Malcolm Smith, em Research Methods in Accounting, faz a distinção entre método e metodologia:
Método de pesquisa diz respeito as questões técnicas associadas com a condução da pesquisa; metodologia da pesquisa está interessada com as filosofias associadas com a escolha do método da pesquisa (p. xiii, 4a ed)
Parece que sempre trocamos isto nos artigos, não?
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17 janeiro 2020
15 outubro 2019
Pergunta da pesquisa: sim ou não
Já escutei isto muito: você não pode fazer um trabalho onde o problema de pesquisa é uma resposta do tipo "sim" ou "não". Um artigo do Journal of Financial Economics, o segundo melhor periódico de finanças, tem no título uma pergunta. O resumo começa com "Sim".
(Via aqui)
(Via aqui)
27 fevereiro 2019
Teoria na Era do Big Data
- Na era do Big Data, há um questionamento se a teoria ainda é importante
- A grande presença de dados pode alterar a escolha sobre como fazer uma pesquisa
- O perigo é a possibilidade de correlação espúria
Uma vez que a pesquisa científica está usando cada vez mais dados, em grandes quantidades, há um questionamento se a teoria ainda é importante. Jackson, em The Role of Theory in an Age of Design and Big Data, discussa a questão sob a ótica dos economistas. Mas sua visão pode ser expandida para a contabilidade. Ele relembra que recentemente Duflo afirma que economistas seriam como plumbers encanadores, onde o trabalho envolve questões para melhorar a vida das pessoas. E acrescenta que as pesquisas teóricas estão em claro declínio: eram 57% dos artigos publicados em 1983 e representava 19% em 2011. Mas na visão dele, a teoria ainda é necessária na era do design e do big data.
Uma típica pesquisa na era do Big Data coleta uma grande quantidade de dados e procura extrair dali algum tipo de relação estatística. Explora as informações, sem um conhecimento prévio do que pode encontrar. Com o resultado encontrado, o pesquisador tenta buscar teorias que poderia sustentar os achados. Um trabalho deste tipo começaria com a metodologia e análise dos dados para depois fazer a revisão da literatura ou revisão da teoria (são coisas distintas). Alguns pesquisadores acham que esta maneira de fazer pesquisa está errada. É uma opinião baseada no fato de que, em alguns casos, os achados não possuem vínculo com uma base teórica. Isto ocorre quando temos a situação de correlação espúria (aqui, aqui, aqui e aqui), onde o tamanho do vestido apresenta correlação com o comportamento do mercado acionário.
Entretanto, é inegável que algumas descobertas da ciência são feitas desta forma. O que parece estranho quando temos o resultado, pode ser um achado importante. O famoso paper de Fama e French usou uma pesquisa deste tipo para chegar ao modelo de três fatores, segundo afirma Justin Fox. Criticando Fama, é bem verdade.
Para o pesquisador, é importante saber que sua escolha por este tipo de pesquisa também leva a algumas escolhas de técnicas. Uma pesquisa que trabalha os dados, “sem uma teoria”, deveria usar o método Stepwise na regressa múltipla; já uma pesquisa com base teórica precedendo a análise dos dados poderia optar pelo método Enter (vide Andy Field no seu livro de estatística).
Imagem, a partir de uma imagem retirada daqui
27 setembro 2018
Pesquisa online é representativa
Nos dias atuais é muito comum as pesquisas acadêmicas serem realizadas pela internet. A grande vantagem é a facilidade de aplicação dos instrumentos de pesquisa e o baixo custo. O grande problema é saber se os resultados podem ser inferidos para a população. Em especial, existe um universo de pessoas que não estão online e que não são alcançadas por estas pesquisas. Um pesquisa aponta que este problema é real:
A general concern with the representativeness of online surveys is that they exclude the “offline” population that does not use the internet. We run a large-scale opinion survey with (1) onliners in web mode, (2) offliners in face-to-face mode, and (3) onliners in faceto-face mode. We find marked response differences between onliners and offliners in the mixed-mode setting (1 vs. 2). Response differences between onliners and offliners in the same face-to-face mode (2 vs. 3) disappear when controlling for background characteristics, indicating mode effects rather than unobserved population differences. Differences in background characteristics of onliners in the two modes (1 vs. 3) indicate that mode effects partly reflect sampling differences. In our setting, re-weighting online-survey observations appears a pragmatic solution when aiming at representativeness for the entire population.
Observe que os pesquisadores apresentaram uma possível sugestão para resolver este problema de representatividade, através de uma ponderação.
GREWENIG, Elisabeth et al. Can Online Surveys Represent the Entire Population?, Set, 2018. Iza Papers
A general concern with the representativeness of online surveys is that they exclude the “offline” population that does not use the internet. We run a large-scale opinion survey with (1) onliners in web mode, (2) offliners in face-to-face mode, and (3) onliners in faceto-face mode. We find marked response differences between onliners and offliners in the mixed-mode setting (1 vs. 2). Response differences between onliners and offliners in the same face-to-face mode (2 vs. 3) disappear when controlling for background characteristics, indicating mode effects rather than unobserved population differences. Differences in background characteristics of onliners in the two modes (1 vs. 3) indicate that mode effects partly reflect sampling differences. In our setting, re-weighting online-survey observations appears a pragmatic solution when aiming at representativeness for the entire population.
Observe que os pesquisadores apresentaram uma possível sugestão para resolver este problema de representatividade, através de uma ponderação.
GREWENIG, Elisabeth et al. Can Online Surveys Represent the Entire Population?, Set, 2018. Iza Papers
13 março 2017
Título de um artigo
Alguns periódicos perguntam para os pareceristas se o título do artigo analisado representa o conteúdo do texto de maneira clara e precisa. Particularmente não gosto desta pergunta, pois entendo que o título pode ser muito representativo sem precisar ser burocrático. No passado, o finado Black escreveu um texto com o título "Noise". O texto foi publicado no Journal of Finance de 1986.
A patrulha sobre o título faz com que tenhamos que ler sobre "A relação entre o endividamento e a liquidez nas empresas de Brasília do setor calçadista: 2010 a 2014" ou algo do gênero.
O que tenho observado é que muitos pesquisadores optam pela criatividade no título. "Economista como encanador" de Esther Duflo ou "Quando Harry demitiu Sally". Thompson, em Hit Makers, discute sobre o bom título para um artigo não científico. E suas considerações podem ser extrapoladas para o título de uma pesquisa. O título "Quando Harry demitiu Sally" funciona bem para aqueles que conhecem cinema dos anos noventa, mas não para quem é mais novo. Que assistiu o filme pode se interessar pelo artigo ao ler o título. Melhor ainda é o "Economista como Encanador", de domínio mais amplo, ao mesmo tempo que instiga pela comparação pouco usual.
Quando escrevi a minha tese de doutorado não coloquei o termo "uma contribuição", já que achava desnecessário; afinal, a tese tem que dar uma contribuição. Mas um dos membros da banca sugeriu mudar o título, que foi acatado. Afinal estava numa posição inferior e não iria discutir o título do meu trabalho. Da mesma forma, se um parecerista sugerir um novo título para um artigo, irei acatar.
Mas certamente entre um artigo com o título de "a relação entre o endividamento e a liquidez nas empresas de Brasília do setor calçadista: 2010 a 2014" e "Quando Harry demitiu Sally" irei ler o seguinte.
Por sinal, o artigo When Harry Fired Sally é muito interessante. Mostra que as mulheres são punidas de forma mais pesada e frequente que os homens por comportamento de "má conduta": existe 20% a mais de chance de uma mulher perder seu emprego.
A patrulha sobre o título faz com que tenhamos que ler sobre "A relação entre o endividamento e a liquidez nas empresas de Brasília do setor calçadista: 2010 a 2014" ou algo do gênero.
O que tenho observado é que muitos pesquisadores optam pela criatividade no título. "Economista como encanador" de Esther Duflo ou "Quando Harry demitiu Sally". Thompson, em Hit Makers, discute sobre o bom título para um artigo não científico. E suas considerações podem ser extrapoladas para o título de uma pesquisa. O título "Quando Harry demitiu Sally" funciona bem para aqueles que conhecem cinema dos anos noventa, mas não para quem é mais novo. Que assistiu o filme pode se interessar pelo artigo ao ler o título. Melhor ainda é o "Economista como Encanador", de domínio mais amplo, ao mesmo tempo que instiga pela comparação pouco usual.
Quando escrevi a minha tese de doutorado não coloquei o termo "uma contribuição", já que achava desnecessário; afinal, a tese tem que dar uma contribuição. Mas um dos membros da banca sugeriu mudar o título, que foi acatado. Afinal estava numa posição inferior e não iria discutir o título do meu trabalho. Da mesma forma, se um parecerista sugerir um novo título para um artigo, irei acatar.
Mas certamente entre um artigo com o título de "a relação entre o endividamento e a liquidez nas empresas de Brasília do setor calçadista: 2010 a 2014" e "Quando Harry demitiu Sally" irei ler o seguinte.
Por sinal, o artigo When Harry Fired Sally é muito interessante. Mostra que as mulheres são punidas de forma mais pesada e frequente que os homens por comportamento de "má conduta": existe 20% a mais de chance de uma mulher perder seu emprego.
09 junho 2016
Efeito Google e a Pesquisa Contábil
A presença da internet está mudando a forma como pensamos e usamos nosso cérebro. O chamado “efeito Google”, que permite que a informação esteja sempre à mão, permite que nós deixemos de preocupar em guardar o número do telefone ou o valor do prejuízo da Petrobras.
Leia CAPELAS, Bruno. Efeito Google muda uso da memória humana
A questão tem uma implicação metodológica interessante para os nossos trabalhos acadêmicos. Atualmente as pesquisas em contabilidade – mas não somente – depositam um grande esforço na revisão bibliográfica. Algumas teses e dissertações gastam muitas linhas para produzir um texto que é uma mera informação que está facilmente disponível na internet. O mesmo é válido para artigos. Mais importante que falar da globalização ou de pesquisas que arranham o tema é destacar a contribuição em relação a outros trabalhos e poder demonstrar onde a pesquisa inova. Isto não necessita de dezenas de citações inúteis, que estão disponíveis no Scholar ou em outra base de pesquisa.
Uma consequência natural deste fato é o enxugamento desta revisão. Nossas pesquisas irão parecer cada vez mais com aquelas que são produzidas na medicina. E finalmente nos afastaremos da pretensa cultura que predomina nas ciências jurídicas, por exemplo. Citar o que os autores escreveram é pouco relevante nos dias de hoje. É muito mais importante saber a contribuição da pesquisa na ciência, como difere das existentes e qual a contribuição para a humanidade. Simples e direto. Como sempre deveria ter sido.
