por fazer as coisas da maneira antiga.(...)

Em 2019, o diretor administrativo e vice-presidente do BBVA México, Eduardo Osuna, disse uma das metas de longo prazo do banco era eliminar completamente o dinheiro. "Setenta e quatro da população [do México] são informais e esta é uma grande oportunidade para lhes emprestar dinheiro" Osuna disse durante uma reunião de executivos-chefes em 2019. "Devemos combater o uso de dinheiro" .

Uma das vantagens, segundo o Banco, seria relação entre corrupção e uso do dinheiro (cita um estudo, mas existe mesmo esta correlação?). O texto replica:

É sempre interessante ouvir executivos seniores do banco reclamarem de como o dinheiro está facilitando a evasão e a evasão fiscais, especialmente quando o banco em que trabalham está entre os 36 grandes credores europeus acusados pelo observatório fiscal da UE em Paris usando paraísos fiscais extensivamente para reduzir sua conta de impostos.(...)

Esse é um dos aspectos mais sombrios da guerra em andamento do setor financeiro por dinheiro. Ele está sendo travado sob a bandeira da "inclusão financeira", apesar do fato de que uma economia sem dinheiro seria tudo menos inclusiva. Aqueles que mais se beneficiam de uma economia sem dinheiro são as gerações mais jovens nas classes mais fechadas, que são amplamente alfabetizadas em computadores e já usam métodos de pagamento digital para a maioria, se não todas, de suas transações. A vida se tornará um pouco mais fácil para eles.

Por outro lado, aqueles mais dependentes do dinheiro - os pobres e os idosos - de repente acharão a vida muito mais difícil. Isso já está acontecendo na Espanha, onde estão os idosos, para quem é dinheiro ainda o uso preferido do pagamento, tem que viajar cada vez mais longe para continuar recebendo dinheiro. Quanto mais velho você fica, mais difícil é viajar, especialmente se você não pode mais dirigir um carro.

Foto: Majnun

09 outubro 2020

Rentabilidade dos bancos é reduzida

La rentabilidad en la banca ha sufrido no sólo por la sucesión de crisis económicas sino también por el reforzamiento de la regulación y supervisión (mayores requerimientos de capital y liquidez, stress tests, unión bancaria europea parcial, etc.). En países como el UK, la regulación se hizo más estricta por la exigencia de mayor responsabilidad de los banqueros en las pérdidas, y en USA por nuevas restricciones a inversiones “especulativas” de los bancos (la Volcker Rule en la ley Dodd-Frank). En un sistema más regulado y supervisado, el riesgo es menor y, por tanto, los beneficios esperados y realizados también son menores. 

(Fonte: aqui)

Será isto um prenúncio de uma nova crise bancária? O Covid trouxe uma crise econômica forte, que deve refletir nos bancos. Ao mesmo tempo, a digitalização, com BigTech e fintech, muda o mercado bancário. E as taxas de juros reduzidas fazem com que os ganhos com intermediação financeira sejam menores. Alguns bancos sobrevivem pelo fato de serem grandes ("to big to fail" ou TBTF), mas e os demais? Eis como o mercado faz uma distinção nas ações dos bancos e nas ações de outras empresas:



19 setembro 2020

PCAF e a ética do ambiente


(...) quase 70 grandes instituições financeiras em cinco continentes com ativos financeiros totais de mais de US $ 10 trilhões formaram a Parceria para Contabilidade e Finanças de Carbono (PCAF), que visa incutir uma ética ambiental em empréstimos e investimentos e harmonizar a forma como eles medir e divulgar o impacto de carbono destes.

O PCAF é uma ideia extraordinária da Guidehouse, a consultoria global, adotada por um grupo de pequenos bancos na Holanda em 2015. A organização cresceu muito, principalmente nos Estados Unidos e na Europa. Seus membros americanos incluem Amalgamated Bank, Bank of America BAC -0,1%, Citibank, Morgan Stanley MS + 0,9% e BlackRock BLK + 0,1%. O NatWest da Grã-Bretanha ingressou recentemente.

Via aqui. Segundo o site da entidade, faz parte somente o Bradesco (junho 2020, committed) pelo Brasil.

Os padrões da instituição podem ser encontrados aqui

15 outubro 2018

Corrida fomentada aos bancos

Em meados de 2017, os habitantes da Catalunha foram as urnas para votar em um plebiscito se queriam ou não deixar a Espanha. O governo de Madri não usou armas ou ameaças explícitas, mas a economia para punir aqueles que votaram.

