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10 maio 2020

Sem precedentes


O gráfico acima mostra o número de vezes que a palavra "sem precedentes" (unprecedent, em inglês) foi usada nas apresentações dos resultados. Na crise financeira de 2008 isto este presente, mas agora, com o Covid-19, isto voltou. São empresas com mais de 5 bilhões de valor de mercado. A empresa CME Group, que opera com derivativos, foi a campeã.

"Acho que toda a organização realmente fez um trabalho fantástico em termos de gerenciamento de nossas despesas neste tempo realmente sem precedentes e com uma quantidade sem precedentes de atividades na bolsa", disse John Pietrowicz, CF da empresa.

11 fevereiro 2020

Negativo e positivo na música pop




As músicas populares de hoje são claramente mais tristes do que aquelas do passado. Usando dados da parada de sucesso dos Estados Unidos, a Billboard Hot 100 do final de cada ano (além de um conjunto de 150 mil músicas em inglês do site Musixmatch), Charlotte Brand analisou as palavras com emoções negativas (dor, ódio, tristeza etc) e positivas (amor, alegria, felicidade, por exemplo), entre 1965 a 2015.

Os gráficos mostram os resultados. Palavras negativas aumentaram em mais de um terço. Apesar disto, o número de palavras positivas continua sendo maior que as negativas.

Esse é um recurso universal da linguagem humana, também conhecido como princípio de Pollyanna (do protagonista perfeitamente otimista do romance homônimo), e dificilmente esperaríamos que isso fosse inverso: o que importa, porém, é a direção das tendências.

Isto inclui a palavra “amor”, cujo uso caiu pela metade. Já ódio, que não eram mencionadas nas músicas, agora é mais comum.

Fonte: aqui

20 abril 2017

Texto Como Dado

As primeiras pesquisas na área contábil usavam os números produzidos pela contabilidade e os preços das ações das empresas. Nos últimos anos, cresce as pesquisas que extrapolam o conforto de tomar as cotações das ações e fazer relações estatísticas com alguma variável (divulgação de uma notícia, desempenho da empresa, evolução temporal são alguns dos itens de uma lista grande). Os pesquisadores começaram a perceber que contabilidade não significa só número. Quando uma empresa divulga suas demonstrações contábeis, a grande maioria das informações, nos dias de hoje e para grandes empresas, são apresentadas em textos. Somente uma pequena parcela sãos os números das demonstrações contábeis. Mais ainda, a comunicação de desempenho de uma empresa com seus investidores não ocorre somente em quatro datas fixas ao longo do ano; nos dias de hoje, uma empresa está entregando informações sobre seu desempenho cada vez que divulga uma informação na rede social ou num fato relevante ou numa declaração de um gestor para algum canal de comunicação.

Se o número tem o poder de dar uma informação de forma “precisa”, o texto pode ser amorfo. Se a coleta do valor do lucro de uma empresa é feita rapidamente através da linha deste item na demonstração do resultado, o mesmo não se pode dizer do sentimento da empresa sobre as suas perspectivas futuras, que poderia estar expressa no relatório da administração ou num comentário do seu twitter oficial.

Assim, não é surpresa nenhuma olhar a história da pesquisa contábil e certificar que a grande maioria dos artigos tiveram nas suas informações numa base de dados numérica. Além disto, o pesquisador que se aventurou em usar os dados textuais – oral ou escrito – teve que enfrentar dois grandes desafios. O primeiro é a coleta e tratamento dos dados. As narrativas geralmente não estão disponíveis a um clique da base de dados existente na minha universidade; elas precisam ser coletadas, reunidas, convertidas de PDF para um arquivo texto e criadas as condições de análise. O trabalho é enorme.

O segundo grande desafio é a subjetividade da informação. Quando um pesquisador coleta um lucro de 134 milhões de reais num exercício social de uma empresa, esta é a informação “precisa” e clara que ele irá usar. Mas quando um executivo de uma empresa escreve “outra conquista importante foi conviver e superar um contexto macroeconômico hostil” o que isto significa? (Esta frase peguei por acaso o Relatório da Administração da CEB) Isto é uma afirmação otimista ou pessimista? E junto com a subjetividade existe a desconfiança sobre a existência de “erros” na pesquisa.

