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19 julho 2023

Um pouco da história da contabilidade e agricultura

Da excelente obra The History of Accounting: An International Encyclopedia, organizado por Michael Chatfield e Richard Vangermeersch. O verbete de Roger Hugh Juchau com o título Agricultural Accounting traz um bom resumo da história da contabilidade e agricultura: 

A contabilidade agrícola remonta às primeiras sociedades rurais, quando eram feitos registros das colheitas e do gado. Na época da Grã-Bretanha medieval, a nobreza (geralmente senhorios ausentes) mandava preparar contas para monitorar certas atividades agrícolas de seus administradores. Os registros de receitas e despesas constituíam os registros formais usuais. 

As contas agrícolas do século XVII de Robert Loder, de 1610 a 1620, são frequentemente citadas como um ponto de partida importante para traçar a história de uma contabilidade mais formal na agricultura. Os desenvolvimentos contábeis na Grã-Bretanha do século XVIII foram impulsionados pela revolução agrícola, um período em que a manutenção de registros contábeis era amplamente defendida. Já se sabia que, no final do século XVIII, havia agricultores cujas contas incluíam a capitalização de suas fazendas e continham dados para cálculos de custos e relatórios financeiros.

No meio do século XIX, os agricultores tinham acesso a diversos panfletos, materiais de papelaria para contabilidade agrícola e textos para orientar a preparação de contas. Esses materiais eram acompanhados por frequentes sermões sobre temas como "ninguém jamais fica arruinado se mantiver boas contas"! Ilustrações de registros contábeis podem ser encontradas em Alexander Trotter, Method of Farm Bookkeeping (1825), e Inness Munro, A Guide to Farm Bookkeeping (1821). No início do século XX, a literatura em contabilidade agrícola havia desenvolvido uma base sólida, como mostrado no Accountants' Index (1920). Grande parte da contabilidade agrícola ainda estava ligada a um sistema mercantil de escrituração contábil, e alguns escritores apresentaram evidências anedóticas de que a contabilidade tinha pouco valor prático para a agricultura. No entanto, a sabedoria acumulada sobre contabilidade agrícola levou a entradas formais sobre o assunto na Encyclopaedia of Accounting (1903) e na Cyclopedia of American Agriculture (1909), esta última destacando os atributos de mensuração de desempenho da contabilidade, especialmente para determinar o lucro departamental. Na Austrália, o trabalho pioneiro de Francis Vigar sobre contas pastorais levou a duas edições de seu livro Station Bookkeeping, a última em 1901. 

O período entre as duas guerras mundiais testemunhou o crescimento da contabilidade agrícola na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos. Esse crescimento foi amplamente estimulado pelo impacto da legislação tributária sobre o lucro agrícola, pelo crescimento de empresas de contabilidade agrícola e pela pesquisa de economistas agrícolas que geraram dados para analisar os resultados financeiros e os custos das empresas agrícolas. Na Grã-Bretanha, as indústrias de leite e açúcar de beterraba se beneficiaram dessa pesquisa, e nos Estados Unidos, os economistas agrícolas universitários geraram pesquisas valiosas para a indústria pecuária. Por exemplo, o Bureau of Business Research da University of Texas produziu pesquisas sobre contabilidade pecuária, um Sistema de Procedimentos Contábeis para Propriedades Pecuárias (1930). O crescimento da contabilidade agrícola foi atribuído às necessidades dos agricultores em lidar com a tributação, competição crescente e saber quais produtos agrícolas tinham melhor desempenho.

O período entre a Segunda Guerra Mundial e a década de 1960 viu um forte crescimento na atividade de contabilidade agrícola. Os principais praticantes, enfatizando a importância do registro financeiro preciso, também exaltaram as vantagens da análise comparativa. A análise de margem bruta surgiu durante esse período como uma técnica preferida de análise, pois permitia a comparação de empresas e produtos sem a necessidade de uma contabilidade de custos exaustiva. Acompanhando a análise comparativa, houve um movimento para códigos de contas uniformes e padronização terminológica. 

O valor das informações das contas agrícolas, especialmente para fins de gestão interna, passou a receber maior atenção a partir do final da década de 1950. As sucessivas edições de textos amplamente lidos refletiam a importância crescente das contas para melhorar a tomada de decisões na fazenda. Por exemplo, C.A. Mallyon afirmava que seu livro, The Principles and Practice of Farm Management Accounting (1961), foi o primeiro na Austrália a mostrar como as contas auxiliam na tomada de decisões lucrativas, e afirmava que a literatura no Hemisfério Sul era inexistente na área de contabilidade moderna de gestão agrícola. Na Grã-Bretanha, S.U.P. Cornwell, que escreveu Management Accounting for Agriculture (1957), afirmava que seu livro foi o primeiro na Grã-Bretanha a aplicar a contabilidade de gestão aos problemas da agricultura. 

