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19 agosto 2022

B3 quer exigir diversidade e outras coisas

Eis uma notícia sobre a B3:


A operadora da bolsa brasileira B3 disse hoje (17) que colocou em audiência pública um conjunto de regras sobre representatividade em empresas listadas, incluindo a previsão de que as companhias tenham que explicar ao mercado a falta de diversidade nos cargos mais altos.

Uma das regras prevê que as companhias listadas tenham ao menos uma mulher e um integrante “de comunidade minorizada” na diretoria ou conselho de administração, disse a B3 em comunicado à imprensa. Quem descumprir, porém, terá apenas que comunicar ao mercado os motivos.

A B3 considera comunidade minorizada pessoas pretas ou pardas, integrantes da comunidade LGBTQIA+ ou pessoas com deficiência. Serão utilizados critérios de autodeclaração.

Além disso, se uma mesma pessoa se enquadrar em ambos os critérios – uma mulher com deficiência, por exemplo -, a empresa também já estaria enquadrada na regra, segundo a B3.

Das mais de 400 empresas listadas, 60% não têm nenhuma mulher na diretoria estatutária, e 37% não possuem participação feminina no conselho, de acordo com a operadora da bolsa. A B3 afirmou não ter dados amplos sobre raça e etnia, mas um levantamento com 73 companhias mostrou que 79% delas responderam ter entre zero e 11% de pessoas negras em cargos de diretoria.

A audiência pública, onde podem ser sugeridas mudanças, vai até 16 de setembro e a previsão da B3 é que o texto comece a vigorar em 2023.

Além das normas para representatividade em conselho e diretoria, o conjunto de regras proposto ainda engloba a inclusão de indicadores sociais, de governança e ambientais nas remunerações variáveis (condicionadas ao desempenho) dos conselheiros das companhias listadas.

A série de regras vale para empresas listadas em todos os segmentos. Os prazos de implementação são distintos, com tempo de carência até 2026, por exemplo, para a norma de representatividade nas lideranças das companhias, sendo que em 2025 as empresas já precisariam comprovar a eleição de uma das posições.

As companhias que listarem ações na B3 após a vigência das novas normas também terão um tempo de adaptação às regras.

E a B3? Atende aos critérios? Vamos olhar o conselho de administração da empresa, que possui 11 pessoas, sendo duas mulheres. A diretoria estatutária possui 10 pessoas listas, duas mulheres. O conselho fiscal, com seis pessoas, quatro mulheres (mas o coordenador é um homem). O comitê de auditoria tem quatro pessoas, uma mulher. De governança também são quatro e duas mulheres. Produtos e precificação são nove pessoas, nenhuma mulher. Pessoas e remuneração, três e um. Risco e financeiro, seis e zero. Somando os cargos, são 53, sendo 12 mulheres. Ou 23%. 

Se a B3 quiser, podemos indicar nomes para que a empresa atenda a solicitação da bolsa. 

Foto: Alexander Grey

16 dezembro 2019

Empresas na Bolsa do Brasil

Há um mês, o Valor publicou uma reportagem indicando que o número de empresas no mercado acionário brasileiro é um dos menores já registrados. Veja no gráfico:
O valor de mercado, em relação ao PIB, poderia ser maior. Mesmo com o crescimento recente, o percentual é de 61,2%
(Isto também é um indicador de bolha acionária). Mas o número parece baixo, com relação a média mundial:
Em fevereiro destacamos que a empresa B3 é extremamente lucrativa. Veja o que dizemos:

Além disto, nos últimos anos, enquanto a receita aumentava, o número de empresas que participava do mercado de capitais diminuía
Isto é incoerente com a missão da empresa e com o que a sociedade espera de uma bolsa de valores

26 fevereiro 2019

B3 e a Montanha Mágica 3


  • O desempenho da B3 deve considerar que a empresa é um monopólio
  • Além disto, nos últimos anos, enquanto a receita aumentava, o número de empresas que participava do mercado de capitais diminuía
  • Isto é incoerente com a missão da empresa e com o que a sociedade espera de uma bolsa de valores

Nós postamos que o desempenho financeiro da B3 é entre muito bom e excelente. Mostramos que seus índices correspondem a um bônus AAA; mostramos que a margem líquida média é acima de 50%.

Dois aspectos importantes sobre esta discussão. Em primeiro lugar, a B3 é um monopólio. Tem conseguido barrar a entrada de concorrentes e é praticamente a única porta de entrada para uma empresa que deseje abrir o capital no Brasil ou para um investidor que deseje investir em ação. Sendo monopólio, o desempenho só pode ser ameaçado quando existem novos competidores. Observe que enquanto a margem da B3 é de 50%, a margem de um supermercado é menos de 5%; uma grande diferença entre a empresa e o comércio varejista é justamente a competição.