Mas o aparente esgotamento das pesquisas estritamente numéricas, a exigência dos avaliadores de que uma pesquisa deve trazer algo mais que uma aplicação de um método quantitativo para um conjunto de números que estão disponíveis, a expansão da comunicação não numérica entre empresa e usuário, além do surgimento de instrumentos para este tipo de pesquisa, podem ser um anúncio de que as pesquisas com textos serão promissoras.

Neste sentido, o artigo “Text as Data”, de Matthew Gentzhow, Bryan Kelly e Matt Taddy não somente destacam a relevância deste tipo de pesquisa, como indicam algumas das ferramentas existentes e apresentam alguns exemplos relevantes. Um exemplo é sua utilização para preços das ações. Outro, a determinação de autoria de um texto. Também é possível usar a pesquisa narrativa para determinar o sentimento de um banco central nos seus comunicados. Ou observar o sentimento da imprensa. E assim por diante.

Futuros pesquisadores: o desafio está lançado.

05 agosto 2015

Cenário Econômico Brasileiro e as Demonstrações Contábeis

No momento em que o Brasil enfrenta uma recessão na economia, com aumento no desemprego, redução na taxa de crescimento e perspectivas sombrias sobre sua nota de crédito seria bom verificar como isto está aparecendo nas demonstrações contábeis. É sabido que o ambiente econômico influencia pesadamente no desempenho das empresas. Como estas podem usar o relatório de administração para informar estes efeitos, fizemos uma breve pesquisa neste documento de diversas entidades que recentemente divulgaram seus resultados para saber como a crise chegou às empresas brasileiras.

A escolha do Relatório de Administração é proposital. Neste documento a gestão da empresa tem uma liberdade para expor suas opiniões e apresentar fatos que não estão contemplados nas informações trimestrais tradicionais. Na década de oitenta do século passado, Salvador Arena, um italiano que fundou e dirigiu a empresa Termomecânica, ficou conhecido pelos comentários que assinava e divulgava juntamente com as demonstrações da sua empresa. A sinceridade de Arena é uma grande exceção num mundo onde as empresas, e os gestores, preferem não adotar uma postura de pretensa neutralidade ou omissão.

Na pesquisa que fizemos muitas das empresas não apresentaram o relatório de administração. Isto, obviamente, é uma praxe do setor, já que as empresas preferem guardar seu fôlego para o relatório anual. Outras empresas também limitaram a divulgar os dados numéricos sobre a realidade da economia, como foi o caso do Laboratório Fleury. Esta empresa apresentou as projeções do PIB, baseada na pesquisa Focus do Banco Central, e uma projeção da inflação, tendo como base os valores acumulados de doze meses. Isto também foi a atitude do Santander, que desfilou diversos índices econômicos. Outras empresas foram sintéticas na análise, como foi o caso da Multiplan, que escreveu sobre o “frágil ambiente econômico”. A BRF associou o momento econômico ao desempenho da empresa, ao afirmar que terminou o primeiro semestre bem, mesmo com o “momento adverso e igualmente desafiador”. Mais adiante a empresa comentou sobre a desaceleração do consumo, aumento da taxa de juros, inflação e desemprego, sem entrar em detalhes. O mesmo cenário desafiador fazia parte das demonstrações da Ambev.

Mas existem as exceções. O Bradesco, depois de três parágrafos referentes à economia internacional, afirma, na demonstração recém-divulgada, que ocorreu “avanços na reorientação da política econômica”. Depois de diversas frases, o Bradesco mostra-se otimista ao afirmar que “mantém uma visão positiva em relação ao País, vislumbrando perspectivas favoráveis nos segmentos em que [o Bradesco] atua”. O otimismo do Bradesco inclui uma projeção de crescimento no crédito a taxas e risco sustentáveis, com inadimplência controlada. Para quem tem feito diversos empréstimos à Petrobras, a análise do Bradesco é até coerente.