Uma preocupação constante nesse período era o efeito generalizado da tributação sobre a prática contábil agrícola, onde o lucro não era uma medida do retorno dos negócios, mas um resultado de renda condicionado pelas regras fiscais. De particular preocupação era a escolha da política contábil, onde os efeitos da responsabilidade fiscal dominavam a determinação dos resultados financeiros. Para muitos escritores, a tributação distorceu os valores do gado, confundiu capital e receita, criou agendas de depreciação irreais e descompensou receitas e despesas. O desafio persistente para os profissionais era convencer o agricultor de que as informações para tomada de decisões são tão importantes quanto as informações para relatórios fiscais. 

Em termos de desenvolvimento do conhecimento e prática, a década de 1980 foi um período dourado para os profissionais que buscavam mais orientações na aplicação dos princípios contábeis convencionais à agricultura e na melhoria de suas atividades de relatórios e auditoria. Empresas de contabilidade e órgãos profissionais publicaram relatórios e guias para ampliar e aprofundar o conhecimento profissional. A Arthur Andersen and Company produziu um estudo, The Management Difference: Future Information Needs of Commercial Farmers and Ranchers (1982), para oferecer novas perspectivas sobre o papel das informações contábeis. O Instituto Canadense de Contadores Públicos lançou o Accounting and Financial Reporting by Agricultural Producers (1986) e o American Institute of Certified Public Accountants lançou o Audits of Agricultural Producers and Agricultural Cooperatives (1987), fornecendo diretrizes para a aplicação de princípios convencionais a uma ampla gama de atividades agrícolas e aumentando o escopo para relatórios financeiros e auditoria na agricultura. Em particular, o AICPA fez uma contribuição valiosa ao delinear as questões de auditoria para categorias de ativos agrícolas: culturas de campo e linha, pomares e vinhas, plantas de vida intermediária, animais de reprodução e produção, animais mantidos para venda e custos de desenvolvimento de terras.


Paralelamente a essas diretrizes, houve publicações profissionais e boletins técnicos para abordar questões específicas de contabilidade e relatórios na agricultura. A New Zealand Society of Accountants lançou várias publicações abordando assuntos relacionados à horticultura, silvicultura e criação de cavalos. Uma revisão mais abrangente de questões de contabilidade financeira é fornecida em Roger Hugh Juchau, Murray Clark e Jack Radford, Agricultural Accounting: Perspectives and Issues (1989), onde os desafios e questões de pesquisa na contabilidade para a produção agrícola foram discutidos por vários autores e autoridades. Os desafios apresentados para a contabilidade agrícola pelo desenvolvimento de estruturas conceituais serão explorados em um documento de discussão publicado pela Australian Accounting Research Foundation, Accounting for Self-Generating and Regenerating Assets (1995). 

A agricultura continuará desafiando o contador profissional. Desafios tradicionais, como lidar com ciclos de produção curtos e longos difíceis de acelerar, retardar ou redirecionar; resolver objetivos de fornecimento de informações para fins fiscais ou tomada de decisões; lidar com dados vivos, variáveis e imprecisos; fazer alocações de custos intra e inter período e intra e inter empresa, persistirão e serão ampliados pelas contínuas mudanças em tecnologias e pelo surgimento de novos sistemas de produção biológica. A agricultura abrange diversas atividades de produção, culturais e de distribuição. Novas formas de agricultura surgirão para atender às futuras necessidades de alimentos, fibras, energia e estética. A estrutura convencional de relatórios contábeis será testada à medida que lida com eventos e transações decorrentes de novos modos de agricultura e relacionamentos econômicos associados.

O livro em questão foi redigido nos anos noventa e por este motivo não apresenta eventos mais recentes. Entretanto, os desafios apresentados no final do parágrafo expressam, de certa forma, a realidade atual. 

