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24 outubro 2022

Formação docente em contabilidade e programas de doutorado

No presente trabalho problematizamos a formação docente em Contabilidade no Brasil, por meio da análise dos componentes curriculares voltados para o ensino e pesquisa dos cursos de doutorado da área de Ciências Contábeis. A coleta de dados foi realizada na plataforma Sucupira, considerando as seguintes informações da coleta CAPES de 2019 dos 15 cursos de doutorado existentes no país: objetivos do doutorado; linhas de pesquisa; projetos de pesquisa; disciplinas (formação para o ensino); disciplinas (formação para a pesquisa); e estágio docência. No tocante à formação voltada para o ensino, o cenário atual é preocupante, pois apresenta poucas mudanças em relação aos estudos anteriores, demonstrando poucas iniciativas para a formação pedagógica inicial, fazendo com que os docentes se autorresponsabilizem por seu desenvolvimento didático-pedagógico. Acerca da formação para a pesquisa, os resultados indicam uma formação pautada por disciplinas de caráter metodológico e métodos quantitativos, demonstrando uma formação voltada para o mainstream. A partir desses resultados, esperamos contribuir para a reflexão sobre a (re)formação docente nos programas de doutorado em Contabilidade no Brasil, em um momento de expansão e consolidação da área.

(Re)Formação docente em Contabilidade: uma reflexão sobre os programas de doutorado no Brasil - Camilla Soueneta Nascimento Ngangaa, Silvia Pereira de Castro Casa Nova e João Paulo Resende de Lima - RCO 

Como a análise foi a partir das informações inseridas para a Capes, pode existir uma distância entre o informado e o praticado pelos programas. Esta distância pode ser para mais - os programas informam que fazem formação docente, quando isto não ocorre - ou para menos - o que é informado é menos do que é praticado. Em muito casos, os alunos já são docentes e o programa de doutorado é a possibilidade de melhorar seu status como docente ou aumentar a remuneração. Assim, os programas de doutorado no Brasil talvez não sejam a porta de entrada para docência na área contábil neste momento. Isto é interessante, já que em outras áreas, mais consolidadas, dificilmente um docente chega neste estágio sem ter concluído o doutorado. 

Nas considerações finais do trabalho, os autores consideram a possibilidade de expandir a pesquisa através de entrevistas com os alunos. Talvez seja interessante. 

Eis os programas analisados:



14 junho 2020

Curso de doutorado

A Nature fez uma pesquisa com mais de 6 mil estudantes de doutorado. Algumas conclusões interessantes. Eis uma delas:
Segundo os respondentes, a carga horária de dedicação necessária ultrapassa a 40 horas.

23 fevereiro 2020

Quando o Poder quer o Acadêmico (por plágio)

Eis alguns exemplos de políticos que cometeram algum tipo de fraude acadêmica em diversos países do mundo:

Barão Karl-Theodor, Maria Nikolaus, Johann Jacob Philipp Franz, Joseph Sylvester Buhl-Freiherr von und zu Guttenberg (foto) - ex-ministro da defesa da Alemanha. Completou o doutorado em direito na Universidade Alemã de Beyrouth. Seria um provável sucessor de Angela Merkel, quando descobriram, em 2011, que Guttenberg era mais “Googleberg”, já que plagiou muitas seções do seu trabalho.

Victor Ponta - primeiro-ministro da Romênia, também acusado de plágio em 2012. Seu trabalho foi feito em 2004. Ele negou, dizendo que somente não colocou as referências. Deixou o cargo em 2015 por sonegação fiscal e outros problemas

Vladimir Putin - presidente russo, escreveu seu trabalho em 1997, com o título de "Recursos minerais e de matérias-primas e a estratégia de desenvolvimento para a economia russa". Das 200 páginas, 16 eram cópia. E existe uma acusação de que o trabalho foi escrito por Vladimir Litvinenko, orientador acadêmico de Putin e reitor da Universidade de Mineração de São Petersburgo.

Arseniy Yatsenyuk, presidente da Ucrânia, acusado de ter contratado alguém para escrever seu trabalho.

27 dezembro 2019

Frase

Há muito tempo as pessoas sacrificavam seu sono, sua família, comida, alegria e outras coisas boas da vida e eram chamados de santos; hoje eles são chamados de doutorandos

(Adaptado daqui)

28 novembro 2019

PhD, Doctor, Physician - Brooklyn Nine Nine - S05E14

Para quem assistiu/assiste Brooklyn Nine Nine. Ou para quem é doutor/doutorando - no sentido de fazer o doutorado - e não se conforma em ver um médico ser chamado de "doutor" (quanto mais um rábula).
 