Leia CAPELAS, Bruno. Efeito Google muda uso da memória humana
A questão tem uma implicação metodológica interessante para os nossos trabalhos acadêmicos. Atualmente as pesquisas em contabilidade – mas não somente – depositam um grande esforço na revisão bibliográfica. Algumas teses e dissertações gastam muitas linhas para produzir um texto que é uma mera informação que está facilmente disponível na internet. O mesmo é válido para artigos. Mais importante que falar da globalização ou de pesquisas que arranham o tema é destacar a contribuição em relação a outros trabalhos e poder demonstrar onde a pesquisa inova. Isto não necessita de dezenas de citações inúteis, que estão disponíveis no Scholar ou em outra base de pesquisa.
Uma consequência natural deste fato é o enxugamento desta revisão. Nossas pesquisas irão parecer cada vez mais com aquelas que são produzidas na medicina. E finalmente nos afastaremos da pretensa cultura que predomina nas ciências jurídicas, por exemplo. Citar o que os autores escreveram é pouco relevante nos dias de hoje. É muito mais importante saber a contribuição da pesquisa na ciência, como difere das existentes e qual a contribuição para a humanidade. Simples e direto. Como sempre deveria ter sido.
05 maio 2016
Audit Study
Ao ler o texto “Factors Determining Callbacks to Job Applications by the Unemployed: An Audit Study” tive o interesse voltado para o método de pesquisa “audit study”. Mas não e nada de mais. É um tipo de pesquisa que consiste em mandar currículos falsos para trabalhos verdadeiros. E medir a taxa de interesse dos empregadores.
Pode ser usado para medir discriminação racial, de gênero, de profissão etc. Por exemplo: o pesquisador manda currículos iguais, mas em metade deles com o nome de homem e o restante de mulher. Se a taxa de marcação de entrevista for maior para os currículos do homem, pode-se dizer existe discriminação de gênero:
An audit study consists in sending fake resumes to actual job postings and measuring the incidence of callback rates. The main estimates consists in differences in callback rates based on randomly assigned differences in resume characteristics, such as age, job characteristics, or employment dates. It is therefore paramount that the fake resumes and the variation in the informational content be constructed as realistic as possible.
Pode ser usado para medir discriminação racial, de gênero, de profissão etc. Por exemplo: o pesquisador manda currículos iguais, mas em metade deles com o nome de homem e o restante de mulher. Se a taxa de marcação de entrevista for maior para os currículos do homem, pode-se dizer existe discriminação de gênero:
An audit study consists in sending fake resumes to actual job postings and measuring the incidence of callback rates. The main estimates consists in differences in callback rates based on randomly assigned differences in resume characteristics, such as age, job characteristics, or employment dates. It is therefore paramount that the fake resumes and the variation in the informational content be constructed as realistic as possible.
27 novembro 2014
Escrevendo um artigo científico
Timothy Weninger mostra (via aqui), no vídeo acima, a construção de um trabalho científico. O texto passou por 463 versões, até o final do vídeo.
03 abril 2014
Pesquisa: O Outlier é relevante?
Quando fazemos pesquisas com dados é comum encontrarmos alguma informação bastante diferente das demais. Chamamos de valores extremos ou outliers. Existem várias técnicas para identificar cientificamente um outlier, que o leitor pode encontrar num livro de estatística, como por exemplo, o teste de Mahalanobis.
A grande dúvida para o pesquisador é se deve-se retirar ou não este dado. Ao retirar, os resultados estatísticos geralmente ficam melhores. Isto é um ponto positivo interessante a ser considerado. Mas o conforto pode ser punido por desprezar uma informação que pode ser útil. Os pesquisadores financeiros devem lembrar os valores extremos do comportamento do mercado acionário. Estes valores serviram de alerta para Nassim Taleb, que em lugar de ver “outliers” enxergou um comportamento que poderia levar a decisões ruins.
Além disto, o outlier pode ser a base de uma pesquisa. No passado fiz uma pesquisa com uma orientanda sobre o impacto do trânsito no mercado acionário de São Paulo. Depois de investigar a lentidão do trânsito na cidade de São Paulo, selecionamos os dias onde a informação era outlier. Ou seja, os dias de “muito caos” no trânsito. Com esta informação de outlier, comparamos com os dias de “caos”, ou seja, os dias normais no trânsito de São Paulo. Neste caso, a escolha do outlier era a essência da pesquisa. Sua determinação servia de propósito para verificar os efeitos na situação extrema.
Concluindo, o outlier pode ser uma importante informação para uma pesquisa. Antes de eliminar, verifique se você realmente não consegue aprender um pouco mais com este valor extremo.
A grande dúvida para o pesquisador é se deve-se retirar ou não este dado. Ao retirar, os resultados estatísticos geralmente ficam melhores. Isto é um ponto positivo interessante a ser considerado. Mas o conforto pode ser punido por desprezar uma informação que pode ser útil. Os pesquisadores financeiros devem lembrar os valores extremos do comportamento do mercado acionário. Estes valores serviram de alerta para Nassim Taleb, que em lugar de ver “outliers” enxergou um comportamento que poderia levar a decisões ruins.
Além disto, o outlier pode ser a base de uma pesquisa. No passado fiz uma pesquisa com uma orientanda sobre o impacto do trânsito no mercado acionário de São Paulo. Depois de investigar a lentidão do trânsito na cidade de São Paulo, selecionamos os dias onde a informação era outlier. Ou seja, os dias de “muito caos” no trânsito. Com esta informação de outlier, comparamos com os dias de “caos”, ou seja, os dias normais no trânsito de São Paulo. Neste caso, a escolha do outlier era a essência da pesquisa. Sua determinação servia de propósito para verificar os efeitos na situação extrema.
Concluindo, o outlier pode ser uma importante informação para uma pesquisa. Antes de eliminar, verifique se você realmente não consegue aprender um pouco mais com este valor extremo.
10 novembro 2013
Entrevista: Cláudio Moreira Santana - Trabalhos de Conclusão de Curso
Durante anos, o professor Claudio Santana coordenou com excelência os trabalhos de conclusão de curso (TCC) de contabilidade da Universidade de Brasília. Como todo coordenador de TCC, orientou também muitos alunos.
Com base nessa experiência, entrevistamos, por e-mail, o professor Claudio para saber um pouco mais sobre o assunto.
Blog_CF: Quais são os erros mais comuns na monografia dos alunos de TCC?
1. Escolher o orientador e não o tema. É comum o aluno buscar o professor mais legal ou de maior simpatia, mas isso não é o que realmente leva a um bom trabalho. Acredito que o foco deve ser no tema e, a partir daí, buscar-se um bom orientador. E não o contrário.
2. Procrastinação. Como bons brasileiros (a maioria dos alunos) deixam tudo para a última hora e esperam pela prorrogação do prazo (que muitas vezes não vem). Com esse tipo de atitude os trabalhos saem com baixa qualidade quando poderiam ser bem melhores, bastando um pouco mais de organização e planejamento das atividades de pesquisa.
3. Ter vergonha de levar o trabalho para correção do professor. Já fiz isso, e já tive alunos que fizeram isso. Ser criticado é talvez uma das coisas mais difíceis na vida. Não conheço ninguém que goste de ser criticado - e para mim também não existe crítica construtiva e sim tom de crítica e estado de espírito, dependendo desses dois posso, ou não, aceitar a crítica. Reconheço, contudo, que é difícil fazer um grande esforço e o orientador dizer que o que foi escrito é uma grande bobagem, mas às vezes é exatamente isso o que acontece (fazemos grandes bobagens e outras vezes acertamos em cheio. A vida é assim...).
4. Achar que a tarefa é do professor e não dele. Nem é preciso comentar né?
5. Não se atentar para o fato de que é necessário que um trabalho seja:
a. Realizado com um tema de seu interesse e não do orientador - é necessário gostar do tema ou pelo menos não odiá-lo. O melhor é estar apaixonado por ele;
b. Importante tanto para o aluno quanto para as outras pessoas (não apenas para o orientador e avaliadores), efetivamente tentar contribuir para o conhecimento e não apenas fazer uma obrigação. Se o autor não está convencido que seu trabalho é importante, como vai convencer outras pessoas?;
c. Original. As formas de pensar e expressar são muito diversas, há uma fonte inesgotável de criatividade mundo afora e ser original é ao mesmo tempo fácil e difícil. Fácil porque ninguém pensa exatamente da mesma forma que os outros e difícil porque os temas estão sendo pesquisados por muita gente, as ideias circulam e o que pensamos ser original às vezes já foi publicado. Por outro lado, é interessante ter novas formas de se fazer pesquisa, utilizar métodos e técnicas que ainda não foram utilizados no tema, buscar novos sujeitos para pesquisar (ou seja, fazer um recorte interessante na pesquisa). Tenho visto também que uma boa saída (mas não tão fácil) é buscar a interdisciplinaridade, ou seja, trabalhar conceitos, modelos e teorias de uma área em outra;
d. Viável. Vejo muitas vezes o aluno chegar com uma ideia mirabolante, que vai resolver todos os problemas da humanidade ou que vai mudar o nome do Banco Central (essa ideia já me foi apresentada uma vez...). Bom, a questão é ter o pé no chão e observar a capacidade, tempo, recursos disponíveis e necessários para se fazer a pesquisa. Não adianta ter a melhor ideia do mundo se ela não for viável.
Sobre esses três últimos pontos recomendo uma leitura adicional do capítulo 3 do livro de Cláudio de Moura Castro. A prática da pesquisa. Editora Pearson.
Blog_CF: Existem muitos casos de compra de trabalho? E de plágio?
Sobre a quantidade eu realmente não sei responder, o que parece é que a detecção dessem casos tem sido mais frequente e há casos não só Brasil, mas também na Alemanha (quem diria...).
O plágio é mais fácil de ser observado: estilo de linguagem, formatação, diferenças entre discussão com o aluno e o que aparece escrito são indícios de que há problemas. Outro ponto é o plágio não intencional e nesse caso é importante a leitura atenta do trabalho pelo orientador e anotação das fontes que foram consultadas pelo aluno.
Compra de trabalhos já é outra história... já recebi algumas denúncias, mas não foi possível provar. Nesses casos o que recomendo é maior atenção da banca. O problema é que, geralmente, quem faz isso também estuda o tema com afinco para realizar a defesa. Dessa forma, como pegar?
Uma solução é ficar atento durante a orientação. Sei de um caso em que o aluno sempre ia com um “primo” para a orientação ou quando isso não acontecia pedia para gravar. Acontece que o tal “primo” era o ghost writer do trabalho. Mas também conheço um caso que o aluno foi denunciado e a banca constatou-se que o trabalho era tão ruim que o tal aluno poderia levar o caso ao PROCON para ter seu dinheiro de volta... Rs.
