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08 fevereiro 2017

Balanço do Bradesco

Após olhar o balanço do Bradesco, publicado no dia de hoje, poderia comentar dos 15 bilhões de reais de lucro (abaixo dos 17 do ano anterior), da receita de intermediação financeira de 162 bilhões de reais, dos 62 bilhões de caixa operacional (versus -35 bilhões de 2015), entre outros aspectos.

Muitas vezes o que não é dito é tão importante quanto aquilo que é dito. Isto também é uma verdade na contabilidade. O que faltou dizer na demonstração publicada hoje? Se no dia de hoje você pensar no ano de 2016, qual assunto seria o mais importante: (a) Olimpíadas do Rio; (b) Operação Lava-Jato e outras operações de combate a corrupção; e (c) cassação do mandato de Rousseff? Talvez uma resposta em cima do muro seja as três alternativas.

Na mensagem aos acionistas, o presidente do Conselho de Administração do Bradesco enfatiza a conclusão da operação de aquisição do HSBC, o patrocínio das Olimpíadas e Paraolimpíadas e "os desafios impostos pelo atual cenário econômico". No Relatório de Administração o conteúdo está focado principalmente nas realizações da entidade. A entidade simplesmente ignora o item (b) e (c). É bem verdade que na nota explicativa 18, item d, ironicamente entitulada de "outros assuntos", comenta-se sobre a Operação Zelotes e a Operação Greenfield. No formulário 20F a entidade afirma:

nossa subsidiária Banco Bradesco BBI S.A. (“Bradesco BBI”) é parte em alguns processos judiciais e administrativos instaurados contra a Petrobras e outros réus, devido à sua atuação em uma oferta de títulos da Petrobras. Nós ou nossas subsidiárias podemos nos tornar parte em outros processos judiciais e/ou administrativos contra a Petrobras ou outras companhias, que ainda não foram instaurados

Deve ser um grande dilema para uma entidade fazer comentários sobre a situação política do principal mercado onde atua. Provavelmente o acionista não deseja que a entidade divulgue comentários como fazia o saudoso empresário Salvador Arena, que escrevia sobre a burocracia, os elevados impostos e outros assuntos. Mas dois fatos recentes incomodam este "esquecimento" do Bradesco. Primeiro, em 2014 o atual presidente, sr. Luís Trabuco, foi convidado para ser ministro da fazenda do governo Rousseff. O segundo, foi uma reunião ocorrida no Planalto, em fevereiro de 2016, onde este mesmo senhor tomou a palavra para dizer que

Hoje, temos uma pauta única no Brasil: o que nos angustia é como tirar o país da recessão

(Não era verdade, tanto é que a pauta de 2016 foi principalmente política, não econômica)

Ao ignorar o assunto, a diretoria do Bradesco nada mais faz do que confirmar a fama de dilmista (1). A entidade perdeu uma grande oportunidade de analisar os efeitos políticos dos acontecimentos recentes nos resultados, passados e futuros.

Um contra-argumento é que a instituição deve comentar estes aspectos no formulário 20F, entregue à SEC. Não concordo; o relatório de administração tem espaço para isto e a própria entidade resolveu abrir um item denonominado "Controle Integrado de Riscos", onde o assunto poderia ser tratado. Um subitem, 12.3 Fatores de Riscos, remete ao 20F, afirmando:

"O Formulário 20F é arquivado anualmente na SEC e pode ser acessado ..."

Mas a versão existente é de 2015. (Embora tenha sido colocado na página em abril de 2015, quando já estava em andamento o processo de impeachment). A entidade cometeu um grave erro contábil: ignorou o que realmente ocorreu no ano de 2016.

Prêmio Abrasca - No início do Relatório de Administração, o Bradesco afirma que conquistou "mais uma vez" o Prêmio Abrasca de Melhor Relatório Anual, que "reconhece o compromisso das empresas com a transparência no relacionamento com acionistas, clientes e partes interessadas". Não sou acionista, nem cliente, nem parte interessada. Mas se depender da minha opinião, o Bradesco não deveria ganhar o prêmio este ano.

