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21 julho 2014

Um acrônimo com capital, o banco dos BRICS

Essa história dos BRICS é uma grande bobagem que muita gente ainda acredita. Agora pra piorar as coisas resolveram criar o tal dos bancos dos BRICS. Ou melhor duas instituições financeiras com a "mesma função" do FMI e do Banco Mundial. Outro dia eu volto aqui pra comentar a razão disso ser uma péssima ideia para o Brasil. A reportagem da The Economist já dá algumas pistas.

FOR years the BRICS countries have insisted they are more than an acronym. To dispel any lingering doubts, the leaders of Brazil, Russia, India, China and South Africa, who gathered in the Brazilian city of Fortaleza for their sixth annual summit on July 15th, announced the creation of two financial institutions: the New Development Bank (NDB) to finance infrastructure and “sustainable development” projects, with $50 billion in capital to start with, and the $100 billion Contingent Reserve Arrangement (CRA), to tide over members in financial difficulties.
On the surface, the NDB and the CRA, which must still be approved by the five countries’ parliaments, look like upstart rivals to the World Bank and the IMF, together the cornerstone of the post-war economic order. The BRICS complain that the Bretton Woods outfits, named after a New Hampshire town where they were conceived 70 years ago this month, give the developing world short shrift. China, whose economy is second only to America’s, has fewer votes there than the Benelux countries. America and Europe have proved shamefully slow to redress the imbalance.

The new institutions are not as subversive as they may seem, however, at least in their current guise. Unlike the IMF, the CRA is not a fund but a tangle of bilateral promises to make foreign reserves ($41 billion from China, $5 billion from South Africa and $18 billion each from the others) available to BRICS in trouble. Every country will be able to tap a multiple of its contribution. But, Mr Putin’s bluster notwithstanding, anything above 30% of that sum will be, as the instrument’s name implies, contingent—including on participation in an IMF programme.
Recipients of IMF cash also resent the tough reforms on which help is conditional, not to mention the lecturing tone in which they are dictated. In Fortaleza Vladimir Putin, Russia’s president, extolled the NDB and CRA as a way to prevent the “harassment” of countries whose foreign policy clashes with America’s or Europe’s (as did his annexation of Crimea).
The NDB, for its part, joins an alphabet soup of regional and national development banks the lending of which already dwarfs the $52.6 billion the World Bank disbursed last year. In 2013 BNDES of Brazil doled out $88 billion. Its Chinese equivalent made loans worth $240 billion. China is also creating an Asian infrastructure bank (which it has invited India to join but, for reasons of geography, not the others).
Even when the NDB’s capital eventually rises to $100 billion, including from non-BRICS states and institutions, it would leave most of the developing world’s infrastructure needs unmet. The World Bank estimates that South Asia alone requires $2.5 trillion over the next ten years. China was willing to chip in more. But India and Brazil, happy to use the bank as a politically palatable way to tap Chinese cash but wary of its dominance as much as they are of the West’s, insisted on an even split. South Africa could only afford $10 billion.
The politics don’t end there. A tussle between China and India over the bank’s headquarters, and between India and Brazil over who should hold the first five-year rotating presidency, nearly scuppered the deal. The BRICS leaders settled on Shanghai and an Indian, yet to be named. But a Brazilian is to chair the board of directors and a Russian the board of governors. They may not all pull in the same direction.
Herein lies the biggest obstacle to the upstarts of Fortaleza. Other than being big and developing (the reason why economists at Goldman Sachs, an investment bank, coined the term in 2001), the BRICS have little in common. The Chinese economy is 28 times the size of South Africa’s (not part of Goldman’s original grouping). Income per person in India is one-tenth that in Russia. True, all lack infrastructure but lively democracies (Brazil, India, South Africa) go about erecting it differently to authoritarian regimes (Russia, China).
Such disparities will make it hard to agree on even basic principles, like whom (other than themselves) to lend money on what terms or what counts as “sustainable development”, notes Douglas Rediker of International Capital Strategies, a consultancy. It took the Bretton Woods institutions decades to sort it all out, far from satisfactorily—and they are dominated by like-minded liberal democracies.
Fonte: aqui

10 julho 2014

Banco dos BRICS


A presidência e sede do banco ainda não estão definidos
A presidência e sede do banco ainda não estão definidos (Sabelo Mngoma/AP)
O acordo que criará o banco de desenvolvimento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) está praticamente fechado e deve ser assinado pelos membros do grupo na 6.ª cúpula do bloco, que será realizada nos dias 15 e 16 de julho, em Fortaleza. A intenção dos líderes dos Brics é que a nova instituição ocupe parcialmente o espaço do Banco Mundial e do FMI, reduzindo a dependência dos países-membros desses organismos.

Segundo o ministro das Finanças da Rússia, Anton Siluanov, o local da sede do banco de desenvolvimento ainda não está definido. Xangai, na China, e Nova Déli, na Índia, são as opções mais prováveis. A presidência do Conselho do banco, com um mandato de cinco anos, vai rodar entre os países-membros, mas a primeira também não foi decidida ainda.

Fonte: Veja

05 fevereiro 2014

Brasil e sua dívida

Nas contas do FMI (Fundo Monetário Internacional), o Brasil tem hoje a maior dívida pública entre os países tidos como mais vulneráveis às recentes turbulências das finanças globais.

O grupo, apelidado no mercado de “os cinco frágeis”, inclui ainda Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia. Em comum, todos têm governos gastadores e deficit nas transações de bens e serviços com o resto do mundo.

O número mais feio das contas brasileiras é o da dívida pública, equivalente, nos critérios do FMI, a 68% do Produto Interno Bruto, ou seja, da renda anual do país. (...) (Fonte: Aqui)

É interessante que saímos rapidamente do esperançoso BRICS para "os cinco frágeis". Alguns analistas consideram que estes países não são preocupantes em razão do fato de não terem uma grande participação no comércio mundial.

02 outubro 2013

Relatório de Capital Humano: Brasil 57o

Países da Amostra

O Fórum Econômico Mundial publicou o primeiro Relatório de Capital Humano. Foram avaliados 122 países, tendo a Suíça ficado em 1o lugar. O Japão ficou em 15o, Estados Unidos em 16o, França em 21o, Espanha em 29o, Portugal em 30o, China em 43o, Grécia em 55o e, finalmente, o Brasil em 57o.