Blog_CF: Muitos alunos procuram você com um tema, mas sem orientador. Como saber o que fazer neste caso? O que ele deve fazer para escolher o orientador mais correto?
É uma situação mais comum do que se imagina. Na maioria das vezes o aluno que tem um tema não tem um orientador e o que tem o orientador não tem o tema. Os interesses de cada grupo são muito diferentes, seja por leitura ou por simplesmente pertencerem a gerações diferentes.
Sempre recomendo aos alunos observarem o Lattes dos professores da instituição e, a partir daí, ver o que melhor se encaixa na proposta que ele quer fazer, outra maneira é conversar com outros professores e com colegas para saber os projetos de pesquisa que estão sendo desenvolvidos na instituição. O aluno também deve ficar atento para o fato de que o professor vai tentar transformar seu trabalho em algo mais palatável a ele, ou seja vai tentar alinhar o interesse do aluno ao seu interesse, vez que isto facilita o processo de pesquisa. Raramente vemos professores abraçarem “novas causas” temas novos ou fora do que conhecemos é sempre um risco que muitas vezes não queremos ou podemos correr.
O orientador para esses casos tem que ser o que melhor avalie a situação e o que realmente se dedique com o aluno na construção do trabalho, mostre caminhos possíveis e indique, por vezes, outros professores que podem tirar as dúvidas a respeito do tema.
Blog_CF: O que é mais comum: o aluno que quer um orientador que orienta ou um que deseja um orientador que não atrapalhe?
Depende do aluno na verdade. Para a maioria é, sem dúvida, recomendável alguém que o oriente. Nesse sentido vale mais o professor que seja franco e honesto em relação ao que lhe apresentado. Alguns alunos, entretanto, querem orientadores mais perto de si, aqueles que lhe perguntam da vida, conversam, são amigos e efetivamente demostram interesse em ajudar o aluno não apenas no processo da pesquisa mas na orientação do que fazer na vida (normalmente tratamos com jovens e que ainda não decidiram a carreira profissional e estão cheios de dúvidas no que vão fazer quando terminarem o curso). Outros querem um relacionamento estritamente profissional, objetividade nas discussões e pouco gasto e dispersão de tempo.
Para os alunos que já são mais autossuficientes e tem certa experiência (geralmente mais velhos e com outra formação ou experiência profissional), um orientador mais distante (que não atrapalha) pode ser melhor. Para esses casos vale lembrar que o aluno deve ter cuidado para não deixar o orientador na berlinda. É necessário ter o orientador como alguém que possa dar feedback sobre o que é feito e escrito.
Na prática, avaliar isso é muito difícil, e só a convivência vai mostrar como agir, - tanto para aluno quanto para professor. Mas vale lembrar que “muito ajuda quem não atrapalha” e que um orientador que orienta também é um que não atrapalha.
Blog_CF: Qual o orientador que apresenta maior taxa de sucesso: aquele que risca tudo ou aquele que não lê o trabalho do orientando?
Realmente não sei dizer. Geralmente eu risco tudo, não gosto de correr riscos e passar vergonha frente a meus outros colegas professores. Mas reconheço que é praticamente impossível pegar todos os erros ou ver todas as situações e deficiências de um trabalho. Mas já aconteceu de participar de bancas em que não tive tempo de ver o trabalho como um todo do meu orientando e só receber elogios e trabalhos que foram riscados e re-riscados exaustivamente serem duramente criticados. (avaliação tem sempre um caráter subjetivo, há bancas que gostam do tema e outras não).
No caso de não ler o trabalho acho que é muito risco para todas as partes, para o orientador (que passa vergonha e atestado de incompetência), para o avaliador (pode perder um amigo ou arrumar um inimigo) e principalmente para o aluno (que é a parte mais fraca no processo e, por estar sendo avaliado, tem os nervos à flor da pele)
Aqui acho que tem um pouco da ideia da “tese do coelho” (http://www.contabilidade-financeira.com/2010/04/rir-e-o-melhor-remedio_20.html). Orientadores que não leem o que seus alunos escrevem, podem passar vergonha em uma banca, mas normalmente também são os que batem na mesa e no peito e bancam o trabalho (argumento de autoridade). Os que leem os trabalhos passam mais segurança aos alunos e os próprios alunos entendem que devem buscar um trabalho que tenha méritos (autoridade de argumento).
Blog_CF: Em que momento é possível perceber quando um aluno irá fazer um trabalho ruim ou irá desistir do tema?
Geralmente em três situações:
1. Quando não compreendeu o problema de pesquisa. Se o aluno não sabe qual o problema de pesquisa vai ficar “patinando” e, se sair daí, não vai conseguir fazer o trabalho a tempo. A compreensão do problema de pesquisa (o que ele é e como se operacionaliza) é talvez a maior dificuldade que o aluno enfrenta, tanto no aspecto do “caso concreto” quanto no aspecto teórico.
2. Quando apresenta dificuldades cognitivas para entender os aspectos teóricos e metodológicos do trabalho. Nesses casos é necessário que o professor tenha tato para saber até onde pode cobrar do aluno. Há gênios e há aqueles com dificuldade. Devemos reconhecer que nem todos fazem parte do primeiro grupo.
3. Quando ele some. Desapareceu durante muito tempo (duas ou três semanas bastam), não importa o motivo, já comprometeu o andamento da pesquisa e os resultados provavelmente não serão bons.
Blog_CF: Em sua opinião, o TCC deveria ser obrigatório, mesmo para o aluno que não irá para área acadêmica? Não seria melhor ele fazer outra disciplina?
Acredito que deva ser obrigatório. Não é apenas a questão da pesquisa em si que importa no TCC, acho que pode despertar vocações para a pesquisa e para a academia, mas também há o desenvolvimento de competências que muitas vezes não foram sequer pensadas durante o curso. Durante os cursos de graduação, na maior parte das vezes os alunos não são instados a escrever, a praticar a leitura, a criticar, a compilar e analisar dados e tirar conclusões. Normalmente, não é solicitado que o aluno pense por si, mas que ele repita fórmulas prontas ditadas nas aulas, ou seja, a repetição do conteúdo e não a criação e reflexão do saber.
Diversas pesquisas sobre o ensino da área de contabilidade mostraram que ele é muito técnico. Pela minha vivência, são raros os professores que avaliam os alunos por outro tipo de instrumento que não seja apenas prova (e os alunos ainda pedem que seja com os mesmos exercícios do livro ou de uma lista...). Acredito que o TCC possa servir como uma forma de desenvolvimento de um aluno mais crítico, e não apenas um “fazedor de lançamentos”.
Na verdade, a ideia de se fazer pesquisa deveria estar presente durante todo o curso de graduação e não apenas no momento do TCC.
Mas vale lembrar que o TCC não precisa ser apenas no formato de pesquisa científica, a própria resolução das diretrizes curriculares permite que se tenham formas diferentes para o TCC. Poder-se-ia haver relatos de consultoria, diagnósticos empresariais, relatórios profissionais. Em suma, as universidades poderiam ser mais criativas, mas reconheço que a operacionalização dessas ideias podem ser difíceis de serem implementadas e que a compreensão dos demais professores sobre o assunto possa ser muito diferente.
Blog_CF: Para finalizar: artigo ou monografia? Qual o mais útil?
Na essência o que importa para um TCC é o desenvolvimento das competências do aluno e a sua aprendizagem em relação ao tema. Assim, tanto faz se o formato for monografia ou artigo.
Mas sou partidário do artigo, sem dúvida. Embora a monografia seja o formato mais utilizado nas Instituições de Ensino Superior no país, tendo em vista o disposto nas resoluções do MEC, o artigo é muito mais útil.
O ciclo de pesquisa envolve a ideia inicial, a confecção da pesquisa em si, a escrita, os ritos de passagem (orientações e defesa pública) e se concretiza com a divulgação.
Acontece que o formato monografia requer um retrabalho. Ou seja, é necessário fazer o corte das sobras de texto que não sejam essenciais ao entendimento do trabalho para que seja haja a tentativa de publicação. Em uma época em que somos cobrados por produto, é um desserviço termos que fazer uma tarefa duas vezes (além de sermos pagos pelo dinheiro do contribuinte...). Também há um aspecto prático: o aluno quer seguir a vida dele, começar a trabalhar, ganhar dinheiro e muitas vezes esquecer o TCC, na maioria das vezes, não vê utilidade na publicação, dessa maneira ele some e muitas vezes nunca mais o encontramos. Há também um aspecto ético: o trabalho é do aluno, que direito temos, enquanto professores, de mexer no que ele escreveu? Enviar para publicação?
Mas também sou contra fazer o TCC como artigo e já na a orientação objetivar a publicação. Em primeiro lugar deve vir a aprendizagem, a publicação deve ser consequência e se houver interesse do aluno. Em minha opinião professor não tem direito de forçar o aluno a publicar ou condicionar a orientação ao envio do trabalho para um evento ou periódico.
Com base nessa experiência, entrevistamos, por e-mail, o professor Claudio para saber um pouco mais sobre o assunto.
Blog_CF: Quais são os erros mais comuns na monografia dos alunos de TCC?
1. Escolher o orientador e não o tema. É comum o aluno buscar o professor mais legal ou de maior simpatia, mas isso não é o que realmente leva a um bom trabalho. Acredito que o foco deve ser no tema e, a partir daí, buscar-se um bom orientador. E não o contrário.
2. Procrastinação. Como bons brasileiros (a maioria dos alunos) deixam tudo para a última hora e esperam pela prorrogação do prazo (que muitas vezes não vem). Com esse tipo de atitude os trabalhos saem com baixa qualidade quando poderiam ser bem melhores, bastando um pouco mais de organização e planejamento das atividades de pesquisa.
3. Ter vergonha de levar o trabalho para correção do professor. Já fiz isso, e já tive alunos que fizeram isso. Ser criticado é talvez uma das coisas mais difíceis na vida. Não conheço ninguém que goste de ser criticado - e para mim também não existe crítica construtiva e sim tom de crítica e estado de espírito, dependendo desses dois posso, ou não, aceitar a crítica. Reconheço, contudo, que é difícil fazer um grande esforço e o orientador dizer que o que foi escrito é uma grande bobagem, mas às vezes é exatamente isso o que acontece (fazemos grandes bobagens e outras vezes acertamos em cheio. A vida é assim...).
