Embora esteja num setor em que investidores e analistas acabaram se acostumando com ajustes contábeis, tamanho o número de casos de estouros de orçamento e também de distratos, as mudanças feitas pela Rossi tiveram natureza diferente.
Ao todo, foram seis ajustes de práticas contábeis, que tiveram efeito líquido negativo de R$ 715 milhões no patrimônio líquido da empresa em junho.
A Rossi tentou explicar as mudanças em teleconferência com analistas no dia 4 de outubro. Mas diante da surpresa e da falta de detalhes, as perguntas foram poucas.
Os balanços oficiais auditados, que permitiriam um entendimento melhor do assunto pelo público externo, e também a elaboração de outros questionamentos, só foram divulgados dias depois no site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), na véspera do feriado do dia 12 de outubro — a publicação em jornais ocorreu em outro feriado, o de Finados.
Assim, persistem no mercado algumas dúvidas sobre o caso. Por que a Rossi seguia esse método diferente das demais? Por que isso foi aceito por vários anos, e agora não mais?
A empresa deu a entender que a mudança do critério teve como motivo a troca do auditor antigo, a Ernst & Young Terco, pela Deloitte, que assumiu depois do rodízio obrigatório. Mas, no primeiro trimestre deste ano, a Deloitte já era a auditora da Rossi e emitiu parecer sem fazer nenhuma menção sobre o tema.
Também não foi explicado por que a BDO RCS foi contratada para auditar os balanços republicados de 2009 a 2011, e não nenhuma das outras duas.
O Valor tem tentado desde então uma entrevista com a Rossi para obter esses e outros esclarecimentos. Mas dias depois de ela mesma marcar uma data para a entrevista, a empresa alegou que no dia agendado estaria em período de silêncio (limitação autoimposta pelas empresas, já que nenhuma regulamentação da CVM trata disso) e enviou uma nota por e-mail.
Na teleconferência, a empresa explicou que os ajustes se dividiam em dois grupos. Um deles, de R$ 610 milhões, estava ligado principalmente à mudança no critério de reconhecimento de receita e à venda de participações societárias com retenção de riscos, que causaria diferenças apenas temporais, com as contas se reequilibrando ao longo do tempo.
A outra parte do ajuste, que representou uma perda de R$ 105 milhões, não teria volta. Seria, portanto, um baixa efetiva.
Em sua apresentação, a empresa disse que essa segunda baixa estava relacionada à capitalização indevida de juros. O balanço oficial diz que esse ajuste na verdade foi de R$ 171 milhões, sendo parcialmente compensado por outras correções, resultando, de forma líquida, nos R$ 105 milhões citados acima.
A dúvida que ficou foi sobre essa segunda parte. No caso das incorporadoras, a capitalização de juros consiste em atrelar um financiamento ao custo de formação do estoque. Em vez de tratar os juros de um empréstimo como despesa financeira, a empresa considera esse valor como parte do custo do ativo. Assim, o gasto é diferido e só entra no balanço quando a receita de venda daquele estoque é registrada.
Segundo a empresa, “a capitalização de juros acima do previsto provém de uma maior classificação de passivos como dívida de projeto”. Em nota, a Rossi disse que, com uma revisão dos limites passíveis à essa classificação, “decidiu realocar dívida de projeto (cujos juros podem ser capitalizados e diferidos) para passivos corporativos (não passível de capitalização de juros)”. Ao mesmo tempo, a companhia destacou que toda a dívida estava consolidada, mesmo nos balanços antigos.
A dúvida que fica é por que a empresa tratou esse ajuste como definitivo, ou sem volta.
Isso porque uma despesa financeira reconhecida agora deixará de aparecer como custo dos produtos vendidos no futuro. Ou seja, o efeito deveria ser neutro ao longo do tempo.
Segundo uma fonte graduada na área de contabilidade que não quis se identificar, “está faltando uma perna” na explicação apresentada pela empresa. O Valor insistiu na questão, mas não obteve mais esclarecimentos.
Os valores que aparecem nos balanços reapresentados como ajuste na linha de despesas financeiras também não batem com a diferença de R$ 171 milhões no patrimônio que teria esse acerto como motivo.
Mudanças contábeis da Rossi ainda deixam dúvidas - 8 de Novembro de 2012 - Valor Online - Fernando Torres | Valor
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09 novembro 2012
16 outubro 2012
Reapresentação
A incorporadora e construtora Rossi Residencial reapresentou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), na sexta-feira, as demonstrações financeiras relativas aos anos de 2011, 2010 e 2009, acompanhadas dos formulários de informações trimestrais dos primeiro e segundo trimestres de 2012 e dos três anos anteriores.