Foto: Olivia Hutcherson . Tradução ChatGPT

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Norma contábil na agricultura

Norma contábil na agricultura

Eis o que diz o primeiro parágrafo da introdução do capítulo 31, Agricultura, do livro 2020 Interpretation and Application of IFRS Standards, Wiley, 2020:


Historicamente, as atividades agrícolas receberam pouca atenção dos órgãos de padronização contábil do mundo. Isso pode ter ocorrido porque os principais órgãos de padronização contábil nacionais e internacionais são os dos Estados Unidos e do Reino Unido, cujas economias dependem muito menos da agricultura do que muitas nações menos desenvolvidas do mundo. Para os países em desenvolvimento, a agricultura é de fato desproporcionalmente significativa, e dado o papel do IASC em estabelecer normas de relatórios financeiros para esses países, era de se esperar esse foco na agricultura. A culminação desse longo projeto, IAS 41, é de longe o tratamento mais abrangente desse tópico de relatórios financeiros já empreendido.

Foto: Olivia Hutcherson . Tradução ChatGPT

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05 novembro 2012

Commodities agrícolas, câmbio e inflação

Não é segredo que o Banco Central trata o recente aumento do preço internacional de commodities agrícolas como um “choque de oferta”, com implicações fortes para a política monetária. Pressupõe-se que seja um fenômeno semelhante à elevação das tarifas de serviços públicos, ou dos preços de petróleo, que tendem a elevar a inflação e reduzir a renda, limitando a propagação do aumento inicial de preços.


[...] A questão é saber se podemos caracterizar a seca nos EUA, que contraiu a produção agrícola naquele país, como um choque de oferta do ponto de vista do Brasil? Tenho dito que não. Os preços se elevaram, mas, como o Brasil é exportador líquido destas commodities, o efeito sobre a renda nacional é positivo: não há plantador nacional de soja chorando pela quebra da safra americana. Na perspectiva deste fazendeiro o que houve foi um aumento na demanda por seu produto, levando a preços internacionais mais elevados.

Na verdade, na visão do fazendeiro brasileiro o motivo para alegria é ainda maior. Não houve apenas aumento dos preços em dólar, mas também um aumento dos preços medidos em reais, elevando adicionalmente sua renda às expensas dos consumidores nacionais, em particular a fração mais pobre da população, cujo gasto com alimentos compromete parcela maior do seu orçamento (argumento algo demagógico, sim, mas não menos verdadeiro).

Alguém poderia imaginar que isto é inevitável: se os preços aumentam lá fora devem também subir por aqui e que, portanto, nada poderia ser feito, mas a evidência sugere precisamente o contrário.

Começo notando que de 2006 a 2010, a despeito de uma elevação considerável dos preços internacionais de commodities (em torno de 35%), os preços em reais subiram consideravelmente menos (9%). O motivo é claro: a elevação dos preços das commoditiescorresponde a um aumento dos preços das exportações brasileiras relativamente às importações. Tal melhora de termos de troca tende a fortalecer a moeda, atenuando o impacto dos preços.

Em contraste, a recente elevação de preços internacionais de commodities se traduziu integralmente sobre preços domésticos porque a taxa de câmbio, ao contrário do ocorrido anteriormente, foi mantida fixa.

[...] Foi, portanto, a política brasileira de manipulação do câmbio que implicou a elevação dos preços domésticos de commodities. Caso a moeda flutuasse de verdade, o real provavelmente teria de apreciado em linha com as demais e estaria hoje entre R$ 1,70-1,80/US$. Neste caso os preços domésticos de commodities seriam em torno de 15% mais baratos e a inflação consideravelmente mais baixa.

Este resultado traz duas conclusões relevantes. Em primeiro lugar que, conforme argumentado, a elevação de preços domésticos de commodities nada tem de choque de oferta. Revela, além disso, os limites muito claros da possibilidade de manter a inflação na meta quando o BC tem como um de seus objetivos principais fixar a taxa de câmbio. Nada que não soubéssemos; apenas o que nossas autoridades resolveram ignorar.

18 julho 2012

Subsídios Agrícolas

Subsídios em países desenvolvidos seguem elevados
Assis Moreira
Valor Econômico, 11/07/2012


Os subsídios agrícolas concedidos pelos países desenvolvidos alcançaram US$ 252 bilhões em 2011, ou 4,6% a mais do que no ano anterior, segundo levantamento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que ainda será publicado e ao qual o Valor teve acesso.

A entidade ressalta que a alta registrada foi em dólar. O valor em euros (182 bilhões) permaneceu idêntico ao de 2010. O volume representa 19% das receitas agrícolas totais na OCDE, o menor nível observado desde que a entidade começou a calcular o apoio aos agricultores nos anos 1980. No ano passado, a OCDE havia publicado que os subsídios de 2010 tinham representado 18% da receita total, mas agora o índice subiu para 20%, com a sua revisão.

