Em épocas de crise, as empresas costumam adotar uma postura espartana para mostrar que estão preocupadas em voltar aos trilhos. Em janeiro, a japonesa Nintendo anunciou que seu presidente, Satoru Iwata, cortará pela metade o seu salário. O restante dos diretores reduzirá seus ganhos entre 20% e 30%. Isso porque o lucro da Nintendo caiu 30%. O que se poderia esperar, então, da antiga OGX, atual Óleo e Gás Participações (OGPar), que apresentou o maior prejuízo da história do Brasil e está em recuperação judicial?
Após anunciar perdas recordes de R$ 17,430 bilhões, a OGX está propondo justamente o contrário: aumentar em 50% a remuneração total do conselho de administração e da diretoria executiva em 2014. O montante sugerido é de R$ 21,015 milhões, ante os R$ 14 milhões distribuídos em 2013. A cifra ainda precisa ser aprovada pela assembleia geral de acionistas, marcada para 02 de maio.
Melhor que a Petrobras
Três pontos chamam a atenção na proposta. O primeiro é que o valor é mais que o dobro dos R$ 10,2 milhões propostos apenas dois anos atrás, quando a OGX ainda era uma das estrelas da bolsa brasileira, e seu fundador, Eike Batista, circulava nas listas dos homens mais ricos do planeta.
O segundo é que o valor é maior do que aquilo que a Petrobras deve pagar à sua cúpula neste ano: R$ 19,355 milhões, distribuídos entre a diretoria executiva, o conselho de administração e o conselho fiscal. Nunca é demais lembrar que a Petrobras é uma das maiores petroleiras do mundo, e fechou 2013 com uma produção de 2,539 milhões de barris de óleo por dia. O volume é mais do que os 2,3 milhões que a OGX produziu em Tubarão Azul, hoje o seu principal campo, em todo o ano passado. Acrescente-se que, nos comentários que acompanharam o balanço de 2013, a diretoria admitiu a possibilidade de encerrar a produção de Tubarão Azul neste ano, por falta de tecnologia que sustente a exploração.
O terceiro é que os R$ 21 milhões representam praticamente tudo o que a empresa tinha em caixa em dezembro do ano passado - US$ 11 milhões, ou cerca de R$ 26 milhões.
Sem crise
Dos R$ 21 milhões propostos como pagamento pela OGX, o conselho de administração deve ficar com R$ 8 milhões. Em 2012, esse valor foi de apenas R$ 2,2 milhões. Do total, R$ 6 milhões serão pagos aos conselheiros, apenas se o plano de recuperação judicial for aprovado pelos credores - uma negociação que envolve uma dívida total de US$ 5,8 bilhões. Eike Batista candidatou-se para mais um mandato no conselho, como presidente. Seu pai, Eliezer Batista, também pretende se reeleger como vice-presidente na assembleia de 02 de maio. Completam a chapa proposta pela OGX para o conselho, outros cinco candidatos, sendo três independentes.
Já a diretoria executiva pode receber R$ 13 milhões, incluindo pro labore, benefícios, remuneração baseada em ações e bônus vinculados à aprovação do plano de recuperação judicial. Em 2012, quando a empresa ainda não havia mergulhado na crise e era apresentada por Batista como uma “mini Petrobras”, a direção executiva recebeu honorários de R$ 7,8 milhões, além de R$ 200 mil em benefícios.
O balanço da OGX mostra que a empresa queimou bastante caixa no ano passado. Somente do terceiro para o quarto trimestre, quando a empresa já havia pedido proteção da Lei de Falência, colocou os investimentos em banho-maria e demitiu funcionários, US$ 74 milhões saíram do caixa. Parte do resgate da OGX passar por um aporte de capital dos próprios credores, por meio da subscrição de debêntures. Uma primeira injeção de capital, de US$ 125 milhões, foi feita em março. Outros US$ 90 milhões devem entrar no caixa da empresa, quando a recuperação judicial foi aprovada. Pelo menos para a cúpula da OGX, a crise da empresa não é tão grave assim, a ponto de justificar uma certa sobriedade em seus salários. Resta saber se os credores concordarão em lhes dar o aumento.