O conselheiro do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, declara que a chave para o futuro de qualquer país e qualquer instituição está no talento, aptidão e capacidade do seu povo. Com a projeção da escassez de talento se demonstrando severa tanto no mundo desenvolvido, quanto no em desenvolvimento, e imperativo voltar as atenções para como essa escassez pode ser suprida em curto prazo e prevenida a longo termo.

O arquivo, disponível em .pdf, é caprichoso, rico, interessante, informativo, assustador e um tanto deprimente. Acredito que várias pesquisas possam nascer dali. Não há só a classificação dos países, como também um perfil de cada nação, assim como a metodologia utilizada. Recomendo a leitura, ou ao menos uma olhada por alto. Salvem em seus computadores. Quem sabe a sua próxima pesquisa não brote dali?

Em rankings detalhados, o Brasil ficou em:

Geral: 57o
Educação: 88o  Ծ_Ծ
Saúde e bem-estar: 52o
Empregabilidade e força de trabalho: 45o
Ambiente estrutural: 52o

BRICS

25 dezembro 2012

BRICs: "conceito" sem sentido

BRICs, the now familiar term for Brazil, Russia, India, China and the growth of their economies and influence, have formalized their club and extended their reach by inviting South Africa to join. But do their meetings and joint statements really allow them to punch above their individual weight? What do these countries share beyond a common interest in bolstering their global clout?


The most durable thing about the BRICs is the acronym itself. They cannot be ignored — emerging markets accounted for two-thirds of global economic growth over the past five years, a figure that could rise to as much as 75 percent by 2015. But combining individual countries into classes based on catchy acronyms adds neither influence to their groupings nor insight into their futures.
There are four main reasons why the BRICs will never function as a single coherent interest group.
First, we often say BRICs when we really mean China. In the post-World War II era, the Group of 7 major industrialized countries set the international agenda, and the United States was the driving force. But China’s dominance of the BRICs is even more pronounced. With a G.D.P. of $7.3 trillion, the Chinese economy is the second largest in the world — and larger than all the other BRICs put together.
South Africa’s economy is roughly equivalent to that of China’s sixth largest province. Developments inside China — from its resource appetites and cyber capacity to its political and military might — will drive the actions of the other BRICs. Russia, India and Brazil will be responding to China, both cooperatively and antagonistically, much more than they will coordinate with it.
Second, when it comes to their political systems, the BRICs are apples and oranges…and pears and pineapples. Brazil and India are democracies; Russia and China are autocracies.
But Brazil’s democracy is much more centralized and less diverse than India’s. Uttar Pradesh, India’s most populous province, has roughly the same population as all of Brazil (and four times South Africa’s). With more than a dozen official languages and a remarkably decentralized structure, India is a challenge all its own. It is also the least international in its outlook: despite a population of 1.2 billion people, India has about the same number of diplomats as little New Zealand.
In Russia, Vladimir Putin uses hollow democratic institutions to secure one-man rule. China’s leadership is a cohesive group of party men, aligned in their most basic interests, who negotiate over the details of reform to preserve an increasingly untenable status quo rather than to undertake a large-scale overhaul. The bottom line: if you wanted to pick four major global economies with as little as possible in common in their politics, the BRICs would be a decent bet.
Third, their economic systems are wildly different as well. In Russia and China, the state is the dominant force in the economy. There are significant economic reasons for both to move away from a state capitalist system that will decay over time, but both governments have political incentives to keep things as they are to protect the near-term security of their governments. Brazil and India lean closer to free market capitalism than to the state-dominated variety.
Nor are the BRICs particularly tied to one another. Brazil has deepened commercial ties with China, its largest importer, but Russia accounted for only about 2 percent of China’s trade in 2011, and China and India have no bilateral trade agreements. There are still no direct flights between Beijing or Shanghai and Mumbai. Each BRIC depends more on its ties with America and Europe than with other members of its club.
Finally, there is the difference in their most immediate needs. Russia and Brazil are major resource exporters. China, on the other hand, is the second largest importer of crude oil, and India is fourth. But beyond the competing interests of buyers and sellers, there are the frictions within these groups.
India and China are not yet seriously competing with one another for resources, but as the demographics shift in the two countries and as India becomes more urban and spends more on its infrastructure, the frictions will grow. Take water, for example: China and India are home to 37 percent of the global population, but only 10.8 percent of its water. The population will grow — and so will strains on that water as industrialized processes and more upscale (and water-intensive) eating habits take hold.
For its part, Russia is increasingly threatened by the energy revolution taking place in the Western hemisphere. Moscow depends on oil sales for state revenue, and the break-even oil price at which Russia’s budget balances has skyrocketed from $34 a barrel in 2007 to $117 in 2012. Brazil, by contrast, has enough energy to fulfill its own needs and to sell beyond its borders. As the geopolitics of energy and basic resources like food and water shift dramatically over the coming decade, differences among the BRICs will only grow.
In short, the BRICs can agree to disagree with the global status quo. They will sometimes use their collective weight to obstruct U.S. and European plans. But the BRICs have too little in common abroad and too much at stake at home to play a single coherent role on the global stage.

16 setembro 2012

Brics, bricões e briquinhos

Brics, bricões e briquinhosMarcelo de Paiva Abreu*
O Estado de São Paulo, segunda-feira, 3.9.2012

Muitos analistas têm sublinhado a heterogeneidade dos países que compõem o Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Com toda a razão, quando se trata do desempenho nas últimas décadas: enquanto o cerne do grupo, Índia e China, tem crescido a 8% ou 10% ao ano, as demais economias crescem a metade ou um terço disso. Fazer parte do Brics pode satisfazer a vaidade brasileira e alimentar esperanças quanto a articulações diplomáticas, mas é um erro tratar o grupo como homogêneo no que se refere aos temas essenciais.

Há, entretanto, lições úteis a extrair da comparação entre as experiências dos Brics e que explicam a heterogeneidade do seu desempenho. Nos quatro países, a estratégia econômica ao longo da história foi calcada em dois pilares fundamentais. De um lado, a ideia de que faria sentido reduzir a dependência do mundo exterior e dar prioridade à substituição de importações. De outro lado, a crença de que o Estado deveria jogar papel fundamental na economia não apenas como regulador, mas também como provedor de bens e serviços.

