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21 fevereiro 2018

Portugal não é um país sério

Sabe o acordo ortográfico? Assinado em 1990, o acordo era uma tentativa de convergir na unificação da língua portuguesa escrita. Em julho de 2010 entrou em vigor em diversos países. Agora, um grupo de políticos está propondo que Portugal não faça parte do acordo e uma renegociação do mesmo:

Os deputados debatem esta quarta-feira, 21 de fevereiro, a proposta do PCP de desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico, a par de uma petição com mais de 20 mil assinaturas no mesmo sentido.

O projeto dos comunistas “recomenda o recesso de Portugal do Acordo Ortográfico de 1990, acautelando medidas de acompanhamento e transição, a realização de um relatório de balanço da aplicação do novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa e uma nova negociação das bases e termos de um eventual Acordo Ortográfico”.

18 janeiro 2013

Des(acordo) ortográfico

Quem cravou essa expressão – (des)acordo ortográfico – foi o conhecido professor Pasquale Cipro Neto. E agora a presidente Dilma resolveu adiar para 2016 a oficialização da nova ortografia. Segundo Cipro Neto, o “(des)acordo ortográfico é um verdadeiro horror”. Penso que o acordo acertou numas coisas, errou em outras e conseguiu estabelecer confusões várias. 

Acho bom acabar com o trema. Acho realista botar no alfabeto as letras k, w, y. Primeiro porque tais letras não são mais estrangeiras. Segundo porque grande parte da população inventou nomes exóticos para os filhos com y, w e k, como se estivessem recuperando o tupi-guarani por meio do inglês. Mas é um equívoco não diferenciar o verbo “pára” da preposição “para”. Faz falta. E não faz sentido ter que escrever “antirreligioso” sem hífen, com os dois erres, e botar hífen em “hiper-requintado”.

Mas, além dessas minúcias, as falácias do acordo estão nos seus pressupostos. Vejamos:

1) “Melhorar o intercâmbio cultural entre os países em que se fala o português.”
 Isto é falso. O intercâmbio cultural entre o Brasil e outros seis países de língua portuguesa existirá não por causa da presença/ausência de um trema, um hífen ou acento diferencial. O intercâmbio cultural só existirá se o Ministério da Cultura e o Itamaraty tiverem uma política cultural. Não têm. Vivem de expedientes e improvisações. Testemunhei isto de perto durante os seis anos em que dirigi a Fundação Biblioteca Nacional. Não há projetos, nem coordenação. Com todas as dificuldades, o pequenino Portugal faz mais pela divulgação de sua cultura do que nosso gigante adormecido. 

2) “Reduzir o custo econômico da produção e tradução de livros.”
Outra falácia. As editoras gastaram fortunas reeditando livros na nova ortografia. As dificuldades linguísticas não acabam tirando ou botando acentos. As principais dificuldades da língua são naturais e não têm solução. São regionalidades inevitáveis. Cada língua cria seu vocabulário, sua semântica e até variações sintáticas. Se esse quesito fosse verdadeiro, Guimarães Rosa jamais seria lido em Portugal e na África. 

3) “Facilitar a difusão bibliográfica e das novas tecnologias.”
Isto é uma abstração. Primeiro porque os acentos e hifens nunca atrapalharam o entendimento em português. Em segundo lugar, assim como o latim era a língua em que até recentemente os filósofos e cientistas se comunicavam, hoje o inglês é esse esperanto universal. Onde há pesquisa avançada criam-se termos, por isso a grande maioria das palavras importantes em tecnologia são em inglês. Nem o francês nem o alemão podem concorrer com o inglês neste campo.

4) “Aproximar as nações de língua portuguesa.”
Outro equívoco. Não é a ausência do hífen, do acento diferencial e do trema que vai nos redimir culturalmente. O que separa o Brasil dos demais países de língua portuguesa é a incúria brasileira. Nossas novelas de televisão, a música popular e a literatura que chegam a Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e Portugal, e não representam nem 10% do que se pode fazer ordenadamente. Aliás, os industriais, os exportadores, os comerciantes brasileiros que se instalaram na África e na Ásia teriam muito que ensinar aos intelectuais. Tais empresários nem sabem o que é hífen e tremem ao usar o trema, no entanto…


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Fonte; aqui