Naquele momento, algumas empresas resolveram mudar a sede para outro local da Espanha. Isto ocorreu com os dois maiores bancos da Catalunha: o Caixabank e o Sabadell. O que não se contou na época é que nestes bancos ocorreu uma corrida por parte dos clientes, que começaram a retirar seu dinheiro e depositar em outras instituições, aparentemente com medo de serem prejudicados com o resultado da votação.

Recentemente descobriu-se que o governo espanhol ajudou nesta corrida (via aqui). Grandes empresas do estados, como RTVE, Adif, RENFE e outros, acessaram suas contas no Caixabank e Sabadell e retiraram bilhões de euros. A ordem de fazer o saque tinha partido de Madri, do governo central espanhol. Um executivo do Sabadell perguntou ao ministro da Economia da Espanha sobre a retirada dos recursos e recebeu a seguinte resposta: “você já mudou o endereço da empresa?”.

Naquele momento, o governo passou uma lei permitindo que uma empresa mudasse seu endereço para outra região do país em apenas um dia útil, sem a necessidade de consultar os acionistas. Logo após a mudança, parte do recurso voltou para os bancos, evitando uma corrida maior de retirada e uma eventual falência dos bancos.

03 julho 2017

Bancos europeus com problemas

Os bancos tendem a falir quando ao índice Texas, uma medida de maus empréstimos em relação a reserva e capital ultrapassar 100%, o que significa que eles não têm capital suficiente para cobrir todos os problemas. Como informamos há alguns meses, 114 dos 500 bancos na Itália possuem um índice Texas de mais de 100%. Daqueles, 24 possuem índices de mais de 200%. Desde então, um deles (Monte dei Pacshi) foi resgatado com fundos públicos, enquanto outros dois (Veneto Banca e Banca Popolare di Vicenza) foram liquidados com fundos públicos. Três a menos ou 111 (ou 21) da lista.

Fonte: Aqui

25 junho 2017

Itália faz intervenção em dois bancos

O governo da Itália anunciou hoje uma ajuda a dois bancos da cidade de Veneza, num valor de 17 bilhões de euros. A ajuda irá manter a liquidez e capitalização do Banca Popolare di Vicenza e do Veneto Banca.

A intervenção irá aumentar a concentração bancária, já que os ativos de boa qualidade ficarão com o Intensa Sanpaolo, uma instituição de grande porte, que irá pagar um valor simbólico. O acordo foi aprovado pela Comunidade Europeia, que recentemente interviu no Banco Popular, da Espanha.

A aprovação da ajuda ocorreu no Conselho de Ministros da Itália, numa reunião que durou 20 minutos

06 março 2016

História da Contabilidade: Balanço do Banco de Pernambuco de 1855

O Banco de Pernambuco divulgou suas demonstrações contábeis em 23 de fevereiro de 1856, cerca de cinquenta depois do encerramento do exercício. A figura a seguir (1) apresenta o balanço patrimonial:

Observe que a coluna da esquerda é denominada de “débitos” e da direita “créditos”, correspondendo ao Ativo e “Passivo e Patrimônio Líquido”, nesta ordem. A última conta do ativo é o caixa, obedecendo a ordem inglesa do balanço, da menor liquidez para a maior. Do lado direito começa com capital e reservas e termina com ganhos e perdas. Como esta conta, de ganhos e perdas, está do lado dos créditos, isto indica que o Banco teve lucro no período. Eis a demonstração do resultado, ou melhor, a Demonstração da Conta de Ganhos e Perdas:


O lucro foi muito pequeno (2) em relação ao capital investido. Ao descrever suas operações, o banco informa que irá pagar um adicional para o guarda-livros e ao cobrador. O primeiro por “deficiência do ordenado” e o segundo pelas “quebras dos recebimentos”.

Ao lado das demonstrações apresentadas, a divulgação também consta do texto da comissão de exame de contas e no dia 23 de janeiro de 1856 assinou seu parecer favorável. Para finalizar, o banco divulgou a relação dos acionistas; diversos em Pernambuco, Rio, Maranhão, mas com investidores também em Hamburgo (3) e Inglaterra.

(1) Diário do Maranhao, 23 fev de 1856, ed 129 ano I p 3. É interessante notar que apesar de estar em Pernambuco, as demonstrações foram publicadas num jornal do Maranhão.
(2) Observe que o saldo está no lado dos débitos e o valor é transferido para o balanço, numa linha do lado dos créditos.
(3) Um dos membros da comissão de exame de contas tem o nome de J. H. H. Holm, um nome tipicamente alemão. Também é bom lembrar que neste período a Alemanha ainda não era unificada.