Na Rússia, a ênfase em autarquia e Estado precedeu a União Soviética. Já na Rússia czarista, a partir do final do século 19, o modelo econômico foi calcado em ação do Estado e substituição de importações. Depois de 1917, essa ênfase foi levada ao extremo. Na Índia, após período relativamente liberal entre a independência, em 1947, e a morte de Nehru, no início da década de 1960, o modelo enfatizou os mesmos alicerces até o fim dos anos 1980. Na China pré-1980, o modelo socialista ortodoxo combinava em versões extremas a intervenção do Estado e a autarquia. O isolamento da África do Sul sob o apartheid implicou que, antes de 1994, a estratégia econômica dependesse da minimização à exposição externa e de alto grau de interferência do Estado na atividade econômica.

No Brasil, a partir de meados do século 19, houve continuidade na estratégia econômica que combinava autarquia e intervenção estatal. Desde cedo no Império, as tarifas de importação eram muito altas, inicialmente justificadas por razões fiscais, mas depois claramente protecionistas. Na Primeira República, as políticas públicas deixaram de ter como alvo a correção de falhas de mercado em relação à atração de imigrantes e investimento direto estrangeiro e partiram para a administração dos preços de café, explorando o poder de mercado brasileiro. Com a grande depressão, somou-se o controle cambial à tarifa alta. Em 1944, na famosa controvérsia Gudin-Simonsen prevaleceu, na prática, a visão de Simonsen - a despeito de suas fragilidades analíticas - quanto à centralidade dos pilares calcados em autarquia e Estado.
Essa visão sobreviveu galhardamente ao golpe militar e começou a ser erodida na década de 1980 em meio de altíssima inflação combinada à estagnação. As reformas de Fernando Collor e Fernando Henrique Cardoso, baseadas em visão crítica da potencialidade de longo prazo dos pilares tradicionais, promoveram a abertura comercial e a privatização. Mas o que se tem visto desde 2003, e ainda mais desde 2011, é uma regressão às visões mais primitivas de estratégia econômica calcada em proteção alta e aumento do peso do Estado.

Nas economias mais dinâmicas do Brics - Índia e China -, o que se vê é exatamente o contrário da experiência brasileira no período recente. Na Índia, desde o final dos anos 1980, e na China, desde o final da década de 1970, houve verdadeiras revoluções quanto à abertura dos mercados, a expansão das exportações, atração de capitais estrangeiros e redução do peso do Estado na economia. Nos dois casos houve aumento significativo da formação bruta de capital fixo e, consequentemente, das taxas de expansão do PIB. A formação bruta de capital fixo na Índia tem sido da ordem de 35% do PIB, saindo de um patamar, nos anos 1980, apenas um pouco melhor do que os atuais míseros 17% do Brasil. Na China, o número estaria em torno de 45%, embora haja significativas distorções de medida provavelmente significativas. Mesmo nos membros do Brics menos bem-sucedidos, Rússia e África do Sul, nos quais a abertura das economias e a redução do peso do Estado mereceram ênfase bem menor, a formação bruta de capital fixo tem sido da ordem de 23%. Além disso, sempre é bom relembrar que a tara nacional com relação à manutenção de altos índices de conteúdo nacional nas compras feitas, diretas ou indiretamente, pelo governo faz com que aos baixos níveis de investimento corresponda expansão da capacidade ainda mais limitada, em vista do encarecimento dos bens de capital.

Impressiona a teimosia do Planalto em deixar de reconhecer que a atual estratégia brasileira de crescimento apenas assegura que a economia alterne voos de galinha com pousos forçados. A estratégia que poderia superar a mediocridade do desempenho econômico do País deveria, com o benefício das lições que podem ser extraídas das experiências da China e da Índia, ser baseada na retomada da abertura gradual do mercado brasileiro, na reversão da nova onda estatizante e no aumento da poupança doméstica. Só então seria possível pensar em deixarmos de ser briquinho.

*Doutor em economia pela Universidade de Cambridge, é professor titular no Departamento de Economia da PUC-Rio

24 julho 2012

Brics: mercados submergentes?

Brasil, Rússia, Índia e China, os países que há uma década foram chamados de “Brics” e sobre os quais foi dito que poderiam ocupar o espaço das nações ricas até 2050, agora são chamados de “mercados submergentes” pela revista The Economist, a mais respeitada na área de economia.

Essa expressão foi usada no título de um gráfico (reproduzido abaixo) dentro da edição que chega às bancas do Reino Unido nesta sexta-feira, 20. O desenho mostra que as projeções que o FMI (Fundo Monetário Internacional) faz para o crescimento econômico dos Brics em 2012 não param de cair, com exceção da Rússia.

economist_submergentes.jpg

É claro que há um exagero nessa expressão. Na verdade, as perspectivas de analistas são de uma desaceleração na taxa de crescimento, mas com poucas chances de uma virada brusca. A mediana das projeções dos bancos brasileiros são de um crescimento de A própria Economist reconhece que, “para o padrão do mundo rico, os mercados emergentes ainda estão muito bem”.

O problema é que, segundo a revista, os países ditos emergentes enfrentam dois riscos: o de uma desaceleração cíclica e o de uma erosão de longo prazo no crescimento potencial do PIB (produto interno bruto). “Com o primeiro é relativamente fácil lidar. Com o segundo, não”.

Para enfrentar o primeiro risco, os governos têm as suas armas: baixar juros e conceder estímulos fiscais. Ainda, vários pontos fracos que esses países tinham no passado não existem mais: os bancos têm capital, o câmbio é flutuante (tirando o da China), a inflação está controlada e as reservas internacionais estão altas.

Já quando se pensa nos problemas de longo prazo, na opinião da revista é preciso considerar que em boa parte o crescimento recente dos mercados emergentes se deve a “anabolizantes”. O periódico destaca a questão do aumento do crédito. A relação entre os empréstimos e o PIB cresceu mais de 20 pontos porcentuais desde 2002 no Brasil e mais de dez pontos na Índia e na Rússia. O aumento do crédito como proporção do PIB nesse ritmo pode significar, na avaliação da Economist, “o reflexo de um potencial ciclo de desestabilização financeira”.

Isso não quer dizer que virá o caos. Para a Economist, “quando a poeira (da crise) baixar, os emergentes continuarão crescendo a taxas superior às registradas antes de 2002″. Mas se os países quiserem voltar ao ritmo dos últimos dez anos, diz o semanário, precisam “manter a disciplina macroeconômica e retomar as reformas microeconômicas”.