4. Achar que a tarefa é do professor e não dele. Nem é preciso comentar né?
5. Não se atentar para o fato de que é necessário que um trabalho seja:
a. Realizado com um tema de seu interesse e não do orientador - é necessário gostar do tema ou pelo menos não odiá-lo. O melhor é estar apaixonado por ele;
b. Importante tanto para o aluno quanto para as outras pessoas (não apenas para o orientador e avaliadores), efetivamente tentar contribuir para o conhecimento e não apenas fazer uma obrigação. Se o autor não está convencido que seu trabalho é importante, como vai convencer outras pessoas?;
c. Original. As formas de pensar e expressar são muito diversas, há uma fonte inesgotável de criatividade mundo afora e ser original é ao mesmo tempo fácil e difícil. Fácil porque ninguém pensa exatamente da mesma forma que os outros e difícil porque os temas estão sendo pesquisados por muita gente, as ideias circulam e o que pensamos ser original às vezes já foi publicado. Por outro lado, é interessante ter novas formas de se fazer pesquisa, utilizar métodos e técnicas que ainda não foram utilizados no tema, buscar novos sujeitos para pesquisar (ou seja, fazer um recorte interessante na pesquisa). Tenho visto também que uma boa saída (mas não tão fácil) é buscar a interdisciplinaridade, ou seja, trabalhar conceitos, modelos e teorias de uma área em outra;
d. Viável. Vejo muitas vezes o aluno chegar com uma ideia mirabolante, que vai resolver todos os problemas da humanidade ou que vai mudar o nome do Banco Central (essa ideia já me foi apresentada uma vez...). Bom, a questão é ter o pé no chão e observar a capacidade, tempo, recursos disponíveis e necessários para se fazer a pesquisa. Não adianta ter a melhor ideia do mundo se ela não for viável.
Sobre esses três últimos pontos recomendo uma leitura adicional do capítulo 3 do livro de Cláudio de Moura Castro. A prática da pesquisa. Editora Pearson.
Blog_CF: Existem muitos casos de compra de trabalho? E de plágio?
Sobre a quantidade eu realmente não sei responder, o que parece é que a detecção dessem casos tem sido mais frequente e há casos não só Brasil, mas também na Alemanha (quem diria...).
O plágio é mais fácil de ser observado: estilo de linguagem, formatação, diferenças entre discussão com o aluno e o que aparece escrito são indícios de que há problemas. Outro ponto é o plágio não intencional e nesse caso é importante a leitura atenta do trabalho pelo orientador e anotação das fontes que foram consultadas pelo aluno.
Compra de trabalhos já é outra história... já recebi algumas denúncias, mas não foi possível provar. Nesses casos o que recomendo é maior atenção da banca. O problema é que, geralmente, quem faz isso também estuda o tema com afinco para realizar a defesa. Dessa forma, como pegar?
Uma solução é ficar atento durante a orientação. Sei de um caso em que o aluno sempre ia com um “primo” para a orientação ou quando isso não acontecia pedia para gravar. Acontece que o tal “primo” era o ghost writer do trabalho. Mas também conheço um caso que o aluno foi denunciado e a banca constatou-se que o trabalho era tão ruim que o tal aluno poderia levar o caso ao PROCON para ter seu dinheiro de volta... Rs.
Blog_CF: Muitos alunos procuram você com um tema, mas sem orientador. Como saber o que fazer neste caso? O que ele deve fazer para escolher o orientador mais correto?
É uma situação mais comum do que se imagina. Na maioria das vezes o aluno que tem um tema não tem um orientador e o que tem o orientador não tem o tema. Os interesses de cada grupo são muito diferentes, seja por leitura ou por simplesmente pertencerem a gerações diferentes.
Sempre recomendo aos alunos observarem o Lattes dos professores da instituição e, a partir daí, ver o que melhor se encaixa na proposta que ele quer fazer, outra maneira é conversar com outros professores e com colegas para saber os projetos de pesquisa que estão sendo desenvolvidos na instituição. O aluno também deve ficar atento para o fato de que o professor vai tentar transformar seu trabalho em algo mais palatável a ele, ou seja vai tentar alinhar o interesse do aluno ao seu interesse, vez que isto facilita o processo de pesquisa. Raramente vemos professores abraçarem “novas causas” temas novos ou fora do que conhecemos é sempre um risco que muitas vezes não queremos ou podemos correr.
O orientador para esses casos tem que ser o que melhor avalie a situação e o que realmente se dedique com o aluno na construção do trabalho, mostre caminhos possíveis e indique, por vezes, outros professores que podem tirar as dúvidas a respeito do tema.
Blog_CF: O que é mais comum: o aluno que quer um orientador que orienta ou um que deseja um orientador que não atrapalhe?
Depende do aluno na verdade. Para a maioria é, sem dúvida, recomendável alguém que o oriente. Nesse sentido vale mais o professor que seja franco e honesto em relação ao que lhe apresentado. Alguns alunos, entretanto, querem orientadores mais perto de si, aqueles que lhe perguntam da vida, conversam, são amigos e efetivamente demostram interesse em ajudar o aluno não apenas no processo da pesquisa mas na orientação do que fazer na vida (normalmente tratamos com jovens e que ainda não decidiram a carreira profissional e estão cheios de dúvidas no que vão fazer quando terminarem o curso). Outros querem um relacionamento estritamente profissional, objetividade nas discussões e pouco gasto e dispersão de tempo.
Para os alunos que já são mais autossuficientes e tem certa experiência (geralmente mais velhos e com outra formação ou experiência profissional), um orientador mais distante (que não atrapalha) pode ser melhor. Para esses casos vale lembrar que o aluno deve ter cuidado para não deixar o orientador na berlinda. É necessário ter o orientador como alguém que possa dar feedback sobre o que é feito e escrito.
Na prática, avaliar isso é muito difícil, e só a convivência vai mostrar como agir, - tanto para aluno quanto para professor. Mas vale lembrar que “muito ajuda quem não atrapalha” e que um orientador que orienta também é um que não atrapalha.
Blog_CF: Qual o orientador que apresenta maior taxa de sucesso: aquele que risca tudo ou aquele que não lê o trabalho do orientando?
Realmente não sei dizer. Geralmente eu risco tudo, não gosto de correr riscos e passar vergonha frente a meus outros colegas professores. Mas reconheço que é praticamente impossível pegar todos os erros ou ver todas as situações e deficiências de um trabalho. Mas já aconteceu de participar de bancas em que não tive tempo de ver o trabalho como um todo do meu orientando e só receber elogios e trabalhos que foram riscados e re-riscados exaustivamente serem duramente criticados. (avaliação tem sempre um caráter subjetivo, há bancas que gostam do tema e outras não).
No caso de não ler o trabalho acho que é muito risco para todas as partes, para o orientador (que passa vergonha e atestado de incompetência), para o avaliador (pode perder um amigo ou arrumar um inimigo) e principalmente para o aluno (que é a parte mais fraca no processo e, por estar sendo avaliado, tem os nervos à flor da pele)
Aqui acho que tem um pouco da ideia da “tese do coelho” (http://www.contabilidade-financeira.com/2010/04/rir-e-o-melhor-remedio_20.html). Orientadores que não leem o que seus alunos escrevem, podem passar vergonha em uma banca, mas normalmente também são os que batem na mesa e no peito e bancam o trabalho (argumento de autoridade). Os que leem os trabalhos passam mais segurança aos alunos e os próprios alunos entendem que devem buscar um trabalho que tenha méritos (autoridade de argumento).
Blog_CF: Em que momento é possível perceber quando um aluno irá fazer um trabalho ruim ou irá desistir do tema?
Geralmente em três situações:
1. Quando não compreendeu o problema de pesquisa. Se o aluno não sabe qual o problema de pesquisa vai ficar “patinando” e, se sair daí, não vai conseguir fazer o trabalho a tempo. A compreensão do problema de pesquisa (o que ele é e como se operacionaliza) é talvez a maior dificuldade que o aluno enfrenta, tanto no aspecto do “caso concreto” quanto no aspecto teórico.
2. Quando apresenta dificuldades cognitivas para entender os aspectos teóricos e metodológicos do trabalho. Nesses casos é necessário que o professor tenha tato para saber até onde pode cobrar do aluno. Há gênios e há aqueles com dificuldade. Devemos reconhecer que nem todos fazem parte do primeiro grupo.
3. Quando ele some. Desapareceu durante muito tempo (duas ou três semanas bastam), não importa o motivo, já comprometeu o andamento da pesquisa e os resultados provavelmente não serão bons.
Blog_CF: Em sua opinião, o TCC deveria ser obrigatório, mesmo para o aluno que não irá para área acadêmica? Não seria melhor ele fazer outra disciplina?
Acredito que deva ser obrigatório. Não é apenas a questão da pesquisa em si que importa no TCC, acho que pode despertar vocações para a pesquisa e para a academia, mas também há o desenvolvimento de competências que muitas vezes não foram sequer pensadas durante o curso. Durante os cursos de graduação, na maior parte das vezes os alunos não são instados a escrever, a praticar a leitura, a criticar, a compilar e analisar dados e tirar conclusões. Normalmente, não é solicitado que o aluno pense por si, mas que ele repita fórmulas prontas ditadas nas aulas, ou seja, a repetição do conteúdo e não a criação e reflexão do saber.
Diversas pesquisas sobre o ensino da área de contabilidade mostraram que ele é muito técnico. Pela minha vivência, são raros os professores que avaliam os alunos por outro tipo de instrumento que não seja apenas prova (e os alunos ainda pedem que seja com os mesmos exercícios do livro ou de uma lista...). Acredito que o TCC possa servir como uma forma de desenvolvimento de um aluno mais crítico, e não apenas um “fazedor de lançamentos”.
Na verdade, a ideia de se fazer pesquisa deveria estar presente durante todo o curso de graduação e não apenas no momento do TCC.
Mas vale lembrar que o TCC não precisa ser apenas no formato de pesquisa científica, a própria resolução das diretrizes curriculares permite que se tenham formas diferentes para o TCC. Poder-se-ia haver relatos de consultoria, diagnósticos empresariais, relatórios profissionais. Em suma, as universidades poderiam ser mais criativas, mas reconheço que a operacionalização dessas ideias podem ser difíceis de serem implementadas e que a compreensão dos demais professores sobre o assunto possa ser muito diferente.
Blog_CF: Para finalizar: artigo ou monografia? Qual o mais útil?
Na essência o que importa para um TCC é o desenvolvimento das competências do aluno e a sua aprendizagem em relação ao tema. Assim, tanto faz se o formato for monografia ou artigo.
Mas sou partidário do artigo, sem dúvida. Embora a monografia seja o formato mais utilizado nas Instituições de Ensino Superior no país, tendo em vista o disposto nas resoluções do MEC, o artigo é muito mais útil.
O ciclo de pesquisa envolve a ideia inicial, a confecção da pesquisa em si, a escrita, os ritos de passagem (orientações e defesa pública) e se concretiza com a divulgação.
