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06 setembro 2020

Valor do aluno de medicina


Quanto vale um aluno de medicina? Para os grandes grupos do ensino superior privado, o cheque fica em torno de R$ 1,4 milhão. Esse foi o preço médio por vaga pago em 13 aquisições de faculdades médicas no Brasil nos últimos 12 meses até agosto.

O dado compõe um estudo da Ondina Investimentos, boutique de fusões e aquisições e dívida estruturada, no Recife. Ele reflete a corrida das companhias educacionais para consolidar os cursos de medicina, caracterizados por baixíssimas evasão e inadimplência - e elevadas mensalidades.

O múltiplo milionário parece alto à primeira vista, mas fica ainda mais assombroso quando comparado ao que tem se pagado por vaga de aluno em aquisições de outros cursos privados [1]. A partir da derrocada do Fies, de 2015 para cá, os compradores desembolsaram apenas R$ 13 mil, na média, por vaga de curso superior (excluindo medicina), mostra levantamento com 15 transações [2].

Segundo estimativa da Ondina, cada vaga de medicina representa cerca de R$ 2,9 milhões do valor de mercado dos grupos educacionais na bolsa de valores [3]. O cálculo considerou o montante de R$ 20 mil para cada vaga dos demais cursos na B3.

A maior parte da transações recentes (70%) na área médica ocorreu no Norte e Nordeste. “São regiões em que há um déficit de médicos, especialmente no interior”, afirma Arthur Machado, sócio-fundador da Ondina.

Embora concentre 27,6% da população brasileira, o Nordeste conta apenas com 17,8% dos médicos do país. No Norte, onde vive 8,6% da população, a quantidade de médicos é 4,6% do total nacional. Enquanto isso, o Sudeste tem, sozinho, mais da metade dos médicos (54,1%) brasileiros e 42% da população. A região tem, com isso, 2,8 médicos para cada 100 mil habitantes. No Nordeste, esse múltiplo é de apenas de 1,4 para cada 100 mil habitantes e, no Norte, de 1,2. Para Machado, por conta da escassez de médicos, a tendência é que o MEC priorize a abertura de vagas no Norte e Nordeste. Mas o processo pode ser lento: nos últimos anos, a liberação de novos cursos de medicina demorou, na média, 11 anos, conta um empresário do setor. [4]

As mensalidades nas faculdades médicas giram em torno de R$ 8 mil, com diferenças pouco significativas entre as regiões. “São negócios com boa margem e resilientes”, diz Machado. [5]

Especializada em educação para o setor de saúde, a Afya comprou no último ano 691 vagas de medicina, em cinco transações, sendo duas no Pará e as outras em Rondônia, Paraíba e Rio. A empresa, que captou R$ 1,1 bilhão em IPO na Nasdaq um ano atrás, é a que tem sido mais agressiva nas ofertas. No mês passado, a Afya chegou a pagar R$ 2,4 milhões por vaga de medicina na aquisição da Faculdade de Ciências Médicas da Paraíba, em transação de R$ 380 milhões. "Variáveis como valor da mensalidade e maturação do curso refletem diretamente no preço de aquisição", afirma Machado

Na maratona de aquisições do último ano, a Ânima veio logo atrás da Afya, com a compra de 522 vagas, em quatro transações: duas na Bahia, uma em Santa Catarina e outra em Minas Gerais. No mesmo período, a Yduqs adquiriu 410 vagas no Piauí, Acre, Rondônia e Mato Grosso, enquanto a Ser Educacional comprou 75 vagas em Rondônia. 

Em março, a Cruzeiro do Sul comprou a Universidade Positivo, no Paraná, que atua no ramo, mas o número de vagas de medicina não foi divulgado. 

Com relativo atraso, a Cogna (dona da Kroton), maior empresa do setor educacional no Brasil, passou a olhar ativos de medicina. A empresa já atua na graduação de médicos, com quatro faculdades, mas sua exposição ao segmento é baixa em relação ao seu tamanho.

Por conta da disparada nas provisões para inadimplência, a Cogna reportou prejuízo de R$ 454 milhões no segundo trimestre. Negociadas abaixo do valor patrimonial atualmente, as ações da empresa refletem a descrença dos investidores em um modelo de negócio dependente do Fies.

O presidente da companhia, Rodrigo Galindo, disse a investidores e analistas que a empresa vai avaliar a aquisições de cursos “premium” em 15 áreas, incluindo, além de medicina, odontologia e medicina veterinária. Paralelamente, a Cogna vai reduzir sua operação de ensino presencial nos demais cursos, migrando os mais básicos para ensino a distância, onde obtém melhores margens. 