Fonte: Estadão

09 julho 2012

Mais do mesmo

Brasil perde 9 posições em ranking de inovação
O Estado de São Paulo, 3/07/2012


País é 58º da lista de países mais inovadores, atrás de Portugal, Chile e África do Sul. Crédito, ambiente de negócios e educação são entraves.
O Brasil desabou no ranking dos países mais inovadores do mundo. Uma classificação publicada hoje (3) pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual e pelo instituto Insead, considerada como a mais completa temperatura do grau de inovação no mundo, aponta que o Brasil ocupa apenas a 58ª posição no ranking, uma queda de nove posições em relação a 2011.

Países como Portugal, Sérvia, Romênia, África do Sul e Bulgária estão melhores colocados que o Brasil. Os principais obstáculos no País: a qualidade do ensino superior e as condições para investir em ciência. O ranking é liderado pela Suíça, seguido pela Suécia, Cingapura e Finlândia. Os Estados Unidos estão na décima colocação.

O levantamento revela que o Brasil foi o país que mais caiu no ranking entre os Brics, sigla que agrupa China, Índia, Rússia e Brasil. Para os especialistas, o bloco todo precisa corrigir obstáculos institucionais para fomentar a inovação. China e Índia são citados como exemplos de países que conseguiram transformar bolsões de tecnologia em ganhos mais generalizados para a economia.

Mas, quanto ao Brasil, o levantamento revela que o País não é líder em inovação nem mesmo na América Latina. O Chile está na 39.ª posição. Já o restante da região está bem abaixo. Na 58ª posição, a situação do Brasil não é cômoda. "Particularmente preocupante é a posição do Brasil no que se refere ao ambiente para negócios (127ª posição de 141 países analisados), a educação superior (115º lugar), condições de crédito e comércio (108º lugar)", alertou o estudo.


O levantamento ainda indica que o peso das importações no PIB brasileiro é o menor do mundo. Em 2010, as importações representavam apenas 12% do PIB, o menor índice entre 141 países avaliados. O Brasil também tem uma baixa taxa de pesquisas publicadas em revistas científicas em comparação a seu PIB. O Brasil tem uma produção menor que Fiji, Irã ou Zimbábue, levando em conta o tamanho das economias.

Exportação - Com apenas 14% de suas exportações com valor agregado de alta tecnologia, o Brasil ocupa a 49.ª posição entre os países com uma pauta de exportação mais avançada. Tunísia, Indonésia e Cazaquistão estão em melhor posição. Outra constatação é de que empresas raramente contribuem com a inovação no Brasil, com menos de 5% das patentes registradas. Hoje, 24% das patentes são registradas por universidades.

24 março 2012

Banco de Desenvolvimento do Brics

De acordo com reportagem disponível aqui, o Brasil apoia a criação de um banco de desenvolvimento dos Brics - grupo composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.

Segundo o ministro de Indústria e Comércio, Fernando Pimentel, o tema será debatido na reunião do grupo de potências emergentes na próxima semana em Nova Delhi. "O principal ponto da agenda (na quarta reunião dos Brics, que acontece na quinta-feira) é a proposta de criar um banco dos Brics, um banco internacional, de investimento desses cinco países", explicou Pimentel durante uma coletiva de imprensa com corrensponsáveis estrangeiros.

"Temos muito interesse nesta reunião, a consideramos importante", disse o ministro, que advertiu que a proposta de criação do banco, que será impulsionada pela Índia, está ainda em uma etapa inicial e não foi ainda detalhada quanto a suas características operacionais nem em termos de recursos.

Está previsto que os presidentes dos bancos de desenvolvimento dos cinco países firmem em Nova Delhi "os memorandos de entendimento para começar o processo de construção desse banco dos Brics". Ao mesmo tempo, a criação desse banco "não é um abandono dos mecanismos multilaterais", como o Banco Mundial (BM) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), e sim uma resposta às necessidades econômicas atuais.

Segundo Pimentel, o BM e o BID possuem funções específicas que cumprem bem, como o financiamento de países de renda mais baixa e de obras de saneamento, mas explicou que as necessidades atuais vão mais além. Pimentel também pediu a rápida criação do Banco do Sul para países sul-americanos, pendente de aprovação no Congresso brasileiro.

"O que será discutido é a possibilidade de criar um banco de desenvolvimento do Brics para projetos de infraestrutura e desenvolvimento, não só nesses países, mas sim também em países em desenvolvimento", explica a subsecretária-geral de Política do Ministério de Relações Exteriores, Maria Edileuza Fonteneles.

A diplomata insistiu também que essa é uma ideia muito embrionária e que da reunião deverá resultar apenas um "anúncio de intenção" e a criação de um grupo técnico para definir objetivos e detalhes.

25 fevereiro 2012

China

EDUARDO DE CARVALHO ANDRADE, 44, doutor em economia pela Universidade de Chicago, é professor do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) - Folha de São Paulo


(...)Um país atrasado tecnologicamente pode conseguir elevadas taxas de crescimento do PIB durante um determinado período. Isso pode ocorrer se existir uma diferença significativa entre a fronteira tecnológica mundial e a desse país. Um exemplo ilustra essa possibilidade.

Ao longo dos anos, a indústria de computadores nos países desenvolvidos desenvolveu novos processadores, passando por 286, 386, 486 e Pentiums, até o Quad Core.

Um país atrasado, sem acesso a computadores, pode adotar a última tecnologia disponível, sem a necessidade de passar por todas as etapas anteriores. Ele não vai pagar o custo da inovação, mas sim o da imitação, geralmente menor.

O salto de produtividade é gigantesco em um curto espaço de tempo, assim como o consequente crescimento econômico. Esse salto é maior do que aquele verificado pelos países que foram obrigados a passar por todas as etapas do processo de evolução da tecnologia.

Processo dessa natureza ocorreu com a China quando ela decidiu se integrar à comunidade econômica internacional. Em 2000, ano em que entrou para a Organização Mundial de Comércio (OMC), o seu PIB per capita era de um país de renda baixa, o equivalente a 10% do PIB per capita que os EUA tinham em 1985.

Demorou somente sete anos para ela passar a ser uma economia de renda média, com o PIB per capita correspondendo a 20% do PIB per capita dos EUA em 1985.

O Japão e o Brasil, por exemplo, demoraram, respectivamente, 37 e 17 anos para dar o mesmo salto, como mostraram os economistas Stephen Parente e Edward Prescott, que desenvolveram essa ideia de adoção de tecnologia.

Quanto mais tardiamente um país entra no jogo, mais espetacular será o "milagre".
Assim, é totalmente injusta a comparação do desempenho econômico recente do Brasil com o chinês -ou até mesmo com o indiano, frequentemente utilizado por analistas.

