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30 abril 2022

Morte da economia comportamental?

 


Jason Hreha escreveu um artigo com o chamativo título de “The death of behavioral economics” (A morte da economia comportamental) O principal ponto considerado por Hreha é o fato de que a aversão a perda está sendo “questionado” por pesquisas mais recentes.

Parte do debate conduzido por Hreha está no método empregado pelos criadores/divulgadores do conceito. Hreha questiona fortemente as referências usadas por Kahneman e Tversky, assim como a forma como fizeram a pesquisa. Há uma boa resposta a estas acusações no Astral Codex e minha sugestão é a leitura https://astralcodexten.substack.com/p/on-hreha-on-behavioral-economics dos argumentos apresentados no longo texto existente lá. Como Hreha cita uma pesquisa de Gal e Rucker recente, Scott Alexander, do Astral, rebate com alguns bons argumentos. A pesquisa de Gal e Rucker parece indicar que a aversão a perda seria consequência de outros viéses, especialmente o efeito propriedade (ou efeito dotação) e o status quo. Mas os pesquisadores não dizem que a aversão não existe, mas somente que talvez não seja a principal explicação para o que ocorre na prática.

Você não pode usar este artigo (Gal e Rucker) para argumentar que “a economia comportamental está morta”. Na melhor das hipóteses, o artigo prova que a aversão à perda é melhor explicada por outros conceitos econômicos comportamentais. Mas você não pode se livrar completamente da economia comportamental.

Mesmo as críticas que indicam que os experimentos foram realizados com estudantes de graduação, foram rebatidos por outros experimentos, realizados com pessoas que possuem elevada renda e mesmo assim possuem aversão a perder pequenas quantias.

O outro ataque de Hreha é sobre as cutucadas. O foco é o fato de que as cutucadas possuem um efeito pequeno, de 1,5%. Alexander argumenta que 1,5% pode ser pequeno em certas situações, mas quando o Uber usa as cutucadas, 1,5% sobre 10 bilhões significa 100 milhões, o que é muito dinheiro. Quando você considera 1,5% sobre 90 milhões de pessoas que não querem vacinar ou são preguiçosos demais, são 1,4 milhão de vacinados.

É normal que críticas irão surgir contra os conhecimentos que temos hoje da economia comportamental (ou das finanças comportamentais). Mas é necessário distinguir entre uma crítica sem fundamento, de uma revisão científica bem feita. Parece não ser o caso das considerações de Hreha.

15 junho 2018

Custo da Copa do mundo

A cada quatro anos, à medida que os torcedores se preparam para a Copa do Mundo, os pesquisadores se envolvem em um jogo: tentar determinar o quão caro é o torneio para os empregadores e as economias. (...) Para calcular o número de horas produtivas perdidas pelo torneio deste ano, supomos que o horário de expediente local é entre 9h e 17h e que 50% da força de trabalho de cada país estará interessada em assistir aos jogos. Estimamos que um total de US $ 14,5 bilhões em produto interno bruto em todo o mundo podem ser perdidos nas duas primeiras semanas do torneio.

A partir daí, porém, a história fica mais complicada. Talvez de forma não intuitiva, assistir ao futebol poderia, na verdade, contribuir para um dia de trabalho mais produtivo. Como um artigo recente demonstra, assistir ao futebol pode afetar a felicidade de um torcedor uma hora antes do início do jogo e até três horas depois que os jogadores desaparecem no túnel. Outra pesquisa mostrou que aumentar a felicidade das pessoas pode torná-las entre 10% e 12% mais produtivas no trabalho - o que significa que um bom dia em campo trará um bom dia no escritório. O problema é que o efeito negativo de ver o seu time perder é duas vezes maior do que o aumento da felicidade de vê-lo vencer.

Então, o que isso nos diz sobre a Copa do Mundo? Usando esses números como base, calculamos quanto o resultado esperado de cada jogo - baseado nas probabilidades dos corretores do Reino Unido - afetaria a produtividade dos trabalhadores. No total, descobrimos que metade dos 48 jogos da fase de grupos poderia ter consequências econômicas. Embora tais cálculos sejam inerentemente especulativos, eles podem, no entanto, contar uma história econômica útil. E neste caso, não parece bom.

Tome o jogo França-Peru. A partida está marcada para as 14h (horário da França) de quinta-feira, o que significa que os trabalhadores franceses estarão no trabalho uma hora antes e depois do jogo. Como a França tem uma alta probabilidade de ganhar esse jogo, estimamos que os trabalhadores franceses serão 4,4% mais produtivos naquele dia, o que implica um aumento de US $ 354 milhões no PIB. Isso pode parecer uma boa notícia. No entanto, esse impulso não chega perto de compensar os US $ 2 bilhões perdidos durante as duas horas do jogo em si - para não falar na queda do trabalho produtivo se a França perder de forma inesperada.