A organização utiliza uma metodologia própria para medir a proteção ao setor agrícola. É a Estimativa de Apoio ao Produtor (PSE, na sigla em inglês), um indicador do valor monetário bruto anual transferido por consumidores e contribuintes como apoio aos agricultores.
O recente declínio no apoio aos produtores ocorreu em virtude do aumento no preço das commodities no mercado mundial, mais do que em razão de mudanças nas políticas agrícolas. Com as cotações dos produtos em alta, agricultores americanos, europeus e asiáticos precisaram de menos ajuda.


Em todo caso, os subsídios que causam uma distorção no comércio - definidos como pagamentos baseados na produção - ainda representam 51% do total, comparados aos 86% entre 1986 e 1988.
Alguns países tentam cortar a ajuda ligada à produção e implantam o pagamento baseado em área histórica, número de rebanho, renda agrícola, etc. Quanto menor a ajuda ligada à produção, o produtor terá menos necessidade de aumentar a colheita com o objetivo de obter maiores subsídios.


A Nova Zelândia continua a dar o menor apoio aos seus agricultores, de apenas 1% da renda agrícola, e na Austrália são concedidos 3%. Os campeões continuam a ser Noruega (58%), Suíça (54%), Islândia (48%) e Coreia (45%). Na União Europeia, os subsídios alcançaram US$ 103,1 bilhões, equivalente a 18% da renda agrícola. Na média, os agricultores recebem 5% a mais do que os preços praticados no comércio mundial. Mas alguns produtos tem benefícios maiores, como o caso do açúcar (preços 6% mais altos), carnes bovina e ovina (20% superior), além de barreiras para importações que permitem que produtores de frangos ganhem 50% mais que os preços de mercado.

Nos EUA, a ajuda alcançou US$ 30,5 bilhões, representando 8% da renda agrícola, abaixo da média da OCDE. Os preços ao produtor eram 13% mais altos do que no mercado internacional entre 1886 e 1988, mas recuou para 1% entre 2009 e 2011. O maior subsídio foi concedido para o setor açucareiro.

No Japão, o apoio aos agricultores totalizaram US$ 61 bilhões no ano passado contra os US$ 55,2 bilhões em 2010. Os preços recebidos por eles eram 1,8 vezes mais altos do que no mercado mundial. Na Coreia, os subsídios são voltados principalmente para a produção de arroz.
Após décadas de declínio nos preços reais das commodities agrícolas, a OCDE avalia que no médio prazo as cotações vão se manter elevadas. O mercado passa a oferecer boa remuneração aos agricultores que antes precisavam de dinheiro público.


A expectativa da entidade é de que com o crescimento significativo da demanda, as pressões por recursos limitados e os efeitos incertos das mudanças climáticas, façam com que os governos tenham uma boa oportunidade para cortar os subsídios agrícolas.

15 julho 2012

Produtividade Agrícola

A produtividade da agricultura brasileira cresceu o dobro da média mundial na ultima década, ou cerca de 4% ao ano, segundo levantamento da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que ilustra a potência do setor no país. O rendimento de culturas como milho, arroz e trigo aumentou bem mais do que em países produtores tradicionais, como Estados Unidos, Canadá, Japão e Rússia.

Conforme a OCDE, o aumento da produtividade na agricultura tem convergido entre as principais regiões do mundo para cerca de 2% ao ano depois da Segunda Guerra mundial. No entanto, alguns grandes países como Brasil, China, Indonésia, Rússia e Ucrânia conseguiram taxas muito mais altas, entre 3% e 5% ao ano. O crescimento da produtividade brasileira passou de 0,9% ao ano, em média, entre 1961 e 1970, para 4,04% entre 2001 e 2009. Rússia e Ucrânia, que saíram de níveis baixíssimos, conseguiram altas de 4,29% e 5,35% ao ano, respectivamente, na última década.

No caso dos EUA, um dos maiores produtores mundiais, o ganho médio de produtividade aumentou de 1,21% para 2,26% ao ano na última década. Mas houve um declínio em vários membros da ODCE, como Austrália, Canadá, Coreia do Sul e México. Isso se explicaria pelas mudanças no clima e nas políticas agrícolas, aumento das exigências ambientais e falta de investimento em inovações. A Austrália, por exemplo, diminuiu gastos com pesquisas e desenvolvimento.

