O grupo Agrenco, que abriu seu capital em outubro do ano passado, teve seus principais executivos presos na operação Influenza da Polícia Federal (Executivos de megaexportadora de soja estão entre os presos, Patrícia Cançado , O Estado de São Paulo, 21/06/2008) .
As acusações são de estelionato, formação de quadrilha, falsidade ideológica, uso de documentos falsos e lavagem de ativos.
A partir da constatação de que a empresa recolhia ISS em Itajaí, apesar de não operar no porto de Santa Catarina, chamou a atenção e iniciou as investigações.
Num dos golpes, há indícios de que os três sócios da Agrenco simularam compra de grãos desse produtor e pegaram nota fiscal inidônea. “Em vez de pagar a fatura para o produtor, o dinheiro era dado a um laranja, que distribuía os lucros para todos. O laranja, por acaso, é parente do produtor. Ele recebeu algumas dezenas de milhares de dólares para emprestar a conta bancária”, explica o delegado, que pediu anonimato.
Segundo informações do último balanço financeiro da companhia, a Agrenco é responsável por quase 15% da soja exportada pelo Brasil. Caso as investigações comprovem as operações fictícias, apenas uma parte desse volume realmente foi comprada e vendida.
Os sócios também são acusados de trazer dinheiro de suas contas particulares no exterior para o Brasil por meio de contratos fictícios de prestação de serviços de consultoria. Segundo a PF, as empresas eram criadas para esse fim e desfeitas após a distribuição do dinheiro.( Executivos de megaexportadora de soja estão entre os presos, Patrícia Cançado , O Estado de São Paulo, 21/06/2008)
Conforme normas brasileiras, a empresa Agrenco, que é uma empresa com ações na Bovespa, foi considerada vítima pois os três sócios estariam lesando os outros acionistas.
A conseqüência é que no dia anterior o preço das ações caiu quase 50%, o que determinou a suspensão das negociações.
Para manter a saúde aparente da empresa, os sócios teriam forjado documentos, segundo investigação da PF. No começo do ano, a KPMG, responsável pela auditoria da Agrenco, identificou cerca de 60 irregularidades no balanço, que depois teriam sido sanadas, afirma a polícia. Em 2007, o grupo faturou R$ 3,4 bilhões e teve um prejuízo de R$ 123 milhões. Sua dívida supera R$ 1 bilhão.
A contabilidade da Agrenco é naturalmente complexa. O grupo, criado há 16 anos na França por Iafelice, é formado pela Agrenco do Brasil S.A.; pela Terlogs, que opera o Terminal Marítimo de São Francisco do Sul; por empresas de distribuição na Itália, Reino Unido, Cingapura e Ilha da Madeira, em Portugal; pela Agrenco Argentina; pela Agrenco Shipping and Chartering, do ramo de fretes marítimos; pela Finacom (com sede em Malta), de serviços financeiros. Na Noruega, possui ainda 40% do capital da Danofa, uma das principais processadoras e distribuidoras de soja do norte europeu. ( Executivos de megaexportadora de soja estão entre os presos, Patrícia Cançado , O Estado de São Paulo, 21/06/2008)
Em outro texto (PF prende 24 por crime financeiro, Júlio Castro, 21/06/2008, O Estado de São Paulo) a imprensa detalha mais os problemas da empresa:
Segundo a PF, a organização fazia operações cambiais ilegais, ocultava bens, rendas e movimentações financeiras com a participação de “laranjas”, além de operações comerciais simuladas com o uso de documentos falsos e fraudes em licitações. Há indícios de que a quadrilha corrompia servidores públicos de todas as esferas e níveis para alcançar seus objetivos, notadamente nos portos das cidades catarinenses de São Francisco do Sul e de Itajaí.
A PF apurou a existência de fortes indícios de fraudes em licitações promovidas pelo Porto de Itajaí/SC, como ajuste prévio de vencedora, afastamento irregular das demais concorrentes e superfaturamento dos serviços contratados. Além disso, os presos articulavam-se para praticar crimes contra o mercado acionário, ou seja, adquiriam papéis da empresa Agrenco SA, visando ao lucro indevido. A empresa exporta e importa grãos. As penas previstas para os crimes ultrapassam 50 anos de prisão, além de multas.
Como todo bom escândalo, na véspera a negociação dos papeis da empresa foi anormal:
Segundo um analista, a companhia é alvo de desconfiança há alguns dias. O volume médio de negociações, sempre abaixo de R$1 milhão, chegou a R$13 milhões na segunda-feira. A Bovespa pediu esclarecimentos, e a empresa alegou que a oscilação se deveria à convocação de uma assembléia, em 11 de julho, para discutir a emissão de 25 mil novas ações. No mesmo dia, a produtora de equipamentos Hunter do Brasil pediu a falência de uma subsidiária da Agrenco.
(...) O banco Credit Suisse tem participação de 6,89%. Ontem, no Brasil, ele foi o que mais vendeu ações, num total de R$3,2 milhões.
No ano passado, o banco emprestou US$120 milhões à empresa. Em troca, coordenou o lançamento das ações na Bolsa, quando foram captados R$670 milhões. Na época, recebeu US$10 milhões em dinheiro, além de US$30 milhões em comissão. Além disso, ficou com uma participação acionária na empresa.
(PF prende 24 pessoas por lavagem de dinheiro em SP e Santa Catarina, 21/06/2008, O Globo, p. 34, Adriana Baldissarelli*e Juliana Rangel)
(Veja também a reportagem no Wall Street Journal que mostra a participação do Credit Suisse (
aqui)