Acontece que o formato monografia requer um retrabalho. Ou seja, é necessário fazer o corte das sobras de texto que não sejam essenciais ao entendimento do trabalho para que seja haja a tentativa de publicação. Em uma época em que somos cobrados por produto, é um desserviço termos que fazer uma tarefa duas vezes (além de sermos pagos pelo dinheiro do contribuinte...). Também há um aspecto prático: o aluno quer seguir a vida dele, começar a trabalhar, ganhar dinheiro e muitas vezes esquecer o TCC, na maioria das vezes, não vê utilidade na publicação, dessa maneira ele some e muitas vezes nunca mais o encontramos. Há também um aspecto ético: o trabalho é do aluno, que direito temos, enquanto professores, de mexer no que ele escreveu? Enviar para publicação?
Mas também sou contra fazer o TCC como artigo e já na a orientação objetivar a publicação. Em primeiro lugar deve vir a aprendizagem, a publicação deve ser consequência e se houver interesse do aluno. Em minha opinião professor não tem direito de forçar o aluno a publicar ou condicionar a orientação ao envio do trabalho para um evento ou periódico.
06 outubro 2013
Como ler um texto científico
Uma postagem interessante (How to read and understand a scientific paper: a guide for non-scientists) sobre como um não cientista deve ler um artigo científico. O texto concentra-se nos artigos denominados de “primary research”, em contraposição aos artigos de revisão da literatura. Eis alguns dos conselhos do texto (com adaptações):
Leia mais aqui
- Muitos textos científicos são divididos nas seguintes partes: resumo, introdução, métodos, resultados e conclusões/interpretações/discussão.
- verifique o nome dos autores e o vinculo institucional. Algumas instituições são respeitáveis e outras nem tanto
- verifique o nome do periódico que é publicado. Alguns periódicos são mais respeitados que outros. No Brasil temos uma classificação dada pela Capes para cada área como um sinal para qualidade do periódico.
- leia inicialmente a introdução, não o resumo. Em geral na introdução o autor apresenta a importância da pesquisa, conduzindo a questão da pesquisa e, em muitos textos, os resultados que foram obtidos no trabalho.
- identifique a grande questão do texto. Ou seja, qual o problema que o texto tenta resolver. Se for o caso, identifique questões específicas.
- identifique a abordagem. Em outras palavras, como os autores responderam as questões.
- leia a parte do método. Como os autores fizeram para responder a questão.
- leia a seção de resultados. Em geral os artigos resumem os resultados nas figuras ou tabelas. Preste atenção no que os dados estão dizendo. Atenção para o termo “significante” e “não significante”.
- verifique se os resultados respondem a questão proposta.
- leia a parte final. Os autores mostraram as fraquezas do estudo? Isto influenciou na pesquisa?
- agora volte e leia o resumo.
- tente verificar o que outros pesquisadores dizeram sobre o texto. Use o google acadêmico para encontrar citações a pesquisa que você leu.
Leia mais aqui
05 abril 2013
10 dicas para identificar o plágio
Além dos programas de caçam plágio, um leitor poderá desconfiar que um texto seja plagiado a partir de algumas dicas. Apresento, a seguir, uma lista incompleta de alguns dos indícios:
1. O nível do texto é superior à capacidade do autor – Isto pode ocorrer quando você conhece quem escreveu o texto. Se o trabalho que você estiver lendo tiver uma qualidade muito acima do que você esperaria daquela pessoa, isto pode ser um sinal de plágio;
2. O texto mudou de estilo e de qualidade – O texto segue um estilo normal e, de repente torna-se muito técnico. O novo trecho tem grande chance de ter sido copiado de alguém. Outra situação próxima a esta é a mudança brusca de assunto.
3. A análise dos dados para num ano sem uma explicação plausível – Li um artigo este ano em que os autores fizeram uma análise de algumas demonstrações financeiras no ano de 2010. Não existia nenhuma razão de fazer a análise para 2010 se existiam informações disponíveis de 2011.
4. Citações difíceis de serem obtidas – Existem algumas obras que dificilmente as pessoas conseguem acesso, como artigos antigos e livros com edições esgotadas.
5. Não existe vínculo entre as partes – Alguns textos parecem Frankenstein: as partes não estão interligadas, a análise de dados não tem uma coerência com o referencial teórico e assim por diante.
6. Citações defasadas – Quando não existe nenhuma obra recente sobre o assunto no trabalho: isto pode ser um sinal de que o autor buscou em terceiros sua citação.
7. Tradução em citações literais – Alguns textos possuem citações literais de obras em outras línguas. Em geral que faz ele próprio a tradução, informa que a tradução é própria.
8. Tema pouco usual na literatura acadêmica brasileira – Há meses fui convidado a avaliar um artigo encaminhado para um periódico nacional. O assunto era pouco usual na nossa literatura, assim como a abordagem usada – baseada excessivamente em modelagem. O texto era uma tradução de um artigo publicado em língua inglesa.
9. Gráficos com baixa resolução – Se no trabalho aparecer uma figura, um gráfico, uma tabela ou fórmula com baixa resolução visual desconfie. Pode ter sido usado o Control C + Control V.
10. A formatação difere das regras pré-estabelecidas – Eis um caso típico: foi solicitado expressamente para usar as normas da ABNT na citação e o texto traz citações pelas normas da APA. Qual a razão para o autor desobedecer as normas?
1. O nível do texto é superior à capacidade do autor – Isto pode ocorrer quando você conhece quem escreveu o texto. Se o trabalho que você estiver lendo tiver uma qualidade muito acima do que você esperaria daquela pessoa, isto pode ser um sinal de plágio;
2. O texto mudou de estilo e de qualidade – O texto segue um estilo normal e, de repente torna-se muito técnico. O novo trecho tem grande chance de ter sido copiado de alguém. Outra situação próxima a esta é a mudança brusca de assunto.
3. A análise dos dados para num ano sem uma explicação plausível – Li um artigo este ano em que os autores fizeram uma análise de algumas demonstrações financeiras no ano de 2010. Não existia nenhuma razão de fazer a análise para 2010 se existiam informações disponíveis de 2011.
4. Citações difíceis de serem obtidas – Existem algumas obras que dificilmente as pessoas conseguem acesso, como artigos antigos e livros com edições esgotadas.
5. Não existe vínculo entre as partes – Alguns textos parecem Frankenstein: as partes não estão interligadas, a análise de dados não tem uma coerência com o referencial teórico e assim por diante.
6. Citações defasadas – Quando não existe nenhuma obra recente sobre o assunto no trabalho: isto pode ser um sinal de que o autor buscou em terceiros sua citação.
7. Tradução em citações literais – Alguns textos possuem citações literais de obras em outras línguas. Em geral que faz ele próprio a tradução, informa que a tradução é própria.
8. Tema pouco usual na literatura acadêmica brasileira – Há meses fui convidado a avaliar um artigo encaminhado para um periódico nacional. O assunto era pouco usual na nossa literatura, assim como a abordagem usada – baseada excessivamente em modelagem. O texto era uma tradução de um artigo publicado em língua inglesa.
9. Gráficos com baixa resolução – Se no trabalho aparecer uma figura, um gráfico, uma tabela ou fórmula com baixa resolução visual desconfie. Pode ter sido usado o Control C + Control V.
10. A formatação difere das regras pré-estabelecidas – Eis um caso típico: foi solicitado expressamente para usar as normas da ABNT na citação e o texto traz citações pelas normas da APA. Qual a razão para o autor desobedecer as normas?
22 março 2013
Os Setes Pecados dos Trabalhos de Graduação
Ao longo da minha carreira de docente venho solicitando aos alunos de graduação que façam artigos técnicos. Isto representa um grande trabalho de leitura e uma angustia na correção dos textos. A partir da minha experiência elaborei uma lista dos sete pecados mais comuns num trabalho de um aluno de graduação.
1 – Plágio
Este é um problema sério. Em muitos casos os alunos pensam que o professor não irá ler o trabalho. Ou que ele não irá desconfiar que “tomou emprestado” um texto de outro autor e não citou a fonte. Como meu aluno é muito alertado sobre a gravidade do problema, é lamentável ter que descobrir a ingenuidade em achar que pode passar despercebido. Uma vez que tenho uma grande experiência na leitura de trabalhos, é muito fácil de pegar o aluno desonesto. Infelizmente eu tenho percebido que sou uma exceção. Em alguns locais, como no segundo grau, o plágio é até incentivado. Em outras situações, como meus colegas não fazem uma leitura atenta – ou não fazem uma leitura – o plagiador é premiado.
2 – Falta de Foco
Muitos trabalhos são amplos demais. Tentam abarcar um grande número de questões, sem tratar de maneira adequada de nenhuma delas. Um dos temas que trato na minha disciplina é sobre a história da contabilidade no Brasil. Com base neste tema, o aluno não delimita o assunto, tratando de um período específico, por exemplo. O resultado é desastroso.
3 – Juízo de Valor
Aqui o aluno confunde defender um argumento com tomar partido sobre um assunto. Um tema como “Contabilidade Fiscal” geralmente é acompanhado por uma crítica a estrutura tributária brasileira. E o texto passa a ser uma defesa da pobre empresa, que paga muito imposto, ou uma crítica do excesso de burocracia.
4 – Referencial
O acesso à internet possibilitou que os alunos tenham acesso a muitas informações. Mas isto não significa qualidade. Em lugar de escolher um bom artigo publicado num periódico científico, o aluno usa textos escritos em sítios jurídicos ou de administração. Nada contra, mas não são científicos. É bem verdade que um aluno de graduação possui pouco discernimento para separar o trigo do joio, mas eu tento comentar sobre o assunto em sala de aula. Parece que a atração por textos fáceis é maior que a linguagem excessivamente técnica de um artigo.
5 – Atração pela pesquisa bibliográfica
Trabalhos bibliográficos são extremamente difíceis de serem feitos. E a chance da qualidade não ser adequada é muito grande. Talvez em decorrência do tipo de trabalho que os alunos fizeram no ensino médio, a pesquisa bibliográfica acaba sendo um atrativo. Na quase totalidade são textos ruins.
6 – Estrutura ruim
A estrutura de um trabalho acadêmico geralmente é composta por uma introdução, uma revisão bibliográfica, o proceder metodológico, a análise e as conclusões. Simples assim. Mas dois fatos acontecem aqui: (1) esta estrutura não é muito adequada para certos tipos de trabalhos (pesquisa bibliográfica, por exemplo); e (2) muitas vezes o aluno anota a sequência errada e recebo trabalho onde a metodologia está no final ou algo do gênero.