A produtividade do trabalho agrícola cresceu mais rapidamente do que a da terra em vários países da OCDE. Já na América Latina e na China, o crescimento foi forte em ambos os casos, com cerca de 4,5% ao ano na China entre 1990 e 2005, e 3% na América Latina. Os índices contrastam com o restante da Ásia e da Africa, que tiveram expansão de apenas 1% ao ano.
O rendimento das principais culturas dobrou ou triplicou no mundo entre 1961 e 2010. A produção por hectare continua aumentando, mas ela não se reflete em alguns cereais que, por sinal, tiveram médias mais baixas nas duas últimas décadas do que as registradas no pós-guerra. Desde 1980, o crescimento no rendimento do trigo e do milho recuou de 2,4% para 1%. O milho subiu ligeiramente para 2% ao ano, mas a soja caiu de 1,6% em 1970 para menos de 1% na década passada no mundo.

Em relação ao Brasil, a produção por hectare de arroz cresceu 3,7% ao ano entre 2000 e 2010. Na Rússia, a alta de 4,8%, nos EUA de 1,2% e no Japão e no México, de apenas 0,3%, no mesmo período. A produtividade do milho cresceu 3,3% ao ano no Brasil, pouco se comparado aos 6% da África do Sul, mas superior aos aumentos dos EUA (1,6%) e do México (2,7%). O trigo registrou aumento na produtividade de 3,2% por ano no Brasil, quase o dobro em relação à década anterior, e acima de Canadá (2,1%), EUA (1,8%) e Rússia (2,5%).

Nas últimas décadas, o uso de terra em agricultura cresceu nas nações em desenvolvimento, mas diminuiu nos países ricos; globalmente, a agricultura representa 70% do uso de água fresca. Nos países da OCDE, a taxa cai para 45%.

08 julho 2012

Muito ou pouco?

Roberto Rodrigues - Muito ou pouco?


(...)E a agricultura? A versão final do documento em inglês tem 24.163 palavras. E a palavra "agricultura" aparece somente seis vezes (uma delas na digitação por extenso do nome da FAO). Só seis vezes! E todas elas acompanhadas do adjetivo "sustentável".

É muito pouco para um dos setores mais importantes do mundo para tratar do combate à pobreza, para resolver a segurança alimentar, para preservar recursos naturais, para se preocupar com a água etc.
Muito pouco. A palavra "rural" aparece mais vezes, 20 no total, mas sempre se referindo a algo ligado ao campo: mulher rural, comunidade rural, área rural, infraestrutura rural, desenvolvimento rural, pobreza rural. Tudo em tese, nada concreto.

E uma novidade: a palavra cooperativa aparece três vezes, embora apenas uma vez como cooperativa agrícola.

Esse é o documento da ONU, a mesma instituição que nomeou 2012 como o "Ano Internacional do Cooperativismo"? Muito ou pouco?

Bem, isso é página virada. Agora, vamos trabalhar para valer na construção de um moderno Código Agroambiental. Aí teremos nossa própria estratégia de desenvolvimento sustentável, a Brasil 21.


ROBERTO RODRIGUES, 69, é embaixador especial da FAO para o cooperativismo, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e professor de Economia Rural da Unesp - Jaboticabal.

28 junho 2012

Agricultura e Câmbio



Com o dólar a R$ 2 a agricultura ganha ou perde?
De maneira geral ganha, porque boa parte de nossa produção rural -a de exportação- tem seus preços estabelecidos em dólar. Ora, como o produtor brasileiro recebe em reais, quanto mais valorizado o dólar, tanto mais reais ele receberá por unidade produzida. Em outras palavras, ganha mais.

Mas há um risco embutido nessa questão: os agricultores estão, exatamente neste momento, comprando seus insumos para o plantio da safra de verão. Grande parte deles é importada, e os preços já subiram em dólar, como é o caso das matérias-primas para fertilizantes. Portanto, os custos de produção vão aumentar. Qual é o risco? É comprar insumos com o dólar valorizado e vender a produção com o real valorizado: isso seria ruim, provocaria o descasamento da renda -como já aconteceu outras vezes no passado-, levando ao endividamento os produtores que estiverem muito alavancados.

Felizmente, a situação das dívidas rurais hoje é muito menor do que em anos anteriores, como em 2004, por exemplo, quando aconteceu um movimento parecido com esse. Os últimos três anos permitiram certa capitalização do campo, e os produtores estão usando mais capital próprio e menos crédito.

Mas mesmo que os preços em dólar não caiam muito e o dólar não desvalorize, a tendência para a safra 2012/2013 é de redução das margens em relação aos últimos anos.
A isso se soma outra incerteza: a crise europeia. Ela está durando mais do que se imaginava há alguns meses e se agravando em outros países além da Grécia. Com isso, especuladores caíram fora do mercado agrícola e trataram de procurar outros ativos de menor risco, como o próprio dólar. E este também se valoriza com isso.