23 junho 2015

16 janeiro 2014

Terminal de Auto Atendimento

O Brasil tem o maior número absoluto de terminais de auto-atendimento:

Brazil has 159,898 ATMs according to the World Bank's last count, more than any other country in the world. If you're among those who prefer to withdraw cash on arrival; with seven times more ATMs than Ireland, Iran would be a better holiday destination.
The interactive map below shows which places in the world have the most - click on a country to see the numbers in full.

We've provided the top full rankings below.
The latest data that the World Bank has is from 2011 so maybe you know better. Get the data in full here.

Fonte: aqui

02 novembro 2013

Padronização nos Bancos

Os bancos terão que publicar mais informações sobre os riscos, composição de capital e o cumprimento de regras, a partir de 30 de junho de 2014. Essa publicação será padronizada e assim será possível fazer comparação com todas as instituições financeiras no mundo.

Essa medida, publicada nessa quinta-feira (31) pelo Conselho Monetário Nacional, complementou a regulamentação de Basileia 3, um conjunto de recomendações para a estrutura de capital das instituições financeiras. As regras de Basileia 3 refletem as lições tiradas da crise econômica internacional. A ideia é garantir que as instituições financeiras tenham recursos reservados para absorver choques em momento de crise. As economias integrantes do G20 (as 20 maiores economias mundias) assumiram o compromisso de implementar as recomendações de Basileia 3.

Entre as informações que os bancos terão que divulgar estão as reservas de lucro, os instrumentos de dívidas subordinadas (usadas para reforçar o capital dos bancos) e deduções, como de ágios e créditos tributários, por exemplo.

Segundo o chefe do Departamento de Regulamentação Prudencial e Cambial do Banco Central (BC), Caio Ferreira, o objetivo é dar transparência para que os investidores possam analisar os dados. Segundo Ferreira, o BC já tem acesso a essas informações, de forma até mais detalhada, para fazer a supervisão do setor no país.

Outra medida para complementar a regulamentação das regras de Basileia 3 no país foi a elevação do capital próprio dos bancos nos casos de empréstimos com valor a partir de R$ 100 milhões a grandes empresas.

Nesses casos, o fator de ponderação passou de 75% para 85% usado no cálculo do capital próprio das instituições financeiras. De acordo com Ferreira, a medida foi tomada para equiparar a regra brasileira com o padrão internacional.

Também foram criados critérios para o BC determinar se uma instituição financeira poderá converter instrumentos de dívidas em ações para ampliar capital.

Outra resolução estabelece procedimentos qualitativos para determinar o preço de ativos financeiros pouco negociados no mercado. A ideia é que o banco tenha uma política clara para ditar o valor desses ativos. Além disso, será necessária uma análise de instituição independente sobre os preços dos ativos. Segundo Ferreira, são poucos os ativos dos bancos que têm baixa negociação no mercado. "A maior parte são instrumentos líquidos, amplamente negociados no mercado", disse.

De acordo com Ferreira, outras resoluções estabelecem ajustes que" garantem que os bancos vão continuar seguros em termos de exigência de capital", além de darem esclarecimentos sobre as regras de Basileia 3 às instituições financeiras.


Fonte: Brasil Econômico

02 agosto 2013

Rir é o melhor remédio

No clima da intervenção do Banco Central no Banco Rural, um "Rir" extra para animar esta noite de sexta-feira:

Alô? Quem tá falando?
- É o ladrão.
- Desculpe, eu não queria falar com o dono do banco. Tem algum funcionário aí?
- Não, os funcionário tá tudo como refém.
- Eu entendo. Trabalham quatorze horas por dia, ganham um salário ridículo, vivem levando esporro, mas não pedem demissão porque não encontram outro emprego, né? Vida difícil. Mas será que eu não poderia dar uma palavrinha com um deles?
- Impossível. Eles tá amordaçado.
- Foi o que pensei. Gestão moderna, né? Se fizerem qualquer crítica, vão pro olho da rua. Não haverá, então, algum chefe por aí?
- Claro que não, meu amigo. Quanta inguinorânça! O chefe tá na cadeia, que é o lugar mais seguro pra se comandar um assalto.
- Bom... Sabe o que que é? Eu tenho uma conta...
- Tamo levando tudo, ô bacana. O saldo da tua conta é zero.
- Não, isso eu já sabia. Eu sou professor. O que eu queria mesmo era uma informação sobre juro.
- Companheiro, eu sou um ladrão pé-de-chinelo. Meu negócio é pequeno. Assalto a banco, vez ou outra um seqüestro. Pra saber de juro é melhor tu ligar pra Brasília.
- Sei, sei. O senhor tá na informalidade, né? Também, com o preço que tão cobrando por um voto hoje em dia... Mas, será que não podia fazer um favor pra mim? É que eu atrasei o pagamento do cartão e queria saber quanto vou pagar de taxa.
- Tu tá pensando que eu tô brincando? Isso é um assalto!
- Longe de mim. Que é um assalto, eu sei perfeitamente. Mas queria saber o número preciso. Seis por cento, sete por cento?
- Eu acho que tu não tá entendendo, ô mané. Sou assaltante. Trabalho na base da intimidação e da chantagem, saca?
- Ah, já tava esperando. Vai querer vender um seguro de vida ou um título de capitalização, né?
- Não... Eu... Peraí, bacana, que hoje eu tô bonzinho e vou quebrar o teu galho.

(um minuto depois)

Alô? O sujeito aqui tá dizendo que é oito por cento ao mês.
- Puxa, que incrível!
- Tu achava que era menos?
- Não, achava que era isso mesmo. Tô impressionado é que, pela primeira vez na vida, consegui obter uma informação de uma empresa prestadora de serviço, pelo telefone, em menos de meia hora e sem ouvir Pour Elise.
- Quer saber? Fui com a tua cara. Dei umas bordoadas no gerente e ele falou que vai te dar um desconto. Só vai te cobrar quatro por cento, tá ligado?
- Não acredito! E eu não vou ter que comprar nenhum produto do banco?
- Nadica. Tá acertado.
- Muito obrigado, meu senhor. Nunca fui tratado dessa...
-Ih, sujou!

(tiros, gritos) A polícia!

- Polícia? Que polícia? Alô? Alô?
- (sinal de ocupado)
- Alô?... Droga! Maldito Estado.
Sempre intervindo nas relações entre homens de bem!

05 novembro 2012

Contabilidade e Capital dos Bancos

Um texto do The Telegraph (British banks face new crisis as a result of accounting rules, 3 de novembro de 2012) chama atenção para o fato de que os bancos britânicos terão que aumentar o capital em razão da mudança de regras contábeis. Estas regras referem-se a questão da baixa dos empréstimos ruins dos balanços.

Além do efeito de mostrar melhor a qualidade dos empréstimos dos bancos, a nova regra irá aumentar a provisão para crédito de liquidação duvidosa entre 30 a 100%, dependendo da instituição financeira. Uma estimativa apresentada pelo jornal fala em 27 bilhões de libras a mais.

Esta questão gerou também uma discussão entre o ex-presidente do Iasb, David Tweedie, e Andrew Haldane, responsável pela estabilidade financeira na Inglaterra. Tweedie disse que as regras contábeis não é um impeditivo a formação de provisão adequada nos bancos. Já Haldane afirmou que as normas valorizou  os ativos em excesso.

07 março 2012

Paradoxo do Imposto de Renda

Minha primeira sogra era uma dessas pessoas que tentam burlar o imposto de renda. Uma vez, no intervalo de um filme ou coisa assim, ela lançou um paradoxo muito profundo: “O problema é que nós tentamos convencer o banco de que somos ricos e, ao mesmo tempo, convencer o governo de que somos pobres. E depois eles chegam e cruzam os dados”.

Acho que esse é basicamente o paradoxo dos países que ficam tentando incentivar o turismo e, ao mesmo tempo, conter a imigração.

Em 2007, por exemplo, a prefeitura de Barcelona e o governo da Catalunha investiram dois milhões de euros na produção de “Vicky Cristina Barcelona”. No ano seguinte, companhias americanas que nem tinham voos diretos para Barcelona criaram esses voos. Todo mundo queria ser Rebecca Hall e ser baleado na mão por uma amante latina enlouquecida.

No entanto, ao mesmo tempo que pagava Woody Allen para incentivar o turismo, a Espanha tentava convencer os imigrantes a irem “para casa” porque o país estava pobre demais para “sustenta-los”. Será que eles não entendem que uma hora o turista realmente empolgado cruza os dados e resolve estender as férias?

Quando minha ex-sogra colocou o paradoxo do imposto de renda na roda, criei um pequeno climão dizendo que ela poderia simplesmente decidir se preferiria pagar menos taxas no banco ou menos imposto ao governo.