Márcio JULIBONI - Ex-OGX propõe um aumento de 50% nos ganhos de diretores e conselheiros
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05 abril 2014
03 abril 2014
OGPar bate recorde
Recentemente divulgamos os maiores lucros e prejuízos de 2013. A lista foi alterada com o prejuízo de 17,4 bilhões da OGPar, conforme notícia do Estado de S Paulo:
A OGPar, novo nome da OGX, petroleira que era controlada por Eike Batista, anunciou nesta terça-feira um prejuízo recorde de R$ 17,4 bilhões no ano passado. Essa é a maior perda registrada no País por uma companhia de capital aberto pelo menos nos últimos 27 anos, segundo levantamento recente da consultoria Economatica.
Até então, o maior prejuízo era creditado ao Banco do Brasil que, em 1996, anunciou perdas de R$ 7,5 bilhões no ano. Em 2013, até a divulgação dos resultados da petroleira, o recorde era da Eletrobrás, que teve prejuízo de R$ 6,29 bilhões.
Como tivemos um longo período inflacionário é muito difícil fazer generalizações no tempo. Além disto, os valores acima não estão corrigidos.
No quarto trimestre do ano passado, a antiga OGX, em recuperação judicial, ficou no vermelho em R$ 9,786 bilhões. No acumulado de 2013, a empresa teve prejuízo de R$ 17,430 bilhões, enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) somou R$ 141 milhões. A receita líquida anual chegou a R$ 870 milhões.
Observe como o Ebitda é uma medida enganosa de desempenho. Enquanto a empresa tem um prejuízo de 17 bi, o Ebitda é positivo! Mas existe uma explicação para isto...
Segundo relatório, o resultado em 2013 foi "substancialmente afetado" por provisão para perda de parte dos investimentos realizados nas Bacias de Campos, Santos e Espírito Santo no valor de R$ 8,9 bilhões.
É muito comum quando existe a mudança de gestão ocorrer uma aumento na amortização de ativos, como aconteceu com a empresa.
Também houve impacto negativo causado por despesa decorrente da rescisão dos contratos de afretamento de equipamentos requisitados a OSX no valor de R$ 4,6 bilhões, dos quais R$ 3,5 bilhões deverão ser convertidos em capital, nos termos do Plano de Recuperação Judicial. A empresa cita ainda despesa de R$1,8 bilhão com poços secos e áreas subcomerciais devolvidas; despesas financeiras, sobretudo juros de financiamentos, no valor de R$ 655 milhões; e despesa de variação cambial, de R$1 bilhão.
Muitas destas despesas são expurgadas do Ebitda. Esta é uma informação muito "otimista" da empresa.
Produção. A petrolífera informou também que o campo de Tubarão Azul poderá cessar a produção ainda no ano de 2014, segundo indicam os estudos existentes após testes que foram iniciados na região.
"Durante o período de testes no Campo de Tubarão Azul no mês de fevereiro a produção somou 105,5 mil barris e, mesmo com o início dos testes e de acordo com os estudos existentes, o campo poderá cessar a produção ainda no ano de 2014", disse a empresa no documento.
O campo de Tubarão Azul é emblemático na derrocada do império de Eike Batista. A crise teve início justamente no dia 26 de junho de 2012, quando a OGX informou que a vazão do poço de Tubarão Azul, na Bacia de Campos, seria bem menor do que havia sido prometido.
Observe o tempo entre a amortização e a constatação que o campo não era tão promissor.
No ano passado, a produção do campo foi de 1,6 milhão de barris de petróleo, com média de 4,3 mil barris por dia (bpd), queda "relevante" em relação ao ano anterior, que apresentou média de 9,9 mil barris por dia. Segundo a empresa, a redução ocorreu por causa de problemas operacionais derivados das bombas centrífugas submersas, que ocorreram desde março de 2013 causando o fechamento dos poços por vários meses.
Recuperação judicial. A OGX entrou com pedido de recuperação judicial no fim de outubro do ano passado, em meio à crise de confiança que atingiu a companhia. No fim de 2013, a empresa fechou acordo com os grandes detentores dos títulos da sua dívida bilionária. O acerto previu a injeção de novos recursos por investidores internacionais e a conversão da dívida de US$ 5,8 bilhões em participação acionária.