O segundo aspecto refere-se a missão da empresa. No site da B3 nos encontramos a missão da empresa:

promover a sustentabilidade e o investimento social privado alinhados à estratégia, contribuindo para o fortalecimento institucional da B3

Se um dos objetivos é promover o investimento social privado, será que a B3 está cumprindo com sua missão? Neste sentido, busquei o número de empresas com ações negociadas na bolsa (fonte: Séries Temporais, Banco Central) e calculei a correlação com a receita líquida da empresa. A correlação mede a relação, direta, inversa ou inexistente, entre duas variáveis. Atenção: a correlação não mede a relação de causa ou efeito entre duas variáveis. O valor da receita foi corrigido pela inflação, usei o IPCA do IBGE, e transformado em logaritmo.

A relação entre as duas variáveis foi de -0,4411. Como foram usadas 42 observações, o parâmetro crítico, a 5%, era de 0,3044, positivo ou negativo. Ou seja, existe correlação entre a geração de receita por parte da B3 e o número de empresas que participam do mercado acionário no Brasil. Até aqui, tudo bem. O problema está no sinal negativo. Ele indica que quanto maior a receita da B3, menor é o número de empresas participantes no mercado acionário brasileiro. No período, quando o número de empresas estava diminuindo - caiu de 396 empresas em 2008 para 339 em 2018 - a receita da B3 estava aumentando. E o lucro em níveis elevados.

Em razão do monopólio, das elevadas margens líquidas da empresa e do número decrescente de empresas com ações na bolsa, caberia a pergunta: será que a B3 está promovendo o investimento social privado? Não seria melhor, para o mercado de capitais brasileiro, que a empresa reduzisse sua “receita”, prejudicando seus “acionistas”, mas beneficiando a sociedade (acreditando que um mercado de capitais fortalecido é importante para um país)?

Nota Técnica: calculei a correlação entre a receita líquida da B3 e o valor total do mercado acionário brasileiro e o resultado não foi significativo (correlação igual a 0,288). Mas usar o comportamento do mercado como um todo pode ser complicado, em razão das grandes variações ocorridas durante o período: crise financeira de 2008/2009, problemas políticos no Brasil, recessão etc.
Fiz também o cálculo de modelos de regressão e as conclusões obtidas foram aproximadamente as mesmas que foram relatadas aqui.
A série histórica da B3 é afetada nos últimos anos pelo fato da empresa ter abocanhado outras entidades. Levei em consideração este fato, mas não encontrei relevância nos dados, já que afeta somente os dois últimos anos da série.

B3 e a Montanha Mágica 2


  • A análise da B3 ao longo do tempo, de 2008 até 2018, revela um empresa com uma margem líquida média de 58%.
  • Em média, a B3 obtem um lucro líquido de 416 milhões de reais por trimestre
  • Os números mostram que o desempenho da B3 é excepcional

O gráfico abaixo apresenta a serie histórica de quatro variáveis contábeis da B3: ativo total, receita líquida, lucro líquido e caixa das operações (Fonte: economática)


Os números mostram uma grande variação nos anos mais recentes, provavelmente resultante de negociações realizadas pela B3. Isto fez a receita média aumentasse de 0,7 bilhão por trimestre para 1,2 bilhão. Todos os números foram corrigidos pelo IPCA do IBGE para final de dezembro de 2018. Ou seja, já está sendo considerado a inflação desde o início da série, em setembro de 2008.

Nos 42 trimestres da série, a B3 teve um lucro de 17,5 bilhões, uma média de 416 milhões de lucro por trimestre. No período, o caixa gerado com as operações foi de 24,5 bilhões de reais, tudo corrigido para dezembro de 2018. O desempenho da empresa é bastante consistente, tanto é assim que a margem líquida, resultado da divisão do lucro líquido pela receita, foi de 58% no período. É muito raro uma empresa ter uma margem tão elevada.

15 maio 2017

Onde a Bolsa investe?

Nas demonstrações contábeis do primeiro trimestre, a B3 (ex-BM&FBOVESPA) revelou ter 14 milhões investidos em aplicações financeiras e títulos e valores mobiliários. Mas aonde a Bolsa investe o dinheiro da entidade? A resposta na nota explicativa:

A resposta: em fundos de investimentos, atrelados ao CDI. Estranho? Ou seria mais estranho se a B3 investisse em ações?