Acho que alguém poderia fazer algo semelhante explicando para a União Europeia que tudo seria mais simples se eles escolhessem se querem ganhar o dinheiro dos turistas ou economizar o que dizem gastar com os imigrantes.

Sei que nem todo mundo escolhe o país para onde vai migrar por conta da sedução de um filme ou de uma viagem, mas eu não subestimaria a sedução das coisas fúteis se fosse você. No fim das contas, supridas as necessidades muito básicas, todo mundo quer morar no lugar que lhe promete sonhos.


Juliana Cunha

13 janeiro 2012

Contadores calmos na tempestade

Por Financial Times, de Londres

Com os eventos de 2011 começando a se perder na memória - sendo a maior parte deles ruim do ponto de vista econômico -, o quão nervoso está o mundo da contabilidade?

Em conversas com vários auditores e reguladores sobre a temporada de balanços do ano completo de 2011, que se inicia nas próximas semanas, fica-se com a impressão de que o sangue deles não é bombeado com a mesma intensidade ansiosa como ocorreu no rescaldo da quebra do Lehman Brothers, em 2008.

Uma fonte de confiança é o progresso que foi feito na luta contra algumas das questões levantadas pela crise financeira. No Reino Unido, por exemplo, contadores seniores sentem que a falta de comunicação problemática entre auditores e reguladores bancários já foi corrigida.

Isso deve tornar mais fácil uma ação decisiva caso o financiamento seque para outra instituição financeira britânica, como aconteceu com o Northern Rock em 2008, apesar de não resolver a ineficácia das declarações sobre o conceito de "entidade em marcha" no setor.

Segue sendo bastante improvável que auditores questionem a liquidez de um banco em público por conta do perigo de que a quebra da instituição se torne uma profecia autorrealizável.

Quanto a baixas contábeis de dívida soberana, o setor contábil parece ter aprendido com as inconsistências dos balanços do primeiro semestre de 2011, quando títulos do governo grego valiam tanto cerca de 80% do seu valor de face como 50%, dependendo de qual banco se analisava.

Os pessimistas ganharam esse argumento e uma abordagem mais harmonizada já está em evidência nesse ponto. Mas apesar da melhora considerável, também parece improvável que os bancos e as seguradoras sejam levados a registrar perdas com títulos de dívida emitidos por outros países da zona do euro - como a Itália - nos seus próximos balanços.

Ainda assim, ninguém descarta a possibilidade de uma retomada repentina do caos visto há três anos, particularmente depois do colapso recente da corretora americana MF Global e das travessuras fora do balanço da japonesa de tecnologia Olympus.

Muitas empresas estão sob pressão, particularmente em setores dependentes de gastos do consumidor no Ocidente. Isso, combinado com nervosismo sobre a capacidade dos bancos para continuar emprestando, torna desafiadora a avaliação sobre a continuidade de uma entidade.

Reguladores e auditores também estão destacando a necessidade de as empresas reduzirem algumas avaliações de ativos a fim de refletir a deterioração das perspectivas econômicas. Intangíveis, como o ágio - o ativo otimista criado quando o preço de uma aquisição excede o valor dos bens comprados -, parecem particularmente vulneráveis.

James Kroeker, chefe da área de contabilidade da Securities and Exchange Commission (SEC), regulador do mercado de ações dos EUA, diz que o questionamento sobre o valor pelo qual estão registrados os ativos deve percorrer "o balanço de cima a baixo".

Michael Izza, executivo-chefe do Institute of Chartered Accountants da Inglaterra e País de Gales, relata que alguns bancos da Europa continental devem levar realizar a baixa de alguns ágios por expectativa de rentabilidade futura depois de uma reavaliação mais pessimista das perspectivas das empresas adquiridas.

Enquanto isso, a importância crescente dos mercados emergentes para multinacionais sedentas por crescimento é uma complicação adicional, que não foi de modo algum um fator importante nos dias sombrios de 2008. Em vez de as extrapolações contábeis misteriosas que se tornaram comuns nas economias maduras, os auditores frequentemente lidam com cenários bem mais básicos em lugares como a China. Nesses casos, é muitas vezes mais uma questão de "você pode encontrar a prova de que o ativo existe?", em vez de "você questionou as projeções da administração?".

No fim das contas, ainda há muito por aí com o que se preocupar - mesmo que os contadores não estejam mostrando sinais de tensão como nos dias iniciais da crise financeira de 2008.


Adam Jones é colunista do Financial Times. As opiniões expressas neste artigo são pessoais.