Via aqui. (O autor do blog é chamado pelo NY Times de Mr, apesar de ser PhD; e médicos são chamados pelo jornal de Doctor, apesar de serem graduados)

15 junho 2019

Tese e ensaio-maternidade

Na semana passada postamos um Rir mostrando uma pessoa que fez um ensaio fotográfico com a sua tese. Hoje tropecei nesta postagem do HypeSscience falando sobre ela:

Sarah Whelan Curtis, de 26 anos, acaba de terminar sua pesquisa de doutorado. Para comemorar o árduo trabalho de quatro anos, ela participou de um ensaio de maternidade. Mas ao invés de exibir um recém-nascido fofo, ela mostrou orgulhosamente a sua tese.
“Eu tenho vários sobrinhos e sobrinhas, e minha mãe me disse: ‘consiga um doutorado ou me dê um neto’. Eu consegui meu doutorado”, disse ela ao Yahoo Lifestyle.
Depois de ver tantos amigos compartilhando fotos de seus bebês, ela teve esta ideia. Quando o trabalho ficou pronto, ela pegou uma manta de bebê, enrolou sua tese nela, e pediu ao seu marido que tirasse fotos de seu recém-nascido. Ela postou as fotos no Twitter e elas fizeram grande sucesso entre outros acadêmicos que também sentem que suas pesquisas são como filhos.
“Sim, eu fiz um ensaio com a minha tese. O trabalho de parto mais longo de todos. #phdlife”, escreveu ela na legenda das imagens.
Ela fez seu programa de Ph.D. na Universidade Emory em Atlanta (EUA), na área de epigenética.

11 setembro 2018

Tese em formato de artigo

Eu faço parte de um programa de pós-graduação bastante criativo, modéstia a parte. Há anos, diante da restrição de doutores na área, criamos um curso em que quatro (depois três) universidades colaboravam entre si e que permitiu a formação de centenas de mestres e dezenas de doutores. Além de ser criativo no formato, o programa também foi criativo na sua finalização, onde as três universidades optaram, de forma bastante amigável, pela separação.

Na criação do programa da UnB decidimos que a tese de doutorado seria feita no formato de artigo. Algo pouco usual na nossa área, mas que já se torna uma realidade em diversos países. A duas primeiras teses, Rafael e Mariana, já assumiram este formato.

O que seria o formato de artigo? A tese tradicional corresponde a um grande assunto, dividido em uma introdução, uma extensa revisão bibliográfica, uma metodologia, seguida da análise dos dados e conclusão. Para impressionar, geralmente a tese deve ter um tamanho acima das cem páginas. O formato artigo é diferente; a tese é composta por vários artigos, que podem ser inéditos ou não. Isto já é um heresia, já que no meio acadêmico prevalece a noção de que deve existir ineditismo e originalidade. Além disto, estes artigos devem ter uma relação entre si, com uma introdução e conclusão para amarrar os artigos individuais. É possível que um dos artigos seja uma extensa revisão bibliográfica, mas não é obrigatório.

A grande vantagem deste formato é aproximar a tese de um artigo publicável. Acreditamos que o formato pode ajudar a tirar a tese do arquivo da biblioteca da instituição e ser divulgada em um periódico. Isto ajuda o doutorando a conseguir, de forma mais rápida, um currículo acadêmico.

Mas o formato artigo tem alguns desafios. Em primeiro lugar, é necessário vencer a resistência dos acadêmicos tradicionais. Em geral isto é possível diante da longa história de trabalhos que não foram publicados. Para um orientador, a dedicação sem um resultado de publicação é realmente frustrante. E este é provavelmente um grande critério que um professor orientador usa no momento de definir suas orientações: será que este aluno irá ajudar na publicação.

O segundo desafio é evitar a repetição. Se você está construindo três artigos sobre um mesmo assunto, é provável que parte das referências e da própria metodologia esteja repetida.

O terceiro desafio é o fato de que o artigo pode não ser aceito por um periódico. Isto gera uma insegurança no doutorando. Mas este aspecto foi bem abordado no link citado acima:

O importante é lembrar que a rejeição é uma parte normal do processo. A decisão nem sempre é sobre a qualidade do trabalho, mas seu encaixe no periódico naquele momento específico.

O quarto desafio é a relação com o orientador, que será diferente neste formato. Na tese tradicional, o trabalho, depois de aprovado, era transformado em artigo. Na minha experiência de orientador, já tive situações onde o orientando decidiu não publicar; o sentimento do orientador é de perda de tempo. Também já tive situações onde o orientando optou por publicar sozinho; respeito sempre esta decisão, mas se foi um aluno de mestrado, recusarei a orientação no doutorado. E já tive casos em que atuei como um orientador informal em que fui convidado a participar da publicação. Em alguns programas, como é o caso do doutorado da UnB, parte da publicação deve ser com o orientador, obrigatoriamente. Mas esta obrigação não existe no mestrado do programa. Caso o orientador participe do trabalho, conversando, dando ideias e/ou fazendo parte do trabalho é natural que seja considerado como autor do artigo.