A colocação desses países no mesmo saco ("Brics") é enganosa. É de se esperar um crescimento mais vigoroso da China, dado o seu estágio de desenvolvimento. Apesar do seu sucesso recente, ela tem ainda um PIB per capita de 70% do brasileiro.

À medida que a diferença entre os desenvolvimentos tecnológicos da China e da fronteira do mundo se reduz, o mesmo ocorrerá com as suas taxas de crescimento. É verdade que os chineses investem substancialmente em educação e que os pais cobram dedicação dos seus filhos aos estudos. Mas eles vão ter de parar de imitar e vão ter de criar, o que é mais difícil.(...)

02 dezembro 2011

BRIC

O gráfico compara os mercados dos BRICs com os mercados mundiais. O desempenho no ano é decepcionante, a ponto de sugerirem um novo significado para sigla: Bloody ridiculous investment concept

12 outubro 2011

O fim da ilusão do Bric

Marcelo Coutinho
O Globo, 9/10/2011

Em 1499, Américo Vespúcio passou próximo à costa norte da América do Sul, a caminho das Índias Ocidentais, como então era chamado o continente americano. Só anos depois, quando o navegador florentino regressava de uma viagem ao Brasil, concluiu que não podíamos ser um prolongamento da Ásia.


Mesmo após tal descoberta, o termo Índias Ocidentais continuou a ser utilizado pela Companhia Holandesa, entre outras. Responsável pela ocupação do Nordeste brasileiro no século XVII, essa empresa desenvolveu uma organização mais capitalista no comércio internacional, cuja origem antiga remonta às redes fenícias de cidades mercantes, centenas de anos antes de Cristo.

Os Países Baixos apenas iniciariam a transição do mercantilismo para os mercados modernos. Estes se globalizaram, se desglobalizaram e se globalizaram novamente. Mas nunca estiveram tão perto de ver a Ásia predominar. Estamos entrando na Era do Dragão. E talvez em um neomercantilismo.


Países como China e Índia se distanciaram muito daquelas antigas fontes de bens primários e bugingangas. A Chíndia exporta também em massa produtos e serviços de alta qualidade. Não há nenhum outro país ou região comparável. O acrônimo Bric equivale à confusão criada com as Índias Ocidentais na geografia comercial.
O Brasil voltou a ser confundido com a Ásia. Ninguém acredita que somos a costa oriental do Sudeste Asiático como na época de Vespúcio, mas de alguma forma nos igualamos a partir de uma invenção do sistema financeiro. Sonhamos em ser um dos grandes emergentes que dominarão a economia no mundo. É o nosso excepcionalismo.


Quanto mais cedo despertarmos, melhor. Em comum com a Chíndia, o Brasil tem apenas o tamanho. Nos últimos três anos, crescemos em média 1/3 do que cresceram as potências orientais. Por outro lado, quando o Ocidente entrou em recessão em 2008, acompanhamos a queda, ainda que numa intensidade menor (-0,6%). O mesmo ambiente de forte desaceleração parece acontecer agora no fim de 2011.

Em matéria de dinamismo econômico, o Brasil é um país dividido. Seus setores industriais mais avançados seguem padrões ocidentais de derretimento. Já os setores tradicionais ligados às commodities ancoram-se na demanda do Oriente. O resultado é um crescimento intermediário entre os dois grupos, porém mais próximo dos baixos níveis dos países já desenvolvidos.

A pauta do que exportamos se concentra nos itens básicos. Somos menos diversificados do que éramos há dez anos. A substituição dos EUA pela China não trouxe vantagens. A indústria nacional desenvolveu dependência estrutural das importações, de modo que mudanças abruptas no câmbio não ajudam, mesmo quanto ocorre desvalorização.

O peso do Brasil no comércio é residual e vem caindo. O Brasil responde por 1% do fluxo comercial global, ou seja, bem menos do que há 50 anos, e um décimo hoje da Chíndia, com seus 2,5 bilhões de pessoas. Por sua vez, a importância brasileira no PIB do mundo em PPP representará em 2011 só 1/6 da participação chinesa e 40% da indiana. O mero ranqueamento que nos coloca entre as maiores economias gera, como se percebe, falsas impressões.

Se o critério utilizado para o acrônimo da Goldman Sachs é político, a situação fica ainda mais complicada. China e Índia têm armas nucleares, a primeira é autoritária e a segunda tem indicadores sociais piores que os do Maranhão. A China não apoia nosso assento fixo na ONU. A Índia encontrou sozinha aprovação dos EUA. As visões na OMC tampouco coincidem. Isso tudo sem falar da Rússia.

O fim da ilusão chamada Bric não deve estimular, todavia, comportamentos orientalófobos. O novo protecionismo pune os consumidores sem gerar compensações à altura em empregos locais. Mal ou bem, os asiáticos são agora atores imprescindíveis. Constatar que não somos a extensão deles é o início para nos inserirmos conscientes das novas rotas do comércio, da nossa menor importância relativa e dos desequilíbrios na condição de global players. Não somos China nem Índia ocidentais.

16 setembro 2011

Crescimento dos bancos

“Se você tem dinheiro, deve sair já para comprar ações de bancos sem pensar duas vezes.”

Os fatores de atração dos mercados de crescimento acelerado que pareciam tão promissores na esteira da crise financeira agora parecem cada vez mais difíceis de se sustentar.

O conselho de Pan Gonsheng foi franco e direto, como lhe é peculiar. Ao apresentar os resultados fabulosos do Agricultural Bank of China, algumas semanas atrás, o vice-presidente do banco tinha todos os motivos para estar otimista.

Ele falava das instituições chinesas e não das menosprezadas ações das congêneres ocidentais, possuído de um otimismo que cercou de forma semelhante outros grandes setores bancários dos mercados emergentes, notadamente o do Brasil, nos últimos anos.

A crise financeira que tomou conta de boa parte do planeta três anos atrás se transformou numa crise da dívida soberana com uma segunda rodada de efeitos indiretos inevitáveis sobre os bancos da Europa e dos Estados Unidos. Por seu lado, o desempenho dos bancos das economias do grupo Bric, de crescimento acelerado, formado por Brasil, Rússia, Índia e China – principalmente no Brasil e na China, que exibiram saudáveis tendências de crescimento – ganhou grande destaque. Os bancos domésticos desse grupo de países dispararam.