O Brasil oferece outra história preventiva. Seus jogos contra a Sérvia e a Costa Rica parecem ser caros, pois interrompem os dias de trabalho. Embora o Brasil esteja entre os favoritos para ganhar a Copa, o aumento da produtividade dessas vitórias não seria significativo ou duradouro o suficiente para compensar as horas perdidas de trabalho. Uma perda inesperada, por sua vez, poderia ser um desastre: se o Brasil fosse derrotado pela Costa Rica, a produtividade poderia diminuir em 14,4% nas horas após a partida.

(...) cabe aos empregadores decidir como lidar com os jogos. Considerando o que sabemos sobre como os esportes afetam a felicidade e a produtividade, o que eles devem fazer?

Uma opção é simplesmente ignorar a coisa toda e esperar que os funcionários apareçam normalmente. Outra poderia ser negociar: deixe os trabalhadores ajustarem seus horários para assistir aos jogos em troca de compensar o tempo perdido de alguma outra forma. Ambas as táticas minimizariam as interrupções no dia de trabalho. Mas eles também podem ser uma oportunidade perdida.

Uma terceira abordagem é seguir o exemplo da lenda do futebol holandês Johan Cruyff, que disse uma vez: "O ataque é a melhor defesa". Nesse espírito, por que não ligar a TV do escritório e convidar os funcionários para assistirem aos jogos juntos? É verdade que pouco trabalho será feito. Mas pense nisso como uma oportunidade para melhorar o engajamento, cultivar um senso mais forte de comunidade e criar alguma boa vontade a longo prazo.

Os benefícios de tal abordagem seriam mais difíceis de quantificar do que as perdas de horas de trabalho. Mas lembre-se que as maiores satisfações do futebol e dos esportes em geral são geralmente intangíveis - e que os verdadeiros custos e benefícios da Copa do Mundo quase certamente não podem ser medidos em dólares.

Maude Lavanchy e Willem Smit - How Expensive is The World Cup - Bloomberg - 15 de jun 2018

08 agosto 2014

Futebol e Comportamento

A Copa do Mundo representou um interessante laboratório na área comportamental. Diversos aspectos foram constatados ao longo do torneio. Wendy De La Rosa, Dan Ariely e Kristen Berman lembram que a maior parte dos gols ocorreu durante o segundo tempo de jogo: 57%, sem considerar a prorrogação, e 62% com a prorrogação. Para explicar este aumento, La Rosa, Ariely e Berman consideram duas hipóteses: aumento das tentativas ou melhoria na qualidade. Mas outras explicações, que os autores não consideraram, também podem ser apresentadas, como o cansaço dos atletas – que reduz a eficiência da defesa, ou o nervosismo, maior nos minutos iniciais.

 

Uma observação interessante sobre a maior intensidade do segundo tempo: enquanto os times vencedores fizeram 15% das tentativas nos 15 minutos finais, os times perdedores fizeram 21%. A explicação para isto seria a aversão à perda, segundo La Rosa, Ariely e Berman. Mas será isto verdadeiro? O futebol é um esporte com placares reduzidos. Se um time está perdendo no final de um jogo por 0x1 é natural que pressione o adversário, aumentando suas tentativas. O time que está em desvantagem não tem muito a perder se aumentar suas tentativas. E as pessoas esperam isto: a França foi uma decepção exatamente por não ter sido agressiva contra a Alemanha no final da partida. Acredito que isto não seja aversão à perda, já que a maioria dos jogos foi no sistema mata-mata e a estratégia do perdedor prevalece sobre a estratégia do vencedor.

09 novembro 2012

Novos negócios, desoneração tributária e aversão à perda


A recurring theme of this year’s presidential campaign is the need to encourage the formation of new businesses. Republicans in general, and Mitt Romney in particular, have stressed that the best way to stimulate such startups is via low tax rates on high-income earners.
Romney wants to cut top rates by 20 percent, maintain the favorable treatment given to capital gains and dividends, and completely eliminate the estate tax, which currently only kicks in on estates in excess of $5 million for an individual or $10 million for a (heterosexual) married couple.
In other words, this is a strategy that emphasizes maximizing the after-tax returns if and when you hit it big. Yet if you think about the way most new businesses are started, it should be clear that these tax incentives have very little to do with the decisions facing most new entrepreneurs.
The typical business startup (think Joe the Plumber) begins with an initial stake that has been saved or borrowed, and 97 percent of small-business owners make less than $250,000 a year. It is a good bet that when Bill GatesSteve Jobs and Larry Page were creating their new businesses in their proverbial garages, they weren’t giving much thought to the tax rate they would have to pay if they struck it rich. Rather, they were hoping their startups would survive, something that less than half of new businesses succeed in doing.