(1) Vide em http://observatoriodaimprensa.com.br/crise-economica/dilma-e-o-bradesco/

10 junho 2016

Novo Parecer

Companhia aberta teme exposição maior com novo parecer do auditor (1)

Os relatórios de auditoria (2) dos balanços (3) das companhias de capital aberto vão ter em breve um novo formato. A novidade passa a valer já para as demonstrações contábeis anuais de 2016. Aumento das despesas com auditoria e maior exposição pública estão entre as preocupações das empresas (4) com a mudança.

Conhecidas como “big four”, as quatros maiores empresas de auditoria do mundo, PwC, Deloitte, EY e KPMG, são unânimes em apontar a principal inovação do novo parecer: a introdução dos chamados “principais tópicos de auditoria”. Os assuntos considerados mais importantes pelo auditor, antes discutidos apenas com as empresas, agora serão públicos.


“A adoção dos principais tópicos de auditoria pretende criar uma aproximação entre o auditor e os interessados nas demonstrações financeiras. Nessa seção, vai ser reportado tudo que o auditor julga relevante, geralmente assuntos mais complexos, não usuais, ou que o auditor passou um grande tempo analisando”, diz Silvio Takahashi, sócio de auditoria da EY.


A definição dos assuntos será customizada por empresa. Podem entrar nesses tópicos, por exemplo, uma aquisição ou provisão para perdas. “Isso é sensível, porque o auditor pode se deparar com dados confidenciais de clientes (5), que eles não querem ver divulgados (6)”, diz o sócio da EY. Por conta disso, vai ser necessário cuidado do auditor e muita conversa com os comitês de auditoria.


Outra preocupação é como será a recepção do novo conteúdo. “As pessoas podem interpretar o principal assunto de auditoria como um problema, e não é isso necessariamente”, diz Charles Krieck, sócio da KPMG. Ele explica que, se num tópico, o auditor chegar à conclusão de que os controles não foram certos, isso será alvo, como hoje, de ressalva.


As companhias de capital aberto criticam a mudança. “É um padrão imposto pela Europa (7) que simplesmente temos que aceitar, como o [padrão contábil] IFRS, que veio como um rolo compressor (8) sobre nós”, afirma o vice-presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Alfried Plöger. “Você gostaria que seus defeitos fossem colocados em praça pública? (9) Não gostaria (10)”, diz.


Segundo Plöger, a negociação entre empresas e auditorias quanto ao conteúdo final do relatório será agora muito mais cuidadosa. Além de mais horas de dedicação dos auditores, o novo padrão exigirá o envolvimento de executivos mais seniores, segundo o sócio da KPMG Rogério Andrade, elevando custos.


As firmas de auditoria podem ter dificuldade para repassar esses custos (11), pois em 2017 acontece o rodízio obrigatório (12), exigido a cada cinco anos, quando as empresas pressionam por redução de gastos. “É uma pressão adicional para as companhias esse ano, tratar desse assunto com o auditor atual, desenvolver o novo formato de divulgação, e começar a contratar o novo auditor”, diz Vagner Alves, sócio líder de auditoria da Deloitte(13) .


Além da introdução dos principais assuntos de auditoria, outra novidade é a mudança na ordem do relatório, com a opinião do auditor passando a ser a primeira seção do documento. A descrição da responsabilidade da administração e do auditor será agora mais detalhada.


O novo relatório também deverá apresentar sempre uma declaração do auditor sobre a capacidade de continuidade operacional da empresa. Atualmente, a auditoria somente se posiciona quanto à capacidade da companhia de se manter operando no caso de empresas em dificuldades no mercado, com alto endividamento e sem crédito, por exemplo. Agora, a comunicação quanto a isso será contínua.


Apesar da resistência da entidade que representa as companhias brasileiras (14), a experiência de países como Inglaterra e Holanda, que se anteciparam à obrigatoriedade da mudança, mostra boa aceitação das empresas, relata o sócio da PwC Valdir Coscodai, que atuou de 2009 a 2015 como representante da América Latina no Iaasb, organismo que edita as normas internacionais de auditoria.