O quinto desafio é a curva de aprendizagem do orientador. Estamos acostumados ao formato tradicional; o formato artigo possui diversos problemas - repetição, rejeição de publicação, distinguir pesquisas próximas, entre outros - que não sabemos ainda como lidar. Somente a experiência de orientação vai solucionar isto. Para o orientador é um novo recomeço, uma nova experiência.

Apesar dos desafios, creio que há grandes ganhos no formato artigo. Suas vantagens superam amplamente os desafios. Acredito que permita aumentar a produção de artigos originários dos trabalhos finais de curso.

Aqui uma postagem anterior sobre o mesmo assunto

19 julho 2018

Samsonite e o doutorado inexistente

A Samsonite é mundialmente conhecida como fabricante de malas. Fundada em 1910, o nome é originário do personagem bíblico Sansão (Samson, em inglês). A empresa familiar foi vendida em 1973, tendo passado por várias mudanças de controle. Recentemente, a empresa fez uma oferta pública de ações em Hong Kong.

Recentemente, a Samsonite foi abalada por dois escândalos. O primeiro, uma acusação de práticas contábeis duvidosas feita por um fundo de investimento. O segundo refere-se ao ex-principal executivo da empresa, que deixou o cargo depois de aparecerem denúncias de divulgar um currículo falso, que incluía um doutorado que não fez. Ramesh Tainwala (foto) era o principal executivo da empresa desde 2011. Em muitos documentos, era tratado como "Dr. Ramesh Tainwala", mas uma investigação, incluindo na instituição de ensino onde Tainwala teria obtido o título, mostrou que isto não era verdade.

21 março 2018

Educação como sinalização

Em 1973 Spence mostrou que a educação poderia servir como uma sinalização. Entretanto, uma análise dos dados do mercado formal mostra que um mestre que trabalha com contabilidade no Brasil ganha MAIS que um doutor. Considerando como ocupação contábil o “escriturário”, “técnico” e “contadores e auditores”, existiam na RAIS de 2016 um total de 3.229 mestres e 269 doutores. Enquanto os mestres tinham um salário médio de 11,93 salários-mínimos, a remuneração dos doutores era de 10,11 salários mínimos.

Educação como sinalização. Ou, não faça doutorado...

01 agosto 2017

Mestrado e doutorado: alunos especiais ou ouvintes

Achei o vídeo válido por instruir um pouco sobre a possibilidade de antes de entrarem em um programa de mestrado ou doutorado, os alunos assistirem aulas como ouvintes ou alunos especiais. Acredito que se houver um bom desempenho isso possa até ajudar quando chegar o processo seletivo. (Dica: aumente a velocidade do vídeo. Assisti com ela dobrada.)

03 junho 2017

Perguntas prováveis em um processo seletivo

1. Quais são os seus pontos fortes?
2. Quais são os seus pontos fracos?
3. Por que você está interessado em trabalhar para esta empresa?
4. Onde você se vê em cinco anos? E em 10?
5. Por que você quer deixar o seu emprego atual?
6. Por que há uma lacuna na sua trajetória profissional entre (data) e (data)?
7. O que só você pode nos oferecer?
8. Cite três pontos em que seu ex-chefe gostaria que você melhorasse.
9. Você busca uma recolocação no mercado?
10. Você tem planos de viajar?
11. Conte sobre a realização de carreira da qual mais se orgulha.
12. Conte sobre alguma vez em que você tenha cometido um erro.
13. Qual o seu emprego dos sonhos?
14. Como você ficou sabendo desta vaga?
15. O que você espera realizar nos primeiros 30 dias, 60 dias e 90 dias de trabalho?
16. Fale um pouco sobre o seu currículo.
17. Fale um pouco sobre sua formação acadêmica.
18. Descreva-se.
19. Conte-me como lidou com uma situação difícil.
20. Por que deveríamos contratá-lo?
21. Por que você está procurando um novo emprego?
22. Você trabalharia em fins de semana e feriados?
23. Como você lidaria com um cliente bravo?
24. Qual a sua pretensão salarial?
25. Conte-me sobre alguma vez em que foi além e também abaixo do que era esperado para um projeto.
26. Quem são seus concorrentes?
27. Qual o seu maior fracasso?
28. O que te motiva?
29. Qual a sua disponibilidade?
30. Quem é o seu mentor?
31. Conte-me sobre alguma vez em que discordou do seu chefe.
32. Como você lida com a pressão?
33. Qual o nome do seu CEO?
34. Quais as suas metas de carreira?
35. O que o motiva para se levantar todos os dias?
36. Quais eram os pontos fortes e fracos dos seus chefes?
37. O que as pessoas que se reportam diretamente a você diriam sobre você?
38. Se eu ligasse agora para o seu chefe e perguntasse em quais pontos você precisa melhorar o que ele diria?
39. Você é um líder ou um seguidor?
40. Qual o último livro que você leu por diversão?
41. Quais são os hábitos irritantes dos seus colegas?
42. Quais são os seus hobbies?
43. Qual o seu site favorito?
44. O que o deixa desconfortável?
45. Quais foram as suas experiências de liderança
46. Como você demitiria alguém?
47. O que você mais gosta e o que menos gosta de trabalhar neste setor?
48. Você trabalharia 40 horas ou mais por semana?
49. Quais perguntas eu não fiz para você?
50. Quais perguntas você quer fazer para mim?