Em uma década, crédito imobiliário no Brasil cresceu de quase zero para 17% das dívidas das famílias

E os estrangeiros – do HSBC até o Santander, passando pelo Citigroup – se empenharam muito em se expandir nesses mercados, puxados não apenas pelas perspectivas de crescimento como também pelo fato de que essas economias, menos afetadas pela crise mundial, adotaram uma linha mais branda na investida da reforma regulatória que limita os lucros no Ocidente.

Ultimamente, no entanto, há evidências de que o ritmo impetuoso do histórico de crescimento desses bancos está se mostrando difícil de sustentar. A exortação de Pan, do Agricultural Bank of China, foi tanto uma tentativa de conter a queda de 20% registrada pelos preços das ações dos bancos chineses neste ano quanto uma afirmação triunfante de fé num mercado em surto de crescimento. Os céticos começam a perguntar: será que isso terminará em lágrimas?

O rápido desenvolvimento do Brasil e da China nos últimos dez anos, aproximadamente, se alicerçou sobre uma drástica expansão de seu setor bancário, que, por sua vez, se ergueu sobre a rápida evolução de um mercado de crédito de passado caótico.

Paulo José lembra como o crédito chegou ao Brasil, abrindo o caminho para um ativo mercado imobiliário. O veterano corretor de imóveis diz que a mudança decisiva ocorreu em 1997, quando foi aprovada uma lei que facultava aos bancos tentar reaver os imóveis dos mutuários inadimplentes. Ao mesmo tempo, as autoridades da área econômica começaram a tentar reduzir a inflação galopante, o que abriu espaço, no longo prazo, para uma redução gradual das taxas de juros. Nascia então o mercado de contratos de crédito imobiliário.

Sem achar interessados, Bank of America teve de vender 5% do China Construction Bank para os próprios chineses

Em pouco mais que uma década, o crédito imobiliário no Brasil cresceu de virtualmente zero para 17% das dívidas das famílias, ou cerca de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB), e se tornaram um fator impulsionador da economia. “Antes, com a escalada da inflação, era muito difícil para as pessoas obter financiamento”, recorda José, que opera no bairro de elite dos Jardins, em São Paulo.

Isso é apenas uma ilustração de como o setor bancário do Brasil e a economia do país mudaram nos últimos dez anos. O histórico do país de gestão econômica estável, crescimento sólido, formação de uma nova classe média baixa e aumentos salariais ajudou a produzir um dos mais sólidos setores financeiros dos mercados emergentes. No início da década de 1990, a inflação anual era medida em milhares de pontos percentuais. Hoje, resume-se a um único dígito.

Os bancos brasileiros ostentam alguns dos maiores índices de capitalização do mundo, com os de nível 1 que equivalem, em média, a 17% de seus ativos ponderados por grau de risco. Sua lucratividade faz inveja aos pares do Ocidente.

Uma história semelhante – com um pouco mais de influência do governo – se desenrolou na China. A partir da virtual insolvência de uma década atrás para sua emergência como as maiores instituições do mundo, ricas em crescimento de dois dígitos dos lucros e resultados extremamente saudáveis, os bancos chineses podem ser perdoados por terem assumido ares de superioridade.

Nesse caso, mais uma vez, os alicerces da expansão foram lançados no fim da década de 1990, quando Pequim injetou US$ 100 bilhões nos maiores bancos estatais e transferiu seus empréstimos não quitados para empresas de administração de ativos. Isso contribuiu para transformá-los em empresas mais enxutas, com foco comercial mais apurado. Numa investida pela eficiência, reduziram o número de agências e demitiram centenas de milhares de funcionários. Com faiscantes novas sedes e redes ampliadas de caixas automáticos, começaram a se parecer com os bancos de qualquer lugar do mundo desenvolvido.

O ápice dessa metamorfose foi uma onda de Ofertas Públicas Iniciais (IPO, pelas iniciais em inglês), iniciada em 2005. O governo continua sendo o controlador majoritário dos bancos, mas os lançamentos de suas ações em bolsa obrigou-os a se tornar mais transparentes – e a prestar contas aos sócios privados.

A teoria se mostrou acertada – até certo ponto. O crescimento das operações bancárias pela internet, dos cartões de crédito e de uma série de produtos de investimento para os poupadores reflete o acirramento da concorrência. Mas os bancos chineses ainda extraem cerca de 70% de seus lucros das confortáveis margens líquidas de juros dadas de mão beijada por Pequim, ao fixar um piso para as taxas incidentes sobre os empréstimos e um teto para as taxas incidentes sobre os depósitos, o que lhes permite tomar empréstimos a baixo custo e conceder empréstimos de alto custo. E uma explosão do crédito nos últimos três anos – quando o governo utilizou os bancos para conceder um enorme incentivo fiscal – serviu de lembrete de que o governo, e não o mercado, é que era seu senhor supremo.

O total de empréstimos concedidos na China está quase 80% maior do que antes da crise, segundo dados do banco central. Mas esse crescimento ocorreu, em grande medida, devido às ordens de Pequim de abrir as torneiras. Isso, segundo dizem os pessimistas, pode levá-lo a revertê-las – e esse é um motivo significativo pelo qual os investidores mais nervosos passaram a encarar os bancos chineses como gigantes frágeis.

Dentre as principais agências de classificação de crédito, a Fitch foi a que fez soar o alarme com mais estridência, ao advertir que mais de 50% de todos os novos empréstimos concedidos desde 2008 foram para o superaquecido setor imobiliário ou para os endividados governos municipais. “Há uma alta probabilidade de virmos a assistir a certa deterioração da qualidade dos ativos nos próximos anos”, diz Charlene Chu, da Fitch.

Um indício da queda do grau de confiança do investidor no rumo tomado pelas reformas ocorreu no mês passado, quando o Bank of America vendeu uma participação de 5% no China Construction Bank, o segundo maior banco do país – e do mundo – por valor de mercado. Fontes familiarizadas com o negócio disseram que o Bank of America — pressionado em seu país de origem para conter o agravamento de uma problemática demonstração de resultados – passou por dificuldades em atrair instituições estrangeiras e acabou vendendo a maior parte da posição para instituições estatais chinesas. Alguns anos atrás os compradores ocidentais estariam fazendo fila para conquistar um ativo tão rendoso.

Previsões carregadas de nuvens negras foram dirigidas ao Brasil também, onde o crescimento acelerado voltou este ano a níveis mais normais depois de uma alta recorde, fiscalmente induzida, de 7,5% do PIB em 2010, em meio a uma retomada da inflação.