Talvez a empresa mais pessimista seja a Souza Cruz. Diante da elevada carga tributária, redução do consumo do seu principal produto, o cigarro, e o elevado contrabando, a empresa aproveitou o Relatório de Administração para ressaltar o baixo desempenho da economia brasileira, informando que “o cenário econômico é mais negativo do que era esperado no início do ano”. Mesmo quando apresenta dados, a empresa é pessimista: “dados recentes do Instituto Nielsen apontam que o índice de confiança do consumidor brasileiro é o mais baixo desde 2009. Neste contexto, o cenário de negócio tem se mostrado extremamente desafiador para as indústrias de consumo no país.”

Mas será que devemos esperar de uma empresa uma posição sobre a crise econômica? Um argumento contra uma postura mais clara sobre a crise é que esta posição é do gestor, que não deve ser confundido com os outros participantes da empresa. Além disto, num ambiente de negócios, a ambiguidade, ou a imparcialidade, pode ser útil, numa economia onde o Estado possui uma grande participação no financiamento das empresas, por exemplo. Falar que o governo não consegue dar conta da economia pode despertar a ira de burocratas, mesmo numa democracia. Ou de parceiros, que podem não concordar com a posição da empresa. E como uma empresa é um conjunto de pessoas, talvez não exista um “consenso interno” na sua posição. Finalmente, a contabilidade sempre passou uma imagem de tecnicidade, que pode significar, para alguns, imparcialidade. Em outras palavras, a contabilidade deveria ficar longe do jogo da política.

Entretanto, o posicionamento da empresa diante do cenário da economia é uma informação útil. Saber que uma empresa está confiante no futuro, como é o caso do Bradesco, pode ser importante na projeção dos investimentos, por exemplo. Além disto, no jogo dos altos e baixos da economia, e da política também, saber a posição da empresa pode ser importante. Mesmo que a empresa apoie claramente, até com dinheiro, um governo, isto deveria ser evidenciado.

Os argumentos favoráveis e contrários ao posicionamento da empresa mostra que este é um assunto que merece mais reflexão. Vamos começar?

28 julho 2015

Formatação e Compreensão do Texto

A pesquisa acadêmica  na área de compreensão da leitura  já demonstrou que  adicionar  espaço num texto  aumenta a sua  compreensão (vide STEVENS, Kathleen. Chunking Material as an Aid to Reading Comprehension, Jornal of Reading, v. 25, n. 2, nov 1981, p. 126-129, mas a origem  deste tipo de  pesquisa é  bem mais antiga).

Os leitores ruins geralmente possuem um movimento dos olhos diferente  dos bons leitores (aqui uma  explicação).  Uma empresa, Asymmetrica,  desenvolveu uma ferramenta para melhorar  a disposição gráfica do texto, permitindo  que estímulos no  espaço entre as palavras  possa melhorar a  compreensão em até 40%.  O software insere, automaticamente, espaçamento  assimétrico nos documentos,  permitindo uma  leitura mais  rápida também.  O interessante é que a  ferramenta pode ser adicionada a  um browser, como o  Chrome ou Firefox.

04 março 2014

Carta aos Acionistas de Buffett

Um dos eventos anuais mais aguardados no mundo dos negócios é carta aos acionistas escrita por Warren Buffett. Buffett é um bilionário que fez fortuna investindo em ações. É um dos maiores gurus daqueles que gostam de investimento de risco. Seus conselhos são esperados por refletir o momento do mercado.

David Yanofsky fez uma análise destas cartas. Em geral estes textos possuem entre 12 mil e 16 mil palavras.


 As três palavras mais usadas por Buffett é “Charles and I”, sendo usada 425 vezes entre 1977 a 2014. Charles, para quem não sabe é seu sócio na empresa de investimento.



A palavra mais utilizada é business, 1905 vezes, depois lucro (1605).

A cada ano a carta adiciona novas palavras que não tinha sido usada anteriormente. No último ano foi o menor número da história, mas isto já era de esperar dentro de um vocabulário restrito da área de negócios.