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16 setembro 2023

Ig Nobel: premiação para uma pesquisa de 1969

De que forma a vida sexual das anchovas afeta as marés? Temos o mesmo número de pelos nas duas narinas? Por que os geólogos gostam de lamber pedras? Essas foram algumas das perguntas respondidas por estudos premiados na edição deste ano do Ig Nobel. O prêmio celebra áreas incomuns da pesquisa científica que “fazem rir e depois pensar”. Cada vencedor recebeu uma nota (já fora de circulação) de US$ 10 trilhões do Zimbábue.

O prêmio bem humorado não tem relação com o bem mais sisudo Nobel, que destaca as maiores descobertas de ciência, literatura e direitos humanos e será anunciado no mês que vem. O Ig Nobel é promovido pela revista Anais da Pesquisa Improvável e visa a “celebrar o incomum, honrar o que é imaginativo e estimular o interesse das pessoas pela ciência, medicina e tecnologia”. Foram dez prêmios anunciado na noite de quinta-feira, 14, em uma cerimônia online.

Um grupo da Universidade Rice (EUA) levou o Ig Nobel de Engenharia Mecânica por seu trabalho de reanimar aranhas mortas para usá-las como ferramenta preênsil - considerada uma criativa abordagem “necrobótica”.

Jan Zalasiewicz, da Universidade de Leicester (Reino Unido), levou o Ig Nobel de Química e Geologia por explicar por que os cientistas gostam de lamber pedras. Segundo o pesquisador, no século 18, o geólogo italiano Giovanni Arduino costumava lamber as pedras para identificá-las. Atualmente, no entanto, cientistas fazem isso por um motivo diferente:

“Fazemos isso para ajudar a visão, não o paladar, porque uma superfície molhada revela partículas minerais invisíveis em superfícies secas”, explicou Zalasiewicz ao jornal britânico The Guardian.

O Ig Nobel de Nutrição foi para a dupla japonesa Homei Miyashita, da Universidade Meiji, e Hiromi Nakamura, da Universidade de Tóquio, que criou canudos e hashis eletrificados para intensificar o sabor dos alimentos. Segundo os pesquisadores, com a estimulação elétrica da língua, por exemplo, os alimentos parecem mais salgados.

Já o prêmio de Saúde pública foi para pesquisadores que desenvolveram um vaso sanitário inteligente, capaz de analisar as fezes humanas em busca de eventuais doenças. Pesquisadores que usaram cadáveres humanos para descobrir se temos o mesmo número de pelos em cada narina levaram o Ig Nobel de Medicina (são, em média, 120 pelos na narina esquerda e 112 na direita).


Especialistas que avaliaram neuroimagens de pessoas que são consideradas especialistas em falar de trás para frente ganharam o Ig Nobel de Comunicação. O prêmio de Literatura, por sua vez, foi para pesquisadores que investigaram a sensação peculiar identificada quando repetimos muitas vezes seguidas uma palavra conhecida – um fenômeno que eles chamaram de “jamais vu”, em que as pessoas passam a achar muito estranho o que é familiar.

O Ig Nobel de física foi para os pesquisadores que descobriram que a atividade sexual das anchovas na costa da Galícia, na Espanha, altera a movimentação dos oceanos.

Os psicólogos americanos Stanley Milgram, Leonard Bickman e Lawrence Berkowitz ganharam o prêmio de Psicologia por investigarem por que as pessoas olham para cima quando veem outras pessoas olhando para cima. Por fim, o prêmio de Educação foi concedido para um trabalho que demonstrou como o tédio de professores afeta o tédio dos alunos em sala de aula.

[Achei o prêmio para Milgram estranho, pois a pesquisa é bastante antiga. É importante para a literatura comportamental. Será que foi isto mesmo? Neste texto não há nada sobre o assunto. A premiação está no verbete da Wikipedia e no site. No site está claro que a pesquisa é antiga: 1969. Um detalhe importante: já comentei sobre ela em sala de aula. Segundo o Google, tem 717 citações]

03 fevereiro 2016

Resenha: Experimentos

No início da década de sessenta o cientista social Stanley Milgram recrutou diversas pessoas para um experimento: era solicitado ao indivíduo punir um falso aluno com choques elétricos a cada resposta errada. E quanto mais o aluno errava, mais intensidade tinha o choque. Milgram criou uma situação na qual induzia as pessoas a aplicar um castigo, mesmo sendo uma punição cruel.

Naquele instante, Israel tinha localizado na Argentina o criminoso de guerra Adolf Eichmann, responsável pela execução dos judeus durante a Segunda Guerra. Diante da possibilidade de fuga ou proteção por parte do governo argentino, Israel sequestra Eichman para ser julgado. O julgamento foi controverso e gerou um livro de Arendt denominado Um Relato sobre a Banalidade do Mal.

Arendt teorizou sobre o mal; Milgram mostrou que qualquer ser humano comum seria um Eichman em potencial.

Em suas pesquisas, Milgram demonstrou que sendo “incentivado” por uma autoridade (um cientista, no caso), uma pessoa comum é capaz de dar choques elétricos num desconhecido. Obviamente que Milgram teve o cuidado de não fazer uma tortura real, mas os resultados causaram polêmica e ele foi investigado por comitês de ética e muito criticado.

Milgram foi um dos pioneiros na pesquisa experimental. Trata-se de um ramo da ciência na qual tentamos replicar uma situação do mundo real, para comprovar as teorias. Numa rua movimentada, algumas pessoas, contratadas por Milgram, olham para o céu; as outras pessoas que passam também começam a fazer a mesma coisa, mesmo não existindo nada de anormal acontecendo.

Em outra pesquisa muito relevante para os dias de hoje, Milgram deixou correspondências espalhadas por diversos locais com a recomendação de que quem achasse, tentasse encaminhar para uma pessoa desconhecida, morador de outra cidade. Muitos fizeram a recomendação da pesquisa e Milgram conseguiu rastrear a maneira como as pessoas se esforçaram para entregar a correspondência. Mesmo não conhecendo o destinatário, muitos foram aqueles que atingiram o objetivo. Milgram calculou que em média a correspondência passou entre cinco a seis pessoas antes de chegar ao desconhecido. Este é um número “mágico” que mostra o elo existente entre dois desconhecidos: entre cinco a seis pessoas, independente da distância física existente entre eles. Lembra as redes sociais de hoje.

Vale a pena? O filme é a descrição da vida e obra de Stanley Milgram. É muito didático e destaca os principais feitos do psicólogo. Talvez não seja uma obra de arte (a nota no IMDB é somente 6,6), mas consegue mostrar, sem muita violência, as suas principais realizações. Para quem deseja conhecer um pouco sobre o método experimento ou sobre rede social ou sobre a origem do mal é muito indicado. Com Peter Sarsgaard no papel de Milgram e Winona Ryder como esposa do cientista.