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09 abril 2025

Trump e os Custos de Transação

Durante décadas, as grandes empresas promoveram um sistema de produção baseado em diferentes países, com contratos de longo prazo firmados com fornecedores confiáveis. O exemplo mais nítido é o iPhone, que tem partes desenvolvidas na sede da Apple e muitas outras produzidas em diversas regiões do mundo. Esse modelo funcionou bem durante anos, permitindo que a empresa entregasse aos clientes um produto relativamente barato, considerando suas funcionalidades.

De certa forma, a Apple se beneficiou do fato de ser mais barato estruturar a produção de modo que um grande número de atividades fosse realizado externamente. Curiosamente, há quase cem anos, um estudante de graduação de apenas 21 anos teve essa ideia, que transformou em um artigo científico alguns anos depois. Na época, a repercussão do texto foi limitada, mas, nos anos 1970, ele voltou a ser debatido e recebeu importantes contribuições de outros pesquisadores.

A ideia daquele jovem era que o mercado poderia coordenar a produção por meio do mecanismo de preços. As empresas poderiam simplesmente adquirir no mercado os produtos e serviços de que necessitassem. Mas ele se questionou por que nem sempre as empresas agiam assim. Afinal, se o mecanismo de mercado funcionava tão bem, por que existiam empresas? A realidade observada era distinta da descrita nos manuais clássicos de economia: muitas empresas optavam por produzir internamente, em vez de adquirir tudo externamente. Qual o sentido disso?

O questionamento era, na verdade, mais profundo: qual o sentido da existência de empresas dentro de um sistema de mercado, se tudo poderia ser obtido no próprio mercado? Esse aluno — Ronald Coase (pronuncia-se “Couzy”) — propôs que a resposta estava nos custos. Os custos descritos naquele artigo dos anos 1930, hoje conhecidos como custos de transação, envolvem, por exemplo, o custo de negociar, monitorar e fazer cumprir contratos.

O crescimento do comércio internacional e a abertura dos mercados em diversos países permitiram a redução desses custos de transação. Em vez de fabricar tudo internamente, como parecia ser a tendência em meados do século passado, as empresas passaram a firmar contratos de longo prazo com parceiros externos. Essa tendência, que ficou conhecida como terceirização, entre outros termos, levou à criação de produtos — como o celular — com componentes fabricados em diferentes partes do mundo. 

A recente medida do governo dos Estados Unidos de elevar as tarifas de importação sobre produtos fabricados no exterior aumenta os custos de transação de diversas formas. Além da necessidade de renegociar contratos com fornecedores, as empresas passam a arcar com novos impostos que encarecem o produto final, além de enfrentarem maior risco e incerteza.

Assim, o aumento das tarifas terá reflexos importantes nas estruturas econômicas, impactando diretamente o modo de operação de muitas empresas.


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