Aluno de medicina vale R$ 1,4 milhão - Sem Fies, companhias buscam aquisição de faculdades médicas de olho na resiliência do negócio - Por Marina Falcão — Do Recife - Valor Econômico - 4 de setembro de 2020

[1] Sobre isto, vide um estudo de Silva e Fernandes aqui

[2] O Fies não é a única variável que afeta o número. 

[3] Esta frase não ficou claro. Parece que cada nova aquisição de vagas em cursos de medicina, o valor da empresa aumenta neste montante. Mas em alguns casos, a aquisição de uma instituição de ensino significa mais de um curso; como foi feita a separação entre os montantes? Mais, há sempre outros fatores que podem afetar o valor. 

[4] Isto torna a venda da instituição bem atrativa. Recentemente, o MEC tentou abrir editais em localidades sem o curso de medicina. O processo foi coordenado pela FGV [leia-se, foi contratada por muito dinheiro] e incluía uma análise econômico-financeira das empresas. Foi um problema, já que isto tornou o resultado controverso em razão da qualidade do modelo usado. O caso chegou ao TCU, que pediu esclarecimentos ao MEC. 

[5] Veja que isto é um diferencial. Corresponde ao ticket médio do aluno. Além disto, o nível de abandono deste curso é muito reduzido. Outro ponto, a pressão do CRM impede a abertura de cursos novos, valorizando ainda mais as vagas existentes.

06 janeiro 2019

Ensino e Juventude

Em 1851 um texto do O Comércio afirmava o seguinte:

Convêm, pois, ensinar á mocidade de todas as classes a conhecer o Creador e a creação em geral, a lingoa materna e a contabilidade.

(É bom lembrar que na época, o ensino inicial era constituído do português - a alfabetização - e a matemática. No segundo caso, a contabilidade era uma aplicação dos conhecimentos matemáticos, mas também uma possibilidade de emprego futuro)

Neste sentido, tenho continuamente escutado de meus colegas, professores, que os alunos de hoje estão piores. Quando quero me envolver nesta discussão, tenho discordado. E tenho o apoio do Joe Hoyle, um professor de contabilidade, com 47 anos de profissão que escreveu:

Estudantes raramente mudam com os anos. Em 1958 eu escutei meu professor falar para outro professor: "estudantes hoje não leem ou compreendem. Eles têm que ter tudo explicado para eles". Eu literalmente ouvi quase as mesmas palavras na semana passada fora do meu escritório.

Ontem li em um trecho do livro Dataclisma (Christian Rudder) que "o Twitter, na verdade, pode estar melhorando a escrita dos usuários". Pelos dados de Rudder, a palavra média do Twitter é maior que a do Corpus da Língua Inglesa. Dito de outra forma: talvez nunca se tenha escrito tanto quanto na época atual. 

27 outubro 2015

Os Erros Graves de um projeto de pesquisa

Há dias participei da comissão examinadora de seleção do programa de pós-graduação. Neste período li muitos projetos e escutei muitos candidatos apresentarem sua proposta. Durante este processo, listei os pecados capitais de um projeto de pesquisa. Evitá-los aumenta sua chance de ser aprovado. Naturalmente esta é uma lista pessoal, mas pode ajudar o candidato futuro a ter um projeto mais adequado.

Erro 1 – Plágio e autoplágio – O plágio é bastante condenável na nossa área. Um projeto com plágio pode significar que seu autor não tem apreço em dar o crédito devido a quem foi pioneiro na área. E que pode apropriar-se do texto alheio, da pesquisa alheia e fazer outras práticas condenáveis eticamente. Imagine um professor analisando uma proposta com plágio e considerando a possibilidade de no futuro seu potencial orientando ser acusado de comportamento aético e sofrer, também, as consequências? Realmente não é nada animador. O autoplágio é a citação do próprio autor e pode ser um sinal de preguiça.

Erro 2 – Português ruim – O projeto é o cartão de visita do candidato. Ele tem tempo de rever o texto, de pedir opinião a terceiros, contratar um revisor ou até digitar o texto num programa que possui revisão de gramática e ortografia. Um orientando que escreve errado geralmente dá muito trabalho ao orientador, que terá que preocupar com corrigir a língua portuguesa em lugar de prestar atenção nos achados da pesquisa.