A reapresentação das informações decorreu dos ajustes nas práticas contábeis da companhia. A Rossi afirmou ainda que todas as informações financeiras estão acompanhadas de relatórios de auditoria e revisão limitada sem ressalvas, em substituição aos anteriormente apresentados.
Fonte: Aqui
As demonstrações anteriores estavam com ressalvas?
A reapresentação das informações decorreu dos ajustes nas práticas contábeis da companhia. A Rossi afirmou ainda que todas as informações financeiras estão acompanhadas de relatórios de auditoria e revisão limitada sem ressalvas, em substituição aos anteriormente apresentados.
Fonte: Aqui
As demonstrações anteriores estavam com ressalvas?
10 outubro 2012
Rossi
Com 49 dias de prazo na apresentação do balanço do segundo trimestre, a Rossi Residencial divulgou, no fim da noite de quarta-feira, uma revisão dos dados do resultado prévio do período, entregue em 15 de agosto. O novo balanço teve alterações em praticamente todas as linhas contábeis e ainda não passou pela auditoria independente, assim como a prévia apresentada há um mês e meio.
Em comunicado enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a empresa afirmou que modificou suas práticas contábeis para um padrão mais "conservador". A adoção de tais práticas levou a empresa a revisar os resultados não apenas do segundo trimestre, mas todos desde 2009, já que o ciclo da construção é, em média, de três a cinco anos.
As informações trouxeram alguma luz, mas levantaram ainda mais dúvidas entre analistas e investidores sobre a real situação das finanças da Rossi. A incorporadora informou ter realizado ajustes totais de R$ 715,3 milhões em 30 de junho. O grosso dessa revisão, 85%, veio de uma mudança cobrada pela Deloitte, sua nova auditoria. Até o período anterior, a Rossi era auditada pela Ernst & Young Terco.
O prejuízo líquido do segundo trimestre, de R$ 9,06 milhões, virou lucro de R$ 51,3 milhões
A apropriação dos resultados e custos da parte do terreno e da incorporação de um mesmo empreendimento eram feitas de forma separada. Os números das duas etapas entravam em momentos distintos no balanço e elas tinham até margens operacionais diferentes, por serem registradas por SPE's (Sociedades com Propósitos Específicos) diferentes. Agora, as receitas e custos presumidos de um mesmo empreendimento passam a entrar juntos. A nova regra é retroativa aos últimos três anos.
Com isso, a empresa melhorou os resultados da primeira metade deste ano, mas piorou os dados referentes a 2011, 2010 e 2009. "Na prática, eles tiraram receita do passado e jogaram mais receita no presente", afirma Flávio Conde, analista da CGD Securities.
(...) O impacto negativo dos reajustes foi sentido diretamente no patrimônio líquido. Os lucros contabilizados em anos anteriores, partindo de receitas presumidas, foram estornados. Em 30 de junho, o patrimônio líquido, de R$ 2,79 bilhões na prévia de agosto, caiu para R$ 2,075 bilhões, queda de 25%. "A conclusão é que a empresa vale R$ 700 milhões a menos", afirma Conde.
Esse é o ponto mais grave também na visão de Eduardo Silveira, analista da BES Securities. "Essa baixa no PL foi maior do que a gente esperava". O analista comparou com empresas que passaram por problemas financeiros semelhantes recentemente e que estão fazendo operações de aumento de capital em valores equivalentes aos impactos dos estouros de orçamentos. A Brookfield faz uma capitalização de R$ 400 milhões, enquanto a PDG realiza uma operação de R$ 800 milhões. Como a Rossi anunciou que prepara um aumento de capital de R$ 500 milhões, o mercado esperava, no máximo, reajustes dessa ordem.
Outro índice que chamou a atenção do analista foi a alavancagem (endividamento líquido sobre patrimônio líquido). Como as dívidas foram ajustadas para cima e o patrimônio líquido para baixo, esse índice subiu. No segundo trimestre, foi revisado de 108% para 148,5%.