Mas pior será se a crise atingir a economia de países emergentes, causando retração do comércio e queda da demanda por alimentos. Não é muito provável que isso aconteça, mas é possível. E, se acontecer, os preços das commodities agrícolas cairão de verdade, em dólar, logicamente, e isso teria reflexos negativos na renda rural de produtores do mundo todo, inclusive aqui.

É bem verdade que os preços estão em patamares tão acima das médias históricas que precisam cair bastante para voltar a níveis que não cubram os custos de produção no Brasil. Dessa forma, os riscos não são muito grandes. Mas o nível de incerteza é tanto neste mundo conturbado, a agricultura é por si mesma uma atividade tão arriscada que pode acontecer uma conjunção de fatores negativos, do tipo:

1) Os custos de produção sobem devido ao dólar valorizado;

2) O dólar desvaloriza na hora de vender a safra;

3) Os preços globais caem em dólar por causa da crise europeia aprofundada, reduzindo o consumo e a demanda por commodities agrícolas em geral.

Seria muito azar se isso tudo acontecesse, de modo que a probabilidade dessa conjunção é pequena. E seguramente não teremos La Niña na próxima safra. E como o nível de endividamento não é mais o que foi no passado, o setor está bem mais capitalizado. Juntando tudo, não há razão para ser pessimista, ainda.

Mas que as margens vão diminuir, vão. Então, também não há razão para nenhuma euforia.
É tempo de cautela e caldo de galinha, de não dar o passo maior que a perna, de não fazer muita onda. Ou, como se fala na roça: é tempo de botar as barbas de molho.

Até porque, os vetos colocados no projeto da Câmara dos Deputados sobre o Código Florestal -e mais a medida provisória editada para completar a legislação pertinente ao tema criaram alguma incerteza a mais. A medida provisória já está em vigor, mas poderá ser alterada ainda neste ano no Congresso, uma mecânica legislativa complexa. Mas, eventualmente, a legislação definitiva pode até demorar um pouco mais, sem falar em outras possibilidades já aventadas, como Adin, mandado de segurança etc.

Mais molho para as barbas...

Roberto Rodrigues, 69, é embaixador especial da FAO para o cooperativismo, coordenador do Centro de Agronegócio da FGV e professor de Economia Rural da Unesp -

22 maio 2012

Frase


Para o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, José Carlos Vaz, o setor precisa aprimorar sua gestão. "O produtor precisa ter uma contabilidade clara, ter os custos de produção e comercialização bem definidos e precisa se capitalizar, para usar a colheita bem sucedida como financiamento para a próxima safra, o que reduz a necessidade de ir ao banco", disse.

Fonte: Colheita do futuro - Autor: Roberto Rockmann Para o Valor, de São Paulo
Valor Econômico - 14/05/2012
Foto: técnica de cultivo agrícola conhecido por Plantio Direto.

29 fevereiro 2012

Alho da China


Nem o alho escapa da lista de produtos chineses que incomodam o Brasil. Desde 2007, os produtores brasileiros conseguiram garantir a sua fatia no mercado nacional com a aplicação de medida antidumping contra o similar chinês, que chega aqui por um preço menor do que aquele praticado no país de origem. Mas a medida perde a validade este ano e a Associação Nacional de Produtores de Alho (Anapa) está elaborando um pedido de prorrogação da restrição.

- Sem a medida antidumping, os produtores podem mudar de profissão. Não será possível mais produzir alho aqui. Trata-se de uma cultura muito artesanal, que demanda muita mão de obra, o que na China é bem mais barato do que aqui por razões conhecidas - afirma Rafael Corsino, presidente da Anapa e diretor da Wehrmann, uma das maiores empresas do Brasil no segmento.

Corsino lembra que na China existem 20 milhões de produtores, uma cidade de São Paulo, enquanto no Brasil o setor é bem menor:

- Aqui, não passamos de três mil. Por sorte, eles são grandes consumidores de alho e, por isso, só exportam 5% do que produzem. Se vendessem 10%, acabavam com a cultura no resto do mundo.

Desde os anos 90, com a abertura do mercado brasileiro ao comércio exterior, o país importa alho. Os produtores brasileiros, que forneciam 90% do que era consumido internamente à época, hoje só abastecem o mercado local com 30% do total. Em janeiro último, foram importadas no Brasil um total 941.414 caixas de alho da Argentina, enquanto da China vieram 271.176 caixas.