7 – Forma
Apesar da “essência sob a forma”, qualquer professor sincero irá reconhecer que a forma também influencia na percepção da qualidade do trabalho. Isto inclui formatos das tabelas, gráficos legíveis, texto justificado à direita, letra que não seja “Arial”, formatação idêntica ao longo de todo o trabalho, entre outros aspectos.
Mas apesar dos problemas, muitas vezes encontro trabalhos excelentes. Alguns deles, eu compartilho as conclusões com os leitores do blog. Estas exceções induzem a solicitar, a cada semestre, um trabalho acadêmico para meus alunos.
1 – Plágio
Este é um problema sério. Em muitos casos os alunos pensam que o professor não irá ler o trabalho. Ou que ele não irá desconfiar que “tomou emprestado” um texto de outro autor e não citou a fonte. Como meu aluno é muito alertado sobre a gravidade do problema, é lamentável ter que descobrir a ingenuidade em achar que pode passar despercebido. Uma vez que tenho uma grande experiência na leitura de trabalhos, é muito fácil de pegar o aluno desonesto. Infelizmente eu tenho percebido que sou uma exceção. Em alguns locais, como no segundo grau, o plágio é até incentivado. Em outras situações, como meus colegas não fazem uma leitura atenta – ou não fazem uma leitura – o plagiador é premiado.
2 – Falta de Foco
Muitos trabalhos são amplos demais. Tentam abarcar um grande número de questões, sem tratar de maneira adequada de nenhuma delas. Um dos temas que trato na minha disciplina é sobre a história da contabilidade no Brasil. Com base neste tema, o aluno não delimita o assunto, tratando de um período específico, por exemplo. O resultado é desastroso.
3 – Juízo de Valor
Aqui o aluno confunde defender um argumento com tomar partido sobre um assunto. Um tema como “Contabilidade Fiscal” geralmente é acompanhado por uma crítica a estrutura tributária brasileira. E o texto passa a ser uma defesa da pobre empresa, que paga muito imposto, ou uma crítica do excesso de burocracia.
4 – Referencial
O acesso à internet possibilitou que os alunos tenham acesso a muitas informações. Mas isto não significa qualidade. Em lugar de escolher um bom artigo publicado num periódico científico, o aluno usa textos escritos em sítios jurídicos ou de administração. Nada contra, mas não são científicos. É bem verdade que um aluno de graduação possui pouco discernimento para separar o trigo do joio, mas eu tento comentar sobre o assunto em sala de aula. Parece que a atração por textos fáceis é maior que a linguagem excessivamente técnica de um artigo.
5 – Atração pela pesquisa bibliográfica
Trabalhos bibliográficos são extremamente difíceis de serem feitos. E a chance da qualidade não ser adequada é muito grande. Talvez em decorrência do tipo de trabalho que os alunos fizeram no ensino médio, a pesquisa bibliográfica acaba sendo um atrativo. Na quase totalidade são textos ruins.
6 – Estrutura ruim
A estrutura de um trabalho acadêmico geralmente é composta por uma introdução, uma revisão bibliográfica, o proceder metodológico, a análise e as conclusões. Simples assim. Mas dois fatos acontecem aqui: (1) esta estrutura não é muito adequada para certos tipos de trabalhos (pesquisa bibliográfica, por exemplo); e (2) muitas vezes o aluno anota a sequência errada e recebo trabalho onde a metodologia está no final ou algo do gênero.
7 – Forma
Apesar da “essência sob a forma”, qualquer professor sincero irá reconhecer que a forma também influencia na percepção da qualidade do trabalho. Isto inclui formatos das tabelas, gráficos legíveis, texto justificado à direita, letra que não seja “Arial”, formatação idêntica ao longo de todo o trabalho, entre outros aspectos.
Mas apesar dos problemas, muitas vezes encontro trabalhos excelentes. Alguns deles, eu compartilho as conclusões com os leitores do blog. Estas exceções induzem a solicitar, a cada semestre, um trabalho acadêmico para meus alunos.
15 março 2013
Resultado e Expectativa em Pesquisa
Em muitas pesquisas empíricas é comum ocorrer dos resultados
não estarem de acordo com o que era esperado. E fica uma sensação de frustração,
achando que perdemos de tempo. Existem algumas dicas que podem ajudar num
momento como este.
1 – Digitação errada – é uma possibilidade razoável que o
resultado tenha sido alterado por erro de digitação. O ideal seria transcrever
os dados duas vezes, de maneira independente e verificar se o resultado é o
mesmo. Mas na prática os pesquisadores são muito confiantes e acham que isto é
uma perda de tempo. Mas vale a pena pelo menos verificar se existe alguma
informação discrepante.
2 – Erro de transcrição – em algumas pesquisas é comum que a
informação primária seja passada para um instrumento, como uma planilha
eletrônica. O ideal seria que o instrumento fosse transcrito por duas fontes
independentes. Isto inclui as pesquisas em que passamos os dados da planilha
para um programa estatístico. Em muitos casos é possível existir perda de
informação, que irá afetar o resultado final.
3 – Outlier – é uma informação fora do padrão usual. E como
tal pode afetar a media do conjunto. Uma análise dos dados, inclusive apresentados
num gráfico, poderá facilitar na identificação destes casos. Existem testes
estatísticos para determinar se a informação é realmente um outlier e podem ser
usados. Ou o pesquisador poderá tomar a decisão de eliminar os casos extremos
(os 5% maiores e menores, por exemplo).
4 – Software – é difícil imaginar que um software pode
provocar um erro no trabalho. Mas isto pode ocorrer, inclusive quando usamos os
comandos de maneira inadequada. Além disto, em algumas funções, o software
possui um “default”, que se alterado poderá mudar os rumos da pesquisa.
5 - Instrumento da pesquisa não foi adequado – podemos estar
tentando provar algo com o instrumento errôneo. Considere a situação em que
desejo verificar o grau de honestidade das pessoas; para isto, pergunto, num
questionário: “você é honesto”. Obviamente que o resultado será inadequado, já
que as pessoas tenderão a dizer que são honestas.
6 - Amostra inadequada – o problema pode estar na amostra
usada. Usar estudantes do primeiro semestre para responder um questionário
sobre equivalência patrimonial provavelmente terá resultados ruins. A amostra
deve ajudar a responder a pergunta da pesquisa, não atrapalhar.
7 – Método ruim – para cada tipo de informação existente
existe um método estatístico correspondente. Muitas vezes o pesquisador usar um
método inadequado, que possui problemas com o tipo de variável usada no estudo.
8 - Objetivo x dados usados – O objetivo deve estar
relacionado com os dados usados na pesquisa. Se o objetivo é verificar a
importância das pequenas empresas na economia não devo usar, como informação
central, dados do Sebrae. Esta entidade defende este segmento e os dados podem
estar enviesados.
Todos os itens acima podem ser resumidos em: “reveja todo o
processo de construção da pesquisa”. Seja criterioso. E se isto não conseguir
arrumar os resultados, pense que deve existir uma explicação plausível para
isto. Para que isto fique claro irei contar uma breve história de uma pesquisa
que realizei em conjunto com uma aluna de iniciação científica.
O objetivo da pesquisa era verificar o efeito do
congestionamento, na cidade de São Paulo, na bolsa de valores. Como não foi
possível coletar os dados na sua fonte primária, optamos por usar as
informações dos jornais. Isto naturalmente poderá provocar alguns erros de
transcrição, mas uma vez que o número de informações era razoavelmente elevado,
seguimos em frente. Depois de realizar os testes entre o comportamento da bolsa
(medido pelo Ibovespa) e o congestionamento de São Paulo, o resultado não foi
adequado. E eu tinha certeza que a pesquisa daria uma relação entre as
variáveis.
Após refletir sobre o assunto descobrimos dois problemas na
pesquisa. O primeiro, meio óbvio é que o congestionamento pode ocorrer no
período da manhã – influenciando o mercado no mesmo dia – ou no período da
noite – afetando o mercado no dia seguinte, mas com menor intensidade. A
segunda explicação é menos óbvia: apesar de o congestionamento afetar a vida
das pessoas, o efeito sobre o mercado talvez seja mais sutil. Parte das
decisões de investimento não é tomada em São Paulo (lembrem-se dos investidores
internacionais, que enviam ordens de compra e venda do exterior). Outras
decisões são feitas por softwares, que não sofrem o efeito do congestionamento.
Em resumo, nesta pesquisa cometemos o erro de transcrição (item 2) e usamos um
instrumento de pesquisa inadequado (item 5). Apesar disto, gostei muito de
participar desta pesquisa: aprendi muito com estes erros.
01 fevereiro 2013
Gráficos em trabalhos acadêmicos
É muito comum que nos trabalhos acadêmicos sejam usados
gráficos. Entretanto, seu uso deve ser feito com cautela. Este texto discute os
principais gráficos que podem ser usados, quando devem ser utilizados e os perigos. Para simplificar, consideramos nos exemplos situações sem título e
números.
Gráfico de Pizza
Este tipo de gráfico deve ser usado quando pretendemos
mostrar a participação de cada um dos elementos num total. E só use nesta
situação, nenhuma outra. A figura abaixo mostra que a área verde é maior; isto
significa que esta variável possui maior participação no total.
Em geral este tipo de gráfico não deve ser usado. Evite-o por duas razões: primeiro, o gráfico
pode ser substituído por uma tabela ou até mesmo por informação dentro do
texto; segundo, por ocupara muito espaço, o gráfico cria a impressão de que o
autor do texto está “enrolando”. Lembre-se: na dúvida, não use.
Gráfico de barra
Este é o gráfico útil para destacar a evolução ao longo do
tempo de uma variável. O ideal é usar quando o número de períodos é maior que
cinco, mas não muito acima da dezena.
A figura abaixo mostra que a variável estudada cresceu ao
longo do tempo, exceto nos dois últimos períodos. O gráfico realmente passa uma
mensagem.
O gráfico pode ser usado em mais de uma variável, mas não se
deve abusar. Veja o exemplo a seguir. O número excessivo torna difícil analisar
o conteúdo do gráfico. Assim, em lugar de informar, a figura atrapalha.
Gráfico de Linha
Este também é um gráfico que deve ser usado para mostra
evolução ao longo do tempo. Mas aqui, o número de períodos é muito grande. Mas
da mesma forma que o gráfico de barras, não se deve usar num mesmo gráfico,
muitas variáveis.
Gráfico de área
O gráfico de área pode ser útil para mostrar a evolução de
duas ou mais variáveis, onde se quer mostrar também a participação de cada
variável no total. O exemplo a seguir mostra que com o passar do tempo a
variável representada pela cor vermelha tem aumentado ao longo do tempo.Em razão da dificuldade de usar este tipo de gráfico, evite-o.