Fonte: Aqui

27 janeiro 2017

Formato da Tese

Um texto bem interessante sobre o formato da tese foi publicado pelo Scielo. Lilian Nassi-Calò faz uma análise entre os dois formatos típicos. Antes disto, a autora apresenta um dado horripilante:

O editorial da edição da Nature de 7 de julho de 20161 traz um dado peculiar: “de acordo com estatísticas frequentemente citadas que deveriam ser verdadeiras, mas provavelmente não são, o número médio de pessoas que leem uma tese de doutorado do início ao fim é 1,6, e isso inclui o autor”.

Baseado na minha experiência, que leio as teses dos meus orientandos e das comissões que participo, acredito que este número seja verdadeiro. Principalmente quando o trabalho possui mais de duzentas páginas e você é convidado para avaliar do trabalho. Isto é ajudado pelo número crescente de trabalhos científicos - sobra menos tempo para ler tudo que queremos - e pelo aumento no número médio de páginas:

Informação da maior base de dados de teses de doutorado, ProQuest, situada em Ann Arbor, Michigan, EUA, indica que o número médio de páginas de uma tese aumentou de cerca de 100 nos anos 1950 para ao redor de 200 atualmente


A defesa pode ser aberta ao público, como geralmente ocorre no Brasil, mas pode acontecer através de comentários por escrito, como na Austrália. Os dois tipos de formatos são: (a) tradicional, onde o trabalho possui uma longa introdução, um extenso referencial teórico, o método e os resultados; (b) formato de capítulos por artigos. No segundo caso, o candidato publica ou redige artigos decorrentes da pesquisa, junta o material, faz uma contextualização inicial e uma conclusão.

A CAPES, órgão que atribui conceitos aos cursos de pós-graduação em todo o país, reconhece esta modalidade de tese, assim como a FAPESP e Fundações de Amparo à Pesquisa de outros estados, na concessão de bolsas e auxílios. O fato de o candidato ter trabalhos publicados em periódicos bem avaliados, entretanto, não o isenta da defesa da dissertação ou tese, que deve ocorrer de acordo com os critérios estabelecidos pela instituição de ensino superior.


Durante toda minha vida acadêmica lidei, como aluno e docente, com o primeiro formato. Agora, no programa de pós-graduação da minha instituição, como coordenador do curso, estou participando do processo de implantação do segundo formato.

Esta modalidade é vista com bons olhos por pesquisadores e estudantes, uma vez que estimula a publicação de artigos e é menos trabalhoso que redigir 200 páginas de uma tese.


Existem críticas a este formato:

Shirley Tilghman, biologista molecular e ex-presidente da Universidade Princeton, em New Jersey, EUA, entretanto, não é favorável à adoção do formato alternativo de teses, pois “elas demonstram a habilidade do candidato em definir o contexto de uma questão, descrever em detalhes o propósito e a execução e chegar a uma conclusão com base nos resultados obtidos”.


Minha experiência mostra que o formato de artigos pode ser interessante por cinco motivos principais: (a) após a defesa no formato tradicional é muito difícil incentivar o aluno a publicar seu trabalho; (b) somos avaliados pela publicação e esta não pode ser muito distante no tempo da defesa - o formato do artigo a publicação será mais rápida; (c) os artigos são mais lidos e citados; (d) pode ajudar os avaliadores com uma visão prévia da qualidade da tese (imagine uma tese com três artigos publicados em periódicos internacionais de primeiro nível...); (e) aproxima mais o orientador do aluno.

O que estamos experimentando é mudar somente o formato. Ainda haverá o processo de defesa, com uma comissão examinadora. Os artigos irão precisar de um cuidado metodológico e científico. Talvez crie uma dificuldade de entrelaçar as pesquisas. Mas não custa tentar.