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Mostrando postagens com marcador Juliana Cunha. Mostrar todas as postagens
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21 julho 2014

Já matei por menos, já escrevi por mais

Eu ia dizer que se tem uma raça na internet que eu detesto são os maníacos do crédito, mas daí lembrei que detesto mais pessoas que fazem uma declaração pública antes de dar unfollow ou block em alguém, como se a pessoa fosse se deprimir com isso ou a sociedade fosse se mobilizar, sabe? Seja como for, uma das muitas raças que detesto na internet são os maníacos do crédito.

Um belo dia essas pessoas descobriram que nem tudo que está num blog foi feito pelas mãos do autor (a palavra “autor” foi usada apenas na falta de termo melhor). Descobrem que, num post de referências, por exemplo, eu não construí os apartamentos, decorei, produzi as peças, fundi o metal, fotografei (com pinhole manual, é claro) e coloquei em um blog programado, ilustrado e escrito por mim. Apenas vi em algum lugar, gostei, copiei a foto e falei o que eu achava.

Depois que essas pessoas descobrem isso, a vida delas passa a ser uma contínua perseguição de créditos. Elas mandam e-mails para fulando dizendo que cricrano copia o blog dele. Depois, comentam no blog de fulano que ele copiou beltrano. Vai entender. Pessoas me mandam e-mails dizendo que tem gente copiando meu Google Reader. Como seria possível copiar o Google Reader de um sujeito? Gostando das mesmas coisas que ele?

Eu costumava achar que o Orkut tinha ensinado muitas coisas boas para os brasileiros. A subir uma imagem, mexer no Photoshop, fazer cadastro em um site e a entender que você não é tão único quanto pensa e que para cada minúscula idiossincrasia existe pelo menos uma comunidade com cinco mil membros que, sim, também sempre tiveram medo da velha da Quaker. Pelo visto o Orkut só ensinou a ser tosco mesmo.

Sempre coloco o crédito da foto dentro da própria foto (a menos que tenha perdido o crédito, o que raramente acontece). Ou seja: se você clica em alguma foto aqui do blog, vai parar no site do fotógrafo/decorador/estilista que fez a coisa ou no blog onde vi a coisa. Quando escrevo em blog institucional (na Oi, por exemplo), sou ainda mais caxias: coloco o link do site do criador e, embaixo do post, antes de assinar, coloco um “via”, com link para o blog onde vi aquilo.

Mesmo assim não consigo agradar. Pessoas mandam e-mails dizendo que eu tinha que escrever o nome do blog e aí sim colocar o link (motivo? Não compreendo). Outras acham que preciso editar a foto incluindo o crédito do fotógrafo em cada uma das fotos. Outros ainda acreditam que simplesmente não tenho direito de falar sobre algo que outro blog já falou. Simples assim. Na lógica dessas pessoas, depois que um jornal noticiou a Segunda Guerra, já era, procure outra pauta.

Para mim, autor de blog é contradição entre termos. Ok, a parte deste blog aqui na qual eu realmente escrevo (tipo hoje) pode ter algum percentual minúsculo de “autoria”, mas como ser autor de posts do tipo “vi essa coisa legal, olha só″. Se tem algum autor nessa jogada é o dono da foto/produto/roupa/whatever comentada.

Acho incrível como, enquanto academicamente a questão da autoria é cada vez mais contestada por professores velhinhos e com mais motivos para vaidade, uma turba de jovens filisteus quer ter cada um de seus minúsculos feitos reconhecidos, nem que seja um item compartilhado “primeiro”.

Talvez isso soe muito bizarro a pessoas que têm relações mais amenas com a internet, mas os maníacos do crédito acham que o simples fato de eles terem postado (ou acharem que postaram) antes dá todo um direito de autoria a eles. “Você viu no meu blog!”. “Fui eu que te apresentei isso!. Go to hell. Imagine escrever uma dissertação explicando “Platão, que me foi apresentado pela professora Jacira…”.

Esse é um dos motivos pelos quais eu deliberadamente evito blogueiros. Se tenho um amigo e ele faz um blog, ok. Se conheço alguém e ele já tem um blog, ok também, mas minha experiência com “blogueiros”, com pessoas capazes de se identificar dessa forma, é catastrófica. Envolve um jantar com uma menina que tentava humilhar as pessoas que não liam o blog dela e outros contos de horror. Algo como “Essa música é daquela banda que eu estava falando…” / “Que banda?” / “Você não sabe? Ah, então é porque não lê meu blog”. Oi?

As pessoas realmente acreditam que são famosas porque têm um blog com dois mil acessos diários. Tenho vontade de abraçar e dizer “Olha, querida, hoje em dia nem as atrizes da Globo são famosas. A sujeita faz televisão, sabe, milhões de telespectadores, e ninguém lembra o nome dela. Fica cada vez mais complicado uma única pessoa representar um coletivo, então, menos. Diga que você tem um blog relativamente conhecido entre um público, muito, muito específico e que mesmo essas pessoas vão te esquecer em dois meses caso você deixe de postar, talvez até antes disso”.


Juliana Cunha - Já Matei por Menos