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20 novembro 2023

Invasão holandesa no Brasil e o resultado sustentável

A ideia de resultado sustentável é bastante coerente e relevante. Usualmente é importante saber se o desempenho de uma empresa irá persistir no tempo. Ou seja, se é possível assumir que para o futuro a empresa continuará mantendo a sua atual trajetória. Uma forma de obter este tipo de análise é eliminando do resultado da empresa tudo aquilo que não repetirá no futuro. Se a empresa obteve um lucro enorme com a venda de um prédio, o resultado da venda não deveria constar da análise que fazemos, sendo necessário retirar esse valor. Se a empresa teve um grave prejuízo por conta de um desastre ambiental, podemos assumir que esse resultado não irá repetir no futuro. 


O conceito do resultado sustentável surgiu claramente quando eu li o capítulo 10, Governos da Holanda, do livro História da Riqueza no Brasil, de Jorge Caldeira. Vou fazer um breve resumo do capítulo do texto que trata da invasão holandesa no Brasil, entre 1630 a 1654. Antes disso, em 1624, uma esquadra dos Países Baixos invadiu e saqueou Salvador. Depois, invadiram Pernambuco e arredores, o que incluía Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. 

Maurício de Nassau

A aventura dos holandeses foi realizada por uma empresa, a Companhia das Índias Ocidentais ou VOC. A VOC foi a primeira empresa de capital aberto do mundo. Isso significa dizer que seu resultado era divulgado para os acionistas. Ela foi fundada um pouco antes da invasão e seu modo de atuação era a pirataria e saque. Bom, oficialmente era o comércio, que incluía o açúcar, tabaco, especiarias, escravos e outros produtos. Mas o grande impulsionador das atividades da empresa foi a captura de um navio chamado Santa Catarina. 

Caldeira mostra que quando os holandeses chegaram no Nordeste, o saque foi a primeira atividade. Isso gerou receita para a empresa. Mas é uma receita não sustentável. É principio do saque a tomada da riqueza à força, deixando o antigo proprietário sem seu ativo. O problema é que os holandeses venceram a primeira batalha, ao dominar o Nordeste, mas sem permitir que isso gerasse um resultado sustentável. Nas palavras de Caldeira:

A vitória significava não apenas o fim das oportunidades fortuitas como a necessidade de reiniciar a produção que havia sido desarticulada. 

Ou seja, para manter a extração de riqueza no Brasil, os holandeses deveriam fazer investimentos na produção de açúcar. Isso exige dinheiro e pessoas para produzir. A invasão derrubou a produção de açúcar, pois já existia, no Brasil, uma cadeia produtiva articulada e com um agravante em relação aos portugueses: eles precisaram montar um exército regular para defensa do novo território. Caldeira mostra que ao longo da história brasileira, os portugueses extraíram muito, em todos os sentidos, e investiram pouco na terra. Já os holandeses, diante da ameaça de perderem novamente sua conquista, tinham que manter uma segurança aqui. 


Em outras palavras, a história dos holandeses do Brasil é uma história explicada pela contabilidade. De um lado, os holandeses, que inicialmente saquearam o Nordeste e para gerar receita futura precisavam investir, o que significa que precisavam de capital. Ao mesmo tempo, também tinha despesas enormes com a manutenção da nova terra. De outro lado, os portugueses, que durante sua gestão não fizeram grandes investimentos - os engenhos eram investimentos privados e a defesa da terra era fruto das pessoas do local e um pouco do exército lusitano. Ou seja, enquanto a DRE dos holandeses apresentou um resultado inicial extremamente positivo, oriundo dos saques, esse desempenho não era sustentável. Já a DRE dos portugueses sempre foi lucrativa, com baixo investimento do governo lusitano. 

Sabemos como a história terminou.  

19 janeiro 2017

Informação e Preço



Uma das grandes vertentes de pesquisa na área financeira é como as pessoas reagem aos preços. Nos dias de hoje, os pesquisadores utilizam o mercado acionário. Assim que uma notícia é divulgada, é possível perceber a potencial reação dos investidores. Caso a notícia não seja pública, alguns investidores podem atuar, comprando ou vendendo ações e, por consequência, mudando o preço das ações. Assim, também é possível usar o mercado acionário para verificar como as informações privadas, que somente algumas pessoas possuem, afetam os preços. Nos dias de hoje o problema é a grande quantidade de informação que é gerada, seja pública ou privada. Como certificar que o movimento de preço de uma ação foi decorrente de uma informação específica. De certa forma, culpa dos dias atuais.

No passado, quando o fluxo de informação era muito menor, era mais fácil de associar uma informação específica a um movimento de preço. Baseado neste princípio, um pesquisador da Stanford University, Peter Koudijs, utilizou dados passados para tentar entender como o movimento de preços atua diante de novas informações. Koudijs estudou o mercado acionário de Amsterdã. A grande inovação na pesquisa é que ele usou os dados do século dezoito, das empresas britânicas. A ideia é muito interessante. Entre 1771 a 1787, o mercado de ações da cidade holandesa negociava ações de companhias britânicas. Algo em torno de 20 a 30% dos negócios destas empresas. As principais informações destas empresas eram trazidas por barco, duas vezes por semana. Em alguns casos, o barco se atrasava; em muitas situações, juntamente com as informações públicas – de jornais, por exemplo, existiam informações privadas – cartas endereçadas a investidores holandeses. Assim, Koudijs tinha um ambiente muito propício para analisar o impacto de novas informações de conhecimento público, bem como as notícias derivadas de informações particulares. Ele pode analisar como os preços respondiam a chegada das notícias e, também, a “não” chegada de notícias. O pesquisador calculou a volatilidade, a relação de preços entre o mercado de Londres e Amsterdã, o efeito da liquidez das ações, entre outros aspectos.

Koudijs descobriu que as informações públicas explicaram mais de 50% da variância do retorno nos dias da chegada do navio e 40% da variância total. Mas as informações privadas também tinham um papel relevante: de 25% e 35%, nos dias com e sem navios.

Ao usar dados “antigos”, muitas vezes desprezados pelos pesquisadores, Koudijs indicou a relevância da informação na movimentação dos preços.

KOUDIJS, Peter. The boats that did not sail. The Journal of Finance, vol 71 n. 3 , junho de 2016.

25 fevereiro 2007

Termina a guerra Holanda e Inglaterra

Notícia do NY Times informa que terminou a guerra da Holanda com a Inglaterra pela posse da Ilhas Scilly. As Ilhas Scilly estão localizadas perto da Cornualha, próximo a Inglaterra. Possuem cerca de 2 mil habitantes numa área de 16 km2.

A guerra terminou com a proclamação do embaixador da Holanda após 335 anos do seu início.