Rossi Residencial muda balanço e adota "padrão mais conservador" - 5 de Outubro de 2012 - Valor Econômico - Ana Fernandes
Ainda segundo o Valor Econômico (De olho no futuro se esquece o passado - Fernando Torres)
Tudo indica que não foi a Rossi que escolheu mudar suas práticas contábeis. Afinal, ter de republicar balanços não é algo desejável para nenhuma companhia. Se ela fez isso, portanto, foi por conta de pressão do auditor. (...)
Nos últimos anos, a empresa usou um sistema de reconhecimento de receita que a favoreceu. Ela divulgou margens brutas compatíveis com a das concorrentes, mas usando um critério que a favorecia perante as rivais.
Como os terrenos são registrados no balanço pelo custo histórico, a margem ligada a eles já costuma ser maior que a do serviço de incorporação. Com o salto recente no valor de mercado dos terrenos nas grandes cidades, e com a queda nas margens de incorporação por conta da elevação dos custos de mão de obra, essa diferença foi duplamente acentuada nos últimos anos.
Enquanto as rivais amargavam quedas de margem por conta de estouro de orçamento na incorporação, a Rossi tinha no reconhecimento antecipado dos terrenos, com margem maior, um fator que sustentava seus resultados na parte superior da média do mercado.
Agora que se aproxima o período da entrega da maior parte dos empreendimentos, em que a tendência das margens era diminuir (para abaixo da média do setor, para compensar o efeito positivo anterior), já que o peso da incorporação seria maior no resultado total, em detrimento dos terrenos, ela muda a prática contábil.
Fazendo o ajuste retroativo, quem olhar o passado verá que as margens da empresa não eram tão boas quanto pareciam. Mas passado é passado. Daqui para frente, chamarão mais atenção as novas margens que serão divulgadas.
Outro texto explora a questão da bolha (A bolha estourou e acabou a folia contábil no setor - Nelson Niero)
Não se sabe ainda se existe uma bolha no setor imobiliário brasileiro, mas uma coisa parece certa: existia uma bolha contábil e ela já estourou. (...)
Um auditor se abstém de dar opinião quando não obteve comprovação suficiente para fundamentar seu parecer. Ou seja, depois de quase 50 dias, a Deloitte não sabia ainda o que fazer dos números da Rossi.
Em comunicado enviado à CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a empresa afirmou que modificou suas práticas contábeis para um padrão mais "conservador". A adoção de tais práticas levou a empresa a revisar os resultados não apenas do segundo trimestre, mas todos desde 2009, já que o ciclo da construção é, em média, de três a cinco anos.
As informações trouxeram alguma luz, mas levantaram ainda mais dúvidas entre analistas e investidores sobre a real situação das finanças da Rossi. A incorporadora informou ter realizado ajustes totais de R$ 715,3 milhões em 30 de junho. O grosso dessa revisão, 85%, veio de uma mudança cobrada pela Deloitte, sua nova auditoria. Até o período anterior, a Rossi era auditada pela Ernst & Young Terco.
O prejuízo líquido do segundo trimestre, de R$ 9,06 milhões, virou lucro de R$ 51,3 milhões
A apropriação dos resultados e custos da parte do terreno e da incorporação de um mesmo empreendimento eram feitas de forma separada. Os números das duas etapas entravam em momentos distintos no balanço e elas tinham até margens operacionais diferentes, por serem registradas por SPE's (Sociedades com Propósitos Específicos) diferentes. Agora, as receitas e custos presumidos de um mesmo empreendimento passam a entrar juntos. A nova regra é retroativa aos últimos três anos.
Com isso, a empresa melhorou os resultados da primeira metade deste ano, mas piorou os dados referentes a 2011, 2010 e 2009. "Na prática, eles tiraram receita do passado e jogaram mais receita no presente", afirma Flávio Conde, analista da CGD Securities.
(...) O impacto negativo dos reajustes foi sentido diretamente no patrimônio líquido. Os lucros contabilizados em anos anteriores, partindo de receitas presumidas, foram estornados. Em 30 de junho, o patrimônio líquido, de R$ 2,79 bilhões na prévia de agosto, caiu para R$ 2,075 bilhões, queda de 25%. "A conclusão é que a empresa vale R$ 700 milhões a menos", afirma Conde.
Esse é o ponto mais grave também na visão de Eduardo Silveira, analista da BES Securities. "Essa baixa no PL foi maior do que a gente esperava". O analista comparou com empresas que passaram por problemas financeiros semelhantes recentemente e que estão fazendo operações de aumento de capital em valores equivalentes aos impactos dos estouros de orçamentos. A Brookfield faz uma capitalização de R$ 400 milhões, enquanto a PDG realiza uma operação de R$ 800 milhões. Como a Rossi anunciou que prepara um aumento de capital de R$ 500 milhões, o mercado esperava, no máximo, reajustes dessa ordem.