Fonte : Jornal "O Globo" 22/02/2012

12 janeiro 2012

Evolução da safra de cereais, leguminosas e oleaginosas

O gráfico abaixo mostra como têm evoluído as safras de cereais, leguminosas e oleaginosas no Brasil nos últimos 22 anos. Em 2012, a previsão do IBGE é de uma produção de 160,3 milhões de toneladas (0,3% a mais do que foi produzido em 2011) e de uma área a ser cultivada de 50,0 milhões de hectares (um avanço de 2,7% sobre a área plantada no ano anterior). Mas há sinais amarelos: neste momento, a estiagem começa a castigar as plantações no Sul e do Centro-Oeste e as enchentes, as do Sudeste.

Mesmo com a pouca utilização de tecnologia nos campos brasileiros, é uma produtividade fantástica.


01 outubro 2010

Brasil, a fazenda do mundo


O gráfico mostra a participação do Brasil na produção (mais claro) e exportação de diversos produtos agrícolas (e a posição no ranking mundial), como suco de laranja, açúcar, soja, frango etc.

27 agosto 2010

Agricultura Brasileira

O surpreendentemente é que o Brasil tem feito tudo isso sem muito subsídio do governo. Segundo a Organização para a Cooperação Económica e o Desenvolvimento (OCDE), o apoio estatal é responsável por 5,7% da renda agrícola total no Brasil entre 2005-07. Pode-se comparar com 12% nos Estados Unidos, 26% para a média da OCDE e 29% na União Europeia. E o Brasil tem feito isso sem desmatar a Amazônia (embora isso tenha acontecido por outras razões)


The miracle of the cerrado - The Economist - 26 de agosto de 2010

A resposta da revista: Embrapa. Mais aqui

08 julho 2008

Impacto da IFRS na agropecuária

IFRS irá aumentar lucro dos balanços do agronegócio
Gazeta Mercantil - 08/07/2008

A implantação do padrão contábil internacional, o International Finance Reporting Standard (IFRS), pode trazer surpresas positivas para o agronegócio. Segundo interpretação da empresa de consultoria e auditoria Terco Grant Thornton, membro da rede Grant Thornton International, a norma contábil prevista no International Accounting Standard (IAS) 41, vai aumentar os lucros das companhias. Essa norma estabelece critérios para contabilização de produtos do agronegócio, que são chamados de ativos biológicos (plantas e animais). A divulgação das demonstrações contábeis em IFRS é obrigatória para todas as companhias abertas a partir de 2010.

De acordo com Daniel Maranhão, sócio da consultoria na área de IFRS, o IAS 41 considera a valorização dos produtos ao longo do crescimento e não apenas na hora da sua venda. "Com isso, o lucro da empresa vai crescendo mês a mês e não apenas na época da sua venda", afirma. A nova forma de contabilização evita uma explosão de ganho na hora da venda, que pode distorcer a avaliação da empresa, acrescenta.

Pela norma internacional, os ativos biológicos devem ser mensurados pelo valor justo e não pelo custo de plantio como é feita a contabilização pelas regras brasileiras, conta Maranhão. "Se ao encerrar o balanço, a planta, por exemplo cana ou eucalipto, estiver no meio do crescimento, o preço será ajustado até a data do crescimento, o que aumenta o valor do ativo e, consequentemente da receita a ser lançada pela empresa no balanço." O ajuste é feito pela transformação ocorrida, o que é calculado por laudos técnicos realizados por engenheiros agrícolas que são anexados ao balanço, conforme Maranhão.

O valor justo é obtido com base em cotação desses disponíveis no mercado. No caso de não existir um mercado para o produto, a norma prevê os seguintes passos para a sua determinação: transações recentes; valor de mercado para ativos similares; ou alguma outra medida de mercado que possa ser trabalhada para auxiliar na determinação de um valor justo para o produto.

A partir de sua determinação, o valor justo para a data da colheita passa a ser o custo histórico dessa produção agrícola que deve ser tratada de acordo com a norma de contabilização de estoques prevista na norma IAS 2, descreve o consultor da Terco.

Os custos referidos na norma incluem comissões pagas a intermediários e tributos em geral associados à transação de venda/ transferência e não incluem custos de transporte e outros necessários para a venda do produto.

No Brasil, a contabilização é feita a partir da estimativa do valor de custo original do produto, ou seja, inclui os custos do ciclo operacional na medida de sua transformação, incluindo custos tais como sementes, irrigações, adubos, conta o consultor.