Erro 3 – Citação fora das normas – É parecido com o erro anterior. O orientador não terá muito tempo para ficar corrigindo ou verificando se as citações estão dentro das normas. Espera-se que o futuro aluno já saiba destas coisas básicas. O cuidado com as regras será importante quando no trabalho final de curso as regras de espaço, citação e outros serão considerados na comissão examinadora. Além disto, se o edital do concurso de seleção solicitar que o projeto esteja em espaço 2, apresentar em espaço 1 não será bem visto.

Erro 4 – Não aproveitar a oportunidade – O projeto de pesquisa é uma oportunidade para o candidato vender sua imagem de bom candidato. Se as normas exigem no máximo cinco páginas, apresentar duas é um erro: ou você não teve tempo, ou não sabe o que quer fazer, ou não fez uma pesquisa prévia suficiente para submeter o projeto ou não conhecer o assunto ...

Erro 5 – Trabalho com pouco esforço – Uma proposta de pesquisa onde o candidato consegue fazer em alguns dias dificilmente será bem aceita, comprometendo sua aprovação futura ou impedindo sua publicação. Além disto, o candidato pode estar mostrando que não conhece o assunto proposto para pesquisa ou que é preguiçoso. Qualquer uma das alternativas não é algo agradável.

Erro 6 – Proposta que já possui resposta – Muitos temas de pesquisa já foram realizados exaustivamente na academia. Mais um trabalho sobre o mesmo assunto realmente não acrescenta muito para um programa de pós-graduação. Outro lado da moeda é uma proposta que não tem resposta ou que a resposta não será possível durante os anos de curso. Aqui, um pequeno parágrafo indicando a relevância da pesquisa proposta ou sua originalidade é uma boa solução, desde que o candidato não exagere nos termos.

Erro 7 – Chavões – Começar uma proposta com uma afirmação sobre globalização não. Ou citando um autor nacional que comentou a finalidade da informação contábil. Sua proposta deve ser diferente das demais, sobressaindo diante da mesmice dos textos acadêmicos, chamando a atenção de um potencial orientador. O avaliador deve ter lido inúmeros projetos e artigos sobre o tema e certamente não quer perder seu tempo com globalização ou finalidade da informação contábil.

Erro 8 – Falta de relação entre as partes – O projeto tem, de certa forma, uma introdução e desenvolvimento. A pergunta da pesquisa deve ter relação com o objetivo. As referências com o que se pretende estudar deve ter relação com a proposta. E assim por diante.

Erro 9 – Referências defasadas ou esquecidas – Se você estiver propondo um trabalho sobre convergência, além de não necessitar escrever sobre a globalização, use trabalhos que foram realizadas nos últimos anos. Mas não se esqueça dos trabalhos seminais da sua pesquisa. Este é um erro facilmente detectado pela comissão examinadora: basta dar uma olhada nas referências e verificar o ano de sua publicação.

Erro 10 - Deixar de citar um expoente da universidade na qual você está pleiteando vaga – Um dos projetos que li comentava um determinado assunto e fazia algumas citações, mas esquecia de pesquisas muito próximas que foram feitas por um dos professores do meu programa. Isto é péssimo, pois é natural que você tenha interesse no programa por algum motivo, além da comodidade ou o diploma. A maioria dos candidatos não tem a curiosidade de conhecer os professores do programa no qual estão pleiteando vaga.

09 fevereiro 2014

10 novembro 2013

Entrevista: Cláudio Moreira Santana - Trabalhos de Conclusão de Curso

Durante anos, o professor Claudio Santana coordenou com excelência os trabalhos de conclusão de curso (TCC) de contabilidade da Universidade de Brasília. Como todo coordenador de TCC, orientou também muitos alunos.

Com base nessa experiência, entrevistamos, por e-mail, o professor Claudio para saber um pouco mais sobre o assunto.

Blog_CF: Quais são os erros mais comuns na monografia dos alunos de TCC?

