Quando Pacioli publicou a Summa, este livro de matemática permitiu a divulgação do método das partidas dobradas. Mas Jacob Sell, em
The Reckoning, chama a atenção para um aspecto importante: a obra de Pacioli não teve um impacto expressivo pela forma como as pessoas do início dos anos 1500 tratavam os negócios. É bom lembrar que as cidades italianas estavam em decadência e as potências ocidentais mais fortes tinham uma estreita ligação com a religião.
Mas Sell chama a atenção para outra obra, que fez muito mais sucesso que a Summa. Trata-se de
Il Cortegiano, uma obra publicada originalmente em 1528, que foi traduzida em diversas línguas. O livro é de autoria de
Castiglione descrevia as atitudes esperadas de um cortesão (daí o título do livro). Traduzido em seis línguas, o livro afirma que o nobre ideal não deveria envolver-se com o mundo intrincado das finanças. Ele não mencionava finanças e seu livro não tinha números nem quaisquer coisas que lembrasse os negócios.
O Cortesão estava em consonância com o
neoplatonismo que teve grande importância no mundo pós-medieval. Sell lembra que
Erasmo, em “Educação de um Príncipe Cristão”, nunca mencionou nada relacionado com a contabilidade. Os jesuítas, que ensinavam geometria, navegação e engenharia, não incluía contabilidade no currículo. Talvez por este motivo a obra de Pacioli tenha sido “traduzida” em Portugal somente em partes, mas não o capítulo relacionado com as partidas dobradas. Dinheiro era sujo e esta visão foi propagada fortemente. Por consequência, a obra de Pacioli talvez não tenha tido a importância que deveria.
Prova disto está na pintura de Marinus van Reymerswaele, o contador e sua esposa, de 1539, que acompanha este texto. A Summa poderia ter influenciado as pessoas, mas ao contrário do livro O Cortesão, não foi tão lido e apreciado pela nobreza. E a visão dos comerciantes, sem escrúpulos e contrários as leis cristãs atrapalhou ainda mais a divulgação das partidas dobradas.