Os administradores de fundo de hedge Paul Marshall e Amit Rajpal, da Marshall Wace, argumentam que o mercado de crédito do Brasil se encaminha para uma crise ao estilo americano. “Corremos o risco de migrarmos de um surto de crescimento para uma depressão”, escreveram em julho. Eles argumentam que a quitação de dívidas consome quase 28% da renda disponível das famílias, enquanto o consumidor americano gastava 14% para saldar dívidas durante a crise do “subprime”, em 2008.

Eles destacam também as altas taxas de juros do Brasil – que alcançam, em média, 47% ao ano, mas que sobem para até 205% ao ano em um dos tipos de empréstimo por cartão de crédito -, que aumentam as taxas de inadimplência e os problemas de alguns bancos de menor porte. Na verdade, a taxa de inadimplência em relação aos empréstimos alcançou sua maior alta de 17 meses em julho, quando os empréstimos em atraso de 90 dias ou mais aumentaram para 5,2% do crédito pendente, comparativamente aos 5,1% registrados em junho. (Nos Estados Unidos, antes da crise, a parcela de empréstimos não quitados ultrapassava os 10%.) A taxa de inadimplência das pessoas físicas subiu para 6,6% dos empréstimos em julho, em relação aos 6,4% de junho, enquanto a das pessoas jurídicas permaneceu inalterada, em 3,8%, pelo terceiro mês consecutivo.

“De alguns anos para cá, ficou bem fácil tomar dinheiro emprestado”, diz Serlina, uma empregada doméstica de uma família rica de Salvador, no Nordeste brasileiro, cujo irmão e cunhada acabaram entrando nas listas negras das agências de crédito como inadimplentes. Para os pobres, o problema surge quando um gasto inesperado, como uma emergência médica, os obriga a atrasar um pagamento. “A maioria gasta toda a renda que sobra em dívidas”, diz.

Mas um grande contingente de comentaristas rejeita comparações “simplistas” entre o Brasil e os Estados Unidos, argumentando que o crescimento da inadimplência no Brasil é parte do ciclo natural de crédito, num momento em que o crescimento da economia passa por uma fase de moderação e o Banco Central eleva as taxas de juros – em 175 pontos-base este ano – para conter a inflação. Os casos de inadimplência, argumentam ainda, continuam bem abaixo das altas recordes registradas no país em 2009 e se harmonizam com as tendências de longo prazo.

“No Brasil, é verdade que o crédito está registrando altas taxas de crescimento, mas a base e a dinâmica desse crescimento repousam sobre fundamentos saudáveis”, ponderou a gestora Dynamo em recente nota aos investidores. A empresa é uma investidora de longo prazo no líder do mercado brasileiro Itaú Unibanco, também maior banco privado da América Latina.

A bolha dos EUA, por exemplo, teve como base a atitude de vista grossa diante do risco que influenciou os preços dos ativos – principalmente imobiliários -, possibilitou aos consumidores tomar empréstimos a taxas anormalmente baixas. No Brasil, o que sucede é o contrário. As altas taxas de juros cobradas pelos bancos indicam que os riscos são devidamente considerados, o que limita a capacidade dos tomadores de acumular dívidas. A economia tem, além disso, muito a percorrer para alcançar até mesmo a penetração do crédito atingida por países vizinhos latino-americanos como o Chile, onde o crédito ao setor privado corresponde a 70% do PIB. No Brasil, o nível é de 47,3%, comparativamente aos 26% computados em 2002.

Em vista disso, alguns se perguntam se o crédito no Brasil tem capacidade para continuar a crescer tão rapidamente. Tony Volpon, da Nomura, argumenta que serão necessários vencimentos mais dilatados e taxas de juros mais baixas para sustentar uma nova dose de crescimento rápido do crédito.

As ações do Itaú, uma das piores do setor bancário brasileiro em termos de desempenho na bolsa, despencaram 33% neste ano. Elas foram empurradas para baixo por um volume maior de dívidas não quitadas do que o previsto em sua divisão voltada para pequenas empresas, que afugentou os investidores. “Vemos consumidores brasileiros que já ultrapassaram o limite do razoável, que estão vulneráveis a qualquer choque imprevisto à disponibilidade de crédito e ao crescimento da renda”, diz Volpon. Mas ele diz também: “Não prevemos qualquer ‘bolha’ de crédito para o Brasil.”

A China tem esperanças em realizar um pouso igualmente suave. Jim Antos, da Mizuho Securities, se orgulha de ser “o analista de bancos asiáticos mais negativista do mundo”, que não tem qualquer recomendação “comprar” para qualquer banco chinês. No entanto, mesmo ele é refratário à ideia de que a China esteja às vésperas de sofrer uma crise de crédito gerada internamente. “Eles precisam manter a estabilidade social e esse é o impulsionador subjacente de tantas coisas relativas ao setor bancário”, disse Antos. “Eles terão uma operação de socorro financeiro muito discreta às instituições mais frágeis.”

Mas, sejam os pousos suaves ou turbulentos, qualquer desaceleração sustentada ou um revertério dos surtos de crescimento do crédito no Brasil ou na China são má notícia para os bancos ocidentais, que se voltam para o mercado emergente a fim de neutralizar os efeitos das difíceis perspectivas de negócios em seus países de origem.

Há uma cautela recém-instaurada no mercado, diz o principal executivo de um banco europeu com interesses de longa data em ambos os mercados. “O grande impulso se foi. Há um tipo de uma bolha e algumas questões precisam agora ser abordadas, principalmente com relação aos empréstimos não quitados.” Ele conclui, no entanto: “Ainda queremos estar lá.”

Fonte: Patrick Jenkins, Joe Leahy e Simon Rabinovitch Financial Times, Valor Economico

29 abril 2011

Brasil x BRICS

Por Pedro Correia





Estudo da Standard and Poor's faz comparações entre os países que formam os BRICS.

1-Investimento em relação ao PIB. Brasil em último.

2. Exportações em relação ao PIB. Brasil em último.

3. Dívida Pública em relação ao PIB. Só a Índia é pior que o Brasil.

4. Pagamento de juros em relação ao PIB. Só a Índia é pior que o Brasil.

5. Receita Tributária em relação ao PIB. Estamos disparados na 1ª posição

Como afirmou Clóvis Rossi:"o conglomerado Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) soa como tijolo em inglês (brick), sinônimo de solidez. Mas é só tirar o C de China que vira um queijo mole e cremoso no miolo (o brie)."