Como preparação para a mudança, a PwC tem realizado reuniões com outras unidades da empresa no mundo para troca de experiências. A firma de auditoria começou treinamentos internos em 2015 para introduzir a novidade à sua equipe, além de estar realizando projetos pilotos junto a clientes, com a adaptação do relatório do ano passado ao novo formato. EY, KPMG e Deloitte adotam processo de preparação parecidos.


Apesar dos projetos pilotos, o vice-presidente da Abrasca se diz preocupado com a falta de conhecimento da administração das empresas sobre a mudança, ainda mais porque ela passa a valer já para o balanço de 2016. “Este é um tema que está fora do radar, restrito ainda a um público especializado”, diz Plöger.


(1) Um título tão amplo poderia sugerir ao leitor que o jornal se baseou numa pesquisa com as empresas abertas. Infelizmente não. O título surgiu de uma declaração do vice-presidente da Abrasca. Mas ele falava pela instituição?
(2) Fazer um texto jornalístico é difícil. Um dos pontos é descobrir palavras iguais para evitar a repetição. Se no título tem “parecer do auditor”, na primeira linha aparece “relatórios de auditoria”, no plural, indicando existir mais de um.
(3) O relatório (ou parecer) é das demonstrações contábeis e não somente do balanço.
(4) Novamente parece que foi fruto de uma investigação. A questão da despesa vem do depoimento de um sócio da KPMG; da exposição, do vice-presidente da Abrasca.
(5) Isto faz parte do trabalho do auditor.
(6) Não significa que a informação será divulgada. O auditor irá falar em termos genéricos.
(7) Faz parte do pacote da convergência aceitar as regras impostas pela “Europa”. Não seria pelo Iasb?
(8) Acusa as normas de ser rolo compressor. Posso até entender a revolta, mas esta foi a regra dada pela lei.
(9) É isto mesmo? Eu li direito? A Abrasca está defendendo “esconder” os defeitos? Se existir um problema na empresa – como falhas no controle interno ou desvios – este defeito não deve ser colocado em praça pública.
(10) Respondeu que os defeitos não devem ser evidenciados.
(11) Dificil de acreditar. É um oligopólio.
(12) Existe realmente esta relação entre o rodízio, o aumento dos custos e a relação empresa e auditor?
(13) Será isto tão relevante assim?
(14) Aqui fica claro que a Abrasca é contrária a modificação.

Publicado no Valor. Pode ser obtido aqui

08 dezembro 2010

Abrasca

O presidente da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), Antonio Castro, prometeu aprovar até abril de 2011 o novo código de autorregulação das empresas com ações negociadas em bolsa.

Segundo Castro, o código, que está em elaboração há dois anos, tem "princípios, regras e recomendações" que as empresas associadas deverão aderir oficialmente já a partir de janeiro.

Evitando dar detalhes sobre o conteúdo do documento, o presidente da Abrasca disse que um dos princípios, relacionado à gestão de riscos, implicará um maior comprometimento dos administradores com as decisões e medidas tomadas em todas as áreas da administração.

"O que se quer evitar são situações em que os administradores digam que não têm responsabilidade, como aconteceu em casos recentes", afirmou Castro sem mencionar nomes.

Segundo ele, caso a empresa associada à entidade que não queira seguir alguma regra do código, será obrigada a relatar a recusa no Formulário de Referência depositado na CVM.


(Janes Rocha | Valor)

Se depender da Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca), a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) não retomará o sistema de rodízio de auditorias contábeis, mas sim o de sócios das empresas de auditoria que trabalham com as empresas de capital aberto.

A posição foi manifestada por Antonio Castro, presidente da Abrasca, para quem, apesar dos rumorosos casos recentes em que o trabalho dos auditores foi colocado sob questionamento (por exemplo, o do banco Panamericano) a quantidade é pequena e não justifica alterações no sistema.