1. Escolher o orientador e não o tema. É comum o aluno buscar o professor mais legal ou de maior simpatia, mas isso não é o que realmente leva a um bom trabalho. Acredito que o foco deve ser no tema e, a partir daí, buscar-se um bom orientador. E não o contrário.
2. Procrastinação. Como bons brasileiros (a maioria dos alunos) deixam tudo para a última hora e esperam pela prorrogação do prazo (que muitas vezes não vem). Com esse tipo de atitude os trabalhos saem com baixa qualidade quando poderiam ser bem melhores, bastando um pouco mais de organização e planejamento das atividades de pesquisa.
3. Ter vergonha de levar o trabalho para correção do professor. Já fiz isso, e já tive alunos que fizeram isso. Ser criticado é talvez uma das coisas mais difíceis na vida. Não conheço ninguém que goste de ser criticado - e para mim também não existe crítica construtiva e sim tom de crítica e estado de espírito, dependendo desses dois posso, ou não, aceitar a crítica. Reconheço, contudo, que é difícil fazer um grande esforço e o orientador dizer que o que foi escrito é uma grande bobagem, mas às vezes é exatamente isso o que acontece (fazemos grandes bobagens e outras vezes acertamos em cheio. A vida é assim...).
4. Achar que a tarefa é do professor e não dele. Nem é preciso comentar né?
5. Não se atentar para o fato de que é necessário que um trabalho seja:
a. Realizado com um tema de seu interesse e não do orientador - é necessário gostar do tema ou pelo menos não odiá-lo. O melhor é estar apaixonado por ele;
b. Importante tanto para o aluno quanto para as outras pessoas (não apenas para o orientador e avaliadores), efetivamente tentar contribuir para o conhecimento e não apenas fazer uma obrigação. Se o autor não está convencido que seu trabalho é importante, como vai convencer outras pessoas?;
c. Original. As formas de pensar e expressar são muito diversas, há uma fonte inesgotável de criatividade mundo afora e ser original é ao mesmo tempo fácil e difícil. Fácil porque ninguém pensa exatamente da mesma forma que os outros e difícil porque os temas estão sendo pesquisados por muita gente, as ideias circulam e o que pensamos ser original às vezes já foi publicado. Por outro lado, é interessante ter novas formas de se fazer pesquisa, utilizar métodos e técnicas que ainda não foram utilizados no tema, buscar novos sujeitos para pesquisar (ou seja, fazer um recorte interessante na pesquisa). Tenho visto também que uma boa saída (mas não tão fácil) é buscar a interdisciplinaridade, ou seja, trabalhar conceitos, modelos e teorias de uma área em outra;
d. Viável. Vejo muitas vezes o aluno chegar com uma ideia mirabolante, que vai resolver todos os problemas da humanidade ou que vai mudar o nome do Banco Central (essa ideia já me foi apresentada uma vez...). Bom, a questão é ter o pé no chão e observar a capacidade, tempo, recursos disponíveis e necessários para se fazer a pesquisa. Não adianta ter a melhor ideia do mundo se ela não for viável.

Sobre esses três últimos pontos recomendo uma leitura adicional do capítulo 3 do livro de Cláudio de Moura Castro. A prática da pesquisa. Editora Pearson.

Blog_CF: Existem muitos casos de compra de trabalho? E de plágio?

Sobre a quantidade eu realmente não sei responder, o que parece é que a detecção dessem casos tem sido mais frequente e há casos não só Brasil, mas também na Alemanha (quem diria...).

O plágio é mais fácil de ser observado: estilo de linguagem, formatação, diferenças entre discussão com o aluno e o que aparece escrito são indícios de que há problemas. Outro ponto é o plágio não intencional e nesse caso é importante a leitura atenta do trabalho pelo orientador e anotação das fontes que foram consultadas pelo aluno.

Compra de trabalhos já é outra história... já recebi algumas denúncias, mas não foi possível provar. Nesses casos o que recomendo é maior atenção da banca. O problema é que, geralmente, quem faz isso também estuda o tema com afinco para realizar a defesa. Dessa forma, como pegar?

Uma solução é ficar atento durante a orientação. Sei de um caso em que o aluno sempre ia com um “primo” para a orientação ou quando isso não acontecia pedia para gravar. Acontece que o tal “primo” era o ghost writer do trabalho. Mas também conheço um caso que o aluno foi denunciado e a banca constatou-se que o trabalho era tão ruim que o tal aluno poderia levar o caso ao PROCON para ter seu dinheiro de volta... Rs.

Blog_CF: Muitos alunos procuram você com um tema, mas sem orientador. Como saber o que fazer neste caso? O que ele deve fazer para escolher o orientador mais correto?

É uma situação mais comum do que se imagina. Na maioria das vezes o aluno que tem um tema não tem um orientador e o que tem o orientador não tem o tema. Os interesses de cada grupo são muito diferentes, seja por leitura ou por simplesmente pertencerem a gerações diferentes.