Gráfico XY
Este é um gráfico onde se deseja destacar a existência (ou
não) de relação entre duas variáveis. E só deve ser usado nestas ocasiões.
A figura mostra um gráfico onde duas variáveis guardam entre
si uma grande relação. Este gráfico irá ressaltar que a correlação – a medida
estatística que mede esta relação – será elevada.
Outros tipos de
gráficos
Existem muitos outros tipos de gráficos. Entretanto, os
apresentados aqui são os mais comuns de serem encontrados em trabalhos
acadêmicos (exceto o gráfico de pizza, praticamente inexistente nos artigos de
melhor qualidade). A melhor regra para usar os gráficos em trabalhos: apesar de
serem uteis, não exagere. Prefira o simples.
25 janeiro 2013
Os Cinco Pecados da “Essência e Forma” em Trabalhos Acadêmicos
Muitos professores gostam de dizer que num trabalho
acadêmico o importante é o conteúdo. E que um trabalho “bonitinho” não ganha
pontos. Usando um conceito muito contábil, o que importa é a essência, não a
forma.
Tenho sérias discordâncias sobre este ponto. Como avaliador e
orientador sei que a forma também é relevante. Pode não contar pontos, mas se
não prestar a atenção o aluno irá perder pontos.
Listei os cinco principais pecados cometidos por um aluno na
forma do trabalho.
1 – Letra - A letra escolhida poderá provocar reações
diferentes no avaliador. A regra geral é use uma fonte simples. O uso de fontes
complicadas torna o texto mais lento de ser lido. Para um trabalho acadêmico,
uma letra “Times New Roman” é uma opção razoável. Mas tipos como “Mistral” são
cansativas. Veja o exemplo a seguir:
O uso de fonte complicada pode gerar irritação do leitor. Outra
observação: a letra geométrica, como a horrenda e muito usada Arial, é
cansativa.
2 – Enrolation (Tamanho da letra e do parágrafo) – um dos
artifícios mais usados por alunos que fizeram um trabalho pequeno é aumentar o
tamanho da letra. Com isto, ocupa-se mais espaço da folha e o trabalho “rende
mais”. Parece que o aluno pensa que o professor é bobo e não irá perceber isto.
Tradicionalmente o tamanho é o 12, mas em muitos trabalhos de congresso e
monografias existem exigências específicas. Observe a regra para não correr o
risco de perder pontuação.
Outra maneira de tentar enganar o pouco do texto é mudando a
formatação do parágrafo. Isto inclui aumentar o espaço entre os parágrafos,
aumentar as margens, aumentar o espaçamento da primeira linha entre outras
possibilidades.
3 – Alinhamento – Em geral um processador de texto, como
Word ou Google Docs, possui quatro padrões de formação do alinhamento: à
esquerda, centralizado, à direita e justificado. Na dúvida, não arrisque: use
sempre o alinhamento justificado no trabalho científico.
4 – Tabelas e Gráficos – Um trabalho pode ser prejudicado
pela escolha inadequada de um gráfico ou apresentação ruim de uma tabela. Este
ponto merece, na verdade, uma postagem específica, que faremos no futuro. Mas
observe o gráfico a seguir:
Ele foi construído a partir de uma questão com respostas “sim”
e “não” e o valor total. Não sabendo
usar a planilha eletrônica, a pessoa juntou as respostas com o total, não
colocou a referência de cada cor, não colocou o título na figura, entre outros
pecados. Era muito melhor colocar uma tabela do que um gráfico com esta
qualidade de formatação.
5 – Belo Antônio – O Belo Antônio é um filme italiano com o galã Marcello
Mastroianni. Apesar de bonito, Antônio era impotente. Temos o oposto ao
trabalho desleixado: um trabalho muito caprichado, mas com conteúdo ruim. A
forma tenta disfarçar o problema da essência. Isto funciona quando o professor
não lê o trabalho. Mas para o professor que busca qualidade no texto, a frustração
pode não compensar.
09 janeiro 2013
Os dez maiores erros na citação
Quando Nash apresentou seu texto revolucionário de teoria
dos jogos, o economista estadunidense usou duas citações. Nos dias de hoje isto
seria impensável: um texto com menos de cinco referências dificilmente seria
aceito num congresso ou periódico. Assim, temos artigos que exageram nas
citações, pecando às vezes pelo excesso. A lista a seguir começou com sete
erros. Depois que escrevi os sete
pecados num guardanapo e estava preparando para fazer este texto, eu percebi
que estava incompleta e acrescentei mais três problemas.
Os problemas apresentados a seguir são baseados na minha
experiência como leitor de artigos, avaliador e professor.
1 – Maiúscula e minúscula – infelizmente temos que respeitar
as normas de citações. E estas normas muitas vezes não fazem muito sentido. A
norma de citação brasileira diz que um autor citado ao longo de uma frase deve
ser escrito em letras minúsculas; se não citamos o autor na frase, mas o mesmo
foi fonte do pensamento, o nome deve estar entre parêntese, em letras maiúsculas.
Veja os exemplos:
Segundo Paes (2011), a
norma da ABNT é uma grande bobagem.
A norma da ABNT é uma
grande bobagem (PAES, 2011)
As duas frases são similares e mostram quando devemos usar
maiúsculas e minúsculas. Realmente isto é uma grande bobagem da ABNT, a
responsável pelas normas de citação no Brasil, mas os avaliadores consideram
isto na sua análise.
2 – Esquecer o nome do co-autor (também conhecido como erro Van Breda) – Em obra de dois ou mais
autores supõe-se que os mesmo ajudaram a escrever o texto. Assim é necessário
citar todos os autores. Já analisei artigo onde o segundo autor, certo Silva, num
livro de capital de giro, não foi citado, apesar de ter sido responsável por
muitas linhas do livro. Obviamente fiquei chateado com o grande esquecimento. Neste ponto, o grande campeão na área de
contabilidade é Van Breda. Assim, devemos citar
Para Hendriksen e Van
Breda (1999) nunca devemos esquecer o nome do co-autor
3 – Não saber usar apud
e et alii – Estas duas expressões de
origem latinas são fontes de grande confusão. O apud é usado quando pegamos uma citação de outro autor, não tendo
consultado a fonte original. Isto pode ocorrer quando não temos acesso à obra.
A ordem é citar o autor original primeiro, ligado por um apud – em itálico – ao autor onde você encontrou o texto. Desta
forma:
Pacioli apud Niyama e
Silva (2011) afirmou que o dono deve contabilizar todos os eventos
Já o et alii indica a existência de vários autores. A
maior confusão é imaginar que seria et
alli com dois “eles”. Para evitar o risco, cite et al. Eis um exemplo:
Segundo Sales et alii
(2012) a contabilidade é divertida
4 – Página – Em algumas ocasiões gostamos de citar um autor
de maneira literal. Neste caso devemos usar as aspas e indicar a página onde o
texto foi encontrado. Quando a citação não é literal, não é necessária a
página. Eis dois exemplos;
Segundo Correia (2012,
p. 1), “o universo contábil é diversificado”.
Para Correia (2012) o
mundo contábil é diversificado.
Ambas as frases dizem aproximadamente a mesma coisa. Na
primeira, uma citação exatamente como estava no texto original, merece aspas e
a página.
5 – Citação e referências – este é um erro muito comum. Todo
trabalho citado ao longo do texto deve constar das referências e aquele que
estiver nas referências deve ter sido citado no texto. De outra forma, um autor
citado ao longo do seu texto não deve estar ausente das referências (afinal,
queremos saber detalhes da obra) e um item constante da referência deve ter
sido usado no trabalho. Este tipo de erro é muito comum nos trabalhos que
passaram por uma intensa revisão.
6 – Citar um nome errado – se você tiver o azar do seu
trabalho ser avaliado pela vítima do seu erro, ou de alguém próximo a ele, este
erro será muito grave. Além disto, se for um nome amplamente conhecido na área,
o erro também poderá ter consequências. Revise o nome que consta do livro ou do
artigo para ter certeza que não cometeu este engano. Na nossa área é muito
comum encontrar frases como:
Lidicibus (1997)
afirmou que o pesquisador merece respeito.
7 – Citar uma obra pouco relevante sobre o assunto – se você
estiver fazendo um trabalho sobre a história dos negócios durante a segunda
guerra não faz sentido citar uma obra genérica como História do Brasil Resumida. O assunto é muito específico e merece
uma citação como O Brasil e a II Guerra,
por exemplo. Uma obra genérica pode ser relevante para você tomar conhecimento
do assunto, mas você não precisa dizer isto para seu leitor. No passado este
tipo de erro deveria ser conhecido como Manual da Fipecafi: esta obra – excelente,
por sinal – era muito citada nas dissertações e teses da USP. Mas provavelmente
é muito genérica para merecer tanta citação. Outra forma de cometer este erro é
usar um pequeno trecho de um artigo cujo foco não é aquele. Por exemplo:
Para Moraes (2008), a
contabilidade é a ciência da informação.
E o trabalho de Moraes é algo como “Fluxo de Caixa
Descontado”. Ora, Moraes não fez uma grande reflexão sobre o que é a
contabilidade; simplesmente fez esta afirmação “de passagem”. Quando citamos
estamos usando o “argumento de autoridade”. Este tipo de erro é uma falha neste
argumento: o que citamos não é a melhor autoridade sobre o assunto.
8 – Deixar de citar um trabalho seminal – o trabalho seminal
é aquele que mudou a área que você está escrevendo. Se você estiver fazendo um
texto de finanças comportamentais, provavelmente você deverá citar Kahneman e
Tversky e os trabalhos que mudaram o que pensamos sobre o assunto da década de
70. Mas atenção: não seja muito genérico; não é necessário citar a obra de
Freud, por exemplo.
9 – Colocar palavras na boca do autor que ele não disse – Ao
ler um trabalho e traduzir as principais ideias, muitas vezes distorcemos a
visão do texto. A citação que usei no item 2 é um exemplo disto: obviamente
eles não disseram isto no livro.
10 – Não citar – depois de tantos problemas, talvez a melhor
solução fosse não citar. Mas este é o mais grave dos erros. Isto inclui não
reconhecer que não lemos as obras originais – erro do universitário que não lê
as obras obrigatórias para o vestibular, mas sim os resumos – ou que aquela
ideia não é nossa. Considero este um erro gravíssimo, sujeito a “fogueira da inquisição”
na acadêmica. É roubo, desonestidade. Não perdoo este tipo de erro.
Quais os erros mais comuns? Acredito que o uso errado de
maiúsculas e minúsculas, a falta de sincronia entre os autores citados ao longo
do texto e aqueles que constam das referências e a citação de uma obra com
pouca aderência sobre o assunto.