A decisão de amortização limpa o balanço e tentar reestabelecer a credibilidade da contabilidade, medida essencial neste momento.
A OGPar, novo nome da OGX, petroleira que era controlada por Eike Batista, anunciou nesta terça-feira um prejuízo recorde de R$ 17,4 bilhões no ano passado. Essa é a maior perda registrada no País por uma companhia de capital aberto pelo menos nos últimos 27 anos, segundo levantamento recente da consultoria Economatica.
Até então, o maior prejuízo era creditado ao Banco do Brasil que, em 1996, anunciou perdas de R$ 7,5 bilhões no ano. Em 2013, até a divulgação dos resultados da petroleira, o recorde era da Eletrobrás, que teve prejuízo de R$ 6,29 bilhões.
Como tivemos um longo período inflacionário é muito difícil fazer generalizações no tempo. Além disto, os valores acima não estão corrigidos.
No quarto trimestre do ano passado, a antiga OGX, em recuperação judicial, ficou no vermelho em R$ 9,786 bilhões. No acumulado de 2013, a empresa teve prejuízo de R$ 17,430 bilhões, enquanto o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação) somou R$ 141 milhões. A receita líquida anual chegou a R$ 870 milhões.
Observe como o Ebitda é uma medida enganosa de desempenho. Enquanto a empresa tem um prejuízo de 17 bi, o Ebitda é positivo! Mas existe uma explicação para isto...
Segundo relatório, o resultado em 2013 foi "substancialmente afetado" por provisão para perda de parte dos investimentos realizados nas Bacias de Campos, Santos e Espírito Santo no valor de R$ 8,9 bilhões.
É muito comum quando existe a mudança de gestão ocorrer uma aumento na amortização de ativos, como aconteceu com a empresa.
Também houve impacto negativo causado por despesa decorrente da rescisão dos contratos de afretamento de equipamentos requisitados a OSX no valor de R$ 4,6 bilhões, dos quais R$ 3,5 bilhões deverão ser convertidos em capital, nos termos do Plano de Recuperação Judicial. A empresa cita ainda despesa de R$1,8 bilhão com poços secos e áreas subcomerciais devolvidas; despesas financeiras, sobretudo juros de financiamentos, no valor de R$ 655 milhões; e despesa de variação cambial, de R$1 bilhão.
Muitas destas despesas são expurgadas do Ebitda. Esta é uma informação muito "otimista" da empresa.
Produção. A petrolífera informou também que o campo de Tubarão Azul poderá cessar a produção ainda no ano de 2014, segundo indicam os estudos existentes após testes que foram iniciados na região.
"Durante o período de testes no Campo de Tubarão Azul no mês de fevereiro a produção somou 105,5 mil barris e, mesmo com o início dos testes e de acordo com os estudos existentes, o campo poderá cessar a produção ainda no ano de 2014", disse a empresa no documento.
O campo de Tubarão Azul é emblemático na derrocada do império de Eike Batista. A crise teve início justamente no dia 26 de junho de 2012, quando a OGX informou que a vazão do poço de Tubarão Azul, na Bacia de Campos, seria bem menor do que havia sido prometido.
Observe o tempo entre a amortização e a constatação que o campo não era tão promissor.
No ano passado, a produção do campo foi de 1,6 milhão de barris de petróleo, com média de 4,3 mil barris por dia (bpd), queda "relevante" em relação ao ano anterior, que apresentou média de 9,9 mil barris por dia. Segundo a empresa, a redução ocorreu por causa de problemas operacionais derivados das bombas centrífugas submersas, que ocorreram desde março de 2013 causando o fechamento dos poços por vários meses.
Recuperação judicial. A OGX entrou com pedido de recuperação judicial no fim de outubro do ano passado, em meio à crise de confiança que atingiu a companhia. No fim de 2013, a empresa fechou acordo com os grandes detentores dos títulos da sua dívida bilionária. O acerto previu a injeção de novos recursos por investidores internacionais e a conversão da dívida de US$ 5,8 bilhões em participação acionária.
A decisão de amortização limpa o balanço e tentar reestabelecer a credibilidade da contabilidade, medida essencial neste momento.
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