Sempre recomendo aos alunos observarem o Lattes dos professores da instituição e, a partir daí, ver o que melhor se encaixa na proposta que ele quer fazer, outra maneira é conversar com outros professores e com colegas para saber os projetos de pesquisa que estão sendo desenvolvidos na instituição. O aluno também deve ficar atento para o fato de que o professor vai tentar transformar seu trabalho em algo mais palatável a ele, ou seja vai tentar alinhar o interesse do aluno ao seu interesse, vez que isto facilita o processo de pesquisa. Raramente vemos professores abraçarem “novas causas” temas novos ou fora do que conhecemos é sempre um risco que muitas vezes não queremos ou podemos correr.

O orientador para esses casos tem que ser o que melhor avalie a situação e o que realmente se dedique com o aluno na construção do trabalho, mostre caminhos possíveis e indique, por vezes, outros professores que podem tirar as dúvidas a respeito do tema.

Blog_CF: O que é mais comum: o aluno que quer um orientador que orienta ou um que deseja um orientador que não atrapalhe?

Depende do aluno na verdade. Para a maioria é, sem dúvida, recomendável alguém que o oriente. Nesse sentido vale mais o professor que seja franco e honesto em relação ao que lhe apresentado. Alguns alunos, entretanto, querem orientadores mais perto de si, aqueles que lhe perguntam da vida, conversam, são amigos e efetivamente demostram interesse em ajudar o aluno não apenas no processo da pesquisa mas na orientação do que fazer na vida (normalmente tratamos com jovens e que ainda não decidiram a carreira profissional e estão cheios de dúvidas no que vão fazer quando terminarem o curso). Outros querem um relacionamento estritamente profissional, objetividade nas discussões e pouco gasto e dispersão de tempo.

Para os alunos que já são mais autossuficientes e tem certa experiência (geralmente mais velhos e com outra formação ou experiência profissional), um orientador mais distante (que não atrapalha) pode ser melhor. Para esses casos vale lembrar que o aluno deve ter cuidado para não deixar o orientador na berlinda. É necessário ter o orientador como alguém que possa dar feedback sobre o que é feito e escrito.

Na prática, avaliar isso é muito difícil, e só a convivência vai mostrar como agir, - tanto para aluno quanto para professor. Mas vale lembrar que “muito ajuda quem não atrapalha” e que um orientador que orienta também é um que não atrapalha.

Blog_CF: Qual o orientador que apresenta maior taxa de sucesso: aquele que risca tudo ou aquele que não lê o trabalho do orientando?

Realmente não sei dizer. Geralmente eu risco tudo, não gosto de correr riscos e passar vergonha frente a meus outros colegas professores. Mas reconheço que é praticamente impossível pegar todos os erros ou ver todas as situações e deficiências de um trabalho. Mas já aconteceu de participar de bancas em que não tive tempo de ver o trabalho como um todo do meu orientando e só receber elogios e trabalhos que foram riscados e re-riscados exaustivamente serem duramente criticados. (avaliação tem sempre um caráter subjetivo, há bancas que gostam do tema e outras não).

No caso de não ler o trabalho acho que é muito risco para todas as partes, para o orientador (que passa vergonha e atestado de incompetência), para o avaliador (pode perder um amigo ou arrumar um inimigo) e principalmente para o aluno (que é a parte mais fraca no processo e, por estar sendo avaliado, tem os nervos à flor da pele)

Aqui acho que tem um pouco da ideia da “tese do coelho” (http://www.contabilidade-financeira.com/2010/04/rir-e-o-melhor-remedio_20.html). Orientadores que não leem o que seus alunos escrevem, podem passar vergonha em uma banca, mas normalmente também são os que batem na mesa e no peito e bancam o trabalho (argumento de autoridade). Os que leem os trabalhos passam mais segurança aos alunos e os próprios alunos entendem que devem buscar um trabalho que tenha méritos (autoridade de argumento).

Blog_CF: Em que momento é possível perceber quando um aluno irá fazer um trabalho ruim ou irá desistir do tema?