15 setembro 2012
Trabalho de Conclusão de Curso - TCC
Hoje uma postagem básica para os alunos de graduação que irão escrever o trabalho de conclusão de curso. Temos outras postagens no blog que tratam melhor cada ponto descrito aqui.
Vou utilizar como exemplo o artigo “O Tratamento dos Ativos Não Operacionais na Avaliação de Empresas: Teoria e Prática” de Luciana Miyuki Ikuno, Isabel Cristina Henriques Sales e César Augusto Tibúrcio Silva, publicado em 2011 no volume 6 da revista “Perspectivas Contemporâneas”.
- O seu trabalho, basicamente, terá uma “espinha de seções” assim:
1. Introdução
2. Referencial Teórico
3. Proceder Metodológico
4. Resultados e Análises
5. Considerações Finais
Você pode criar subseções de acordo com o seu estilo (desde que não seja apenas uma, por exemplo, a 2.1 sem haver uma 2.2).
Na “Introdução” você irá contextualizar a sua pesquisa, escrever o objetivo do trabalho, o problema de pesquisa e a justificativa. No “Referencial Teórico” você deve aprofundar o assunto que está sendo pesquisado. No “Proceder Metodológico” você escreverá o desenho do seu trabalho, como ele foi desenvolvido, quais foram as fases, a amostra, o espaço temporal, os outliers... Você deve escrever para me permitir entender cada passo da sua pesquisa de forma que eu possa reproduzi-la. Nos “Resultados e Análises” você irá apresentar os resultados da sua pesquisa e interpretá-los. Não adianta, por exemplo, colocar uma tabela e não fazer inferências do que está sendo apresentado. Se esforce! Nas considerações finais você vai concluir a sua pesquisa e sugerir novos trabalhos que podem ser desenvolvidos com base no seu. Não se empolgue na tentativa de valorizar a sua pesquisa e escreva na conclusão assuntos que não foram tratados no seu trabalho.
Mais ainda, saibam que o que vocês escrevem tem que ser acompanhado das devidas referências. Não é como na escola, quando a professora te pedia para escrever um trabalho sobre, digamos, rinocerontes, e você saia copiando enciclopédias, livros, redigindo um texto sem autores no corpo do trabalho, mas, no momento de listar as referências bibliográficas, saia escrevendo o nome de várias fontes distintas para mostrar que utilizou diversos materiais. Não, não é mais assim.
- Você só cita no referencial o que citou no corpo do trabalho. Isso implica que: para citar nas referências, você deve ter citado a fonte na pesquisa.
Por exemplo:
De acordo com Hitchner (2003), ativos não operacionais são aqueles ativos que não são necessários para as operações em andamento da empresa. Entre os principais ativos que podem ser considerados como não operacionais estão o caixa e equivalentes de caixa; investimentos em ações e títulos de outras empresas; investimentos em outras entidades e; ativos que não geram fluxos de caixa, mas que podem conter valores significativos (DAMODARAN, 2005).
Note que escrevemos citando, de forma indireta, dois autores. Nas referências deverão constar os dois trabalhos (em ordem alfabética), assim:
DAMODARAN, Aswath. Dealing with cash, cross holdings and other non-operating assets: approaches and implications. Social Science Research Network, set. 2005. Disponível em:
HITCHNER, James R. Financial valuation: Applications and Models. Nova York: John Wiley & Sons, 2003.
Para se sentir mais seguro, antes de escrever leia alguns artigos (procure no Scholar Google, por exemplo), converse com o seu orientador e com o professor de metodologia científica. Sua graduação está quase acabando e não deve ser encerrada com descaso. Além de absorver tudo o que te foi transmitido durante as aulas, é importante que você se esforce em deixar alguma retribuição científica.
Repito que: temos outras postagens no blog que tratam melhor cada ponto descrito aqui.
26 junho 2012
Como fazer uma tabela
Como apresentar uma tabela
Esta postagem trata de algumas dicas para apresentar uma
tabela mais legível para o leitor. Obviamente se sua intenção é evitar que o
leitor preste atenção nos seus números, siga o conselho oposto.
O primeiro conselho é bastante óbvio: use sempre algarismos
hindu-arábicos. Nunca utilize os algarismos romanos. A figura 1 ilustra isto:
Quanto tempo você levou para entender esta demonstração?
O segundo conselho é colocar os números do lado direito.
Veja a figura 2:
A forma que torna a leitura mais fácil é a da primeira
coluna. Centralizar os números ou alinhá-los à esquerda dificulta a leitura. O
alinhamento à direita permite que o leitor rapidamente possa enxergar quais as
contas mais relevantes.
A figura 3 exemplifica o tratamento da unidade de medida.
Na primeira coluna coloca a unidade de medida (real) somente
na primeira linha e na linha do total. A segunda coluna apresenta a unidade de
medida em cada linha. A terceira coluna não indica que os valores estão em
reais. O mais correto seria a segunda coluna. Mas observe que a coluna está poluída
com o símbolo do real em cada linha. A alternativa que torna a informação mais “limpa”
é a terceira. A ausência da unidade de medida não é tão grave se existir, em
algum lugar da tabela, uma informação para a unidade de medida. Na terceira
coluna, com uma rápida olhada, podemos distinguir quais as linhas mais
relevantes pelo valor apresentado.
O quarto conselho é aquele mais difícil de ser seguido. E o
mais fácil de ser encontrado em apresentações tediosas e trabalhos acadêmicos
com baixo nível de apresentação didática. Veja a figura a seguir e escolha a
melhor apresentação para a informação:
Qual você escolheu? Se você achou que a primeira opção é a
melhor forma de apresentar as informações, você realmente precisa repensar sua
posição. É muito tedioso imaginar alguém preocupado em informar que a receita
da empresa em 2009 foi de quatrocentos e cinquenta e três mil, oitocentos e
quarenta e seis reais e trinta e cinco centavos. Observe a relevância dos
centavos. (O leitor atento também que na última coluna a planilha fez um arredondamento
errado.) Apesar da exatidão dos valores, uma quantidade excessiva de números
numa tabela realmente desestimula qualquer leitor. A terceira tabela, em reais
mil, é muito mais informativa das variações do lucro.
Uma variação nesta apresentação encontra-se na figura a
seguir:
Trata-se de uma saída da planilha Excel para uma regressão.
Observe que o R-Quadrado é de 0,056168098, com 9 casas decimais. A figura está
muito poluída de números. Compare agora com uma nova figura:
A nova figura possui menos números, permitindo o leitor
identificar rapidamente a relevância dos números. Além disto, para uma pessoa
que terá que ler mais de dez páginas de um trabalho, menos números significa
leitura menos cansativa.
30 junho 2011
O que deve conter um resumo?
Já comentamos em postagem anterior o conteúdo de uma conclusão e de um título. Hoje, algumas observações sobre o resumo.
Talvez o melhor conselho é observar os periódicos que são publicados pela Emerald. Esta editora padronizou o resumo onde os autores devem apresentar:
a) Propósito – ou seja, qual a finalidade do texto? Observem que este termo é mais abrangente que o “objetivo”, mas existe aqui uma similaridade.
b) Desenho/Metodologia/Abordagem – Aqui o destaque é para como foi realizado o trabalho. É importante notar que os principais autores de periódicos científicos não estão preocupados em classificar a pesquisa. O importante é informar como foi feita a pesquisa.
c) Achados – O que foi encontrado com a pesquisa. Alguns autores procuram esconder do leitor às descobertas, tentando induzir a leitura completa do artigo. Eles deveriam escrever novelas ou romances de suspense, não um texto científico. Dos itens que devem compor o resumo, este deveria ser o de maior destaque.
d) Implicações práticas – em outras palavras, queremos saber o efeito prático da pesquisa. Como a pesquisa pode ajudar na melhoria do nosso mundo. Provavelmente este é um item difícil de ser escrito.
e) Originalidade/valor – O que a pesquisa diferencia das demais.
É interessante notar que a estrutura proposta pelos periódicos da Emerald termina sendo um bom guia prático para fazermos nossos resumos.
Em geral, os autores dão pouco valor ao resumo. Mas isto não deveria ocorrer por duas razões. Em primeiro lugar, é cada vez maior o número de congressos e periódicos que faz uma primeira triagem no resumo. Se o assunto parecer pouco relevante, por exemplo, o texto é descartado. O segundo motivo para que o resumo seja importante é que ele atrai o leitor. Encontrando um artigo que me interesse, pela leitura do título, leio o resumo para verificar se realmente posso gastar meu tempo na sua leitura. Observem que em postagem anterior a leitura do resumo aparecia em segundo lugar num roteiro para leitura de um artigo.
A primeira impressão é aquela que fica. Isto diz tudo sobre a relevância do resumo.
Talvez o melhor conselho é observar os periódicos que são publicados pela Emerald. Esta editora padronizou o resumo onde os autores devem apresentar:
a) Propósito – ou seja, qual a finalidade do texto? Observem que este termo é mais abrangente que o “objetivo”, mas existe aqui uma similaridade.
b) Desenho/Metodologia/Abordagem – Aqui o destaque é para como foi realizado o trabalho. É importante notar que os principais autores de periódicos científicos não estão preocupados em classificar a pesquisa. O importante é informar como foi feita a pesquisa.
c) Achados – O que foi encontrado com a pesquisa. Alguns autores procuram esconder do leitor às descobertas, tentando induzir a leitura completa do artigo. Eles deveriam escrever novelas ou romances de suspense, não um texto científico. Dos itens que devem compor o resumo, este deveria ser o de maior destaque.
d) Implicações práticas – em outras palavras, queremos saber o efeito prático da pesquisa. Como a pesquisa pode ajudar na melhoria do nosso mundo. Provavelmente este é um item difícil de ser escrito.
e) Originalidade/valor – O que a pesquisa diferencia das demais.
É interessante notar que a estrutura proposta pelos periódicos da Emerald termina sendo um bom guia prático para fazermos nossos resumos.
Em geral, os autores dão pouco valor ao resumo. Mas isto não deveria ocorrer por duas razões. Em primeiro lugar, é cada vez maior o número de congressos e periódicos que faz uma primeira triagem no resumo. Se o assunto parecer pouco relevante, por exemplo, o texto é descartado. O segundo motivo para que o resumo seja importante é que ele atrai o leitor. Encontrando um artigo que me interesse, pela leitura do título, leio o resumo para verificar se realmente posso gastar meu tempo na sua leitura. Observem que em postagem anterior a leitura do resumo aparecia em segundo lugar num roteiro para leitura de um artigo.
A primeira impressão é aquela que fica. Isto diz tudo sobre a relevância do resumo.
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