Hat Tip: Paulo Roberto de Almeida


16 março 2009

BRICs

Dois gráficos comparativos mostram o desempenho do mercado nos países emergentes (BRICs). De 1999 até hoje o mercado brasileiro cresceu 314%, perdendo para Rússia (mais de 600%), mas ganhando da China, Índia e SP500



O segundo gráfico mostra a evolução recente. Entre os mercados do gráfico, o Brasil teve a menor redução (-36%).

07 fevereiro 2009

SP e os BRICs

Segundo a Standard & Poor´s, os BRICs estão numa situação diferente hoje (S&P calls for Brics break-up, David Oakley, Financial Times, 4/2/2009)

Os BRICs são quatro grandes países em desenvolvimento: Brasil, Rússia, Índia e China. Esta sigla foi criada em 2001 pela Goldman Sachs.

A crise encontrou a China em melhor posição. E a Rússia é o país com maior risco. O Brasil está mais próximo da Rússia do que da China:

Like Brazil, it stands to lose rather than gain from the sharp pullback in commodity prices that saw oil prices fall to near to $40 a barrel from peaks near $150 last summer.

12 agosto 2008

IFRS no Mundo

A implantação das normas internacionais no mundo, segundo texto da Gazeta Mercantial:

Processo de adesão ao IFRS está adiantado no grupo Bric

São Paulo, 12 de Agosto de 2008 - Os processos de implantação do padrão contábil internacional, o Internantional Finance Reporting Standard (IFRS) para a apresentação de demonstrações contábeis das empresas, estão adiantados nos países emergentes do grupo Bric ( Brasil, Rússia, Índia e China). No Brasil, o IFRS já está sendo implantado pelas companhias abertas, que a partir deste ano deverão cumprir a lei 11638, que estabelece uma convergência com o padrão internacional. A partir de 2010 todas as companhias abertas estão obrigadas a divulgar seus balanços em IFRS. Na Rússia, o prazo de adoção do IFRS é semelhante ao do Brasil, na Índia deverá estar concluído até 2011 e na China as normas contábeis estão em processo de revisão para ficarem consistentes com o IFRS, conforme pesquisa feita pela empresa de consultoria e auditoria Ernst & Young.

A implantação do novo padrão contábil também está adiantada em outros regiões. Na América Latina, o IFRS é seguido pelas companhias uruguaias desde 2004 e foi adotado pelo Perú. O Equador tem transição confirmada a partir de 2009 e na Colômbia em 2010. Na Argentina, o prazo é 2011 e no Chile há prazos diferenciados por setor: capital aberto de grande porte 2009, bancos em 20120 e demais companhias em 2012. Na Turquia, as companhias abertas já tem a opção de adotar o IFRS. Na Austrália e na Nova Zelândia estão em vigor normas consideradas equivalentes ao IFRS. Em Hong Kong é mandatório para as empresas multinacionais; em Israel é mandatório para todas as empresas exceto bancos. O Japão e o Canadá tem transição confirmada a partir de 2011.

Nos Estados Unidos, onde vigora o US GAAP - um rigoroso padrão contábil de uso obrigatório para todas as companhias que atuam no mercado de capitais americano - a adoção do IFRS ainda está em discussão. Os EUA discutem porque usar o IFRS se o padrão americano sempre foi considerado o melhor do mundo. Outro problema que aflige os reguladores americanos é qual o melhor padrão contábil quando se enfrenta uma crise de bancos, como a do subprime.

Na avaliação de Paul Sutcliffe, sócio da Ernst & Young, o IFRS permite mais interpretação e sua utilização seria melhor para o investidor nestes tempos de turbulência. Ele não espera mudanças na contabilidade americana este ano por tratar-se de um ano de eleições presidenciais. O consultor acredita, porém, que a adoção do IFRs os EUA já não é mais uma questão de "se", mas de quando a mudança virá.

A própria internacionalização das companhias vai forçar uma convergência para um mesmo padrão contábil ao redor do mundo. No início deste mês, a comissão de valores americana, Securities Exchange Commission (SEC), organizou uma mesa redonda para discutir as diferenças entre o IFRS e o US GAAP. O objetivo foi avaliar em que pontos um e outro permitem que as demonstrações contábeis sejam mais transparentes para o investidor. Um dos pontos discutidos foi o reconhecimento de receitas. Alguns participante do encontro argumentaram que as normas do IFRS permitem distorções na receita de companhias de setores como exemplo, petróleo e gás, devido à volatilidade dos preços dos commodities nas atuais condições do mercado. Representantes dos investidores, por sua vez, defenderam que o efeito desta volatilidade sobre os preços pode ser facilmente incluída nas análises de companhias que adotam o IFRS já que a maior parte das empresas utiliza a mesma metodologia para avaliação do valor do estoque. No US GAAP é necessário um esforço adicional para computar esta volatilidade.

Segundo o consultor da Ernst Young, a principal mensagem do encontro foi que apesar de algumas dificuldades que surgiram em relação a certas normas do IFRS, há uma demanda por parte das empresas americanas para adoção do padrão internacional, principalmente por parte de empresas cujas principais concorrentes são européias, onde vigora o IFRS, como é o caso da indústria farmacêutica, avalia Sutcliffe.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 4) 12/08/2008 (Lucia Rebouças)

31 janeiro 2007

BRICs

A expressão BRICs foi criada pelo Goldman Sachs para designar países em desenvolvimento com alto potencial de crescimento. Representa as iniciais de Brasil, Russia, India e China. O termo BRICs ficou conhecido no mundo representando oportunidades de negócios. Desses países, somente o Brasil não tem apresentado um desempenho econômico compatível.

Agora o Goldman Sachs (GS) pergunta: qual a solidez dos BRICs? Desde que a Goldman Sachs escreveu sobre os BRICs, o crescimento desses países foi superior ao que foi projetado em 2003. Isso implica que esses países estão sendo inseridos na economia global fortemente. No atual relatório a Goldman Sachs chama atenção para os próximos 11 países - N-11 ou Next Eleven - onde talvez somente o México, e talvez a Coréia, pode ser tão importantes quanto os BRICs.

A figura mostra a previsão do GS para o ano de 2050



O GS desenvolveu então um indicador de sustentabilidade de cada país. Os resultados para o Brasil são mostrados a seguir. O Brasil seria a quinta economia do mundo em quarenta anos.



O Brasil está bem na estabilidade política, na expectativa de vida e na adoção de tecnologias. Mas tem problemas em investimento, educação, abertura comercial e déficit do governo.