Quando os Tokens não Fungíveis, ou NFTs, surgiram, a figura do macaco feio conhecido como Bored Ape passou a ser um símbolo dessa nova era. O que inicialmente parecia uma imagem boba, foi transformado em arte digital baseada na tecnologia blockchain (Ethereum), vinculado ao Bored Ape Yacht Club (BAYC). Lançado durante o auge da pandemia, em abril de 2021, o BAYC conquistou popularidade e desejabilidade.
As dez mil imagens de macacos, cada uma desenhada de forma única, proporcionavam aos proprietários direitos exclusivos e benefícios relacionados à posse da NFT. Essas vantagens incluíam convites para eventos e interações online.
A combinação da tecnologia (blockchain e NFT) com a atratividade de fazer parte de um grupo exclusivo era de fato intrigante. Afinal, a propriedade era verificável pela tecnologia.
Contudo, uma grande questão estava na volatilidade dos preços. Mesmo sendo uma forma alternativa de arte ou investimento, os valores oscilavam consideravelmente ao longo do tempo. Em maio de 2022, o preço de uma NFT ultrapassou os 400 mil dólares, elevando o valor total do Bored Ape acima dos 4 bilhões de dólares - algo notável mesmo nos dias de hoje. Porém, em agosto de 2023, o preço de uma NFT caiu para 43 mil dólares, ou seja, apenas 11% do valor anterior.
Havia desconfiança de que o Bored Ape NFT pudesse ser uma fraude, em parte pelo declínio acentuado no preço. Outro indicativo de que talvez a posse do "macaco feio" não fosse tão lucrativa era o fato de que um grupo de compradores levou o caso à justiça, alegando que o preço estava inflacionado, em parceria com a casa de leilões Sotheby's. Entre esses compradores estavam diversas celebridades, como Justin Bieber, Snoop Dogg, Serena Williams, Madonna, Gwyneth Paltrow, Paris Hilton e Jimmy Fallon. Uma das alegações do processo era que a Sotheby's promoveu um leilão enganoso, no qual o vencedor, um colecionador mais tradicional, seria a FTX, empresa de criptomoedas que recentemente enfrentou problemas.
O caso dos Bored Ape evidencia que objetos colecionáveis, cujo preço se apoia principalmente em ligações emocionais em vez de utilidade prática, podem ser integrados ao patrimônio de uma empresa ou indivíduo. No entanto, persiste o desafio de atribuir um número claro às NFTs na contabilidade. Utilizar o preço de mercado resultaria em um valor de 400 mil dólares em maio de 2022 para cada item, mas apenas 11% desse montante em agosto de 2023. Ou seja, uma perda de 356 mil dólares em apenas quinze meses. Isso tornaria evidente que a decisão de compra foi equivocada. Por outro lado, manter o preço original da compra evitaria a flutuação volátil dos valores, mas não forneceria essa informação crucial.
O universo da mensuração contábil é verdadeiramente complexo.
Foto: Markus Spiske, BoingBoing e Wikipedia