"Comparado ao número de empresas que são auditadas, o número de casos que gera situações polêmicas é reduzido", afirmou Castro nesta terça-feira durante evento de confraternização realizado na sede carioca do escritório Pinheiro Neto.

O rodízio de auditorias a cada cinco anos era uma determinação da instrução CVM 308/99, mas foi suspenso em 2008 até 2011 para que as empresas pudessem passar pela fase de transição da implementação das novas regras contábeis do IFRS. A troca de auditores deveria voltar em 2012, mas a Abrasca entende que o sistema gera custos que prejudicam as empresas e vai defender junto à CVM que o sistema não volte.

"A razão principal é o custo adicional que acarreta, primeiro de risco porque o novo auditor conhece menos as companhias e não percebe determinadas práticas", afirmou Eduardo Luciano da Ponte, superintendente geral da entidade. "Segundo, o tempo que o administrador precisa desviar para treinar um novo auditor", disse Ponte. A Abrasca reúne 200 empresas de capital aberto, representantes de 90% do valor de mercado da bolsa.


Abrasca rejeita volta de rodízio de auditores - Ter, 07 Dez 2010, (Janes Rocha | Valor)

18 outubro 2007

Os melhores

Abrasca divulga finalistas ao prêmio de melhor relatório
Gazeta Mercantil - 18/10/2007

A 9ª Edição do Prêmio Abrasca Melhor Relatório Anual, teve 84 inscritos. Os vencedores serão conhecidos no próximo dia 24, em evento promovido na Bovespa. Ontem a Abrasca - a associação que representa 85% do valor de mercado da Bolsa, de US$ 1 trilhão - divulgou a lista dos finalistas. Na categoria companhias abertas os escolhidos foram: Acesita; ALL - América Latina Logística; Aracruz Celulose; Banco Bradesco; Banco do Brasil; Banco Itaú Holding Financeira; Brasil Telecom; Cemig, Coelce; CPFL; CVRD; Elektro Eletricidade ; Embraer; Energias do Brasil S.A; Gerdau; Iochpe Maxion; Perdigão S.A; Petrobras; Sadia; Suzano Papel e Celulose S.A e VCP.

Na categoria empresas fechadas classificaram-se para a final os Relatórios da BM&F - Bolsas de Mercadorias e Futuros; Banco ABN Amro Real; Banco Santander; Camargo Corrêa Desenvolvimento Mobiliário; Camargo Corrêa S.A; Mapfre Seguros; Petroquímica Triunfo S.A e Serasa S.

11 outubro 2006

Melhora a qualidade das informações

O coordenador do prêmio Abrasca diz que as demonstrações contábeis estão melhores. Fonte: Gazeta Mercantil. Vide abaixo:

Cresce qualidade dos relatórios financeiros

São Paulo, 11 de Outubro de 2006 - As empresas estão ampliando o esmero na confecção dos relatórios anuais. A conclusão é do professor Lélio Lauretti, coordenador do prêmio Melhor Relatório Anual, promovido pela Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca). Segundo ele, o número de companhias que chegaram perto da nota máxima cresceu do ano passado para cá. "Mesmo com elevação da nota de corte, o desempenho das empresas foi bem maior", diz.

Na categoria empresa aberta, das 71 que se inscreveram, foram escolhidas 20 finalistas: ALL, Aracruz, Banco do Brasil, Itaú, Brasil Telecom, Cemig, Vale do Rio Doce, CPFL, CSN, Duratex, Embraer, Energias do Brasil, Gerdau, Itausa, Natura, Petrobras, Sadia, Unibanco, Usiminas e VCP. Serão premiadas as que obtiverem as cinco melhores pontuações.

Na categoria empresas fechadas, foram selecionadas sete dentre as 13 inscritas. São elas: Aché Laboratórios Farmacêuticos, Santander Banespa, Camargo Corrêa, Coimex, Petroquímica Triunfo, Primav Ecorodovias e Serasa. Serão premiadas as três primeiras.

(Gazeta Mercantil/Finanças & Mercados - Pág. 2)(Aluísio Alves)