Outro índice que chamou a atenção do analista foi a alavancagem (endividamento líquido sobre patrimônio líquido). Como as dívidas foram ajustadas para cima e o patrimônio líquido para baixo, esse índice subiu. No segundo trimestre, foi revisado de 108% para 148,5%.
Rossi Residencial muda balanço e adota "padrão mais conservador" - 5 de Outubro de 2012 - Valor Econômico - Ana Fernandes
Ainda segundo o Valor Econômico (De olho no futuro se esquece o passado - Fernando Torres)
Tudo indica que não foi a Rossi que escolheu mudar suas práticas contábeis. Afinal, ter de republicar balanços não é algo desejável para nenhuma companhia. Se ela fez isso, portanto, foi por conta de pressão do auditor. (...)
Nos últimos anos, a empresa usou um sistema de reconhecimento de receita que a favoreceu. Ela divulgou margens brutas compatíveis com a das concorrentes, mas usando um critério que a favorecia perante as rivais.
Como os terrenos são registrados no balanço pelo custo histórico, a margem ligada a eles já costuma ser maior que a do serviço de incorporação. Com o salto recente no valor de mercado dos terrenos nas grandes cidades, e com a queda nas margens de incorporação por conta da elevação dos custos de mão de obra, essa diferença foi duplamente acentuada nos últimos anos.
Enquanto as rivais amargavam quedas de margem por conta de estouro de orçamento na incorporação, a Rossi tinha no reconhecimento antecipado dos terrenos, com margem maior, um fator que sustentava seus resultados na parte superior da média do mercado.
Agora que se aproxima o período da entrega da maior parte dos empreendimentos, em que a tendência das margens era diminuir (para abaixo da média do setor, para compensar o efeito positivo anterior), já que o peso da incorporação seria maior no resultado total, em detrimento dos terrenos, ela muda a prática contábil.
Fazendo o ajuste retroativo, quem olhar o passado verá que as margens da empresa não eram tão boas quanto pareciam. Mas passado é passado. Daqui para frente, chamarão mais atenção as novas margens que serão divulgadas.
Outro texto explora a questão da bolha (A bolha estourou e acabou a folia contábil no setor - Nelson Niero)
Não se sabe ainda se existe uma bolha no setor imobiliário brasileiro, mas uma coisa parece certa: existia uma bolha contábil e ela já estourou. (...)
Um auditor se abstém de dar opinião quando não obteve comprovação suficiente para fundamentar seu parecer. Ou seja, depois de quase 50 dias, a Deloitte não sabia ainda o que fazer dos números da Rossi.
19 maio 2008
Despesa numa construtora
Balanço da Rossi decepciona e ações despencam
Valor Econômico - 19/5/2008
As ações da Rossi Residencial despencaram 15% na sexta-feira na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), depois de o balanço da empresa do primeiro trimestre mostrar forte redução de margens, atrasos em lançamentos, problemas com o orçamento de um projeto e necessidades de caixa. Mudanças nos critérios contábeis também afetaram os resultados.(...) A Rossi iniciou a adoção de práticas contábeis em conformidade com padrões internacionais, o que gerou mudança significativa na contabilização de custos. Como exemplo, os encargos financeiros decorrentes de financiamentos à produção e a debêntures passaram a ser apropriados na rubrica custos dos imóveis vendidos.
As despesas comerciais passaram a compreender os gastos com publicidade e propaganda, antes diferidos e reconhecidos em função do andamento das obras.
Durante a teleconferência, o analista Marcelo Telles, do Credit Suisse, observou que, mesmo sem as alterações contábeis, a margem bruta da companhia teria recuado para 30%, em função do impacto de uma obra mal orçada, aparentemente pequeno, mas que foi muito significativo. (...)
A empresa atrasou o lançamento de dois empreendimentos, no Rio de Janeiro e em São Paulo. Com isso, o Valor Geral de Vendas (VGV) caiu 59% para R$ 178 milhões. Nos primeiro trimestre, a Rossi consumiu R$ 136 milhões de seu caixa, que fechou o período com R$ 120 milhões. Ciente da necessidade de capitalização, já contatou banco para uma emissão de R$ 350 milhões em debêntures.
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