Geralmente em três situações:
1. Quando não compreendeu o problema de pesquisa. Se o aluno não sabe qual o problema de pesquisa vai ficar “patinando” e, se sair daí, não vai conseguir fazer o trabalho a tempo. A compreensão do problema de pesquisa (o que ele é e como se operacionaliza) é talvez a maior dificuldade que o aluno enfrenta, tanto no aspecto do “caso concreto” quanto no aspecto teórico.
2. Quando apresenta dificuldades cognitivas para entender os aspectos teóricos e metodológicos do trabalho. Nesses casos é necessário que o professor tenha tato para saber até onde pode cobrar do aluno. Há gênios e há aqueles com dificuldade. Devemos reconhecer que nem todos fazem parte do primeiro grupo.
3. Quando ele some. Desapareceu durante muito tempo (duas ou três semanas bastam), não importa o motivo, já comprometeu o andamento da pesquisa e os resultados provavelmente não serão bons.

Blog_CF: Em sua opinião, o TCC deveria ser obrigatório, mesmo para o aluno que não irá para área acadêmica? Não seria melhor ele fazer outra disciplina?

Acredito que deva ser obrigatório. Não é apenas a questão da pesquisa em si que importa no TCC, acho que pode despertar vocações para a pesquisa e para a academia, mas também há o desenvolvimento de competências que muitas vezes não foram sequer pensadas durante o curso. Durante os cursos de graduação, na maior parte das vezes os alunos não são instados a escrever, a praticar a leitura, a criticar, a compilar e analisar dados e tirar conclusões. Normalmente, não é solicitado que o aluno pense por si, mas que ele repita fórmulas prontas ditadas nas aulas, ou seja, a repetição do conteúdo e não a criação e reflexão do saber.

Diversas pesquisas sobre o ensino da área de contabilidade mostraram que ele é muito técnico. Pela minha vivência, são raros os professores que avaliam os alunos por outro tipo de instrumento que não seja apenas prova (e os alunos ainda pedem que seja com os mesmos exercícios do livro ou de uma lista...). Acredito que o TCC possa servir como uma forma de desenvolvimento de um aluno mais crítico, e não apenas um “fazedor de lançamentos”.

Na verdade, a ideia de se fazer pesquisa deveria estar presente durante todo o curso de graduação e não apenas no momento do TCC.

Mas vale lembrar que o TCC não precisa ser apenas no formato de pesquisa científica, a própria resolução das diretrizes curriculares permite que se tenham formas diferentes para o TCC. Poder-se-ia haver relatos de consultoria, diagnósticos empresariais, relatórios profissionais. Em suma, as universidades poderiam ser mais criativas, mas reconheço que a operacionalização dessas ideias podem ser difíceis de serem implementadas e que a compreensão dos demais professores sobre o assunto possa ser muito diferente.

Blog_CF: Para finalizar: artigo ou monografia? Qual o mais útil?

Na essência o que importa para um TCC é o desenvolvimento das competências do aluno e a sua aprendizagem em relação ao tema. Assim, tanto faz se o formato for monografia ou artigo.
Mas sou partidário do artigo, sem dúvida. Embora a monografia seja o formato mais utilizado nas Instituições de Ensino Superior no país, tendo em vista o disposto nas resoluções do MEC, o artigo é muito mais útil.

O ciclo de pesquisa envolve a ideia inicial, a confecção da pesquisa em si, a escrita, os ritos de passagem (orientações e defesa pública) e se concretiza com a divulgação.

Acontece que o formato monografia requer um retrabalho. Ou seja, é necessário fazer o corte das sobras de texto que não sejam essenciais ao entendimento do trabalho para que seja haja a tentativa de publicação. Em uma época em que somos cobrados por produto, é um desserviço termos que fazer uma tarefa duas vezes (além de sermos pagos pelo dinheiro do contribuinte...). Também há um aspecto prático: o aluno quer seguir a vida dele, começar a trabalhar, ganhar dinheiro e muitas vezes esquecer o TCC, na maioria das vezes, não vê utilidade na publicação, dessa maneira ele some e muitas vezes nunca mais o encontramos. Há também um aspecto ético: o trabalho é do aluno, que direito temos, enquanto professores, de mexer no que ele escreveu? Enviar para publicação?

Mas também sou contra fazer o TCC como artigo e já na a orientação objetivar a publicação. Em primeiro lugar deve vir a aprendizagem, a publicação deve ser consequência e se houver interesse do aluno. Em minha opinião professor não tem direito de forçar o aluno a publicar ou condicionar a orientação ao envio do trabalho para um evento ou periódico.

21 agosto 2013

Rir é o melhor remédio

Esta por causa da volta às aulas:


Alunos: sejam bons com os seus professores. *.*


Aqui a dica de uma postagem falando sobre como ser um bom aluno de Ciências Contábeis.