Loss Aversion

Research in behavioral economics shows that when people consider risky propositions, they are especially concerned about the downside. Roughly speaking, people weigh losses about twice as heavily as gains, a phenomenon called “loss aversion.”
So if we really want to encourage risk takers and job creators, we should concentrate on what will happen to them in the all-too-likely event that their brilliant idea doesn’t pan out and the new venture flops.
One might think that Romney, an expert on new businesses, would be particularly insightful on this topic. But it turns out that the most sensible thoughts I have heard on this issue were not from him, another business executive, or an economist for that matter. They were from Jon Stewart on “TheDaily Show.” Here is a portion of what Stewart said (profanity deleted) in a recent interview with my University of Chicago colleague Austan Goolsbee:
“What we need to do in this country is make it a softer cushion for failure. Because what they say is the job creators need more tax cuts and they need a bigger payoff on the risk that they take. … But what about the risk of, you’re afraid to leave your job and be an entrepreneur because that’s where your health insurance is? … Why aren’t we able to sell this idea that you don’t have to amplify the payoff of risk to gain success in this country, you need to soften the damage of risk?”
This is exactly right. Someone who leaves a big company to start her own business is bearing not only the risk of losing all of her investment, but also her health insurance. One benefit of health-care reform is that people will still be able to get insurance while they are starting their new business, or after it fails, even if they have a pre-existing condition.
The essence of Stewart’s idea goes to the heart of why our economy is largely organized around limited-liability public corporations. When successful entrepreneurs decide to take their businesses public, they are selling some of the upside to other shareholders in return for making sure that they can’t lose all their wealth if something at the company goes wrong.

So-Called Reform

What about smaller startups that don’t begin their lives as corporations? One thing that would help stimulate this sort of business creation is making sure that a business bankruptcy is not ruinous to the entrepreneur’s family. But the Republican- sponsored bankruptcy “reform” law of 2005 changed the rules in the opposite direction. For someone who uses a credit card to help open a bakery or landscaping business, this law raised the cost of failure. Maybe this is what people mean by the phrase “job-killing” legislation.
A more generous safety net, not just the continued access to health insurance but also downside protections such as unemployment insurance, can stimulate job creation in another way. The owners of many successful small businesses treat their employees as if they were family members, and some actually are. Such owners may be more reluctant to hire new employees if these safety nets are not in place.
This brings us back to Jon Stewart’s point. Cutting taxes on high-income earners is unlikely to be the most cost-effective way of stimulating new business startups. If entrepreneurs who hit it big have to pay the same tax rate on their capital gains as on their ordinary income, they are unlikely to give up on their dreams. When people are contemplating starting a new enterprise, the last thing they are worried about is the tax rate their heirs might have to pay if they die as billionaires. But if they aren’t sure they can provide health insurance and a home to live in for their family should they fail, they may play it safe.
(Richard H. Thaler is a professor of behavioral science and economics at the University of Chicago Booth School of Business. He is the co-author, with Cass R. Sunstein, of “Nudge.” The opinions expressed are his own.)

05 junho 2012

Starbucks e Finanças Comportamentais

A rede de cafés Starbucks é responsável por colocar 4 bilhões de copos de papel no mundo a cada ano. Diante do problema potencial para o ambiente, a empresa adotou uma política de cobrar pelo copo de papel usado pelo cliente.

Segundo Marc Gunther esta abordagem é falha: se o objetivo é salvar as árvores, a empresa não deveria dar desconto para quem traz seu copo de casa, mas cobrar para aqueles que não trazem. A empresa afirma na sua página:

Junte-se ao movimento. Traga um copo reutilizável e ganhe um desconto de 10 centavos em qualquer bebida Starbucks.

Suponha que um café custe $1,60; se levo o copo irei pagar $1,50. A proposta de Gunther é definir o preço como sendo $1,50 e cobrar $0,10 pelo copo de papel.

Aparentemente isto não altera muita coisa. Mas para as finanças comportamentais sim. Isto é conhecido como “aversão a perdas”. Este conceito indica que as pessoas preferem não perder (valor de dez centavos para cada copo) a obter ganhos.

Admitindo que a empresa Starbucks conheça como trabalha a aversão a perdas, qual a razão da empresa não usar esta abordagem?, pergunta Gunther. Para Gunther, a empresa sabe que isto vai funcionar.

Segundo um porta voz da empresa, a Starbucks não quer penalizar que não trouxer seu copo. Estes clientes poderiam interpretar mal o adicional cobrado.

09 setembro 2010

Aversão a perda

O gráfico a seguir, do New York Times, mostra o número de casas vendidas, entre 1963 a 2010.



Como é possível perceber, o número de transações atingiu o menor nível no período com a crise financeira. Uma possível explicação denomina-se aversão a perda. Diante da possibilidade de vender seu imóvel por um preço muito inferior , as pessoas preferem não efetuar a venda.

A questão da aversão a perda na área imobiliária já tinha sido documentada anteriormente (vide, por exemplo, estudo de Mayer e Genesove, num condomínio de Boston.

Fonte: aqui