Em 2007, a Terco registrou um crescimento de 50% em seu faturamento em relação a 2006.(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 1)(Lucia Rebouças)

03 junho 2008

Custos no Cone Sul

Cone Sul terá sistema de informações sobre custos
Valor Econômico – 30/5/2008

Em meio à disparada dos preços dos alimentos e a necessidade de encontrar soluções para conter os reflexos sobre a inflação, os governos do Cone Sul descobriram que faltam informações confiáveis sobre os custos de produção. Sem dados mais precisos, não conseguem tomar medidas efetivas capazes de garantir o equilíbrio entre a produção, o consumo doméstico e os excedentes exportáveis e ficam sujeitos à especulação.
O diagnóstico foi feito na quinta-feira em uma reunião extraordinária dos Ministros de Agricultura do Conselho Agropecuário do Sul (CAS), que reúne os quatro sócios do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), mais Chile e Bolívia.Na reunião, realizada em Montevidéu (Uruguai), os ministros decidiram formar uma rede de informações próprias de cada país sobre a evolução de custos da cadeia de produção e distribuição, que melhore a capacidade de gerenciamento da crise. Essa rede poderá ser integrada entre os países-membros no futuro.
"Vamos criar um sistema de intercâmbio de informações, que é uma das maneiras de evitar a especulação", afirmou o ministro de Agricultura do Uruguai, Ernesto Agazzi. (...)


Será possível isso? Observe que os produtores dos países são concorrentes e o intercâmbio de informações pode ser prejudicial para cada país.

06 maio 2008

Quem ganha com a crise dos alimentos?

Segundo análise de David Kesmodel, Lauren Etter e Aaron Patrick para o Wall Street Journal (Grain Companies' Profits Soar, 30/4/2008, p. A1): as empresas de grãos.

Enquanto o mundo está preocupado com o aumento nos preços dos alimentos e os efeitos sobre a população mundial, as grandes processadoras de grãos apresentaram resultados contábeis no mínimo interessantes. A Archer-Daniels-Midland aumentou o lucro em 42%. Resultados similares ocorreu com a Monsanto Co. (herbicidas e sementes), Deere & Co. (equipamentos) e Mosaic Co. (fertilizantes).

A primeira figura compara o lucro dessas empresas e o aumento no preço de alguns produtos.



A segunda figura, as empresas ganhadoras e as perdedoras.

29 abril 2008

Custos e Agronegócios

Saiu o novo número da revista Custos e @gronegócio, de janeiro/abril de 2008 (clique aqui). Os artigos são os seguintes:

1. Como as empresas classificadas no Índice de Sustentabilidade Empresarial evidenciam os custos e investimentos ambientais?
2. Custos ocultos e agronegócio
3. Custos de produção, expectativas de retorno e de risco do agronegócio mel no Planalto norte de Santa Catarina
4. Estudo dos fatores determinantes para a variação do curso dos insumos e do preço da soja no Estado do Rio Grande do Sul após o Plano Real
5. Uma análise da estrutura de custos do setor sucroalcooleiro brasileiro
6. Produção conjunta e decisões gerenciais: O caso de uma empresa de exportação de madeira tropical
7. Custos do cultivo do melão amarelo na safra 2006/2007: Um estudo de caso na empresa Santa Júlia Agro Comercial Exportadora de Frutas Tropicais Ltda

23 abril 2008

Subsídios e Preço dos produtos agrícolas


O aumento do preço dos produtos agrícolas tem gerado preocupação mundial. Basta lembrar que a capa da última The Economist compara o efeito dos elevados preços com um tsunami.

Sardenberg acredita que o Brasil possui parcela de culpa na história em razão do cultivo de cana para combustível.

Outra conseqüência é o aumento na volatilidade do preço de produtos agrícolas, que tem preocupado os agricultores dos países desenvolvidos. Aqui uma reportagem do New York Times que mostra esse efeito.

Uma análise sob a ótica do investidor, aqui um link, que analisa a empresa Cosan (CZZ).

04 março 2008

Um erro de 7 bilhões


A empresa de agronegócios Bunge irá refazer suas demonstrações em virtude de um erro de 7 bilhões, informou Stephen Taub, da CFO (Bunge Finds a Sales Error: $7B Worth).

As a result of these reviews, management said it has determined that the effect in 2006 and 2005 was immaterial.

"Bunge is remediating the control deficiencies that led to the need for these corrections, and which the company has determined constitute material weaknesses in its internal control over financial reporting in 2007," it stated in a press release.


É interessante notar que em 2006 o WSJ (e este blog) já comentava, num artigo, a contabilidade confusa da empresa. Clique aqui para conferir isto